Estudo sobre Filipenses 4:6-7

Filipenses 4:6-7


Como é bem-aventurada uma igreja de Jesus! O motivo de sua exortação na realidade já representa pura felicidade! “Alegria”, “moderação” e agora também “despreocupação!” Por que essa solicitação, “Em nada tenhais preocupações!”, é diferente do palavrório edificante que ouvimos no culto dominical, entre dez e 11 horas, mas que no entanto não somos capazes de colocar em prática ao despertar na manhã de segunda-feira? Porque o negativo “Em nada se preocupar” está associado ao poderoso positivo sustentador: “mas orar!” “Em tudo, porém, sejam conhecidas para Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças!” Em vez de “em tudo” talvez devêssemos traduzir melhor “em cada caso individual”. No grego as “petições” são “as coisas que se deseja e solicita do outro”. Deus preparou o que precisamos nessa situação de forma abundante para nós. Por essa razão não devemos alistar apreensivamente para nós mesmos o que precisamos ter – isso gera um verdadeiro “círculo vicioso” da constante intensificação de preocupação e ansiedade – mas devemos comunicá-lo com pedidos na oração a Deus. Se “agradecermos” e exclamarmos com gratidão a ajuda que Deus tantas vezes já nos concedeu, ficará evidente que oramos confiantes e não apenas exclamamos nossa angústia. O “pedir com ações de graças” introduz confiança e força em nossa oração. Será que nós cristãos podemos ser reconhecidos como santos despreocupados em um mundo atribulado por medo e preocupações?

Transformamos a frase sobre a paz que nos guarda em mero voto que depois, como tantos outros votos que fazemos, permanece bastante vago. Paulo, porém, faz uma promessa firme: A paz de Deus guardará! Por causa da conotação do termo grego, esse “guardar” implica um pouco do sentido da expressão jurídica “fideicomisso” ou do sentido original de “custódia”. Em 2Co 11.32 Paulo emprega a mesma palavra para a “vigilância” nas portas da cidade em Damasco, que visava impedir que o apóstolo escapasse da cidade. Consequentemente, a paz de Deus representa um poder protetor e vigilante. O adendo “em Cristo Jesus” pode referir-se ao todo da frase: aqui e em todos os outros lugares em que Deus age essa ação auxiliadora acontece por meio de Jesus. Contudo, também pode mostrar onde os corações e pensamentos são mantidos seguros e protegidos. A ordem das palavras depõe em favor dessa interpretação. Logo a frase toda se torna concreta e clara. A paz de Deus fará com que nosso coração inquieto e titubeante, tão facilmente assustado ou seduzido, apesar de tudo permaneça “em Cristo Jesus”, na luz de sua verdade e na vida de seu amor. A paz de Deus, porém, igualmente cuida de nossos “pensamentos”. Novamente a palavra não se refere de modo intelectualista a nossos arcabouços mentais, mas de modo prático a nossos planos e propósitos. Paulo emprega esta palavra em 2Co 2.11 para designar os intuitos de Satanás. Do coração sobem todos os “pensamentos” com os quais tentamos captar os alvos de nossa vida e ação. Esses “pensamentos” são, pois, os germes de nossas resoluções. Como é importante que justamente eles permaneçam “em Cristo Jesus”, nas raias de sua santa vontade e mandamentos.


O que, afinal, é essa “paz de Deus”, que realiza tudo isso? Porventura o sentido do genitivo aqui é objetivo ou subjetivo, significando “paz com Deus” ou “paz de Deus”? No entanto, para nós só haverá “paz com Deus” se Deus gerar paz, chamando-nos para dentro dela e preservando-nos nela. O fato de que Deus realmente faz isto evidentemente “excede todo pensar”. Quanto mais um ser humano conhece a Deus com toda a sua santidade, e a si mesmo com toda a sua perversão, egoísmo e infidelidade, tanto menos ele “será capaz de compreender” que Deus nos concede a sua paz. Quanto maior e mais admirável, porém, esse presente for para nós, tanto mais ele terá poder protetor e vigilante sobre nosso coração e nosso universo mental.