Estudo sobre Apocalipse 5:1

Estudo sobre Apocalipse 5:1

Estudo sobre Apocalipse 5:1


Apocalipse 5:1

Agora o tópico “trono” do capítulo anterior é substituído por um novo ponto. Cada versículo deste novo bloco fala sobre o rolo do livro. Em estreita conexão com Ap 4.11 João continua. Vi, na mão direita daquele que estava sentado no trono, um livro. Ele continua ainda sem contemplar a própria figura do Entronizado, mas sua mão direita estendida passa ao centro do interesse, como que focalizada de perto.

De acordo com uma ideia judaica, Deus mantém a mão direita inativa atrás das costas desde a destruição de Jerusalém. Também o Sl 74.11 evoca esta ilustração: “Por que retrais a mão? Sim, retira a tua destra do teu manto e dá um fim” (tradução do autor). Agora ele a estende para a frente. Deus quer tornar-se ativo. Algo grandioso está para acontecer, esperanças se mobilizam, tem início o tempo de consumação. A direita é a mão da ação (Ap 1.16; 2.1). “A destra do Senhor faz proezas” (Sl 118.15), ela exaltou a Cristo (At 2.33).

Sobre a mão aberta está, propositadamente visível, um rolo de livro. Fica tão claro o gesto de entregá-lo como em Ez 2.8b,9: “come o que eu te dou. Então, vi, e eis que certa mão se estendia para mim, e nela se achava o rolo de um livro.” Algo deve acontecer a partir de Deus. Para isto Deus deseja autorizar alguém que o realize. No entanto, será que também aqui está à procura de um profeta?

O rolo do livro estava escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos. Ele não possui paralelo no Apocalipse. Quanto ao AT, resultam coincidências formais com Ez 2.8-10: a forma de rolo, a inscrição de ambos os lados, que assinala a plenitude de conteúdo, e também a relação judicial (“nele, estavam escritas lamentações, suspiros e ais” [Ez 2.10], cf. Ap 6). Em contrapartida, faltam em Ezequiel os selos, para cuja remoção alguém precisa ter o poder. Afinal, neste caso não se trata de capacidade, mas de saber, de obter conhecimento engolindo o livrinho, ou seja, trata-se da vocação de um profeta.

Era usual selar documentos legais romanos sete vezes. P. ex., um testador ditava um testamento e o selava no final em conjunto com seis testemunhas. Depois todos os sete selavam o documento enrolado do lado de fora. Agora ele precisava de instância judicial para ser aberto. A inscrição dos dois lados explica-se melhor pelo costume antigo do documento duplo. O texto interno continha o texto de validade legal. Ele era selado, eventualmente sete vezes. Do lado de fora anotava-se, necessariamente de forma resumida, o mesmo conteúdo, de forma que todos podiam lê-lo sem que se desfizessem os selos. A abertura e quebra dos selos por instância judicial não trazia informação nova, mas a determinação passava a vigorar. Na mesma linha encontra-se a abertura do rolo do livro no cap. 5. Não se informa nada acerca de uma leitura atenta do rolo, nada indica que o conteúdo é assimilado, porém tudo aponta para a sua instituição legal.

Em decorrência, os dados exteriores levam a supor um documento legal que deve ser promulgado a partir do trono de Deus. Entretanto, qual poderá ser o seu conteúdo?

Em 2Rs 11.12 o AT concede uma preciosa visão das solenidades de coroação da Antiguidade. O sacerdote entregava ao rei, em nome de Deus, um texto escrito. Por meio deste gesto ele sublinhava a posição do rei como representante de Deus. O costume era difundido em diferentes variantes. Também nas entronizações romanas o momento culminante era a entrega do documento da instalação do rei. Ele continha, p. ex., o novo nome do trono, a incumbência divina e a certificação de um longo tempo de governo. Ao serem rompidos os seus selos a tomada de poder acontecia de fato. Um arauto proclamava o conteúdo, os magistrados caíam de joelhos em atitude de veneração, soavam com força as aclamações de vivas das massas diante do templo ou palácio. Não é de admirar que os imperadores gostavam de se retratar nesta pose – com o rolo do livro nas mãos.

Em Ap 5.1 igualmente está por acontecer a entrega de um documento de instalação. Contudo, aquele que receber o rolo, será o Senhor do fim. Ele constrói a última cidade e será o último rei. Quando ele romper os sete selos, começam a desenrolar-se os eventos do fim. Quem é este rei?