BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA — Enciclopédia Bíblica Online

BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA

A Biblioteca de Alexandria (em grego clássico: Βιβλιοθήκη τῆς Ἀλεξάνδρειας; em latim: Bibliotheca Alexandrina), localizada na cidade egípcia de Alexandria, foi uma das mais imponentes e influentes instituições do saber da Antiguidade. Integrada ao Mouseion — um centro de pesquisa e erudição dedicado às Musas, divindades gregas das artes —, a biblioteca representava o ideal de um repositório universal de conhecimento. Segundo algumas tradições, esse projeto teria sido proposto por Demétrio de Faleros, um estadista ateniense exilado em Alexandria, ao rei Ptolemeu I Sóter. Ainda que o conceito tenha surgido nesse período, é mais provável que a construção da biblioteca tenha ocorrido sob o reinado de seu filho, Ptolemeu II Filadelfo. O acervo cresceu rapidamente, impulsionado por uma política agressiva e amplamente financiada pelos reis ptolomaicos, voltada à aquisição de textos por meio de compra, cópia ou mesmo confisco (Heather, 2010). As estimativas sobre o número de rolos de papiro armazenados variam amplamente, oscilando entre 40 mil e 400 mil unidades no auge da biblioteca.

Essa impressionante concentração de conhecimento transformou Alexandria em um verdadeiro centro mundial de aprendizagem e ciência (Murry, 2009, p. 17). Durante os séculos III e II a.C., diversas figuras proeminentes da história intelectual atuaram na biblioteca: Zenódoto de Éfeso, que procurou padronizar os textos de Homero; Calímaco, autor dos Pinakes, frequentemente considerado o primeiro catálogo bibliográfico da história; Apolônio de Rodes, que compôs o poema épico Argonáutica; Eratóstenes de Cirene, que calculou com notável precisão a circunferência da Terra; Herão de Alexandria, inventor da primeira máquina a vapor conhecida; Aristófanes de Bizâncio, criador do sistema de diacríticos gregos e pioneiro na divisão de versos em linhas; e Aristarco de Samotrácia, responsável por edições críticas e comentários fundamentais sobre a poesia homérica. Durante o reinado de Ptolemeu III Evérgeta, foi criada uma biblioteca auxiliar no Serapeu, templo dedicado ao deus greco-egípcio Serápis.

Entretanto, o prestígio da biblioteca começou a declinar gradualmente. O ponto de inflexão pode ser identificado no ano 145 a.C., quando o rei Ptolemeu VIII Físcon iniciou uma perseguição a intelectuais, levando à renúncia e exílio de Aristarco de Samotrácia, então diretor da biblioteca, e à dispersão de diversos outros estudiosos como Dionísio Trácio e Apolodoro de Atenas. Um episódio particularmente notório da história da biblioteca ocorreu em 48 a.C., quando uma parte de seu acervo teria sido destruída durante um incêndio acidental provocado por Júlio César ao ordenar a queima da frota inimiga durante o cerco de Alexandria. Embora os danos sejam incertos, há indícios de que a biblioteca tenha sido parcialmente restaurada ou que parte de sua coleção tenha sobrevivido. O geógrafo Estrabão, por exemplo, afirma ter visitado o Mouseion por volta de 20 a.C., e a prolífica produção intelectual de Dídimo Calcentero nesse período sugere que ainda havia acesso significativo aos recursos bibliográficos da cidade.

Durante a era romana, a biblioteca foi minguando devido à falta de apoio estatal. Há evidências de que sua atividade tenha cessado por completo na década de 260 d.C. Entre os anos de 270 e 275, Alexandria foi palco de uma invasão palmirena seguida de um contra-ataque imperial, ocasião em que, ao que tudo indica, o que restava da biblioteca foi destruído. A biblioteca-filial do Serapeu parece ter persistido por mais algum tempo, servindo como ponto de encontro de filósofos neoplatônicos ligados à escola de Jâmblico. Contudo, em 391 d.C., por ordem do bispo Teófilo de Alexandria e com o respaldo do imperador Teodósio I, o Serapeu foi saqueado e demolido, encerrando simbolicamente o ciclo milenar de Alexandria como capital do saber antigo.

Durante o período neotestamentário, Alexandria destacava-se como uma das principais cidades do Império Romano, sendo um polo de comércio marítimo, cultura helenística e erudição, além de abrigar uma das maiores comunidades judaicas da diáspora. Seu prestígio, consolidado já no período ptolomaico, viria a se estender até os primeiros séculos do cristianismo, quando se tornaria um dos centros teológicos mais influentes da Igreja Antiga.

