Estudo sobre Apocalipse 6:7-8

Estudo sobre Apocalipse 6:7-8

Apocalipse 6:7-8

A cor do cavalo amarelo é a cor do cadáver, fazendo lembrar a aparência doentia, contrastando decisivamente com o frescor da vida. A observação subseqüente não deve levar à ideia de dois cavaleiros, de modo que se chegaria ao número de cinco cavaleiros apocalípticos. E o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno (“Hades” [teb, bj]) o estava seguindo. “Morte e Hades” representam também em Ap 1.18; 20.13 um pleonasmo para uma única realidade. De certa maneira, João vê a morte e sua sombra ou a morte e sua mão direita. Naturalmente ambos estão sendo imaginados como pessoas, como também em Os 13.14 (cf. 1Co 15.55). Eles manuseiam o ferrão e o aguilhão como se fossem boieiros. Como o v. 8b declara nitidamente, o quarto cavaleiro representa o flagelo da Antiguidade, a peste (nota 218). Ela disseminava medo e pavor e era mais forte que imperadores e exércitos. Justamente em tempos de guerra os soldados e sua bagagem introduziam germens de toda sorte de epidemias, e as pessoas tornavam-se especialmente vulneráveis por estarem subnutridas. Deste modo a morte ceifava em abundância.

E foi-lhes dada autoridade (excurso 4d) sobre a quarta parte da terra. Estes dados numéricos serão analisados ao comentarmos o cap. 8, onde a terça parte perpassa o texto todo como medida punitiva. Em todos os casos, tanto lá como cá trata-se de golpes severos, que porém ainda dão oportunidade para o arrependimento.

Ao observarmos mais detidamente constatamos uma correlação, significativa para o pensamento bíblico, entre pecado e punição. Deus não retira o castigo de um lugar qualquer, como se fosse imposto ao pecado como um segundo fator. Pelo contrário, o próprio pecado volta-se contra, “acha” (Nm 32.23) o pecador, tornando-se assim o castigo dele. Deus faz com que as atitudes do pecador recaiam sobre sua própria cabeça (1Rs 8.32), de modo que há uma identidade entre pecado e castigo.293 É neste sentido que a palavra profética inevitavelmente fala de guerras e conseqüências de guerras como pragas de Deus para um mundo anticristão, sendo que em momento algum se deve pensar que Deus começa a introduzir estes fenômenos no mundo. As guerras não se originam do mundo dele, mas do nosso. Guerras ferem todos os Dez Mandamentos de Deus e são malignas. Contudo, quando o mal não “vai bem”, a razão é que Deus está presente como juiz: “Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes (“imprestáveis”)… cheios de… homicídio” (Rm 1.28-31). Sobre a questão dos que sofrem inocentemente, cf. o quinto selo.

No entanto, todos estes fenômenos acaso já não existiam antes de Cristo? Como é que pertencem justamente à caracterização do fim dos tempos? De fato Satanás é sedutor e homicida “desde o princípio” (Jo 8.44), i. é, desde Gn 3. Porém, desde que a mensagem: “Paz na terra!” ressoa em todo o mundo, a injustiça, a opressão e as guerras são muito mais escandalosas e culposas. Ainda que antes os mesmos fatos tenham acontecido, agora a situação é diferente. Agora o amor de Cristo veio ao mundo, agora o mundo que não aceita o seu chamado se torna singularmente condenável. Se o amor de Cristo não tivesse vindo, tampouco poderia haver a rejeição deste amor nem esta culpabilidade do mundo. A igreja reconhece este novo desenvolvimento desde a vinda de Cristo, designando-o de “fim dos tempos”.

O versículo de síntese, v. 8b, menciona ainda a mortandade dos animais na terra. A terra despovoada e as cidades em ruínas voltam a ser estepes, e na realidade erma animais ferozes retornam os aos territórios de antigas civilizações. Este é o último e verdadeiro fruto do cavaleiro branco: retrocesso e morte de quatro lados da terra, ou seja, todos os lados afastados do Cordeiro sofrem sob os animais ferozes. O anticristo é coveiro da cultura mundial.