Significado de Gênesis 5

Gênesis 5

Gênesis 5 apresenta a genealogia de Adão a Noé, traçando a linha de descendentes desde a criação de Adão até o dilúvio. O capítulo enfatiza o tema da continuidade do plano de Deus ao longo da história e a importância da linhagem.

O capítulo começa listando os descendentes de Adão, destacando a idade em que se tornaram pais e sua expectativa de vida. O capítulo então enfoca a vida de Enoque, que andou com Deus e foi levado para o céu sem experimentar a morte. A genealogia continua com os descendentes de Seth, ancestral de Noé. O capítulo termina com o nascimento de Noé e seus filhos Sem, Cam e Jafé.

No geral, Gênesis 5 apresenta o relato da genealogia de Adão a Noé, traçando a linhagem dos descendentes e enfatizando a importância da linhagem no plano de Deus. O capítulo destaca a continuidade do plano de Deus ao longo da história, a importância de caminhar com Deus e a inevitabilidade da morte. Também prepara o cenário para a narrativa do dilúvio que se segue nos próximos capítulos.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

Gênesis 5 abre com a fórmula programática zè sēfer tôlĕdōt ʾādām (“este é o livro das gerações de Adão”), que a LXX verte como hautē hē bíblos genéseōs anthrōpōn. Essa expressão, virtualmente única, reaparece como título do evangelho em grego: bíblos genéseōs Iēsou Christou (Mateus 1:1). O paralelismo não é acidental: a forma septuagintal de Gênesis 5:1 fornece a matriz linguística para a apresentação messiânica de Mateus, em que a “genealogia” de Jesus é contada no mesmo registro lexical que a “genealogia” de Adão.

Os vv. 1–2 recapitulam Gênesis 1 com o par imagem–semelhança: bidmût ʾĕlōhîm ʿāśâ ʾōtô (“na semelhança de Deus o fez”) e, em 5:3, bidmûtô kĕṣalmô (“à sua semelhança, segundo a sua imagem”). A LXX verte 5:1 com kat’ eikóna theou epoiēsen auton e, em 5:3, escolhe um par filosófico grego pouco frequente na Bíblia: katà tēn idean autou kai katà tēn eikona autou. Assim, onde Gênesis 1:26 na LXX usara eikōn/homoiōsis, Gênesis 5:3 prefere idea/eikōn — nuance que, na tradição grega, reforça a linguagem de “forma/imagem” e ecoa, no Novo Testamento, quando Cristo é chamado de eikōn tou theou e a nova humanidade é renovada “segundo a imagem” (cf. o campo semântico de eikōn).

A fórmula genealógica do capítulo — “X viveu... gerou... e foram todos os seus dias... e morreu” — é ritmada no hebraico por wayḥî... wayyōled... wayihyû... wayyāmōt, e na LXX por ezēsen... egennēsen... egenonto... apéthanen. O refrão final “e morreu” (wayyāmōt // apéthanen) cria a moldura teológica que Paulo explicita: “a morte reinou de Adão a Moisés” (Romanos 5:14) e “em Adão todos morrem” (1 Coríntios 15:22). O argumento paulino está literalmente apoiado na cadência do texto grego que os cristãos liam, em que cada geração conclui com o impiedoso apéthanen.

Um ponto em que a LXX se distancia do massorético é a cronologia: em Gênesis 5:3, por exemplo, a LXX registra que Adão “viveu duzentos e trinta anos e gerou” (± +100 anos em relação ao hebraico de 130), padrão que se repete em vários patriarcas antediluvianos e afeta as cronologias usadas no judaísmo helenista e no cristianismo antigo. Essa variação numérica, porém, não altera a função retórica do capítulo na LXX: a sequência egennēsen... apéthanen mantém o ponto canônico — a universalidade da morte “em Adão”.

