Daniel 7 — Comentário Teológico

Daniel 7

O livro de Daniel compõe-se essencialmente de seis histórias e quatro visões. As histórias ocupam os capítulos 1-6, e as visões os capítulos 7-12. Quanto a detalhes sobre esse arranjo, ver a seção “Ao Leitor”, parágrafos quinto e sexto, apresentados antes da exposição sobre Dan. 1.1. Agora chegamos às quatro visões. Dan. 7.1-12.13 apresentam um sonho e três visões. Mas o livro de Daniel não distingue um sonho espiritual de uma visão, conforme se vê em Joel 2.28. Ver no Dicionário os verbetes chamados Sonhos e Visão (Visões). Esse sonho e essas visões foram datados em relação aos governantes da época em que ocorreram: o sonho veio no primeiro ano de Belsazar, e as três visões ocorreram no terceiro ano de Belsazar, no primeiro ano de Dario e no terceiro ano de Ciro. As visões preenchem o esboço histórico dado no capítulo 2. As informações históricas e/ou os materiais proféticos foram cuidadosamente arranjadas, e os críticos pensam que os sonhos e as visões seguiram as declarações “após os fatos” terem acontecido, com histórias transformadas em profecias. Esse ponto de vista naturalmente foi rejeitado pelos eruditos conservadores, que veem evidências do poder profético em operação.

A Visão dos Quatro Animais (7.1-28)

Esta visão, na realidade, foi um sonho espiritual, e, quanto ao título, difere das visões que se seguem nos capítulos 8-12. Novamente encontramos os quatro impérios, paralelos às quatro partes da imagem do sonho de Nabucodonosor (capítulo 2).

Os quatro impérios são simbolizados pelos quatro animais que correspondem aos quatro diferentes metais da visão do capítulo 2. Aqui também achamos uma escala descendente de valor e poder, descendo do leão, passando pelo urso e pelo leopardo, e chegando finalmente a um animal não chamado pelo nome, os quais correspondem ao ouro, à prata, ao bronze e ao ferro da visão anterior. Em ambas as visões, o reino de Deus (que é eterno) vem depois dos reinos terrenos. Há aí um toque escatológico que nos leva à era do reino milenar de Deus. Atenção especial é dada ao pequeno chifre, o último rei do quarto império, o qual é variegadamente identificado. Se os santos do Senhor serão especialmente perseguidos por ele, as páginas do livro da história o encerrarão, ao passo que o Reino de Deus prosseguirá infinitamente depois do milênio.

Este capítulo divide-se naturalmente em três partes: vs. 1; vss. 2-7 e vs. 28. Também há certo número de claras subdivisões.

7.1 Este versículo atua como um elemento de conexão com a série de histórias anteriores. Belsazar (ver as notas em Dan. 5.31 e 6.1) é identificado como o rei que governava quando o primeiro sonho-visão foi dado a Daniel. O profeta registrou o sonho por ter reconhecido que era uma comunicação séria da parte de Deus que precisava ser publicada. A data foi 554 A. C., o terceiro ano do reinado de Nabonido, pai de Belsazar. Por meio deste versículo, em comparação com Dan. 8.1, aprendemos que Belsazar governou pelo menos durante três anos antes da queda da Babilônia. Era prática dos videntes registrar as visões para referências futuras. Cf. Isa. 30.8; Hab. 2.2; Apo. 1.19; Enoque 33.3 e II Esd. 14.42.

7.2 Falou Daniel, e disse. “O sonho de Daniel antecedeu por catorze anos a sua experiência na cova dos leões (capítulo 6), que ocorreu em 539 A. C. ou pouco depois. Quando esse sonho foi dado a Daniel, ele tinha cerca de 68 anos de idade, e fora feito cativo aproximadamente aos 16 anos de idade, 52 anos antes, em 605 A. C.” (J. Dwight Pentecost, in loc.). A revelação lhe foi dada por meio de um sonho, através de visões (cf. Dan. 2.28 e 4.5,10). Daniel tinha sido o intérprete dos sonhos de reis e agora recebeu o seu próprio sonho.

Os quatro ventos do céu. Ou seja, um vento vindo de cada setor do céu. Cf. Zac. 2.6; 6.5; Eze. 37.9. Esses ventos podem estar associados aos quatro ventos do épico da criação. Em Enoque 182 esses ventos sustentam o firmamento (a cúpula sólida invertida). E em II Esd. 13.5, as multidões são convocadas pelos quatro ventos das quatro direções da terra. Cf. Dan. 8.8 e 11.4. Esses ventos agitam (Revised Standard Version) o grande mar dos habitantes do mundo e, assim, produziriam (como se fosse um ato criativo) os quatro grandes impérios mundiais, representados pelos quatro animais. A palavra “agitar”, aqui usada, também é usada para indicar o trabalho de parto de uma mulher, em Miq. 4.10. Cf. Jó 38.8. O Grande Mar usualmente é o Mediterrâneo (ver Núm. 34.5; Jos. 1.4 e 15.47). Mas aqui é o m ar do mundo, de onde todos os eventos são gerados. Pode haver uma alusão à antiga ideia de que a terra era cercada por águas, havendo um grande mar debaixo dela, sobre o qual se repousavam seus pilares.

