Estudo sobre Romanos 6:18-23

Romanos 6:18-23

Continuando numa linguagem fortemente metafórica, Paulo fala da troca do “escravocrata”: uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos (“feitos escravos”) da justiça. Na verdade, é insuportável falar de uma “escravização” pela justiça. Esse uso impróprio de alguns termos nos versículos subsequentes foi identificado na nossa tradução por meio de aspas. Paulo pede escusas por essa forma de falar, mas também justifica seu procedimento, no v. 19a: Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne, i. é, por causa da fraqueza humana, que com demasiada facilidade entende as coisas equivocadamente. Em última análise, o que está em jogo é: quem confessou com todas as letras que Jesus se tornou seu Senhor, agora queira também portar-se de acordo com essa realidade, não a reprimindo posteriormente, a fim de esquivar-se.

A comparação deve ser traçada com toda a nitidez e rigor: Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem (“como escravos”) à justiça para a santificação. A conversão dos romanos criou para eles um novo “agora” (cf também os v. 21,22). “Agora” é condizente com o tempo que estejam exclusivamente a serviço de Cristo.

Em Rm 14.1-9, Paulo investiga uma existência destas em todas as suas ramificações. Oito exemplos demonstram a envergadura de uma vida para Cristo: “comer, beber, ser fraco, ser forte, estar de pé, cair, viver e morrer para o Senhor”. Tudo isso Paulo resume aqui e no v. 22 no conceito da santificação.

Até aqui Paulo argumentou com a “igualdade” entre serviço ao pecado e serviço à justiça. Nos versículos restantes, ele dirige a atenção para a diferença incomum entre as duas relações de serviço. Para isso, ele indaga sobre o fruto do tempo antes de os romanos serem cristãos. Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos (“livres”) em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Fora da justiça só se pode falar ironicamente de “livres”. Nessa condição, também o “resultado” torna-se um contra-senso. Amargamente envergonhados, contemplam, do “agora”, o “naquele tempo”: Apesar de toda a empáfia de liberdade (Rm 1.30: “soberbos, presunçosos”), não deixava de ser uma liberdade aterradora que produzia frutos podres. Somente as coisas – que enchem catálogos de vícios como em Rm 1.29-32; 3.10-17 ou 13.13 – de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas (dessas coisas) é morte. Jaziam diante deles como um campo de ossadas os anos que, naquele tempo, eventualmente até tinham lhes trazido alegria (Rm 1.32). Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos (“escravos”) de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna.

No resumo didático, Paulo abandona a metáfora do escravo e volta a aludir ao sistema militar, como já fizera no v. 13. O pecado aparece agora como um líder de mercenários, que paga o soldo a seus homens após a expedição. Porque o salário (soldo) do pecado é a morte. A Bíblia também conhece o morrer como condição natural de sermos humanos. Aqui, no entanto, fala-se, como em Rm 1.32; 5.12, da morte por força de julgamento. Não somente havemos de morrer, nós merecemos morrer. Porque o pecado destrói o relacionamento com o Deus da vida, a linha de produção dele precisa ser diretamente a morte. A morte sempre já está incluída em toda a avidez pela vida (1Co 15.32b). O pecado está grávido da morte (Tg 4.15). Contrastando com essa perspectiva sombria, o final agora é dado por uma frase plena de luz: mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.