Estudo sobre Apocalipse 6:1
Estudo sobre Apocalipse 6:1
Apocalipse 6:1
Novamente a divisão em capítulos não nos deveria induzir a pensarmos num corte profundo neste ponto. E vi constitui uma conexão bastante estreita com o anterior (como, p. ex., Ap 5.1,6,11), tendo o sentido de: “e vi ainda”. João caracteriza as cesuras profundas (nota 244) de forma diferente. No limiar do presente capítulo o leitor de forma alguma pode deixar de lado tudo o que lhe foi concedido no cap. 5. Pelo contrário, as noções ali adquiridas visam ser agora trazidas para cada versículo. Tratava-se da seguinte constatação: finalmente o mundo passou a ter um Senhor bom. A Jesus, que jamais derramou sangue alheio e que preferiu deixar que derramassem o seu próprio sangue, que tomou sobre si toda a maldade e que até o fim foi bondoso para com pessoas más, a este Cordeiro Deus conferiu todo o poder no céu e na terra para conduzir a história ao alvo. Agora seu amor crucificado e ressuscitado movimenta os fatos, não interrompendo mais a iniciativa até a notícia da conclusão em Ap 21.6. Precisamos perseverar nesta perspectiva, ainda que fatos muito estranhos se desenrolem no palco do mundo. O título diz agora: o Cordeiro governa!
Quando o Cordeiro abriu um dos sete selos – neste instante o leitor deveria fazer uma interrupção e cientificar-se do aspecto técnico do evento. O rolo não podia ser aberto e o texto detalhado interno não era acessível antes que todos os selos tivessem sido abertos. Em contrapartida, a versão resumida exterior já podia ser lida antes (cf. o exposto sobre Ap 5.1). Este fato apóia uma sugestão digna de atenção para a introdução da matéria seguinte (cf. G. Bornkamm, no índice de literatura). De acordo com esta sugestão, Ap 6.1–8.1 corresponde à versão abreviada, que aborda o tempo do fim apenas em contornos esquemáticos. Somente depois, ou seja, após a abertura do último selo, as afirmações feitas no resumo são completadas na forma de uma abordagem detalhada do tempo final, a partir de Ap 8.2–22.5. De fato o Apocalipse nos conduz diversas vezes pelo mesmo período de tempo: p. ex., os trechos finais de Ap 7.15-17 e 22.3-5 (com 21.3,4) causam a impressão de serem praticamente idênticos. Esta ideia, porém, não pode ser analisada mais a fundo no presente contexto.
Em todos os casos, a abertura dos selos não pode ter significado que o Cordeiro assim obtinha uma percepção de parte após parte do conteúdo do rolo. Conforme já frisamos, o aspecto técnico da figura exclui esta ideia. De qualquer modo, este rolo não transmitia conhecimentos que tornassem alguém profeta (cf. o comentário a Ap 5.1), mas significava recebimento de poder. Com a abertura de seu primeiro selo o Cordeiro começa a exercer seu império universal. Qual foi, porém, o resultado disto?
Aprofunde-se mais!
E ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! (“Então ouvi um dos quatro seres viventes dizer com voz de trovão: Corre!” [tradução do autor]). A incumbência básica dos quatro seres no trono era de santificar a Deus (Ap 4.8) e exaltar o Cordeiro (Ap 5.8). De forma alguma o fato de agora enviarem os cavaleiros apocalípticos para o seu rumo extrapola o seu serviço. Os cavaleiros têm a ver com a santidade de Deus e com a glorificação do Cordeiro, o que elucidaremos mais tarde.
A voz de trovão evoca os relâmpagos e trovões em torno do trono de acordo com Ap 4.5, uma indicação da ira do juiz. A ira perpassa todo o cap. 6 até o v. 17. O amor entronizado provoca resistência instantânea. Por isto sua primeira tarefa consiste de ordem para lutar (excurso 3b).
Atualmente a ordem dos seres viventes é referida unanimemente aos cavaleiros. Não é João que deve aproximar-se quatro vezes (v. 1,3,5,7), para que possa ver melhor.281 Mas tampouco os cavaleiros devem achegar-se ao trono. É recomendável entender o grito, conforme uma possibilidade do grego tardio, como “Corre!” ou “Vai!”. Os cavaleiros devem dar a largada para dentro da história. Entretanto, acaso o Cordeiro faz alastrarem-se no mundo guerras, fome e epidemias? A interpretação do v. 2 torna-se cada vez mais importante.