O caso de Enoque (vv. 21–24) é paradigmático para ver como a LXX prepara o Novo Testamento. O hebraico repete duas vezes wayyiṯhallēḵ ḥănōḵ ʾet-hāʾĕlōhîm (“Enoque andou com Deus”) e conclui: weʾênennû kî lāqaḥ ʾōtô ʾĕlōhîm (“e não estava [mais], pois Deus o tomou”). A LXX, porém, verte euēréstēsen Enoch tō Theō (“Enoque agradou a Deus”) e: “ouch hēurisketo, hoti metéthēken auton ho Theos” (“não era encontrado, porque Deus o transferiu”). Hebreus 11:5 cita exatamente essa forma grega: metetethē... ouch hēurisketo... memartyrētai euērestēkenai tō Theō. O deslizamento de “andar com” (hebraico) para “agradar a” (grego) não é perda, mas reinterpretação que o Novo Testamento canoniza — a conduta de Enoque torna-se paradigma de fé que “agrada” a Deus e é “transferida” (metatithēmi) à vida. Judas 1:14, por sua vez, pressupõe a contagem genealógica (“Enoque, o sétimo [hebdomos] depois de Adão”), que vem precisamente da cadência de Gênesis 5.

Os vv. 1–2 acrescentam ainda duas observações de peso para o Novo Testamento: (a) “homem e mulher os criou... e chamou o nome deles Adão” — a LXX preserva o plural (“eponómasen... autōn Adam”), sublinhando o caráter corporativo de “Adão” como nome da humanidade, uma base natural para en tō Adam em 1 Coríntios 15:22; (b) a mesma LXX que molda esse “Adão coletivo” também oferece a forma final da genealogia messiânica, cuja cadeia verbal egennēsen (Mateus 1) ecoa o estilo septuagintal de Gênesis 5.

No fecho do capítulo, a etimologia de Noé (v. 29) mostra a arte tradutória grega: o hebraico yĕnaḥamēnû (“este nos consolará”) vira dianapaúsei hēmas (“este nos fará repousar”), deslocando a nuance para o campo semântico de anapausis/anapauō (“repouso/descanso”), termos que o Novo Testamento emprega na promessa de Jesus sobre dar “descanso”. Mesmo sem citação direta, percebe-se como a LXX reconfigura o horizonte de leitura: o “repouso” associado a Noé torna-se parte do vocabulário soteriológico grego. (Aqui a inferência repousa na rede lexical; o dado textual de Gênesis 5:29 na LXX é seguro.)

Por fim, o Novo Testamento recolhe Gênesis 5 como uma “gramática” já grega para falar de origem, imagem, vida e morte. Lucas encerra sua genealogia com “tou Enōs, tou Sēth, tou Adam, tou Theou” (Lucas 3:38), amarrando Adão a Deus no mesmo idioma que a LXX fixou; Paulo condensa a cadência de “e morreu” em “a morte reinou” (Romanos 5:14) e “em Adão todos morrem” (1 Coríntios 15:22); Hebreus 11:5, como vimos, cita ipsis litteris a versão grega de Enoque. Assim, a coerência entre Gênesis e o Novo Testamento não é apenas temática; ela é também filológico-textual: bíblos genéseōs, eikōn/idea, egennēsen... apéthanen, euēréstēsen... metéthēken — a língua da LXX é o trilho por onde o Novo Testamento lê e proclama Gênesis 5.

II. Comentário de Gênesis 5

Gênesis 5.1-32 Este capítulo faz menção ao histórico familiar que conecta Adão a Noé. Nós não sabemos quanto tempo há neste processo. O sentido deste capítulo é esclarecer a ligação entre os descendentes de Adão, Sete e Noé, e não estabelecer uma cronologia.

Gênesis 5.1 A expressão livro das gerações é encontrada em dez passagens significantes em Gênesis (Gn 2.4). A genealogia de Adão é o pilar principal da construção de Gênesis. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez. A imago Dei na humanidade (Gn 1.26-28) continua depois da Queda (Gn 3, compare com Gn 9.6, após o Dilúvio).

Gênesis 5.2 Macho e fêmea os criou. Na criação original da humanidade, há dois sexos complementares: o masculino e o feminino, como é estabelecido claramente em Génesis 1.26-28.

