Estudo sobre Apocalipse 3:8

Apocalipse 3:8

O inquérito judicial é interrompido, no começo, por uma palavra de ânimo: eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar. A igreja sofria sob as tentativas de isolamento por parte dos judeus, que declaravam que ela não tinha acesso a Deus e combatiam o seu caráter de povo de Deus, a saber, que verdadeiramente fossem judeus (v. 9). Contudo o Senhor lhe declara de antemão a sua confiança. Como grande tesoureiro, ele lhe assegura acesso atual e futuro a todos os bens da salvação.

Via de regra também uma porta aberta para a missão fará parte dos tesouros de Cristo. Em última análise, não se consegue romper o sítio da desconfiança, do preconceito e do ódio por meio da habilidade ou amabilidade dos cristãos, mas isso constitui uma dádiva de Cristo. Contudo, o trecho em análise não contém nenhuma menção da missão aos gentios. E também o oráculo do vencedor refere-se ao acesso à cidade de Deus, não ao mundo gentílico. Será que a igreja realmente se encontra no amor e na eleição de Deus? É esse o ponto em questão.

Como poderá apresentar-se uma igreja eleita? Tens pouca força (“uma força pequena”). “Não temas, ó vermezinho de Jacó, povozinho de Israel”, ouvimos também em Is 41.14, numa passagem que certamente era conhecida dos judeus, mas que precisava ser dita a eles de forma nova. A partir dessa referência, prolonga-se pelo NT a ideia da pequena comunidade. Fala-se do “pequeno rebanho” (Lc 12.32), da “menor de todas as sementes” (Mt 13.32), da “fé como um grão de mostarda” (Mt 17.20); e em Mateus encontram-se as designações dos discípulos como sendo “pequenos” ou “humildes” (Mt 10.42; 18.6,10,14; 25.40,45). Essas constatações são repetidamente combinadas, como em Is 41.14 e aqui, com uma declaração especial de proteção.

Acaso a igreja em Filadélfia era pequena em número ou no aspecto financeiro? Ou será que a intenção é recordar a pouca formação e a origem nos segmentos inferiores da sociedade (1Co 1.26)? Tudo isso pode estar na raiz da afirmação, porém a ênfase cai sobre as poucas possibilidades de ação: “Não tens influência!” Dessa irrelevância no plano imanente concluía-se, da parte dos judeus, para a relação com Deus. Uma dedução falsa, corrigida pela primeira parte do versículo.

Teria sido muito compreensível se a igreja em Filadélfia tivesse afirmado: “O mundo é grande, e nós somos pequenos. Por isso não trará nenhuma diferença o que fizermos ou deixarmos de fazer.” A igreja, porém, foi fiel: entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. É preciso comparar Ap 2.13 com o presente elogio. Lá foi vencida a prova contra o “trono de Satanás”, aqui contra a “sinagoga de Satanás” (v. 9). Os judeus haviam submetido os cristãos à pressão para renegarem a Jesus. É conhecido por nome um judeu (a saber, Paulo), que forçou cristãos a amaldiçoarem Jesus. Ele próprio o relatou: “Eu os obrigava a blasfemar” (At 26.11).