Mateus 7:13-29 — Comentário Católico

Mateus 7:13-29 — Comentário Católico

A porta estreita (7,13-14)

Estes versí­culos expressam a teologia pactuai dos dois caminhos, um que conduz à vida, o outro à morte (Dt 28; 30,15; Did. 1,1; Barn. 18,1; 1QS 3,18-25); veja K. Baltzer, The Covenant Formulary (Philadelphia, 1971 [tradução para o português O formulário da Aliança, Loyola]); e, sobre Mateus, Frankemõlle, Jahwebund. 49 (b) Dar frutos (7,15-20). Cf. Lc 6,43­ 44; esta e a unidade seguinte (vv. 21-23) têm um relacionamento complexo com a fonte Q, pois foram consideravelmente reelaboradas pelo redator, que introduz o novo tema da falsa profecia, pelos seus frutos os reconhecereis: Este parêntese nos vv. 16.20 identifica o tema desta unidade. Os “frutos” são a fé vivida ou a conduta ética, o teste de uma pessoa boa. 15. falsos profetas: A profecia é uma atividade relacionada ao Espírito ou uma atividade carismática. Alguns pensam que Mateus era anticarismático e minimizou o papel do Espírito em seu evangelho. Outros salientam que ele acrescentou a menção da profecia e dos profetas, que não estava em sua fonte; isso mostra que ele estava interessado no tema e leva à conclusão de que havia profetas em sua comunidade. Mateus provavelmente estava mais preocupado em regular a profecia e em coibir abusos mantendo a profecia dentro de limites morais do que em suprimi-la completamente. Há, sem dúvida, um tom sóbrio e moral em Mateus e uma concentração da atenção no ensino de Jesus. Mas Mateus era também um mestre e estava por demais interessado na criatividade (veja comentário sobre 13,52) para opor-se completamente à profecia ou à obra do Espírito. Ele permanece sendo o pastor capaz, interessado, não um inquisidor.

Um episódio no juízo final (7,21­ 23)

Deus é o juiz, Jesus o advogado (em contraposição a Mt 25,31-46). O versículo 22 é influenciado por Jr 14,14 e 27,15 (34,15 da LXX). 23. apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade: Isto é derivado do SI 6,9. A única fonte sinótica é Q (ver Lc 6,46). Os paralelos incluem Mt 10,32-33; 25,1-13.31-46; Lc 13,23­ 30; Mc 8,38; Ap 3,5; 2 Ciem. 3-4; Justino, Apol 1.16.9-11; Dial. 76.5. O aspecto dominante do v. 13 ao v. 23 é que ninguém sairá vitorioso no último juí­zo com base somente nas palavras corretas ou ações espetaculares de poder espiritual. Somente uma vida de amor e de justiça terá valor. Este aspecto reflete a característica ligação mateana da ética com a escatologia e sua concepção da igreja como um corpo misto de santos e pecadores até a separação final feita por Deus (em contraposição a uma doutrina da igreja como comunhão invisível dos santos). A concepção de Mateus contesta a complacência cristã e a arrogante garantia da salvação. Esta concepção pode parecer oposta à de Paulo, mas Paulo também se esforçou para impedir seus seguidores de extrair conclusões imorais ou amorais de seu evangelho e alertou os cristãos que eles também seriam julgados (p.ex., ICor 3,13-15). Ainda assim pode haver ênfases pastorais diferentes, uma para os excessivamente escrupulosos e outra para os lassos.

Casas construídas sobre a rocha e sobre a areia (7,24-29) 

Esta parábola, que Mateus transforma em uma parábola sobre o homem sábio e o insensato, conclui o sermão, retornando ao tema dos dois caminhos da teologia da aliança (veja o comentário sobre 7,13-14). E habitual na Mishnáh terminar um tratado jurídico com breve relato ou uma parábola. O contraste, aqui, desenvolvido em um rigoroso paralelismo antitético, é entre o “ouvir” e “fazer”e “ouvir” e “não fazer”, enquanto nos vv. 21-23, o contraste estava entre “dizer” e “fazer” ou “não fazer”. 24. essas minhas palavras: Esta expressão aponta de volta ao sermão em si como um tipo de Torá. Para Mateus, seguir a palavra de Jesus é sabedoria de vida. (Esta ênfase sapiencial está ausente em Lucas). 25. caiu a chuva: A situação natural reflete o tipo de inundações comuns na terra santa durante a estação chuvosa do inverno. 28-29. O efeito do sermão. 28a. aconteceu que ao terminar Jesus essas palavras: Esta é uma fórmula de Mateus (repetida em 11,1; 13,53; 19,1; 26,1), que ocorre no fim de cada um dos cinco grandes blocos de material catequético que ajudam estruturar este evangelho. 28b-29. Mateus retorna aqui à sua fonte Marcos (1,21.22). Acrescenta o adjetivo possessivo “seus” a “escribas” porque em sua igreja havia escribas (13,52; 23,34), um ofício consagrado em Israel desde a época de Esdras, bem como profetas, sábios, apóstolos e justos (pessoas que tinham sofrido pela fé, 10,41). autoridade: Na Antiguidade, a autoridade derivava da fidelidade à tradição. Tanto Jesus quanto os escribas judaicos ensinavam com uma certa autoridade (rêsut) baseada na tradição. Mas os escribas não se apresentavam nesta época como figuras reveladoras com acesso direto à vontade do pai (7,21). Para as multidões, os primeiros cristãos e Mateus, Jesus era uma figura assim, que possuía um acesso mais imediato ao pai e à realidade vivida e a uma gama mais ampla da tradição bíblica do que os escribas primordialmente haláquicos. E desta combinação singular que vinha a autoridade de Jesus.