I. Localização e História

A cidade de Alexandria estava localizada estrategicamente sobre uma estreita faixa de calcário, entre o Mar Mediterrâneo ao norte e o Lago Mareotis ao sul, com o delta do Nilo estendendo-se a leste. Fundada em 331 a.C. por ordem de Alexandre, o Grande, sobre as ruínas da antiga cidade egípcia de Racotis, Alexandria carregaria o nome de seu idealizador, embora Alexandre jamais tenha visto sua obra concluída. Sua localização era privilegiada: protegida dos ventos e mar aberto por uma longa e estreita faixa de rocha denominada Faros, situada 1,5 km da costa e ligada ao continente por um istmo artificial, o Heptastadion. Esse dique permitia a formação de dois portos naturais — um a leste e outro a oeste — e integrava o porto ocidental (Eunostos) ao Lago Mareotis por meio de um canal navegável, o que tornava Alexandria não apenas um ponto de entrada marítima, mas também fluvial, com acesso ao Nilo e, indiretamente, ao mar Vermelho (Dio Crisóstomo, Discursos 32.36).

A história da cidade divide-se em três períodos distintos de domínio: o ptolomaico, o romano e o bizantino. Após a morte de Alexandre em 323 a.C., o Egito foi governado pelos Lágidas ou Ptolomeus. Alexandria substituiu Mênfis como capital e tornou-se o centro administrativo e político do reino. Ainda que parte do Egito, a cidade mantinha um estatuto semiautônomo, com caráter mais grego do que egípcio em seus costumes e instituições. Durante esse período helenístico, Alexandria prosperou imensamente. Sua posição geográfica, aliada à estabilidade do regime ptolomaico, fomentou um intenso comércio internacional e o florescimento de indústrias como a de papiro, vidro e linho. Desde o início, a cidade atraiu uma população cosmopolita.

Com a conquista romana em 30 a.C., após a derrota de Marco Antônio e Cleópatra por Otaviano, Alexandria tornou-se a capital da província romana do Egito. Embora tenha sofrido humilhações sob o domínio de Augusto — como a dissolução de seu senado e o desmantelamento das forças armadas locais — a cidade manteve certos privilégios e consolidou-se como a segunda mais importante do império, com uma população que, no século I d.C., poderia ter ultrapassado os 500 mil habitantes. Alexandria continuou sendo o centro cultural do Oriente romano e sede da administração imperial no Egito.

A descrição mais importante da topografia da cidade foi fornecida pelo geógrafo e historiador grego Estrabão (Geografia 17.1.6–10). Alexandria tinha uma planta urbana retangular, paralela à costa mediterrânea, e foi projetada segundo o modelo hipodâmico por Deinócrates de Rodes. A artéria principal, a Canópica (com cerca de 5,5 km de extensão e 33 metros de largura), atravessava a cidade de leste a oeste, sendo cruzada perpendicularmente pela rua do Soma, com 1,5 km de norte a sul. Cleômenes de Náucratis, primeiro governador da cidade, foi encarregado de financiar a obra.

A cidade era dividida por zonas étnicas. No sudoeste, o distrito egípcio correspondia ao antigo vilarejo de Rhakotis e era o mais pobre. Ali foi construído, sob Ptolemeu III Evérgeta (246–221 a.C.), o Serapeu — templo dedicado ao deus greco-egípcio Serápis — onde também se estabeleceu a chamada “biblioteca filha” da Biblioteca de Alexandria. Sob o domínio romano, esse templo se tornaria um dos mais proeminentes centros de culto pagão do Egito. O bairro grego chamava-se Brucheion, onde se situava o palácio real, que, segundo Estrabão, ocupava entre um terço e um quarto da cidade (Geografia 17.1.8). Ali também ficavam o Museu, centro de estudos vinculado à biblioteca principal, e o túmulo de Alexandre, o Soma.

A cidade possuía ainda um marco monumental que se tornaria uma das sete maravilhas do mundo antigo: o Farol de Alexandria, edificado na extremidade oriental da ilha de Faros. Tinha cerca de 120 metros de altura, dividido em três corpos — quadrado, octogonal e cilíndrico — e no topo havia uma estátua de Zeus Sóter. Seu fogo era refletido por espelhos e podia ser visto a mais de 50 km, segundo Flávio Josefo (Wars 4.10.5 §613). Sua função era múltipla: servia como orientação para embarcações, advertência contra recifes e ponto de observação militar. Fragmentos do farol foram localizados por arqueólogos nos tempos modernos.

Entre os habitantes de Alexandria, destacava-se uma expressiva e influente comunidade judaica, helenizada e organizada em um políteuma, isto é, uma estrutura cívica própria com relativa autonomia (Epístola de Aristeas 310). Muitos judeus migraram da Palestina para a cidade desde sua fundação, encorajados pelo próprio Alexandre (Josefo, Wars 2.18.7 §487; Contra Apion 2.4 §§35, 37). Os Ptolomeus continuaram a favorecer essa presença, e há provas arqueológicas e epigráficas que confirmam sua existência no período helenístico. Havia uma sinagoga proeminente na Canópica (Talmude, t. Sukkah 4:6), e por volta do século I d.C., estima-se que os judeus compunham até um terço da população da cidade — algo em torno de 180 mil pessoas, conforme argumentam Delia e Sly, baseados na divisão de bairros descrita por Fílon (Flaccus 55). O próprio Fílon, judeu alexandrino, relata que a população judaica no Egito inteiro podia alcançar um milhão de indivíduos (Flaccus 43).

