Mateus 19 — Contexto Histórico
Mateus 19
Mateus 19 contém importantes ensinamentos de Jesus, principalmente relacionados ao casamento, divórcio e à vida eterna. Para entender o contexto histórico de Mateus 19, é útil considerar o cenário sociopolítico e religioso da época, bem como a estrutura e o propósito do Evangelho de Mateus.
Contexto Histórico e Cultural
Ambiente Sociopolítico:
- Domínio Romano: Durante o período em que Jesus viveu, a Palestina estava sob domínio do Império Romano. Herodes, o Grande, e seus descendentes governavam a região como reis clientes dos romanos. A autoridade romana influenciava a vida cotidiana, incluindo leis e costumes.
- Tensões Religiosas: Existia uma grande diversidade religiosa e política na Judeia e na Galileia. Grupos como os fariseus, saduceus, essênios e zelotes tinham diferentes visões sobre a Lei judaica e a relação com Roma.
Contexto Religioso:
- Fariseus e Saduceus: Estes eram os dois principais grupos religiosos do judaísmo na época de Jesus. Os fariseus eram conhecidos por sua rigorosa observância da Lei Mosaica e tradições orais, enquanto os saduceus, que incluíam muitos membros da classe sacerdotal, eram mais aristocráticos e influenciados pela cultura helenística.
- Escrituras Judaicas: A Torá, ou Lei de Moisés, era a base da vida religiosa judaica. Os debates sobre a interpretação da Lei eram comuns, especialmente em questões de moralidade, como o divórcio.
Mateus 19: Estrutura e Temas
Divórcio e Casamento (Mateus 19:1-12):
- Pergunta sobre o Divórcio: Os fariseus perguntam a Jesus se é lícito ao homem divorciar-se de sua esposa por qualquer motivo, testando-o com base nas diferentes interpretações da Lei.
- Resposta de Jesus: Jesus responde citando Gênesis, enfatizando o propósito original de Deus para o casamento como uma união indissolúvel entre homem e mulher. Ele permite o divórcio apenas em casos de infidelidade conjugal.
- Reação dos Discípulos: Os discípulos expressam surpresa, sugerindo que é melhor não casar se essa é a exigência. Jesus então fala sobre aqueles que escolhem ser eunucos por causa do reino dos céus, destacando diferentes vocações de vida.
Jesus Abençoa as Crianças (Mateus 19:13-15):
- Encontro com Crianças: Pessoas trazem crianças a Jesus para que ele as abençoe. Os discípulos tentam impedi-las, mas Jesus as acolhe, dizendo que o reino dos céus pertence a elas.
O Jovem Rico (Mateus 19:16-30):
- Pergunta sobre a Vida Eterna: Um jovem rico pergunta a Jesus o que deve fazer para obter a vida eterna. Jesus menciona os mandamentos e, ao ser pressionado, desafia o jovem a vender seus bens e seguir a ele.
- Tristeza do Jovem: O jovem se retira triste, pois possuía muitas riquezas. Jesus então ensina sobre as dificuldades dos ricos entrarem no reino dos céus e sobre a recompensa para aqueles que deixam tudo para segui-lo.
Propósito do Evangelho de Mateus
O Evangelho de Mateus foi escrito para uma comunidade predominantemente judaica-cristã, com o objetivo de apresentar Jesus como o Messias prometido nas Escrituras Hebraicas. Mateus enfatiza o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e a autoridade de Jesus como intérprete da Lei. Mateus 19, em particular, destaca a ética do reino de Deus e a importância de uma vida centrada na vontade divina.
Compreender Mateus 19 dentro desse contexto histórico e religioso ajuda a apreciar os ensinamentos de Jesus e a forma como eles desafiavam as normas e expectativas da sociedade judaica do século I.
Nota:19.3 — Para mais informações sobre os fariseus, ver nota em 3.7. Havia uma disputa entre as escolas de Shammai e Hillel sobre a interpretação de Deuteronômio 24.1-4. Shammai assegurava que “algo que ele reprova” (ou “coisa indecente”, Dt 24.1) significava “infidelidade conjugal” (Mt 19.9) — a única causa permissível para divórcio. Hillel enfatizava a cláusula precedente, “se [...] não a quiser mais” (Dt 24.1). Ele entendia que o homem podia se divorciar da esposa se ela fizesse qualquer coisa de que ele não gostasse — até mesmo se queimasse a comida enquanto cozinhava. Jesus claramente ficou do lado de Shammai, mas só depois de mostrar o ideal original de Deus para o casamento.