7.3 Quatro animais, grandes. A agitação provocada pelos quatro ventos (que alguns estudiosos veem como altos poderes angelicais que agem em favor de Yahweh) produziram (mediante um ato criativo, ou nascimento) os quatro animais, “saídos do mar”. “De acordo com o pensamento dos antigos, o mar era considerado a sede do mar e a habitação de monstros amedrontadores (ver Gên. 1.21; Amós 9.3; Sal. 104.25,26) e, assim sendo, o lugar apropriado de onde os animais deveriam surgir. Cf. Isa. 27.1; Enoque 60.7; II Baruque 29.4; II Esd. 6.49,50; 11.1 e 12.11. Para os judeus, era convencional retratar as potências pagãs como feras.

De fato, representar as nações por meio de feras é comum até hoje. No Antigo Testamento, encontramos esse simbolismo em Ezequiel 17, 19, 29 e 32; Sal. 68.30. E, nos escritos posteriores, isso se repete, como e, Enoque 85-90 e Salmos de Salomão 2.29” (Arthur Jeffery, in loc.).

Talvez devamos pensar que cada um dos quatro ventos trouxe uma das feras, pois o termo quatro fala de universalidade, de onde nos vem a ideia dos quatro cantos da terra (ver Isa. 11.12). A terra era vista como um quadrado ou retângulo plano. Em termos gerais, o império babilônico originou-se do sul do país anterior; o império persa veio do norte; o império persa veio do oriente, e o império grego veio do ocidente. Mas talvez isso seja ver demais nesse simbolismo. Quatro é um número que simplesmente fala sobre “algo completo”.

7.4 A Primeira Fera: o Leão. Esse era um grande animal alado, que representava o império babilônico. O leão era o mais nobre e o mais poderoso dos animais ferozes. Corresponde à cabeça de ouro da imagem de Nabucodonosor (capítulo 2). Ver Dan. 2.37, 38. Da mesma maneira que há um quadro descendente nos metais, do ouro para a prata, para o bronze e para o ferro, outro tanto acontece com as feras, que descem quanto ao poder e à glória. A figura do leão alado nos faz lembrar dos leões alados dos templos e palácios da Mesopotâmia. Cf. Jer. 4.7; 49.19 e 50.17, onde Nabucodonosor é comparado a esse tipo de animal. Na arte da Mesopotâmia, os animais eram, com freqüência, representados na posição ereta, como se fossem seres humanos. O leão da visão da Daniel era uma fera nobre e temível, mas em breve suas asas foram arrancadas, de modo que ele já não podia voar. Em outras palavras, ele foi humilhado, derrotado e substituído.

Ele era apenas um homem (pois tinha coração de homem) e, assim sendo, era mortal, chegando a seu fim pelo julgamento de Deus. Pode haver aqui uma alusão à insanidade de Nabucodonosor (ver o capítulo 4 de Daniel), mas a referência foi à humilhação final da Babilônia, sua derrota militar.

7.5 A Segunda Fera: o Urso. Quanto a essa imagem, cf. Pro. 17,12; 28.15; Isa. 11.7; 59.11; Lam. 3.10; Osé. 13.8; Amós 5.19; I Sam. 17.34ss. O urso corresponde aos braços e ao peito de prata referidos em Dan. 2.39, indicando o império medo-persa ou, talvez, somente os medos, sendo os persas o terceiro animal. Certas espécies de ursos são animais temíveis, que matam ao ver a presa, mas esse animal, de qualquer espécie, não se compara ao leão, da mesma forma que a prata é menos nobre e menos cara do que o ouro. O urso estava levantado de um lado, o que sem dúvida significava algo para os primeiros leitores, mas agora deixa os intérpretes a conjecturar. Talvez isso signifique que a fera era um tanto desajeitada, em contraste com a águia que voa alto (a Babilônia). O urso tinha dois lados, tal como a porção de prata da imagem tinha dois braços. Talvez esses dois lados representassem os medos e os persas. Ou então um dos lados apontava para os medos, e o outro lado para os persas, como reinos separados, o segundo e o terceiro.

Esse urso era uma fera devoradora, tendo três costelas de sua presa na boca. Os medos eram predadores terríveis (ver Isa. 13.17,18). Alguns vêem aqui três províncias que os medos teriam capturado. Ou então estão em vista o Egito, a Assíria e a Babilônia, como suas vítimas.

7.6 A Terceira Fera: o Leopardo. A terceira fera corresponde ao ventre de bronze e às coxas da imagem de Nabucodonosor (Dan. 2.39b). Novamente, vamos descendo quanto aos valores dos animais e dos metais. Esse leopardo era uma fera terrível, com quatro cabeças e quatro asas, e exercia vasto domínio. Isso pode indicar a Pérsia, distinta dos medos, que era a interpretação original antes de Roma ter-se tomado a quarta fera, ou pode significar a Grécia. O leitor deve ter consciência de que a Pérsia era a interpretação, até que Roma entrou em cena Então o sétimo capítulo é reinterpretado para fazer de Roma a quarta fera, em lugar da Grécia. Tornando-se a Grécia a terceira fera, os intérpretes sentiram-se forçados a combinar os medos e os persas como a segunda fera.

