Estudo sobre Apocalipse 3:1
Apocalipse 3:1
Quanto à indicação dos destinatários e à ordem de escrever. Sem dúvida a auto-apresentação está em forte correlação com os versículos subsequentes. Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus. Eles são portadores de um poder divino, gerador de vida (Ap 1.4), que é referido de modo singularmente nítido à igreja: e as sete estrelas (Ap 1.16, 20). Nesse caso, sua plenitude de Espírito vale para uma igreja espiritualmente morta. “O Espírito de Deus é quem dá a vida” (Jo 6.63 [BLH]). O tema da vida ecoa até no oráculo do vencedor.
Fazendo referência a esse tema, queremos arriscar-nos a propor que o trecho seja visto com base em Ezequiel, sobretudo os cap. 18 e 33–37. Com maior frequência que qualquer outro profeta, ele fala de morrer, de morte e vida. Para ele, são centrais o tema da vivificação e o Espírito como poder da vida (Ez 37.5,10,14; 18.31).
O inquérito judicial é conciso e arrasador, do qual, no entanto, segundo o v. 4, algumas pessoas devem ser excluídas. Bengel escreve: “Essa é uma palavra terrível, que se torna suportável unicamente porque é proferida ainda na presente vida”, e porque é o Senhor quem a profere, o qual dispõe da plenitude do Espírito e de poderes de ressurreição. Diante dele nem mesmo os mortos ficam sem esperança.
Inicialmente atesta-se que a igreja “tem” (nota 185). Tens nome de que vives. Era uma igreja de boa fama. Contudo essa fama engana. Também o nome de Esmirna, a fama de pobreza e miséria, engana. Aquela igreja trazia “a toda hora a morte de Jesus em seu corpo” e apesar disso se encontrava no caminho da vida como a verdadeiramente “rica” (Ap 2.9). No presente caso, no entanto, o Senhor tem de corrigir as aparências no sentido oposto. Ainda que à vista humana não havia nada que contradissesse a fama de Sardes de ser uma igreja viva e auspiciosa – internamente, nenhuma tensão para cisões e, externamente, nenhum horizonte de martírio – perguntamo-nos justamente: por que essa igreja foi deixada em paz dessa forma? Por que Satanás, que no mais não deixa de incomodar nenhuma igreja, se mantinha longe de Sardes? Era porque a igreja estava espiritualmente morta. Onde reina a morte pelo pecado, não há morte pelo martírio.
Contudo ela ainda não se dá conta dessas correlações. Ela ainda não repete Ez 37.11: “Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados”. Afinal, no seu meio ela tem a fama de ser viva, e dessa fama ela por sua vez se sustém.222 A igreja e seu contexto se embalam reciprocamente no sono. O Senhor, porém, sabe: Estás morto.223 Há muito ele enxerga por trás da fachada e vê que tudo é aparência. Em Sardes os cristãos estão falsamente satisfeitos e confiantes, são falsamente ativos, falsamente devotos e falsamente fiéis.
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