Daniel 4 — Comentário Teológico
O livro de Daniel compõe-se
essencialmente de seis histórias e
quatro visões. As histórias
ocupam os capítulos 1-6, e as visões os capítulos 7-12. Quanto a detalhes sobre esse arranjo, ver
a seção “Ao Leitor", parágrafos quinto e sexto, apresentados imediatamente antes
do começo da exposição sobre Dan. 1.1. Agora chegamos à quarta
história, que versa sobre a loucura
de Nabucodonosor. Este capítulo naturalmente tem três
divisões: vss. 1-9; vss. 10-27 e vss. 28-37. Há um título no início de cada uma
dessas divisões, dando a essência do que se segue.
A Insanidade de Nabucodonosor
(4.1-37)
Esta quarta história aparece sob a
forma de uma epístola de Nabucodonosor a seus súditos. O material move-se
do passado (seu
sonho-visão interpretado por Daniel) para o presente
(a profecia sobre a insanidade do rei). A lição moral
e espiritual a ser comunicada é que
até o maior dos poderes pagãos mostra-se impotente diante da história e das
vicissitudes que estão sob o controle de Yahweh.
Nabucodonosor foi
reduzido ao estado dos animais, completamente
humilhado pelo decreto divino que anulou
tudo quanto ele era e podia fazer. No entanto, manifesta-se nessa história a
misericórdia divina, pois o rei recebeu permissão de voltar e recuperar sua antiga
glória. Os registros babilônicos nada dizem sobre isso, nem sobre um período de
insanidade para o rei, nem sobre sua ausência do trono por algum tempo, por alguma
razão. Há um relato sobre Nabonido, o último rei neobabilônico, que esteve
afastado da capital por vários anos, tendo vivido no deserto; mas certamente
Nabucodonosor não está em pauta nesse relato secular.
Por esse motivo, os críticos
supõem que a história encontrada no livro de Daniel seja uma adaptação do incidente
histórico de Nabonido, mas isso é apenas uma conjectura. Seja como for, sem
importar o que possamos pensar sobre a historicidade do evento, não
devemos permitir que a falta de confirmação secular nos furte de lições espirituais e
morais.
Eusébio (Preparações
para o Evangelho, IX.41) relatou a curiosa história
de como Nabucodonosor, em estado de
êxtase, previu que a Mula Persa se apoderaria dele. A mula era ajudada por uma
mulher midianita. A história é interessante, mas não sabemos se reflete algum
incidente real na vida de Nabucodonosor.
Prólogo (4.1-9)
Nabucodonosor escreveu sua
epístola e contou sua história, segundo sumario nas notas acima. Ele quis dar
um testemunho pessoal, a todos os seus súditos, sobre as coisas admiráveis que
lhe aconteceram. Alguns antigos monarcas vãmente imaginaram que podiam
estender suas mãos sobre toda a terra. Mas
a verdade é que mesmo um grande rei
pagão nada é contra o Deus de Israel. A história de Nabucodonosor ilustra
esse fato de maneira bastante gráfica. A história humana inteira ilustra a mesma
verdade. Este capítulo é uma apologia da superioridade do judaísmo sobre o
paganismo, principalmente porque o judaísmo conta com a ajuda do verdadeiro
Deus, ao passo que o paganismo é “guiado” por não-deuses.
A Carta do Rei (4.1-3)
4.1
O rei Nabucodonosor a todos os
povos. Esta carta foi enviada a todos os povos e terras sujeitados à
Babilônia, bem como ao próprio povo babilônico, uma grande massa de gente de Io d a a
terra". Ver Dan. 3.4 quanto a uma declaração similar. O rei lhes desejou a
“paz”, uma introdução comum nas cartas do antigo Oriente Próximo e Médio. Esse era
o homem que fizera guerra universal, mas agora descrevia seu avanço
espiritual, por meio de experiências incomuns. Por assim dizer, essa carta foi uma
epistola pastoral, na qual o rei figura como o pastor de seus súditos-ovelhas.
Cf. a saudação de paz
em Esd. 4.18 e
7.12. No Novo Testamento, a saudação
tornou-se uma saudação espiritual. Ver Rom. 1.7; I Cor. 1.3; Gál. 1.3; Col. 1.12; I
Ped. 1.2 e Apo. 1.4 etc.
4.2
Pareceu-me bem fazer conhecidos os
sinais e maravilhas. Para o rei pagão, o Deus Altíssimo (ver no Dicionário e em notas adicionais sobre Dan. 3.26) comunicara importantes
mensagens. Esse título aparece treze vezes no livro, conforme mostro nas notas
sobre o versículo citado. É feito um contraste
entre os “deuses” deste mundo, que
não passam de ilusão (ver Dan. 2.11), razão pela qual freqüentemente
desapontam os homens, e o Deus dos israelitas. Em contraste, o Deus dos judeus tinha
exibido diante do rei grandes sinais e maravilhas, em visões que Daniel
autenticara e interpretara. Quanto aos sinais e maravilhas, ver também Dan.