O leopardo é mencionado simbolicamente no Antigo Testamento em Cantares de Salomão 4.8; Isa. 11.6; Jer. 5.6; 13.23; Osé. 13.7; Hab. 1.8. A figura também é usada como motivo de arte nas obras mesopotâmicas e persas. As cabeças podem indicar sucessivos reis persas como Ciro, Xerxes, Artaxerxes e Dario, ou seja, está em vista uma dominação mundial. As asas fazem dessa fera um predador rápido e incansável a voar sobre vastas áreas do globo terrestre, o que se deu especialmente com a Grécia. Quatro continua a ser um simbolismo neste capítulo, com a ideia de algo completo. Coisa alguma pode comparar-se à maneira completa como Alexandre conquistou o mundo de seus dias, espalhando universalmente a língua e a cultura grega, e criando o que, até aquele ponto da história, foi o mais extenso império.

7.7 A Quarta Fera: Não-identificada. A fera não-identificada corresponde às pernas de ferro (misturado com barro cozido) de Dan. 2.40. Pode significar: 1. o império de Alexandre (o grego); ou 2. Roma. A interpretação original falava na Grécia, mas quando Roma surgiu em cena a interpretação passou a levar em conta esse acontecimento. Em Dan. 2.40, esse é o poder que esmaga todas as coisas, apesar de suas fraquezas inerentes. Ver as notas ali, que também se aplicam aqui. Nesta passagem, em lugar de dez artelhos, a imagem tem dez chifres. Ofereço interpretações sobre isso em Dan. 2.41,42, pelo que não as repito aqui. Talvez a fraqueza inerente esteja em vista no vs. 8 (ver a respeito nas notas expositivas). Os críticos supõem que as alegadas profecias de Daniel na realidade foram observações feitas “após” a ocorrência dos fatos, por um autor que teria vivido na época dos macabeus, depois que as quatro potências — Babilônia, Média, Pérsia e Grécia — já eram história. Na época do autor, Roma estava erguendo-se, mas ainda não era uma potência mundial, e por esse motivo ele não teria visto “o poder vindouro”, em suas “profecias”. Mas quando Roma apareceu, a quarta fera apareceu em uma história posterior. Os estudiosos conservadores, porém, têm certeza de que Daniel foi uma figura dos tempos da Babilônia-Média-Pérsia, e de que houve uma profecia genuína escrita acerca dos impérios medo-persa, grego e romano. Quanto a uma completa discussão, ver a seção III da Introdução a este livro.

Tinha dez chifres. Quanto à figura dos “chifres”, ver Deu. 33.17; Sal. 75.4; 132.17; Eze. 29.21; Zac. 1.18. No livro de Daniel, essa figura aponta para reis ou dinastias. De acordo com alguns, esses dez poderes se seguiram ao império de Alexandre, que se fragmentou. “Os centauros com cabeças humanas, pintados em Persépolis, têm doze chifres cada um, e chifres aparecem nos reis selêucidas” (Arthur Jeffery, in loc.). Alguns eruditos fazem todos esses chifres representar os reis selêucidas, mas outros incluem também os reis ptolomeus. Esse livro teria vindo apenas poucos anos depois da data proposta para a escrita do livro de Daniel. Os dispensacionalistas fazem esse animal ser Roma e seus dez poderes subordinados, sobre os quais apresento notas detalhadas no trecho paralelo de Dan. 2.41,42.

7.8 Estando eu a observar os chifres... subiu outro pequeno. Esse pequeno chifre é interpretado como um símbolo de Antíoco Epifânio. Ele pertencia à família dos selêucidas, mas não tinha o direito de apossar-se do trono. No entanto, usurpou o poder arredando seu irmão, Seleuco Filopater, bem como seu sobrinho, Demétrio, o próximo na linha da sucessão. Além disso, ele se livrou do rival Heliodoro, e esses podem ter sido os chifres arrancados neste versículo. A Septuaginta acrescenta: “e ele fez guerra contra os santos”, salientando as perseguições lançadas contra os judeus de sua época. Cf. Apo. 11.7; 12.17 e 19.19. Os dispensacionalistas fazem o pequeno chifre ser o “anticristo”, que foi “prefigurado”, conforme eles dizem, por Antíoco Epifânio. Ver outras interpretações em Dan. 7.24,25.

O pequeno chifre é retratado como altamente inteligente, capaz de ver e saber todas as coisas, visto possuir muitos olhos. Em seguida, ele diz coisas grandiosas e blasfemas. Ver Dan. 7.25 e Apo. 13.6. É óbvio que o autor do Apocalipse tomou sua linguagem emprestada de Daniel. As profecias têm sido compreendidas de muitas maneiras, havendo tentativas de apontar os eventos históricos. Mas os dispensacionalistas identificam-nas com eventos históricos futuros, alguns dos quais ainda são obscuros e interpretados de diferentes maneiras. Muitas fantasias têm sujeitado nosso texto a confusões, e não há certeza de que alguém realmente saiba o que essas coisas significam, caso não sejam simples representações da história de Alexandre e dos selêucidas (e talvez dos ptolomeus). Muitos intérpretes protestantes identificam o pequeno chifre com o ofício papal, e caçam as páginas da história na tentativa de fazer corresponder as ações do papado com essas profecias. Mas essa interpretação certamente é absurda.

