Estudo sobre 1 Coríntios 15:14-17

Estudo sobre 1 Coríntios 15:14-17


Pelo contrário, aqui rui todo o edifício. Paulo o demonstra inicialmente nas duas circunstâncias fundamentais que ainda vigoram em Corinto (v. 11): a “proclamação” e a “fé”. Afinal, será que os coríntios – e nós com eles! – não notam que ambas as coisas podem ainda existir formalmente, mas que se tornam “vãs”, apenas invólucros vazios, formas vazias, quando eliminamos a ressurreição? “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé.” Em última análise a proclamação possui apenas um único conteúdo: Jesus, o Cristo. No entanto, se esse Jesus está “morto” e hoje não vive e não age mais, então a mensagem dele é oca e todo falar sobre ele fica sem sentido. Com isso, porém, acaba também toda a fé cristã. Porque “fé” não é um sistema de pensamentos sobre Deus, mas é relacionar-se pessoalmente com Jesus, é apegar-se confiante e obedientemente a ele, é contar com seu poder eficaz e sua graça. O que restará se Jesus não ressuscitou?382 “Crer” num morto é algo inconsistente e por isso sem sentido.

Contudo os coríntios também precisam levar em consideração que sentença estão decretando não apenas sobre Paulo, mas sobre todos os mensageiros do evangelho. “E somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.” Agora Paulo emprega o mesmo “nós” do v. 11, pelo qual ele se une a todos os apóstolos para o testemunho do evangelho apesar de todas as diferenças menores. Pedro, João e Tiago serão “testemunhas de mentira” assim como ele. Aqui se explicita de modo especial o quanto o evangelho é proclamação de “fatos” que surgiram por meio dos “atos” de Deus. Não se trata de ideias a respeito de Deus sobre as quais o pensador pudesse se enganar, porque errar é humano. Trata-se do testemunho daquilo que Deus realizou. Nesse caso, testemunhar atos de Deus “contra Deus”, que Deus jamais realizou, não seria um equívoco desculpável, mas a mais alta blasfêmia.383 Diante dessas frases de Paulo é surpreendente a rapidez e facilidade com que repetidamente se atribuiu aos apóstolos a disseminação de invenções próprias, afirmações sem fundamento, lendas baratas.

Mais uma vez Paulo instrui os coríntios a captar as consequências que a negação da ressurreição precisa ter para toda a vida de fé. Ele sublinha a irrefutável consequência do v. 13: “Porque se os mortos não são ressuscitados, também Cristo não foi ressuscitado” [tradução do autor]. Simplesmente não se pode negar a ressurreição dos mortos e confessar a ressurreição de Jesus numa mesma frase.


No entanto, se a ressurreição de Jesus cair por terra, “será debalde a nossa fé” [tradução do autor]. Paulo repete a afirmação do v. 14, somente substituindo agora a palavra “vazia pela palavra “debalde”. Os coríntios podem continuar tentando “crer” em Jesus, mas essa tentativa é “debalde”. Já não chegam mais a Jesus por sobre o abismo da morte. Somente quando Jesus nos é presenteado com nova vida por meio de sua ressurreição por Deus nossa fé de fato pode alcançar e agarrá-lo.

Paulo aponta mais uma decorrência assustadora: “E ainda permaneceis nos vossos pecados.” Ainda que Jesus não tivesse realmente ressuscitado dentre os mortos, será que não existiria ainda “a palavra da cruz”? Não foi ali na cruz que aconteceu nossa redenção? Será que o sangue de Jesus não nos purifica de todos os pecados? Não, não é “a cruz” que nos salva como um instrumento objetivo e impessoal, nem é a substância “sangue de Jesus” que nos purifica. Paul Humburg disse, de forma muito acertada: “Não temos um remédio contra o pecado, temos um mediador da salvação. Tudo depende da comunhão com Jesus, o Reconciliador e Redentor. Tudo é bem pessoal. É somente da mão de Jesus que podemos obter a graça eterna de Deus!” Todo o fardo de nosso pecado ainda pesa sobre mim se a gélida mão de Jesus não puder mais me oferecer essa graça salvadora.




Notas:
382 Não se pode tentar contornar a dureza e o escândalo da mensagem bíblica da ressurreição para o ser humano de hoje dizendo que Jesus apenas ressuscitou “diante da palavra”. Porque essa palavra se tornará palavra vazia se faltar a realidade de que ela fala. Nesse ponto aconteceu uma nefasta inversão de 180 graus. Porque não é a palavra que sustenta e cria a ressurreição, mas o fato da ressurreição é que cria e sustenta a palavra do testemunho. A vitória decisiva não acontece na notícia da vitória, mas a notícia da vitória somente é possível porque a vitória de fato foi conquistada.

383 Também o pregador atual precisa saber o que está fazendo. Enquanto ele apenas visa cultivar pensamentos e sentimentos humanos e religiosos, sua responsabilidade pode ser pequena. Tão logo, porém, fizer declarações sérias sobre Deus e os feitos de Deus, ele se encontra arcando com numa responsabilidade suprema. Agora cada palavra tem um peso grande, agora ele apenas tem a escolha de ser ou testemunha autêntica da verdade ou mentiroso contra Deus.