Estudo sobre Apocalipse 8:1

Estudo sobre Apocalipse 8:1

Estudo sobre Apocalipse 8:1

Apocalipse 8:1

Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, o rolo finalmente estava completamente livre dos selos, e o texto interno podia ser visto. Houve silêncio no céu cerca de meia hora. Este silêncio provocou entre os estudiosos uma acalorada discussão.

Deve-se excluir a ideia de que agora o Cordeiro recebia tempo para ler o texto interior (cf. o comentário a Ap 5.1). Igualmente não se pode levar a sério a identificação com o reino de mil anos e a ideia do sábado, apesar de ser muito antiga, porque neste caso a indicação do tempo de meia hora seria totalmente incompreensível. Muitos comentaristas pensam numa pausa de grande efeito de cena, que aumenta a tensão pelo que virá. Nesta leitura, a tensão é entendida por alguns como uma temerosa espera na pesada atmosfera de juízo, e pelos demais como uma devoção feliz e como espera profundamente reverente pelo que virá. Contudo, mesmo esta solução não é satisfatória, porque temos de inferir aqui um silêncio no céu, mas não na criação.

Oferece-se a saída de anexar os v. 2-5 ao sétimo selo. Então surge a seguinte correlação: quando as orações dos santos sobem (v. 4), é interrompido o culto celestial a Deus de Ap 4.8. As orações dos anjos silenciam em favor das orações dos santos. Tudo no céu presta atenção. Deus não se põe a julgar sem antes ter dado ouvidos aos lamentos e às intercessões dos santos. Contudo, se ao invés das orações dos anjos se ouve as orações do santos, de forma alguma haverá silêncio no céu! Além disto, é improvável que a indicação de meia hora de tempo signifique que o evento dos v. 2-5 tenha durado meia hora. Mais plausível é a suposição de que este processo começou apenas após decorrida meia hora.

O v. 1 não constitui nem preparação espiritual nem qualquer outro tipo de introdução para o que se segue. Considerando que em cada abertura de selo algo acontece imediatamente, recomenda-se também aqui uma interpretação que compreenda o versículo não como uma lacuna de acontecimentos, mas sim como um acontecimento próprio. Que aconteceu no silêncio?

Merece nossa atenção um indício de um silêncio pré-cósmico, bem conhecido no judaísmo. Em 4Esdras 6.38,39 lê-se: “Senhor, tu falaste no começo da tua criação, no primeiro dia: façam-se o céu e a terra! Foi tua palavra que consumou esta obra. E naquele tempo havia um Espírito que pairava, e em redor as trevas e o silêncio. Ainda não havia soado diante de ti o som da voz humana.” Outra voz judaica declara: “Será que o mundo deverá cair novamente no silêncio que houve no começo?” (Baruque sírio 3.7). Ou: “Antes de se formar o mundo, havia trevas e silêncio” (Filo 60.2). Deus falou neste silêncio inicial. Então em breve seguiu-se ao som de sua voz o som de muitas outras vozes e também da voz humana. E enquanto Deus fala o mundo continua existindo (Hb 1.3). Tão logo, porém, Deus recolhe novamente a sua voz, apagam-se todas as vozes e espalha-se novamente o silêncio dos primórdios. O cosmos cai novamente no caos do qual a palavra de Deus o chamou à existência.
Desde Ap 4.1 João está postado na porta do céu e olhando (até Ap 7.1-8) para dentro dele. O fato de que agora vê instalar-se o silêncio lhe indica indiretamente a decadência da antiga criação. Portanto, o que era de se esperar com a abertura do sexto selo aconteceu de fato com a abertura do sétimo selo: o desaparecimento do mundo atual pela vinda do Senhor como Juiz. – Entretanto, isto é dado a entender de maneira extremamente breve pela figuração do silêncio inicial.

Acaso este estilo indireto e breve causa espécie? Estes traços, no entanto, são característicos de toda a série de selos (cf. o comentário a Ap 6.1) e foram evidenciados também em muitos outros pormenores. Em todas as visões de selos João olhou para dentro do céu e percebeu apenas indiretamente o que acontecia na terra. Capítulos posteriores preencherão os contornos. Também o silêncio inicial volta a ser abordado com clareza em Ap 18.22,23a. Em seguida anuncia-se um novo evento da palavra de Deus, que chama à existência uma nova terra e um novo céu (Ap 19.11-13).

Em 4Esdras 7.30,31 aparece igualmente uma medida de tempo para este silêncio inicial, a saber, sete dias. Aqui ele dura meia hora. Uma vez que não há paralelo deste detalhe em parte alguma, a interpretação permanece difícil. Talvez devamos partir da hora cheia como sendo a hora de Deus (cf. Ap 14.7,15). Ela abrange juízo e nova criação. Neste caso se esteja aludindo aqui à primeira metade sombria. Ela é a meia hora do silêncio de Deus, na qual ele retira sua fala criadora e preservadora e na qual o mundo se decompõe (Ap 20.11). A hora se completa quando Deus volta a falar, criando um novo céu e uma nova terra.

O primeiro esboço esquemático da história do fim, da Ascensão até a vinda do Senhor com glória realçou nitidamente o tema principal do livro todo: o Cordeiro foi autorizado e agora tomou todos os acontecimentos em sua mão. Seu senhorio constitui a realidade básica de todo este período de tempo, preenchendo-a integralmente. Ele está relacionado com tudo e pode ser proclamado em relação a tudo. Do seu trono partem ira (cap. 6) e amor (cap. 7), perpassando o tempo como as duas reais forças históricas. Elas aparecem em forma preliminar, pressionando em direção do fim, no qual Cristo demonstrará seu senhorio de modo definitivo e efetivo. Até aquela hora o Cordeiro não deixa o presente mundo em paz. Repetidamente ela de algum modo tem a ver com ele.

O propósito do Apocalipse é abrir os olhos das igrejas para esta realidade. Elas devem reconhecer que o evangelho não é apenas pleno de implicações para elas pessoalmente ou para uma história singular de salvação, mas também para uma história geral. Evangelho e história mundial não são grandezas não relacionadas entre si, motivo pelo qual tampouco igreja como mundo são grandezas desconexas, e pelo qual a igreja tem uma mensagem para o mundo. Contudo, ela somente será capaz de anunciar esta mensagem quando ler, ouvir e guardar a palavra da profecia.


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Apocalipse 8:1