6.27. Cf. Deu. 4.34; 6.22; Isa. 8.18. No Novo Testamento, ver Mar. 13.22 e Rom. 16.19.
4.3
Quão grandes são os seus sinais.
Os sinais do Deus Altíssimo são grandes,
e suas
maravilhas são poderosas,
em contraste com
os deuses-ídolos dos pagãos. O Deus Altíssimo também
tem um reino que é eterno e, finalmente, destruirá e substituirá
todos os reinos da terra (Dan. 2.44,45). Seu domínio, em contraste com o dos reis da terra, continua interminavelmente, passando de uma geração a outra. A lição espiritual assim ensinada é que o Deus
dos judeus é incomparável. O paganismo e a idolatria são atacados. A lição moral é
que devemos lealdade ao Deus Altíssimo, ao mesmo tempo que podemos ignorar, com segurança, todas as imitações. O vs. 3 tem linhas métricas, e estas assumem a forma de um hino de louvor, Cf. Sal. 145.5,13.
“Esses são excelentes sentimentos que mostram quão profundamente sua mente ficara impressionada com a majestade de Deus” (Adam Clarke, in
toe).
A Incapacidade dos Magos e o Sucesso de Daniel (4.4-9)
4.4
Eu, Nabucodonosor, estava tranqüilo em minha casa. A Septuaginta data os acontecimentos descritos no décimo oitavo ano do reinado de Nabucodonosor.
Trata-se, porém, como é claro, de uma glosa. O rei diz-nos quão pacífica e livre de cuidados era sua vida pagã, a qual foi perturbada pela intervenção do Deus de Israel, o Deus Altíssimo. Ele descansava em seu palácio. Suas conquistas tinham sido essencialmente realizadas.
Ele estava apreciando a boa vida, em todos os seus prazeres e excitações. De
repente, tornou-se instrumento da revelação divina. O impacto foi tão grande que esta carta saiu inspirada. Ele precisava contar a seus súditos as maravilhas que
tinham sacudido sua vida. Tal perturbação espiritual, porém, produziria
mudanças para melhor e, através dessa mudança, outras pessoas seriam instruídas. O homem estava florescendo em sua vida material, mas estava em um
deserto quanto à sua vida espiritual.
4.5
Tive um sonho, que me espantou. A agitação da revelação, através
de um sonho-visão, perturbou a vida descansada do rei. As experiências místicas com freqüência aterrorizam no começo, e foi isso o que ocorreu. Após o primeiro
susto, a mente do homem foi tomada de ansiedade. Ele sabia que algo importante havia sido comunicado, mas não tinha capacidade de interpretar o sonho. Os fantasmas da visão continuaram a circular por seu cérebro e não lhe deram descanso. Ele estava alarmado e espantado. Ver Dan. 3.24 e o vs. 19, em
seguida. A mesma palavra também é usada em Dan. 5.6,9,10; 7.15,28, sempre para falar de uma mente perturbada. Em contraste com Joel 2.28, este livro não parece fazer
diferença entre sonhos e visões espirituais. Ver no Dicionário os
artigos Sonhos e Visão (Visões). Ver também as notas em Dan. 2.1,2.
4.6,7
Por isso expedi um decreto. Para tentar compreender a nova visão, o rei (ele não mencionou a primeira, sobre a imagem, cap. 2) usou o mesmo procedimento que antes. Ele expediu um decreto, convocando todos os psíquicos profissionais e outras classes de sábios a interpretar o sonho-visão. O vs. 7 lista esses sábios, mas
há uma lista mais ampla em Dan. 2.2. Aqui foram adicionados os “encantadores",
mas devemos subentendê-los no capítulo 2. Os caldeus são a casta
coletiva dos sábios. Esta narrativa ignora a questão das ameaças de morte para os sábios e
seus familiares, caso houvesse falha na interpretação (ver Dan. 2.5). E o apelo passa
diretamente a Daniel, uma vez constatado que os sábios não podiam solucionar a enigmática
visão do rei. Cf. este versículo com Dan. 2.27, onde a enumeração da casta dos sábios
se parece mais com a dos presentes versículos.
4.8
Por fim se me apresentou Daniel. Esta história deixa de lado a busca por Daniel, conforme se vê no capítulo 2, como se ela não tivesse ocorrido. É
provável que as duas histórias sejam independentes. Este quarto capítulo por certo não é
visto como dependente do segundo, de modo algum. Não apresenta nenhuma progressão.
Faz-nos pensar que o rei, em seguida, descobriu Daniel. Daniel também é chamado de Beltessazar. Ver a mudança do nome de Daniel em Dan. 1.7. Ele
recebeu novo nome de acordo com Bei (Marduque), o principal deus da Babilónia. E, acima de
todas as pessoas que o rei conhecia, Daniel estava cheio do Espírito dos deuses santos.