7.9 Continuei olhando, até que foram postos uns tronos. Tal como na visão da imagem feita por quatro metais, assim também aqui a coisa inteira é contrastada com a Vinda do Messias e Seu império eterno, que é o quinto império em ambos os textos. Ver sobre o vs. 22. Nos textos ugaríticos, El (o Poder) é chamado de “rei dos anos”. Yahweh é retratado em muitos lugares como um Rei sentado no trono. Ver Eze. 1.26; 43.6,7 e Isa. 6.1. Foi apenas natural Ele ter sido retratado como um homem idoso em Seu trono. Os que estão familiarizados com textos como Jó 36.26; Sal. 102.24 ss.; Isa. 41.4 ou Salmo 90 não se surpreendem com esse tipo de imagem. A idade avançada, neste caso, não significa decrepitude, a qual é sempre associada à idade. A brancura dos cabelos não corresponde à degeneração da idade avançada. Antes, Seus cabelos eram brancos como Suas vestes, ou seja, Ele era um ser elevado e puro, santo e livre de todas as fraquezas morais que caracterizam os homens. O trono sobre o qual ele se sentava era como chamas de fogo, pois Sua majestade e juízos eram poderosos e temíveis.

Ele é um fogo consumidor (ver Deu. 4.24; Heb. 12.29). Quanto ao simbolismo da neve, cf. Isa. 1.18; Sal. 51.7. Quanto à lã, ver Isa. 1.18. Ver Apo. 1.14 quanto a descrições similares. Qualquer simbolismo que pudéssemos inventar para tentar descrever Deus deve ser fraco e totalmente inadequado, pelo que aquilo que encontramos aqui são apenas alguns símbolos sugestivos, e não descrições literais de Deus. Quanto ao trono de fogo, cf. Eze. 1.4-28.

Estas descrições são obviamente escatológicas. O autor antecipava a possessão dos reinos terrestres pelo Poder do Alto. Os dispensacionalistas misturam essa questão com o milênio. Ver sobre isso no Dicionário.

Ver as notas expositivas sobre Dan. 2.45, a Grande Pedra que demolirá as potências da terra e se tornará o quinto e último império. A Pedra tornar-se-á uma grande montanha (ver Dan. 2.35) e ocupará todas as posições de poder.

7.10 Um rio de fogo manava e saía de diante dele. Continuam aqui as descri­ções sobre Deus e Seu trono. Deus é um fogo consumidor, e assim fogo mana de Seu trono e de Sua presença, como o fluxo de um grande rio. Temos ali um rio de fogo que, em I Enoque, se torna símbolo do julgamento divino. No Novo Testamento (ver Apo. 19.20 e 20.10), esse rio transforma-se em um lago. Em algum ponto ao longo do caminho, as pessoas começaram a tomar esses símbolos apocalípticos como descrições literais de um lugar de sofrimentos indescritíveis e eternos. Os antigos criam que o fogo sempre acompanhava as teofanias (ver Sal. 50.3 e Deu. 9.3), Chamas de fogo aparecem em Enoque 14.19. “Os retos são purificados quando passam pelas chamas, mas os iníquos são consumidos pelo fogo. Talvez esse seja o significado do corpo da fera sendo entregue para ser queimado, no vs. 11” (Arthur Jeffery, in loc.). Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo chamado Lago de Fogo. “Muitos milhares de anjos O serviam. Milhões de anjos estavam à Sua frente” (NCV), com descrições que aumentam a grandiosidade da cena. Esse é o Rei Verdadeiro, de cuja presença todos os outros fogem. Dessa forma a corte se reúne para julgar, e os livros são abertos, contando tudo sobre todas as coisas. Os textos babilônicos referem-se a tabletes nos quais ficaram registrados todos os feitos bons e maus. Cf. Sal. 56.8; Isa. 65.6 e Mal. 3.16. Ver também Jubileus 30.22; Enoque 81.4; 89.61-64; 98.7,8 e 104.7. O paralelo do Novo Testamento é Apo. 20.12. A abertura do livro refere-se à revisão e ao julgamento da mordomia individual. Assim sendo, Deus, que distribui poder e levanta reinos, também julgará aqueles que Ele levantou como autoridades. A mesma coisa, como é óbvio, aplica-se aos indivíduos, embora o objeto do texto seja o julgamento dos reinos. O julgamento do Grande Trono Branco (Apo. 20) sem dúvida reflete a presente passagem, embora o texto não esteja falando sobre o julgamento final de todos os homens.

7.11 Então estive olhando, por causa da voz das insolentes palavras. O pequeno chifre continuou a vangloriar-se, fazendo ouvir sua voz com grandes palavras e discursos eloquentes, mas bem no meio de tudo eis que, de repente, ele foi morto e seu corpo foi entregue às chamas e consumido, bem diante dos olhos do perplexo profeta. O rio de fogo que saía da presença de Deus consumiu a fera, e esse foi o final definitivo de sua carreira. Cf. Apo. 19.20,21, onde a fera é lançada no lago do fogo. Alguns estudiosos veem nisso o fim do império grego, o término do império construído por Alexandre, incorporado na pessoa de Antíoco Epifânio.

E/ou está em pauta o fim do anticristo, em sua aplicação escatológica. “A quarta fera perderá seu poder não por ser conquistada, mas pelo julgamento divino (cf. Dan. 9.27; Apo. 11.15 e 19.15)” (J. Dwight Pentecost, in loc.).