Gênesis 5.3 E Adão viveu cento e trinta anos. A vida longa das pessoas nestes primeiros capítulos de Gênesis leva a uma considerável especulação. Alguns sugerem que estas idades eram possíveis por causa das tremendas diferenças de clima e de ambiente antes do Dilúvio (cap. 6—9). Outros sugerem que a longevidade das pessoas é uma maneira de expressar a importância destas no mundo antigo. E [Adão] gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem. Semelhança e imagem são os mesmos termos, em ordem inversa, usados para definir a humanidade criada por Deus em Gênesis 1.26.

Gênesis 5.4 E gerou [Adão] filhos e filhas. Nossos antepassados geraram um grande número de filhos e filhas. Presumimos que houve casamento entre estes, é claro. Os problemas associados com o incesto, citados em Levítico 18, provavelmente ainda não aconteciam na época.

Gênesis 5.5 E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu. Quando Deus fez Adão e Eva, a expectativa era de que estes vivessem para sempre. Houve uma profunda tristeza na morte de Adão, coisa que remeteu à sua condição de mortal e à nossa também. E morreu é o comentário feito após a morte de cada um dos dez nomes na lista deste capítulo, exceto um, Enoque (v. 24). A sentença de Deus para o homem pós-Queda é cumprida com a morte de Adão e cada um dos seus descendentes (Gn 3.19; 6.3). A morte entrou no mundo por meio de um homem, passando a todas as outras pessoas (Rm 5.12; 1 Co 15.22).

Gênesis 5.6-20 As listas genealógicas nestes versículos seguem o seguinte padrão: (1) E viveu fulano x anos, e gerou beltrano; (2) E viveu fulano, depois que gerou beltrano, x anos, e gerou filhos e filhas; (3) e foram todos os dias de fulano x anos, e morreu. Veja também o registro da descendência de Sem (Gn 11.10-26). Estas listas estão incompletas (compare com a genealogia em Mateus 1.1-17). Elas servem meramente para indicar as figuras mais importantes em um extenso período de tempo. Foram transmitidas oralmente, com intuito de serem memorizadas, pois fazem menção de certas figuras centrais, assegurando conexão entre os grandes períodos e os nomes dos pais e seus descendentes. Sendo assim, quando é dito que A gerou B, este pode não ser o descendente direto daquele, mas sim um descendente importante e mais remoto. O padrão bíblico está de acordo com os padrões do antigo Oriente, que é o padrão de muitas tribos atualmente.

Gênesis 5.21-24 O nome mais fascinante nesta lista é o de Enoque. A frase e andou Enoque com Deus (v. 22,24) exprime uma vida de comunhão com o Senhor e obediência a Ele (como também experimentou Noé, Gn 6.8). Esta passagem remete à experiência de Adão e Eva, que viveram em uma proximidade grandiosa com o Senhor, antes da Queda (Gn 3.8). E não se viu mais [Enoque], porquanto Deus para si o tomou. Isso não significa que Enoque deixou de existir, mas que ele foi tomado, transladado, arrebatado por Deus para junto de Si. Apenas Enoque e Elias (2 Rs 2.11) tiveram essa experiência. A de Enoque, que ocorreu primeiro, foi um testemunho de sua profunda fé em Deus (Hb 11.5,6) e deixou uma forte lembrança, no começo da história bíblica, de que há vida na presença de Deus após a morte para as pessoas que andam com o Senhor. O que Enoque experimentou é o que cada pessoa que está com Deus poderá experimentar quando Cristo se manifestar novamente, dando-nos vida eterna junto ao Pai.

Gênesis 5.25-27 E viveu Metusalém cento e oitenta e sete anos e gerou a Lameque. Matusalém é citado como o homem que viveu mais do que qualquer outra pessoa mencionada em Gênesis: 969 anos.

Gênesis 5.28-31 A coisa mais importante pela qual Lameque é lembrado é seu descendente Noé, cujo significado do nome é o único comentado pelo narrador deste capítulo [este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou]. A palavra Noé [hb. Noach, repouso] vem de um verbo que significa descansar, e está associado a alívio. O nascimento de Noé, para seu progenitor, significava uma inversão de curso para a humanidade.

Gênesis 5.32 Os filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé, figuram na história do Dilúvio (cap. 6—9).

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