Essa linguagem é pagã, naturalmente. O rei deveria ter dito “cheio com o
Espírito de Deus”. Daniel era um homem inspirado, um gigante espiritual de quem se poderia esperar toda a forma de maravilhas, acima do que se poderia esperar de qualquer homem mortal. O Ser divino estava com ele, e isso o tomava um homem extraordinário. O rei aferrou-se ao seu paganismo e às suas expressões, mas reconheceu que tinha muito para aprender de Daniel e sua fé hebraica.
4.9
Beltessazar, chefe dos magos. Continuando a usar seu vocabulário pagão, o rei chamou Daniel de “chefe” da casta dos sábios. Ele era o melhor dos
psíquicos profissionais. O espírito dos deuses, segundo dizia o rei, estava com
Daniel, pelo que ele atuava acima das capacidades de um homem normal. Ele era um intermediário do Ser divino. Era tão poderoso que conhecia todos
os mistérios. Ele podia interpretar as visões ou sonhos do rei. O que o rei disse era muito
complementar, mas podemos estar certos de que eram elogios sinceros, ou ele não
se teria incomodado em convocar Daniel. Cf. este versículo com Dan. 2.48 e 5.11. Nenhum mistério era difícil demais para Daniel (ver Dan. 2.19). Cf. Eze. 28.3, que se
refere a um antigo sábio chamado Daniel, que alguns supõem ser o profeta bíblico. Quanto ao espírito dos deuses santos, cf. o vs. 18 e também Dan. 5.11,14.
O Sonho e Sua Interpretação (4.10-27)
4.10
Eram assim as visões da minha cabeça. Em contraste com a história do capítulo 2, Daniel não foi solicitado a recuperar a visão do rei, para então
interpretá-la. O rei lembrava o sonho, pelo que a tarefa de Daniel foi apenas de
interpretá-lo. O rei tinha consciência de seu sonho-visão, uma árvore grande e impressionante
cujo topo chegava ao céu, quase fora de vista. Os sonhos e as visões geralmente operam através do fomento do tamanho. Isso nos diz: “Olhai para
essa árvore gigantesca” e prepara a nossa mente para algo grande. Os símbolos dos sonhos e das visões são idênticos, pelo que a pessoa capaz de interpretar sonhos também
é capaz de interpretar visões. Cf. esta passagem com Eze. 31.3-14, onde a visão
do grande cedro é mais ou menos parecida. O rei da Assíria está em vista aqui. Heródoto (Hist. VII.19) conta uma visão de Xerxes, na qual ele
viu a si mesmo coroado com os ramos de uma oliveira que enchia a terra inteira.
Uma árvore é uma figura comum que representa um homem, no Antigo Testamento. Ver Sal. 1.3; 37.35 e Jer. 17.18, Havia um conceito oriental sobre a árvore mundial, que
era retratada como se crescesse do umbigo da terra. Essa árvore subia até o alto da cúpula da taça invertida do firmamento. O rei e seu reino, naturalmente, eram a grande
árvore de seu tempo, mas nenhuma árvore era permanente, a despeito de sua
glória.
4.11
Crescia a árvore, e se tornava forte. A imensa árvore florescia. Seus ramos chegavam aos céus; ela era tão alta que podia ser vista de qualquer ponto da terra. Era a árvore universal. Coisa alguma se comparava a ela;
toda outra vegetação era minúscula. Nada era tão tirânico, tão diabólico, tão
poderoso e tão todo governante como aquela árvore. Suas raízes enchiam a terra;
seus galhos ocupavam o céu. A Septuaginta diz que o so le a lua nela
habitavam, e dali davam luz ao mundo inteiro. Cf. Isa. 14.14: “Subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”.
4.12
A sua folhagem era formosa. A maciça árvore tinha grande
quantidade de folhas peias quais respirava. Essas folhas eram bonitas de ser vistas e saíam
de ramos que produziam toda a espécie de frutos bons, em abundância. Os animais dos campos faziam sob a árvore suas covas, e as aves do céu punham seus ninhos próximos a seus ramos. Cf. Eze. 17.23 e 31.6. O significado dessa visão
é que todo o mundo, com todas as suas nações e povos, tornaram-se
dependentes daquela gigantesca árvore, que supria a todos, sendo o poder dominante que sujeitara a si mesmo todos os povos.
4.13,14
No meu sonho quando eu estava no meu leito. Enquanto o rei observava, viu um extraordinário fenômeno manifestar-se nos altos céus. Um vigilante,
um ser santo e divino, desceu do céu. Esse vigilante não gostou do que viu, e ordenou
que a árvore fosse decepada e que seus ramos fossem desnudados — a dispersão de seus frutos e a expulsão dos vários animais que tinham feito da árvore o seu quartel-general. A palavra aqui traduzida por vigilante vem de
uma raiz que significa “estar acordado”. A tradução da Vulgata Latina é “vigilante”. Os vigilantes
eram uma classe especial de anjos, na angelologia dos hebreus, pelo que a moderna
tradução da NCV diz aqui “anjo”, em lugar de “vigilante”. A destruição, que poupou
apenas a cepa da árvore (para que pudesse crescer novamente), não fala de como a Babilônia foi conquistada pelos medos e persas, mas somente da queda de poder temporário de Nabucodonosor, por causa de sua insanidade. Ele voltaria a ocupar o trono.