7.12 Quanto aos outros animais. Este versículo é igual em significado a Dan. 2.45, onde a Grande Pedra que se tornou uma montanha (Dan. 2.35) eliminou todos os reinos que tinham existido antes dela, e o Ser divino dominou tudo mediante a eliminação do que era meramente humano. A vida de cada um daqueles animais foi prolongada pela duração de tempo apropriada, a fim de que os propósitos de Deus fossem cumpridos. Mas todos esses animais eram temporais, e seus limites foram fixados. Ver Atos 17.26. O que é humano se aproxima cada vez mais do ideal divino, de forma que, no Ser divino, haja poderosa transforma­ção de posição individual e ordem mundial. Assim sendo, o orgulho humano será humilhado e uma nova e superior ordem prevalecerá.

Vivem,
Pensam que vivem
Embora não tenham conhecido a vida.
Fazem suposições,
Querem dominar tudo,
Mas esquecem de dar o primeiro passo
Para o domínio do mundo interior.
Eu penso que um dia
Todos se voltarão
Para a própria alma
Como quem respira.
Por enquanto, não passam de estátuas,
Que querem ser colocadas nos altos
Para serem adoradas.
Pobre humanidade ausente!

(Maria Cristina Magalhães)

7.13 Eu estava olhando nas minhas visões da noite. Estavam sendo feitos arranjos para que o Reino Eterno tomasse conta dos reinos temporais. Uma grande personagem entra em cena, uma Nova Figura, de forma humana, em contraste com as feras que essa nova personagem estava substituindo. Algumas traduções interpretam a figura dando-lhe o titulo de Filho do Homem e tornando a referência definitivamente messiânica. A verdadeira tradução é apenas um filho de homem, mas isso não elimina, necessariamente, a referência messiânica. O equivalente desse Filho do Homem é a Grande Pedra do capítulo 2, conforme certamente indica o versículo seguinte. Para Jesus, o Cristo, como Filho do Homem, ver Mar. 8.31 e João 1.51. Ver no Dicionário o verbete chamado Filho do Homem. Enoque 45-57 interpreta o Filho do Homem em sentido messiânico, como também o faz o Talmude, em Sanhedrin 98.

O Filho do Homem foi apresentado ao Antigo de Dias (ver o vs. 9), Isso quer dizer que a figura messiânica conta com a aprovação e a direção do Deus dos judeus, o qual deverá triunfar universalmente no fim, inaugurando Seu Reino Eterno. O Filho do Homem aparecerá com a finalidade de ser investido com Seu reino, conforme demonstra o vs. 14. Haverá um tempo de mudanças universais e radicais quando a vontade humana for absorvida pelo Ser divino. Seguir-se-á então o milênio e, depois disso, a era eterna, quando todos os elevados propó­sitos divinos terão cumprimento, em consonância com o Mistério da Vontade de Deus (ver a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia). Ver também, no Novo Testamento Interpretado, o artigo chamado Restauração, e ainda Efé. 1.9,10.

7.14 Foi-lhe dado domínio e glória, e o reino. O Reino Eterno, que governará sobre todos os seres humanos, povos, nações e reinos, deverá substituir toda a temporalidade, e o Filho do Homem, a Grande Pedra (ver Dan. 2.45) e Montanha (Dan. 2.35), deverá assinalar o fim de tudo que vinha acontecendo antes. Ver no Dicionário o verbete chamado Reino de Deus. Cf. este versículo com Dan. 2.37 e 5.18. As palavras empregadas para o reino são aquelas que foram usadas por Nabucodonosor (ver Dan. 4.22; 5.18), pelo que tudo que antes pertencera aos homens agora pertencerá a Deus e a Seu Messias. Ver também Dan. 3.4; 5.19 e 6.25. Os trechos de Isa. 2.2ss.; 49.6; Zac. 8.21ss.; Enoque 10.21; 90,30; Salmos de Salomão 17.31ss. falam sobre a conversão dos gentios como parte desse esquema. Os Oráculos Sibilinos (3.616ss.; 710ss.) têm algo semelhante. “Já Dan. 2.44 declara que o reino vindouro substituirá os reinos terrenos pagãos. Esse novo reino durará para sempre. Portanto, é dito aqui, tanto quanto em Dan. 4.3 e 6.26, que esse reino não passará. É notório que a esse reino é dada duração eterna, idéia atribuída até aí somente a Deus” (Arthur Jeffery. in loc.). Cf. Apo. 20.1-6 e I Cor. 15.24-28.

7.15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi alarmado. Daniel ficou agitado e perturbado diante do que vira, e desejou muito saber o que aquilo significava. Daniel, como os reis pagãos que também tiveram sonhos perturbadores, não teve descanso e ficou mexendo-se para cá e para lá na cama, durante a noite, pensando em todas as poderosas coisas que vira e não entendera (cf. Dan, 2.1; 4.4,5).

