A Definição dos Credos Ecumênicos

A definição dos Credos Ecumênicos 

por Alister E. McGrath



A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do credo apostólico -, provavelmente, o mais conhecido de todos os credos: “Creio em Deus Pai todo-poderoso...”. Esta expressão veio a significar uma referência à declaração de fé, que sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos. Por esse motivo, o termo “credo” jamais é empregado em relação a declarações de fé que sejam associadas a denominações específicas. Estas são geralmente chamadas de “confissões” (como a Confissão luterana de Augsburg ou a Confissão da Fé Reformada de Westminster). A “confissão” pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o “credo” pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar. O “credo” veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã. O período patrístico presenciou o surgimento de dois credos, que alcançaram paulatinamente autoridade e respeito por toda a igreja. O estímulo para seu desenvolvimento parece ter sido a necessidade de proporcionar uma síntese adequada da fé cristã, apropriada para ser utilizada em ocasiões públicas, dentre as quais, talvez, a mais importante fosse o batismo. A igreja primitiva costumava batizar seus convertidos no dia de Páscoa, usando o período de quaresma como um tempo de preparação e instrução voltado para esse momento de profissão pública de fé e de compromisso. Um requisito essencial era que cada convertido, que desejasse se batizar, deveria declarar publicamente sua fé. Parece que os credos começaram a se sobressair como uma declaração de fé homogênea, que os convertidos podiam utilizar nessas ocasiões. 

O Credo Apostólico é provavelmente a forma de credo mais conhecida pelos cristãos ocidentais. Ele se divide em três partes principais, que tratam, respectivamente, de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Há também conteúdos relacionados à igreja, ao juízo e à ressurreição. A evolução histórica desse credo é complexa e baseou se, em sua origem, em declarações de fé que eram exigidas daqueles que desejavam ser batizados. As doze declarações individuais desse credo, que parecem haver assumido seu formato final no século VIII, são tradicionalmente atribuídas a determinados apóstolos, embora não haja qualquer justificativa histórica para essa crença. Existem pequenas diferenças entre as versões oriental e ocidental desse credo; as declarações relacionadas à “descida à mansão dos mortos” e à “comunhão dos santos” (inseridas abaixo entre colchetes) não são encontradas em versões orientais desse documento. 

O Credo Apostólico 

1 Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador dos céus e da terra; 
2 e em Jesus Cristo seu único (unicus) Filho, nosso Senhor; 
3 que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria; 
4 sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; [desceu à mansão dos mortos]; 
5 ressuscitou ao terceiro dia; 
6 subiu aos céus e está assentado à direita de Deus Pai todo-poderoso; 
7 de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. 
8 Creio no Espírito Santo; 
9 na santa igreja católica; [na comunhão dos santos] 
10 na remissão dos pecados; 
11 na ressurreição da carne (resurrecdo carnis); 
12 e na vida eterna. 

O Credo Niceno é a versão mais longa do credo (mais especificamente conhecido como “Credo Niceno Constantinopolitano”), que inclui um conteúdo adicional relacionado à pessoa de Cristo e à obra do Espírito Santo. Em resposta às controvérsias concernentes à divindade de Cristo, esse credo introduz fortes declarações acerca de sua unidade com Deus, incluindo as expressões “Deus de Deus” e “consubstanciai ao Pai”. Como parte integrante de sua polêmica contra os arianos, o Concilio de Niceia (junho/325) formulou uma breve declaração de fé, fundamentada em um credo batismal, adotado em Jerusalém. Esse credo pretendia afirmar a plena divindade de Cristo, em oposição ao entendimento dos arianos, que defendiam sua condição de criatura, e incluía quatro condenações explícitas às perspectivas arianas, bem como três artigos de fé. Como os detalhes completos sobre os procedimentos de Nicéia foram perdidos, somos forçados a contar com o auxílio de fontes secundárias (como historiadores eclesiásticos e autores como Atanásio e Basílio de Cesareia) para obter o texto desse credo. 

Se, em sua origem, em declarações de fé que eram exigidas daqueles que desejavam ser batizados. As doze declarações individuais desse credo, que parecem haver assumido seu formato final no século VIII, são tradicionalmente atribuídas a determinados apóstolos, embora não haja qualquer justificativa histórica para essa crença. Existem pequenas diferenças entre as versões oriental e ocidental desse credo; as declarações relacionadas à “descida à mansão dos mortos” e à “comunhão dos santos” (inseridas abaixo entre colchetes) não são encontradas em versões orientais desse documento. 

O Credo Niceno 

Cremos em um só Deus, Pai onipotente (pantocrator), criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai desde toda a eternidade, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanciai ao Pai (homoousion to patri); por Ele todas as coisas foram feiras. Por nós e para nossa salvação, desceu dos céus; encarnou por obra do Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e fez-se verdadeiro homem. Por nós foi crucificado sob Pônei o Pilatos; sofreu a morte e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai. De novo há de vir em glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Cremos no Espírito Santo. 

Com referência àqueles que dizem que “o mundo já existia antes dEle” e que “antes de haver nascido Ele não existia” e que “Ele veio a existir a partir do nada”, ou, ainda, que afirmam que o Filho de Deus não possui a mesma substância ou natureza de Deus, ou que Ele está sujeito à alteração ou mudança - a igreja católica e apostólica os condena. 

A evolução dos credos representou um importante elemento no processo para se chegar a um consenso doutrinário no seio da igreja primitiva. Uma das áreas da doutrina que sofreu consideráveis avanços e controvérsias é aquela relacionada à pessoa de Cristo, à qual podemos agora nos dedicar.