Cresceria de novo, depois de ter aprendido sua lição. Ver os vss. 23 ss. O vs.
25 fornece a estranha distorção de que o rei é que foi expulso do
trono, por ser ele a árvore, ao passo que a descrição se ajusta melhor ao final do império babilônico, com o fim da dependência do mundo a esse império.
4.15
Mas a cepa com as raízes deixai na terra. A
árvore, embora tivesse sido decepada e aparentemente destruída, precisava viver novamente e cumprir o propósito
de Deus para ela e para todos os envolvidos. Portanto, a cepa foi deixada. Algumas árvores podem regenerar-se a partir de um toco, enquanto outras não podem fazê-lo. Algumas pessoas podem dizer-nos quais árvores são essas, mas não me darei ao trabalho de consultá-las. O toco da árvore falava em restauração, mas o ato de amarrar a árvore com cadeias de ferro e
bronze fala da divina restrição, sem importar o tempo envolvido. Alguns
estudiosos vêem nessas palavras a garantia de que o trono do rei ficaria guardado para ele: o reino
seria amarrado e fortalecido com esse propósito. Outros vêem a ideia da severidade
na punição simbolizada por três correntes e apontam para Deu. 28.48; Jer. 1.18 e Miq. 4.12. É provável que se faça aqui referência às experiências
restringidoras, humilhantes e rigorosas que os homens passaram durante o tempo da insanidade de Nabucodonosor. A interpretação que se segue não comenta especificamente esse item, mas a própria história o ilustra.
Seja como for, Nabucodonosor tornou-se semelhante a um animal que vivesse no campo, desprotegido em relação ao orvalho do céu, vivendo entre a tenra relva e usando-a como alimento. O homem perdera o poder do raciocínio, a principal distinção do homem, e tornou-se como os animais
do
campo.
4.16
Mude-se-lhe o coração. A mente extraordinária do rei foi mudada para tornar-se
a mente de um animal irracional. Sete tempos (anos) passaram por
ele, significando que a sua insanidade duraria esse período. A Septuaginta e Josefo (Antiq. X.10.6) interpretaram esses tempos como anos. Cf. Dan.
7.25. O número sete naturalmente é significativo, subentendendo um teste perfeito
e completo ordenado pelo Ser divino para produzir mudança no rei. Seria necessária
uma semana de anos para devolver ao rei o bom senso espiritual.
4.17
Esta sentença é por decreto dos vigilantes. Aqui vigilante torna-se
vigilantes, e santo torna-se santos, sendo
provável que esteja em vista a classe de anjos assim chamados. Ver as notas sobre o vs. 13. Aqui os vigilantes são vistos como uma espécie de concílio celeste, tomando decisões que afetam os homens. Eles têm o poder de baixar decretos. Naturalmente, subordinam-se ao Deus Altíssimo (ver as notas em Dan. 3.26). Esse título divino — Deus Altíssimo — ocorre por treze vezes neste livro. Listei as referências no vs. 13. O Deus Altíssimo é
visto como tendo uma espécie de conselho de consulta, conceito que pertencia ao judaísmo posterior. Ver Senhedrin, 38. Nessa mesma obra, em 94a,
temos esse conselho fazendo oposição ao próprio Deus! Mas isso está fora da linha
principal da fé judaica. Cf. Jó 1.6,12; 2.1,7; Sal. 89.6,7; Jer. 23.18, onde encontramos ideias similares.
O Julgamento Divino Estava Chegando. A lição de que Deus é o
verdadeiro Rei do mundo deve ser aprendida por homens altivos, entre os quais se destacava
Nabucodonosor. Deus dá poder a quem Ele quer, e tira esse poder quando isso Lhe parece bem. Isso reflete o Teísmo (ver a respeito no Dicionário).
O Criador não abandonou Sua criação (conforme afirma o Deísmo). Pelo
contrário, Ele está presente para recompensar, punir e intervir. Ele é soberano. Ver no Dicionário o artigo denominado Soberania de Deus.
O Rei Pede a Daniel que Interprete a Visão (4.18)
4.18
Isto vi eu, rei Nabucodonosor, em sonhos. Os psíquicos profissionais e a classes dos sábios em geral (ver o vs. 7) tinham fracassado. A visão continuava sendo um enigma. Foi necessária a habilidade especial do chefe
da casta (vss. 8-9) para deslindar o significado. Este versículo repete a idéia já vista
naqueles versículos. Nada é dito sobre o sucesso anterior de Daniel ao interpretar a
visão da imagem do capítulo 2. A história foi contada como se o rei tivesse acabado
de descobrir os talentos especiais de Daniel.