Embora lhe tenha sido dada percepção imediata do que significavam as visões do rei, quanto à sua própria visão ele não recebeu resposta imediata. Em ocasião posterior (ver Dan. 8.15). o profeta precisou invocar o anjo (Gabriel?) para interpretar-lhe uma visão. Portanto, aprendemos aqui que até os homens mais espirituais passam por seus momentos de ignorância e ansiedade, pelo que não nos admiremos ter de atravessar tempos de indecisão e trevas relativas. O “espírito dentro em mim'' pode aludir a uma entidade separada (imaterial), que é a alma, ou então a palavra “espírito'' pode significar apenas “mente”, a faculdade do raciocí­nio em contraste com o corpo material. Ver no Dicionário os verbetes intitulados Alma e Imortalidade. “Meu espirito dentro de mim, literalmente, dentro da bainha, ou então, com uma leve mudança nos sinais vocálicos, dentro de sua bainha. A palavra nidhneh vem do iraniano nidana, ‘vaso’ ou ‘receptáculo’. A palavra ocorre em I Crô, 21.27 e no Targum com o mesmo sentido. A bainha da alma, sem dúvida alguma, é o corpo físico” (Arthur Jeffery, in loc.).

7.16 Cheguei-me a um dos que estavam perto. O profeta reuniu a coragem necessária para aproximar-se do ser celestial que estava nas proximidades e perguntou-lhe o que significava a visão dos animais. Ver o vs. 10. Havia muitos milhares desses seres (anjos). Eles, vivendo perto de Deus, naturalmente teriam maior conhecimento que os melhores dentre os homens. A posição dos anjos desenvolveu-se dentro da doutrina judaica, de tal modo que esses seres com frequência são referidos como intérpretes dos eventos e profecias de coisas vindouras. Damos muito pouco valor ao ministério dos anjos. Ver no Dicionário, e também em Heb. 1.14, no Novo Testamento Interpretado, o verbete chamado Anjo. Deus fala (Amós 7 e 8; Isa. 6; Jer. 1). Mas o Senhor também usa intermedi­ários, como os anjos (ver Zac. 1.7-6.8). Gabriel era um anjo intérprete especial (ver Dan. 8.16 e 9.21).

7.17 Estes grandes animais... são quatro reis. Nos versículos anteriores, providencio interpretações sobre as visões. Nesta seção, adiciono alguns detalhes. O intérprete angelical oferece somente um sumário amplo, sem entrar em detalhes. Os quatro animais são quatro reis (vs. 17), embora não saibamos quais reis seriam, Esses animais levantaram-se da terra, o mundo humano, e não o mundo celestial, superior, em contraste com a Grande Pedra (Dan. 2) e o Filho do Homem (Dan. 7.13). Isso não contradiz a informação de que eles vieram do mar (vs. 3), antes é paralelo a ela, O que estava sendo dito é que esses animais saíram da extremidade inferior da criação divina, ao passo que o Filho do homem saiu da extremidade superior. Ver os vss, 4-7, onde foram dadas interpretações sobre os animais.

7.18 Mas os santos do Altíssimo receberão o reino. Este versículo sumaria a conquista feita pelo Ser divino, o que já vimos nos vss. 13-14, onde a questão foi comentada. O Filho do Homem é agora substituído pelos santos do Deus Altíssimo, visto estarem associados a Ele no reino. “A nação de Israel tinha sido posta de lado pela disciplina divina, no tempo presente dos gentios, iniciados no reinado de Nabucodonosor. Durante o tempo dos gentios, quatro impérios (segundo foi dito a Daniel) se levantariam e governariam a terra e o povo de Israel. Contudo, o pacto de Deus com Davi (ver II Sam. 7.16; Sal. 89.1-4) continua de pé e, finalmente, terá cumprimento. Os santos (judeus crentes) desfrutarão o reino, em cumprimento às antigas promessas de Deus a Israel” (J. Dwight Pentecoste, in loc.). Não palmilhamos aqui sobre o terreno da igreja. Estão em foco os remidos, e não os anjos. Ver Êxo. 19.6; Deu. 7.6. Israel, o separado povo de Deus, são os santos aqui referidos. Em Dan. 12.7 eles são chamados de “povo santo”.

7.19 Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal. Daniel quis saber a verdade sobre todos os quatro animais, mas ficou perturbado especialmente diante do quarto animal, por ser muito diferente dos outros e dotado de terrível aspecto, com dentes temíveis de ferro e garras de bronze! Ele partia todas as coisas ao seu redor e as devorava, esmigalhando os resíduos. Ver as notas sobre os vss. 7 e 8, quanto às interpretações que existem. Este versículo subentende que Daniel fazia uma boa ideia do significado dos outros três animais, mas nada entendia sobre o quarto. E o presente versículo adiciona o detalhe das garras de bronze do quarto animal. Algo similar tinha sido dito sobre Nabucodonosor, em Dan. 4.33.

7.20 E também dos dez chifres que tinha na cabeça. Este versículo revisa os vss. 7 e 8 na questão dos dez chifres e do pequeno chifre, que também deixaram o profeta perturbado. O pequeno chifre não é chamado aqui de pequeno, mas isso é apenas uma variação de detalhe, sem nenhuma significação. Ele era maior do que os seus companheiros e tinha uma boca que se jactava em altas vozes que o tornavam especialmente repelente. “Sua aparência era maior que a de seus companheiros, maior em pompa e esplendor, tornando-o um espetáculo maior do que aquele dado pelos outros reis da terra, e afirmando superioridade sobre eles” (John Gill, in loa).

