Estudo sobre Apocalipse 3:7

Estudo sobre Apocalipse




Apocalipse 3:7

Quanto à indicação dos destinatários e à ordem para escrever. A auto-apresentação do emitente da mensagem faz conexão com Ap 1.18 somente por meio da palavra chave. Lá tratava-se das chaves para o mundo dos mortos. Sobre a chave bem diferente na presente passagem, cf. Is 22.20-22. Eliaquim está para ser instalado no cargo de mestre da corte e, como emblema do cargo, deverá carregar uma grande chave sobre os ombros. Possui acesso a todos os recintos, sobretudo para os armazéns, pois tem de ser “pai” e abastecer a todos. O judaísmo interpretou a passagem no sentido messiânico. O fato de que não se está mais falando da chave para a casa de Davi, mas simplesmente da chave de Davi, expressa a determinação para espiritualizar. O palácio de Davi na Jerusalém terrena não interessa, mas sim a salvação de Davi na nova Jerusalém. Cristo torna acessíveis os tesouros do mundo salutar de Deus (Rm 8.32). Ele possui as chaves de todos os recintos, para o reino dos mortos (de acordo com Ap 1.18) e para o reino da salvação (de acordo com Ap 3.7). A ele foi dada toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18).

Prossegue a fala com conceitos do AT: o santo, o verdadeiro. A segunda designação reforça a primeira. Ele é o verdadeiramente santo.230 Desse modo Jesus se ornamenta com uma das mais freqüentes designações do judaísmo. Em nenhum livro, porém, ela ocorre com tanta predominância quanto em Isaías (mais de 60 ocorrências). Deus é o Puro e resiste a tudo que não lhe é idêntico. Não obstante, Deus não se subtrai aos desiguais. Não, ele é tão avesso à impureza que aborda os impuros, ataca-os e vence-os com sua pureza. O Santo é tão santo que santifica. Foi por isso que justamente Jesus pôde tornar-se portador desse título (p. ex., Jo 6.69). Associava-se de modo singular com o título do servo de Deus (p. ex., At 4.27,30), que por sua vez se origina de Isaías. Jesus é o “Servo santo”, ungido por Deus.

A auto-apresentação, portanto, tem cunho linguístico de Isaías. Essa coloração se impõe ao trecho todo. Não apenas que a função de Jesus como controlador da porta continua sendo tema no versículo seguinte, transparecendo mais uma vez no oráculo do vencedor. Também muitos outros pormenores e o contexto todo respiram a mensagem de consolo do livro de Isaías.

Como devemos distinguir essa missiva da dirigida a Esmirna, com a qual há tantos pontos em comum? Ambas as comunidades não recebem nenhuma acusação, mas são consoladas. Ambas sofrem sob a “sinagoga de Satanás” (Ap 2.9; 3.9). A ambas fala-se sobre a grinalda da vitória (Ap 2.10; 3.11). Mas não obstante são diferentes. Filadélfia não recebe nenhuma perseguição adicional pelas autoridades gentílicas como em Ap 2.10. A igreja tem de enfrentar unicamente judeus. Poucos anos depois Inácio envia uma carta a Filadélfia, que avalia a igreja de modo muito similar: sua existência é digna de louvor, mas ela está envolvida em graves antagonismos com os judeus, que acreditam poder usar o AT como arma. Talvez seja em vista disso que a presente mensagem à igreja local esteja profundamente mergulhada no AT. Os cristãos devem ser fortalecidos na consciência de que o AT não fornece nenhuma base a favor, mas somente contra o judaísmo de lá. Para os cristãos em Esmirna, porém, central a controvérsia com os gentios passou a ponto prioritário de forma predominante. Por isso são lembrados da trajetória da cruz, que mostra Jesus entregue nas mãos dos gentios.

Por essa razão, a mensagem a Esmirna é a mais neotestamentária de todas, tendo no centro o personagem sofredor do NT. Em contraposição, a igreja em Filadélfia recebe a palavra do at, tendo no centro o santo servo de Deus.