Daniel Provê a Interpretação (4.19-24)
4.19
Então Daniel, cujo nome era Beltessazar. Daniel ficou assustado pela visão, não tanto por causa de suas vívidas imagens, mas por causa do seu significado. Ele sentiu prontamente o que estava sendo comunicado, e isso o fez silenciar-se. Grandes emoções podem paralisar as cordas vocais e estontear a
mente. Assim sendo, por uma hora inteira Daniel nada disse. Recuperando o autocontrole, o profeta emitiu um desejo impossível: que aquilo que tinha sido visto acontecesse aos inimigos do rei, não ao próprio rei. Esse desejo não lhe seria concedido, mas a verdade é que fora um desejo inspirado pela melancolia do momento. O profeta proferiu sua “fórmula a fim de desviar o mal”, algo comum no Oriente, quando se proferiam palavras potencialmente daninhas. Mas a fórmula
de Daniel seria inútil, ao passo que a profecia propriamente dita seria
cumprida de modo preciso. Não é fácil prever uma grande provação sobre um ente amado, ou um amigo, e é ainda menos fácil contá-la. Não obstante, a oração é mais
forte que a profecia, de modo que a profecia pode ser anulada. Que esse sempre seja o nosso caso! Nabucodonosor tinha de passar por uma provação, da qual sairia melhor. Os julgamentos de Deus são dedos de Sua mão amorosa.
4.20,21
A árvore que viste, que cresceu. Os vss. 20-21 retomam os detalhes da visão explicada nos vss. 10-12. O profeta repetiu todos os detalhes, antes de dizer o temível “és tu, ó rei” (vs. 22).
“Daniel recapitulou a questão do sonhos. As pequenas variações em relação ao que é dito nos vss. 10-17 não devem ser consideradas significativas” (Arthur Jeffery, ín loc.). A interpretação adiciona alguns detalhes que
não aparecem no relato original.
4.22
És tu ó rei, que cresceste. A árvore, antes tão exaltada, mas depois humilhada
até o quase nada, falava do próprio rei. Para apreciar a grandeza
da Babilônia e de seu rei, ver no Dicionário o artigo chamado Babilônia.
O rei era alto e forte e espalhou-se como os galhos de uma árvore por todas as partes do mundo então conhecido. Neste ponto, a Septuaginta tem uma longa adição que quase certamente
relaciona o texto presente ao período dos macabeus. O império babilônico foi o maior e mais poderoso que houve até aquele tempo, conforme demonstra o artigo citado. Era pequeno segundo os padrões modernos, mas gigantesco para os padrões antigos. Cf. este versículo com Jer. 27.6-8. “Ele ultrapassou a
todos os reis da terra, em poder e honra, e aspirou atingir a própria divindade,
conforme seus galhos se estendiam até os confins da terra (vs. 11)” (John Gill, in
loc.).
4.23
Quanto ao que viu o rei, um vigilante. Este versículo repete os elementos dos vss. 13-16, onde ofereço notas expositivas. A repetição faz parte do estilo literário do autor.
4.24
Esta é a interpretação, ó rei. Os vss. 24-25 passam a interpretar os vss. 13-16 (repetidos no vs. 23). O que aconteceria ao rei devia-se a um decreto do Deus Altíssimo. Quanto a notas sobre esse título divino (que aparece treze
vezes no livro), ver Dan. 3.26. Nabucodonosor tinha de pagar por todos os tipos de
pecados, especialmente o pecado do orgulho (vss. 27,30,31). Assim sendo, o
decreto divino era justo e precisava ser cumprido. Cf. o vs. 17. O Rei verdadeiro e
celestial tinha de ser exaltado e não toleraria competição. Nabucodonosor precisava ser derrubado. Ver o vs. 25.
4.25
Serás expulso de entre os homens. A derrubada da árvore faria com
que as aves que se tinham alojado em seus ramos saíssem voando. E quando a árvore caísse, os animais que tinham feito suas covas ao pé da árvore correriam para lugares seguros. Os frutos que cresciam em seus ramos cairiam de súbito. Tal descrição pode parecer significar a destruição do império babilônico pelos
medos e persas. Mas sabemos que a confusão dizia respeito ao próprio rei. Em sua
insanidade temporária (que o deixaria completamente arrasado pelo golpe
divino), o rei correria para a floresta e viveria como um animal. Comeria relva como um boi e viveria exposto à chuva e aos elementos da natureza em geral. Nabucodonosor continuaria nesse estado por sete anos. E assim viria a reconhecer quem é o Rei verdadeiro, a saber, o Deus Altíssimo (ver as notas sobre Dan. 3.26). Ver os
vss. 14-16, que este versículo interpreta. O governo e os governantes terrenos são levantados e derrubados, conforme chega o tempo de seu governo (ver Atos
17.26), por meio de decretos divinos, e não pelo poder e pelo engenho humano. Juí. 3.8
dá a entender que Nabucodonosor se estabelecera como se fosse um deus e requeria honrarias correspondentes. Foi lembrado pelos judeus não como um grande
construtor, mas como quem tinha destruído a cidade sagrada e reduzido a nação a praticamente nada, em seus ataques e subsequentes cativeiros. Portanto, se
havia alguém que precisava ser derrubado, esse homem era Nabucodonosor.