7.21 Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos. Entre suas temíveis realizações, o pequeno chifre, que agora se tornara maior do que os outros, guerreava contra os santos. Essa guerra contra os santos tem sido identificada como: 1. as perseguições de Antíoco Epifânio contra os judeus (ver I Macabeus 1.24-52; 2.7-13; II Macabeus 5.21-27) que 2. prefiguraram as persegui­ções religiosas do anticristo antes do estabelecimento do reino milenar. O anticristo (ver a respeito no Dicionário) será o poder que promoverá isso. Cf. este versículo com Dan. 8.9-12,24,25; Apo. 11.7 e 13.7.

7.22 Até que veio o Ancião de dias. O Ancião de Dias (ver as notas sobre o vs. 9) porá fim a essa perseguição. Ele é o Deus Altíssimo (ver no Dicionário e em Dan. 3.26) e não mais permitirá que Seus santos continuem sofrendo nas mãos de homens malignos. Chegará o tempo em que eles (os poderes pagãos) possuirão o Reino, conforme somos informados no vs. 18. Note o leitor que essa mudança requererá a intervenção divina. O processo histórico jamais poderia produzir tal resultado sem a orientação e a compulsão divina. Deus controla o tempo e os limites de todas as nações (ver Atos 17.26). Ele também controla o tempo e as -condições do término dos poderes terrenos e o estabelecimento do governo divino. Cf. Apo. 12.13-17; 17.7; 19.19,20.

7.23 O quarto animal será um quarto reino na terra. Voltamos aqui à visão original, com uma declaração geral sobre o quarto animal (vs. 7), não havendo adição de nenhum detalhe novo. Os vss. 23-27 foram compostos em linguagem métrica e podem representar uma minúscula composição separada que foi incorporada à descrição. Ou então o profeta compôs esses versículos como uma composição métrica, inspirado de admiração pelo que lhe estava sendo revelado.

A poesia é um veículo de expressão que registra os sentimentos mais excelentes dos homens. Distingue certas passagens em composição prosaica. Esse quarto animal na terra era diferente e maior, e conseguiu devorar a terra inteira, uma provável referência às conquistas mundiais de Alexandre. Ou então pode estar em foco o império de Roma, com suas conquistas militares igualmente vastas. O que não foi devorado, foi quebrado em pedaços, o que aponta para um domínio absoluto, sem nenhuma dissensão.

7.24 Os dez chifres correspondem a dez reis. Este versículo é uma simples repetição dos vss. 7 e 8, nada acrescentando em termos práticos. Ver as exposi­ções sobre esses dois versículos, mais elaborados. A única coisa que foi adicionada é a palavra diferente, para falar sobre o imenso poder destruidor e da glória maior do quarto animal. A diferença consiste essencialmente no pequeno chifre, que é diferente dos outros dez chifres, e diferente dos chifres dos outros animais.

Note o leitor que, no vs. 2, o quarto animal diferia dos animais que tinham surgido antes; e, no vs. 24, o pequeno chifre é diferente dos outros dez chifres.

7.25 Proferirá palavras contra o Altíssimo. Este versículo acrescenta alguns detalhes acerca de Antíoco Epifânio, e, profeticamente, fala sobre o anticristo. Vemos no vs. 11 que ele se jactará de grandes coisas. Agora vemos que ele não deixará de blasfemar contra o próprio Deus Altíssimo. Cf. Dan. 11.36 e Apo. 13.6.

Quanto ao Deus Altíssimo, ver as notas em Dan. 3.26, bem como o Dicionário. Esse homem “desgastará” os santos por meio de seus constantes ataques. As perseguições movidas por Antíoco Epifânio também eram incansáveis. Ver as notas sobre o vs, 21. Outro tanto sucederá por ocasião das perseguições movidas pelo anticristo, nos últimos dias.

Cuidará em mudar os tempos e a lei. Esta é uma referência a como Antíoco tentou mudar os costumes e as leis dos judeus, tendo oferecido uma porca no altar dos sacrifícios e estabelecido sua imagem no templo de Jerusalém. Ver I Macabeus 1.41, 42. O trecho de I Macabeus 1.44-49 diz-nos como Antíoco Epifânio proibiu a observância do sábado, suprimiu os sacrifícios diários e as oferendas e proibiu que fossem observadas as festividades judaicas. E então ele forçou os judeus a seguir seu próprio culto pagão.

Por um tempo, dois tempos e metade dum tempo. Quanto a “tempos”, ver Dan. 2.21; 6.10,13. Um “tempo” corresponde a um ano; dois tempos, a dois anos; e metade de um tempo, a meio ano. O sentido original era que o tempo das persegui­ções de Antíoco se limitaria a três anos e meio. Encontramos aqui um “catálogo das enormidades de Antíoco, com a predição de que elas perdurariam por três anos e meio, ou seja, um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Cf. Dan. 8.14; 9.27 e 12.7,11,12. Depois haverá o fim, quando o esperado reino messiânico será estabelecido” (Oxford Annotated Bible, comentando sobre o vs. 25).

Esse período de tempo, naturalmente, tem-se transformado em uma referência escatológica, sendo interpretado pelos estudiosos dispensacionalistas como parte do período de sete anos de tribulação, que se espera ocorra imediatamente antes da Segunda Vinda de Cristo. Cf. Apo. 12.14, “referindo-se aos três anos e meio da Grande Tribulação, que ocupara um tempo, isto é, um ano, dois tempos, ou seja, dois anos, e meio tempo, a saber, meio ano. Isso equivale aos 1.260 dias de Apo. 12.6 e aos 42 meses de Apo. 11.2 e 13.5” (J. Dwight Pentecost, in loc.).

