Estudo sobre Apocalipse 11:1

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Apocalipse 11:1

Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara. João compara imediatamente esse cano,437 que um anjo lhe entrega, com uma vara. O leitor deve imaginar uma vara de medir, que supera consideravelmente o comprimento de um junco. Ezequiel igualmente vislumbra, nos cap. 40–43, a medição de um templo com uma vara de medição, que conforme Ez 40.5 era de seis côvados grandes, i. é, 3,15m. Um instrumento assim foi entregue a João com as palavras (“dizendo”):440 Dispõe-te441 mede o santuário de Deus, o seu altar.

No Ap podem ser diferenciados nitidamente três idéias de templo. Ap 21.22 fala a respeito de um templo em sentido puramente figurado sobre a nova terra. Ele é idêntico a Deus e ao Cordeiro. De acordo com Ap 3.12, os vencedores serão feitos “colunas” nesse templo. Na consumação não haverá mais um templo em sentido real. Além disso, João vê muitas vezes um templo atual no céu (Ap 7.15; 11.19; 14.15,17; 15.5,6,8; 16.1,17), ou seja, também uma realidade espiritual, visionária (cf. o exposto sobre Ap 6.9 e nota 247). Como terceira concepção resta a presente passagem, que não se insere nos dois significados citados anteriormente. Esse templo existia no tempo de João, porque de fato devia medi-lo. De acordo como o v. 2 ele se situa na “cidade sagrada”, que no v. 8 recebe o nome “cidade grande”, sendo ali relacionada claramente com a Jerusalém judaica, em que Jesus sofreu a morte na cruz. Acaso, trata-se, portanto, do templo de Herodes? Nesse caso teríamos diante de nós a profecia de que Jerusalém e o pátio externo do templo seriam conquistados por gentios, enquanto o pátio interno com o edifício do templo conseguiria resistir aos sitiadores até a milagrosa salvação por Deus. Contra essa interpretação, no entanto, manifestam-se fortes ressalvas. Em primeiro lugar, é praticamente certo que o livro foi redigido após a destruição de Jerusalém (vol. i, qi 1-7). Coincidindo com a profecia do Senhor em Mt 24.2, também o próprio templo se tornara alvo dessa destruição. Quem leva João e seus leitores, que liam esse livro com afinco e comoção no século ii, tão a sério como a si mesmo, não pode mais afirmar que no presente texto teríamos uma profecia cristã a respeito de uma preservação milagrosa do templo judaico em Jerusalém.

Em decorrência, João não está falando, no presente caso, de um conceito arquitetônico, e sim teológico de “templo”. Na verdade o NT jamais menciona a expressão completa “templo de Deus” na boca de Cristo ou de um cristão quando fala do templo em Jerusalém. Em contrapartida, poderia falar-se dessa forma a respeito do novo povo da aliança (1Co 3.16; 2Co 6.16; de modo similar Ef 2.21; 2Ts 2.4; 1Tm 3.15; 1Pe 2.5; 4.17; Hb 10.21). Não obstante, a intenção aqui é preservar a referência à Jerusalém histórica (cf. acima). Até hoje, porém, é possível fazer referência a um povo inteiro, citando-se sua capital. Assim, consta aqui “cidade santa” ou Jerusalém para o Israel do AT. Esse Israel também era templo de Deus. Desse modo manifesta-se a mesma reverência pela eleição de Israel como em Jo 4.22.

João deve medir também o altar. Com certeza está sendo feita alusão ao altar de holocaustos no “átrio interno”, pois o próximo versículo traz a contraposição ao “átrio exterior”. O altar identificava o local do matadouro diante do edifício do templo, no qual atuavam os sacerdotes, ao qual porém tinham acesso israelitas que prestavam sacrifícios. Esse lugar não pode ser separado do templo. Desse modo, o anjo instrui João a medir todo o complexo do templo.

O quanto ele tem em mente pessoas é revelado pelo que se segue, que interpreta o conceito de edifício: e os que naquele adoram. É por isso que somente pode tratar-se de uma medição simbólica, o que ainda se expressa pelo fato de que a execução dessa “medida” permanece completamente abstrata e que, ao contrário da medição do templo em Ez, não aparecem resultados numéricos. São medidos os adoradores “em espírito e em verdade” (Jo 4.21-24), ou seja, no presente contexto, o Israel crente.

Assim como também nós podemos descrever, pelas expressões “tomar medidas” e “estabelecer medidas”, uma determinada punição, assim os profetas a usavam no sentido de anúncio de juízo (2Rs 21.13; Lm 2.8; Am 7.7,8). Esse sentido, porém, não cabe no presente texto. Pelo contrário, de acordo com o v. 2 temos de pensar num ato de proteção. O que não foi medido é tido como abandonado, enquanto o que foi medido como sagrada propriedade de Deus. Desse modo permanece preservado e isento de qualquer destruição. De maneira marcante essa medição se coloca ao lado do selamento no cap. 7. Enquanto aquele se referia ao núcleo central do povo (“Israel”), essa se refere ao santuário central (“templo”). São coincidentes as mensagens de ambas as ilustrações.



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Apocalipse 11:1