Existe uma desordem mental conhecida como zoantropia, segundo a
qual a pessoa se imagina um animal e passa a agir como um ser irracional. Talvez esse tenha sido o caso de Nabucodonosor. Sem importar a natureza específica da sua enfermidade, o fato é que ela foi um instrumento da mão de Deus, primeiramente para humilhar e então para restaurar Nabucodonosor. Todos os juízos de Deus são restauradores. Ver as notas em I Ped. 4.6, no Novo Testamento
Interpretado, e também Efé. 1.9,10.
4.26
Quanto ao que foi dito, que se deixasse a cepa. Nabucodonosor voltaria; ele
se recuperaria; ele aprenderia a lição e então receberia de volta seu poder e glória. É esse o símbolo da cepa da árvore, que restaria
e teria o poder de reproduzir-se, formando uma nova árvore, desde as raízes. Este versículo interpreta o vs. 15. O rei precisava aprender que o céu é que
governa, conforme se lê a respeito do Deus Altíssimo no
vs. 25. Esse uso não se acha em nenhum outro trecho do Antigo Testamento, embora seja bastante comum nos livros dos Macabeus. Ver I Macabeus 3.18,19; II Macabeus 9.21; Aboth 1.3; 2.2.
“Deus governa! Essa é a palavra de esperança para a nossa loucura.
Devemos aprender que o Altíssimo governa sobre a terra, e que os reis não
formam exceção... É uma lição de mordomia... Quando rei Tiago VI, da Escócia, se
jactava de seus direitos, Andrew Melville segurou a fímbria de suas vestes e
disse; ‘Você, tolo vassalo de Deus! Existem dois reinos na Escócia e existem somente dois reis: o rei Tiago e o Rei Cristo Jesus. Nesses reinos, você não é nem
Senhor nem Cabeça, mas súdito'” (Gerald Kennedy, in loc.).
4.27
Portanto, ó rei, aceita o meu conselho. Os pecados teriam de ser derrotados
pela prática da retidão, e a idolatria era a principal ofensa. A opressão
é o pecado especial da classe dominante. Ela teria de ser abandonada e substituída pela justiça social. Se tais coisas fossem feitas, o severo juízo divino dos
sete
anos de insanidade teria sido evitado. Cf. o conselho deste versículo com
Eclesiástico 3.30,31 e Tobias 4.7-11, que dizem coisas similares. Talvez ao rei tenha sido conferido um período de graça (vs. 29), a oportunidade para reverter o
curso do pecado. Nabucodonosor tinha de “pôr fim aos seus pecados”, ou seja,
literalmente, teria de “redimir-se”. Mas a palavra hebraica peraq pode
referir-se ao afrouxamento do jugo. O rei era cativo de seus pecados e tinha de
livrar-se deles, caso quisesse escapar da punição. Além disso, tinha de anular suas opressões pela caridade (possivelmente pela doação de esmolas), mas está em
vista a prática da lei do amor, que cobre uma multidão de pecados (ver Tia. 5.20). A Septuaginta apresenta aqui o substantivo grego eleeimosunais, “esmolas”,
mas esse é um uso posterior da palavra.
Epílogo: O Cumprimento da Visão (4.28-37)
4.28
Todas estas cousas sobrevieram ao rei Nabucodonosor. Ao que tudo indica, Nabucodonosor não foi sábio o bastante para aproveitar seu período de graça e endireitar a sua vida e substituir seus pecados por atos de bondade.
Ele perdeu a oportunidade, pelo que o decreto de julgamento teve de ser implementado.
Tudo quanto fora predito aconteceu, em seus mais minúsculos detalhes. “A interpretação de Daniel foi logo esquecida, e suas exortações
foram ignoradas. Nabucodonosor continuou em seu orgulho pecaminoso. O rei não se arrependeu, conforme ihe ordenara o profeta. Continuou dominado pelo egoísmo” (J. Dwight Pentecost, in loc.).
4.29,30
Ao cabo de doze meses. Talvez esses doze meses (um ano) tenham
sido mencionados por formarem o período de graça concedido ao rei para limpar sua vida, alterar suas atitudes e substituir a opressão por atos de bondade. Mas
agora vemos Nabucodonosor a andar sobre o eirado plano do
palácio real (literalmente, o palácio do reino), com o nariz empinado e o peito estufado,
como se fosse um galo insensato. Ele caminhava solenemente e falava sobre quão grande era a Babilônia e como ele tinha construído seu magnífico palácio. A
arqueologia encontrou inscrições de Nabucodonosor que são similares às
jactâncias citadas neste versículo. Talvez o autor, ao escrever este versículo, estivesse imitando
tal coisa. Expedições militares e matanças tinham feito a Babilônia ser o que ela
era, e Nabucodonosor usara todo esse dinheiro para embelezar a cidade e o império.