Alguns eruditos fazem os dias significar metade do período de sete anos, e os meses significar a outra metade. Então a combinação de dias e meses faria referência à septuagésima semana da profecia de Dan. 9.27. Exatamente o quanto dessa manipulação corresponderá à verdade, ainda terá de ser verificado. Uma coisa é certa: a Grande Tribulação, que alguns estudiosos modernos tinham predito para a década de 1990, não ocorreu, para consternação de muitos intérpretes bíblicos. A Grande Tribulação teria sido adiada? Nossos cálculos sobre o tempo estariam equivocados? Ou simplesmente estávamos errados quanto à nossa visão sobre o que se deveria esperar? O homem espiritual está sempre disposto a admitir que errou, e que sua compreensão era pequena demais para desvendar coisas tão grandes. Além disso, fazer Daniel ajustar-se aos fins dos tempos com detalhes tão precisos pode ter sido, desde o começo, uma abordagem equivocada do livro.

7.26 Mas depois se assentará o tribunal. O grande pequeno chifre, tão orgulhoso de seu poder e tão seguro de sua continuação, será repentinamente varrido da cena, e outro tanto sucederá ao quarto animal. Isso exigirá uma intervenção por parte do tribunal celestial, que se pronunciará contra a quarta fera e a removerá da cena. É o tribunal, presidido pelo Antigo de Dias, que determina o curso da história, o soerguimento e a queda de impérios, e determina o fim de todos esses reinos, quando o Reino Eterno houver de substituir a todos eles. Ver no Dicionário o artigo chamado Teísmo, que é a ideia de que o Criador não abandonou Sua criação, mas antes intervém, recompensando, punindo e determinando o destino dos indivíduos, das nações e do universo. Ver também no Dicionário o verbete chamado Soberania de Deus. Cf. este versículo com a cena do tribunal no vs. 10. Note o leitor que a destruição da fera, no vs. 11, é ignorada aqui. O leitor cuidadoso tomará isso como fato consumado, sem que a questão precise ser especificamente repetida.

7.27 O reino e o domínio, e a majestade dos reinos. Este versículo sumaria os vss. 13 e 14 e é essencialmente equivalente ao vs. 14. O Filho do Homem assume o reino, Ele é o vice-regente do Antigo de Dias. Aqui os santos aparecem e agem como os recebedores do Reino, juntamente com as divinas Autoridades e as hostes celestiais. O reino do Deus Altíssimo (ver Dan. 3.26 e o artigo com esse nome, no Dicionário) é dado por Ele aos santos, conforme vemos no vs. 22. O autor sacro tem em vista um futuro magnificente para Israel, possível mediante intervenção divina direta, pois a história natural jamais poderia produzir tais acontecimentos. Outras nações continuarão a existir, mas subordinadas a Israel, que se tornará então a cabeça das nações da terra. Subordinando-se a Israel, todos os povos serão unidos sob um único Deus e prestarão lealdade e adoração a Ele.

Seu conhecimento cobrirá então a face da terra como os mares cobrem os seus leitos. Ver Isa. 11.9. Haverá grandiosa restauração e raiará a Época Áurea. “Que o Novo Reino será entregue aos justos é algo que concorda com o pensamento escatológico geral. Ninguém poderá conquistá-lo. Antes, será um dom de Deus. O reino deles: o pronome é singular, e a referência pode ser à Figura Messiânica, quando o reino foi dado, conforme o vs. 14, e portanto “reino dele”. É mais provável, entretanto, que se refira ao governo do povo dos santos que Dan. 2.44 citou como eterno. Todos os outros domínios O servirão e Lhe serão obedientes” (Arthur Jeffery, in loc.).

O Triunfo Final. “O último reino, o reino dos santos, será universal, envolvendo todos os remidos. O triunfo final terá qualidade remidora. Afetará todos os homens e restaurará a correta relação entre Deus e os homens. Essa é grande diferença entre a vitória dos santos e a vitória dos pecadores, que traz somente destruição e caos” (Gerald Kennedy, in loc.).

7.28 Aqui terminou o assunto. Cf. este versículo com Jer. 51.64; Eclesiastes 12.13 e 5.9,10. Daniel não encontrou as respostas finais sobre o que estava acontecendo em suas profecias, mas conseguiu um avanço. Muita coisa continuava misteriosa. “É o espírito questionador da fé que vemos aqui. Uma experiência religiosa não resolve todos os nossos problemas, nem remove todas as nossas perguntas. Mas pode dar-nos indícios essenciais, e sabemos, com base nessas experiências, que nossa inquirição é significativa” (Gerald Kennedy, in loc). “Daniel sofre, como em Dan. 7.15 e 10.8, mas se consola mantendo em seu coração as palavras do anjo, referidas no vs. 17 (cf. Luc. 2.19)” (Ellicott, in loc.). “Não estamos limitados ao que os próprios profetas entenderam, ao lidar com as profecias” (Fausset, in loc.). Foi o anjo quem disse: “Aqui é o fim do assunto”, mas os homens bons estão sempre sujeitos a novas inspirações, no tempo apropriado. A teologia se parece com qualquer outra ciência: vive crescendo. A verdade nunca é final. A verdade é uma aventura, e o homem bom deve continuar aventurando-se.

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