Estudo sobre Apocalipse 5:6
Estudo sobre Apocalipse 5:6
Apocalipse 5:6
Antes de mencionar o que viu, João novamente descreve com cuidado a localização do evento. Esta também foi a característica de trechos anteriores (Ap 1.13; 4.2,4). Desta vez ele destaca o posicionamento central com a maior ênfase possível (cf. o exposto sobre Ap 1.13; 2.1): Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro. Esta é a primeira das 28 vezes em que o título de “Cordeiro”, característico para o Apocalipse, é usado. Ele está estreitamente vinculado ao que este escrito tem de mais essencial: através do Cordeiro tudo se tornará novo e, um dia, tudo ficará bem.
Por um lado, sob o aspecto linguístico, justifica-se que alguns exegetas imitaram a forma carinhosa em que o termo é trazido no grego e verteram para “Cordeirinho”, mas isto não é objetivamente benéfico. Bengel constata nesta expressão a “doce figura de um pequeno e tenro Cordeiro”. Contudo, a numerosa ocorrência do termo nos mais diversos contextos, bem como justamente no contexto em análise, tornam inverossímil que a intenção fosse despertar estes sentimentos. Formas diminutivas podem escapar totalmente da atenção daqueles que falam e ouvem.269 Outros comentaristas fazem o percurso inverso e traduzem a palavra de forma aumentativa com “carneiro”. Por meio desta expressão apresenta-se aos olhos do leitor um animal jovem e afoito para lutar. Parece que depõe a favor desta possibilidade a menção dos chifres e da vitória ou da ira, em Ap 6.16. No entanto, esta leitura é proibitiva para toda a literatura judaico-helenista. Em lugar algum cabe a tradução com “carneiro”. Dificilmente haveria aqui uma exceção.
Não devemos apelar nem para uma figura de força exuberante e agressiva, nem de suave doçura. Pelo contrário, é preciso dar atenção à indicação feita pelo próprio texto: como tendo sido morto. Este Cordeiro requer ser interpretado a partir do fato de que foi sacrificado, a partir das marcas de seu abate. É a enorme e brilhante cicatriz, deixada pelo corte do abate e relacionada ao derramamento de seu sangue, que deve ocupar nossa atenção neste Cordeiro.
Desta forma João retorna a Ap 1.5,6, onde começou em termos fundamentais: Jesus Cristo, nosso Cordeiro pascal. Os versículos seguintes confirmam esta compreensão. De acordo com o v. 9, o surgimento da igreja da salvação, em plena analogia com o livro do Êxodo, é fruto do sacrifício do Cordeiro. No resgate tem início a salvação. A “nova” canção evoca Êx 15, e, por fim, o v. 10, da mesma forma que Ap 1.5,6, faz nítida referência a Êx 19.6.271
O Cordeiro tinha sete chifres. Chifres são sinal do poder (Nm 23.22; Dt 33.17), e sete chifres demonstram a onipotência. Estas características evidenciam que Jesus aparece aqui como o Ressuscitado. O Cordeiro não jaz morto, mas “está parado”, e está parado “no centro”. Este não é mais o Cristo expulso, “do lado de fora do arraial”. No versículo seguinte ele caminha em direção do trono, mas não mais em direção do altar. Ele toma o rolo do livro, mas não rende mais sua vida. O título de Cordeiro significa, portanto, de forma consistente e enfática, o Crucificado enquanto Ressurreto, o qual afirma: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”.
Além do poder, o Cordeiro também possui a qualidade soberana da sabedoria, pois tem sete olhos. De forma significativa, aqui João está transferindo para Cristo uma característica de Deus (cf. já em Ap 4.8; Zc 4.10; 2Cr 16.9; Pv 15.3). Esta vigilância e previdência divinas (1Rs 8.29; Dt 11.12; Sl 33.18; 34.15) são dirigidas mais para dentro, enquanto os chifres são dirigidos contra os inimigos do lado de fora. A relação dos olhos com as igrejas torna-se bem nítida quando os sete olhos são identificados com os sete espíritos de Ap 1.4; 3.1: estes são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra. Significam o Espírito Santo em toda a sua plenitude de sabedoria, que acompanha as testemunhas até o fim do mundo (At 1.8). Deste modo evocam a palavra do final do evangelho segundo Mateus, que o Ressuscitado disse à comunidade de seus discípulos enviados ao mundo: “Eis que estou convosco todos os dias”.
Continuação...
Apocalipse 5:6