Tudo fora feito por seu “grandioso poder” (no hebraico, hisni) que
pode ser traduzido “riqueza”). A grande Babilônia. Até mesmo segundo os padrões modernos, a antiga cidade de Babilônia era uma cidade grandiosa. Era a Nova Iorque do antigo Oriente Próximo e Médio. Tinha uma área de 520 km e era cercada por muralhas com 26 m de espessura e 102 m de altura. Nas entradas, portões de bronze conduziam a vários terraços que davam frente para o rio Eufrates.
Dentro das muralhas havia cidades satélites menores, espacejadas por jardins e plantações que emprestavam beleza estética ao lugar. Havia nada menos que oito templos, e muitos edifícios públicos impressionantes. Quanto a detalhes, ver o artigo do Dicionário chamado Babilônia.
O Rei é Humilhado (4.31-35)
4.31
Falava ainda o rei quando desceu uma voz do céu. O período da graça divina se havia esgotado, pelo que o julgamento adiado foi aplicado. O
rei continuava todo estufado em seu orgulho; permanecia imerso em sua
idolatria; ainda participava de seus atos opressivos. Sua vida era
autocentralizada. Alguma coisa tinha de mostrar-lhe quem era o verdadeiro Rei. Portanto, a Voz veio do céu, a Bath
Kol
(Qol) (ver a respeito no Dicionário). Foi uma comunicação
divina miraculosa, uma medida da intervenção de Deus. O tempo do cumprimento da visão tinha chegado.
O reino sairia do domínio de Nabucodonosor. Em breve o rei teria de afastar-se
de seu trono, e passaria a viver com as feras do campo. Cf. este versículo com
Isa. 9.8; Testamento de Levi 18.6; II Baruque 13.1; Mat. 3.17. Quando o rei ainda
proferia suas palavras profanas, uma Voz quebrou o silêncio e pronunciou a sua condenação. Cf. o vs. 14: o vigilante clamou em “voz alta”. “Quão
terrível foi a voz para um rei vitorioso e orgulhoso: ‘O teu reino foi-se de ti! Todos os teus bens e os
teus deuses desapareceram em um único momento!’” (Adam Clarke, in loc.).
4.32
Serás expulso de entre os homens. Este versículo repete a essência dos vss. 14-16 e 25 (o sonho e sua interpretação), a respeito da insanidade
temporária do rei e sua alienação do reino. Ver as notas, especialmente nos vss. 15 e 25, quanto às idéias aqui apresentadas. Foi o Deus Altíssimo (ver a
respeito no Dicionário) quem decretou a sorte do rei, conforme o vs. 25 diz. Esse título
aparece treze vezes no livro. Ver comentários e uma lista de referências nas notas sobre Dan.
3.2.
O rei passou viver nos campos, como se fosse um animal. Daniel, mais adiante, adicionou que ele passou viver como um jumento montês (ver Dan. 5.21).
4.33
No mesmo instante se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor. Instantaneamente
o que tinha sido predito aconteceu. O pobre rei foi expulso dentre os homens, passando a viver nos campos e a comer grama, sujeito às precipitações atmosféricas, esbofeteado pelos animais ferozes, tendo como companheiros outras
feras, em vez de outros seres humanos. Nabucodonosor era agora uma fera para todos os propósitos práticos, seus cabelos cresceram como os pêlos de um gorila ou como as penas de uma águia, as unhas das mãos ficaram como garras de felinos ou como das aves de rapina. Em sua loucura, o rei perdeu toda a
noção de higiene pessoal. Mas apenas ontem ele era um rei exaltado, caminhando ao redor e jactando-se de tudo quanto tinha feito, o mais esplendoroso dos homens.
É provável que seus súditos misericordiosos o tenham escondido em algum parque
fechado. O povo não podia assistir a tal cena! Alguns intérpretes vêem aqui uma punição divina mediante a qual o rei passou por uma espécie de metamorfose
física, mudando o seu aspecto para uma espécie de homem-lobo, ou licantropia. Existe uma insanidade dessa espécie, não ela não transforma, de fato, um
homem nessa espécie de fera.
4.34
Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor. O terrível teste chegara
ao fim. A temível experiência de sete anos finalmente terminou. De
repente, o rei voltou à boa razão. Portanto, elevou os olhos ao céu e imaginou que via ali o Deus Altíssimo, e reconheceu ser Ele o Rei, e não ele próprio. E Ele bendisse e
louvou ao Deus Altíssimo. Honrou ao Senhor supremo por Si mesmo e
por Seu reino eterno, pois é de Deus que fluem todas as bênçãos que nos atingem. Este versículo repete as palavras do vs. 3 — o reino eterno, que continuará
eternamente, de geração em geração. Isso é contrastado com o minúsculo reino da
Babilônia, que na época só tinha alguns poucos anos de existência, a despeito de toda a sua grandeza e pompa. A Babilônia havia adquirido tudo isso por meio de matanças e opressão, mas o Reino do Altíssimo existe com base na bondade de Deus.
E aí que habita a verdadeira grandeza, no amor, e não na brutalidade.
