Estudo sobre Apocalipse 2:1

Apocalipse 2:1

A auto-apresentação do edito da mensagem (cf. excurso 1b) retoma Ap 1.13,16. Nesse ínterim, o mistério das estrelas e dos candelabros foi interpretado, em Ap 1.20, como referente à igreja num aspecto duplo. No segundo aspecto, na figura dos candeeiros, permanece a presente mensagem à igreja (v. 5).

O Senhor anda no meio dos sete candeeiros de ouro. A posição central significa mais do que indicação de lugar, a saber, posição-chave. Como Sumo Sacerdote (Ap 1.13) ele abastece as lâmpadas com óleo (cf. Zc 4.2). A fonte de luz é Ele, e não elas. Fica igualmente sugerido o tema da purificação dos candeeiros, ou seja, a autoridade do Senhor como Juiz (Ap 2.5).

A novidade em comparação com Ap 1.13 é que o Senhor anda no meio das igrejas. Em Lv 26.12; Dt 23.14 o AT fala de Deus andando entre seu povo. Esses paralelos dos primórdios de Israel dificilmente podem ser ignorados, muito menos, porém, a passagem da proto-história da humanidade, a saber, Gn 3.8.181 Nesse episódio, a expressão torna-se bem translúcida. Ela assinala a comunhão paradisíaca entre Deus e as pessoas. Visto que no oráculo do vencedor realmente aparece o termo “paraíso” (v. 7), cumpre ficar de olho na questão, se o trecho todo é ou não orientado, no fundo, por Gn 2,3.

O inquérito judicial (excurso 1c) investiga da vida eclesial em Éfeso sob o ponto de vista da tríade: “trabalho – perseverança – amor”.182 As duas primeiras áreas merecem elogios. A igreja, que não é mais jovem, leva avante a obra. Não se tornou negligente neste meio tempo. Seu Senhor sabe que ela continua trabalhando sem se agastar. É digno de nota que o termo “labor” – “trabalhar”, que tinha a conotação do trabalho duríssimo ou esforço árduo, tornou-se termo técnico para o trabalho missionário cristão (p. ex., 1Ts 1.3; 2.9; 5.12 e aproximadamente outras 20 vezes; também em Ap 14.13).

Em conexão com esse ponto volta-se a falar da perseverança pela vinda de Jesus, muito semelhante a Ap 1.9, onde o conceito foi analisado extensamente. Ali combinava-se tribulação e perseverança, aqui são a labuta missionária e a perseverança, no v. 3 suportar a cruz e perseverar, em Ap 2.19 ação de serviço e perseverança, em Ap 13.10 fé que confessa e persevera, e em Ap 14.12 obediência de fé e perseverança. As referências nos mostram com que intensidade a expectativa de Cristo determina o comportamento atual. Nem se fala de escapar para o futuro! As tarefas do cotidiano são atacadas de forma mais esperançosa justamente na proporção da intensidade com que se aguarda transformações divinas. A antiga palavra profética de Is 40.31 vale dupla e triplamente à luz da expectativa cristã imediata: “os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”. Quem não tem esperança, em breve tampouco estará correndo. Permanece onde está e aceita o que aparece no momento. Faz as pazes com o hoje: “comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Co 15.32).