“Quando o homem bendiz a Deus, isso significa expressar gratidão a Deus, reconhecer a própria dependência da bênção divina (ver Deu. 8,10; Juí. 5.9; Sal. 103.20-22;
I Crô. 29.20). É o Senhor que vive eternamente, enquanto os reinos
da terra se reduzem ao pó (ver Dan. 12.7; Eclesiástico 18.1; Enoque 5.1; Apo. 4.9,10 e
10.6).
Ele é o Deus vivo (ver Dan. 6.26). Seu domínio perdura para sempre. Encontramos
aqui uma doxologia similar à de Sal. 145.13, salmo que já tinha sido usado no vs. 3” (Arthur Jeffery, in loc.). Quanto ao título Altíssimo,
ver Dan. 3.26.
4.35
Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada. A
Doxologia Continua. Em contraste com o Deus perenemente vivo, os habitantes da
terra têm uma vida emprestada, e, em comparação, são apenas poeira. Outrossim, é a vontade divina que controla as coisas, e não os esforços inúteis dos homens. A vontade
Dele controla as hostes celestiais, e é certo que essa vontade prevalece na terra. Não existe poder que consiga entravar Sua mão toda-poderosa, e não existe voz que possa ser levantada para questionar o que Ele faz. Ver no
Dicionário os artigos chamados Soberania de Deus e Teísmo.
Há um paralelo próximo deste versículo em Isa. 40.17. Cf. também Jó 33.12,13; Isa. 29.16; 45.9 e Rom. 9.19,20. Ninguém pode impedir a ação da mão de Deus, conforme se lê em Eclesiastes 8.4; Jó 9.12 e Isa. 45.9.
Ele controla os céus estelados. As
estrelas podem representar as hostes angelicais. Muitos antigos acreditavam que as
estrelas eram anjos ou deuses, conforme vemos em Enoque 18.14-16, aludido em Apo. 9.1.
Louvai a Deus de quem todas as bênçãos fluem;
Louvai-0 todas as criaturas cá embaixo;
Louvai-0 no alto, todos vós, hostes celestiais;
Louvai ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
(Thomas Ken)
Recuperação e Confissão do Rei (4.36-37)
4.36
Tão logo me tornou a vir o entendimento. A razão de Nabucodonosor voltou;
ele deixou os campos e retornou ao palácio real; foi-lhe devolvida a realeza;
sua anterior pompa e glória foram restauradas; seus ex-conselheiros começaram a procurá-lo de novo e a trabalhar em seu favor; seu reino foi estabelecido; a
ninguém fora permitido usurpar coisa alguma do rei; e Nabucodonosor tornou-se maior que antes. Agora, ao caminhar sobre seu eirado plano e ver a magnificência que era
a cidade de Babilônia, ele dizia: “Esta é a obra do Senhor e nela me regozijo”.
Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele.
(Salmo 118.24)
O final feliz desta história nos faz lembrar da história de Jó.
Ver Jó 42.10-17. Se isso não tipifica a maior parte das histórias da experiência humana sacudida pela tragédia, contudo algumas vezes é o que acontece. Ver a respeito do Problema
do Mal no Dicionário, quanto a raciocínios sobre por que
os homens sofrem e por que sofrem como sofrem. Cf. Pro. 22.4 e Mat. 6.33.
4.37
Agora, pois, eu, Nabucodonosor. O rei irrompeu novamente em outra doxologia, dirigida diretamente ao Rei do céu. Ele louvou e exaltou a Deus,
pois Suas obras são retas e beneficentes. Deus avilta os orgulhosos, mas, se eles receberem isso de bom grado, serão exaltados pela graça divina. Deus governa de modo absoluto, mas Seu governo está em consonância com os princípios morais, não controlado pelas venetas caprichosas. O governo de Deus é
beneficente, em contraste com os orgulhosos que oprimem os semelhantes. Por
isso a carta foi encerrada não à maneira usual das missivas, mas com essa doxologia ao Deus dos judeus, o Rei dos céus. Cf. com o “Senhor dos céus” (Dan. 5.23).
Ver Deus ser chamado Rei, em Sal. 47.2 ss.; Mal. 1.14; I Esd.
4.46; III Macabeus 2.2. Aqui são combinadas a verdade e a justiça, tal
como se vê em Sal. 111.7. A humilhação dos orgulhosos é um tema bíblico comum. Ver também Pro. 16.18; Sal. 18.27; 101.5; Jer. 49.16; Atos 12.20 ss. e Eze. 17.24, que são pertinentes
à questão do sonho de Nabucodonosor. Ver o contraste entre os orgulhosos e os humildes, em Pro. 11.2; 13.10; 14.3; 15.25; 16.5,18; 18.12; 21.4; 30.12,32. Ver
no Dicionário os artigos Orgulho e Humildade. “Essa
ação de graças nos permite supor que o rei abandonou grande parte de suas crenças em anteriores superstições e avançou na direção da... verdade” (Ellicott, in loc.).
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