Contudo, essa coexistência étnica e cultural, embora inicialmente pacífica, era marcada por tensões recorrentes. Em 38 d.C., durante a visita do rei Agripa, sob o governo do prefeito Flaco, e sob a regência do imperador Calígula, irromperam violentos conflitos. Os judeus foram brutalmente perseguidos e privados de seus direitos (Flaccus 54). A repressão foi parcialmente revertida sob Cláudio, mas em 66 d.C., novos distúrbios levaram à intervenção das forças romanas sob Tiberius Julius Alexander, sobrinho apóstata de Fílon (Josefo, Guerras 2.18.7-8 §§487–498). A repressão culminaria no grande levante de 115–117 d.C., quando a comunidade judaica foi quase completamente eliminada de Alexandria (Eusébio, História Eclesiástica 4.2).

Quanto à presença cristã, o Novo Testamento não menciona diretamente a fundação da igreja em Alexandria. Há referências a judeus alexandrinos que interagiram com os primeiros cristãos: alguns estavam presentes no Pentecostes (Atos 2:10), outros disputaram com Estêvão (Atos 6:5), e Apolo, um eloquente judeu de Alexandria, converteu-se e passou a atuar como pregador (Atos 18:24–25; 1 Co 1:12; 3:4–6, 22; 16:12). Segundo Eusébio (História Eclesiástica 2.16), a tradição sustenta que Marcos, o evangelista, teria evangelizado a cidade por volta de 40 d.C. e sido martirizado ali, embora tal informação não possa ser verificada com certeza histórica. Ainda assim, já no século II havia uma escola catequética cristã estabelecida, e no século III, Alexandria despontava como uma metrópole da fé cristã, influente tanto doutrinal quanto institucionalmente.

II. A Biblioteca de Alexandria: Fundação, Esplendor e Desaparecimento

A maior glória intelectual da antiga Alexandria foi, sem dúvida, sua extraordinária biblioteca, cuja fama ecoa através dos séculos como símbolo do saber acumulado da Antiguidade. Fundada provavelmente no início do século III a.C., durante o reinado de Ptolemeu I Sóter ou, mais provavelmente, de seu filho Ptolemeu II Filadelfo, a Biblioteca fazia parte integrante do Museu — o templo das Musas — uma instituição dedicada ao estudo e à erudição, que funcionava como uma academia de ciências, letras e artes. Ambos estavam instalados no bairro grego da cidade, o Brucheion, e eram generosamente patrocinados pela dinastia ptolomaica, cuja política era consolidar o poder cultural e simbólico do novo Egito helenizado.

A biblioteca real de Alexandria não era apenas um depósito de textos, mas um centro ativo de pesquisa e produção intelectual. Calcula-se que tenha abrigado cerca de 700 mil rolos de papiro em seu auge — número que, embora estimativo, confere uma dimensão incomparável à sua ambição enciclopédica. Em contraste, no século XIV, a Biblioteca da Sorbonne, considerada a maior da Europa à época, contava com apenas 1.700 volumes. Os reis ptolomaicos, movidos por um zelo quase obsessivo por ampliar esse acervo, instituíram práticas sistemáticas de aquisição de manuscritos. Soldados inspecionavam os navios que aportavam na cidade em busca de livros; quando encontrados, os originais eram confiscados, copiados e devolvidos apenas em versão duplicada. O caso mais célebre desse procedimento envolve Ptolemeu III, que, ao tomar emprestados originais raros das tragédias atenienses, preferiu não devolvê-los e aceitou perder o depósito exigido pela cidade de Atenas, restituindo apenas as cópias.

Biblioteca de Alexandria: Sua História e Importância.

A biblioteca era frequentada por nomes lendários da erudição antiga. Entre seus colaboradores e frequentadores figuram Euclides, cuja obra Os Elementos se tornaria o tratado de geometria mais influente da história; Eratóstenes, que calculou a circunferência da Terra com notável precisão; Hiparco, que contribuiu para a fundação da trigonometria; além de importantes gramáticos, lexicógrafos e tradutores. Foi também em Alexandria, segundo a tradição judaica helenística, que 72 sábios teriam realizado a célebre tradução das Escrituras Hebraicas para o grego — a Septuaginta — obra de valor inestimável tanto para o judaísmo da diáspora quanto para os primeiros cristãos, cujas citações bíblicas dependiam amplamente dessa versão.

Apesar de sua importância, a destruição da Biblioteca de Alexandria permanece envolta em incertezas históricas. Não se conhece uma narrativa única, conclusiva e contemporânea ao seu desaparecimento. Os registros antigos, como os de Ateneu, no século III d.C., demonstram um curioso silêncio. O autor chega a afirmar: “Por que falar sobre algo que todos já conhecem, como a quantidade de livros, a criação de bibliotecas e a coleção do Museu das Musas?” — o que, paradoxalmente, frustra os esforços modernos para uma reconstrução exata dos eventos.

Entre as hipóteses sobre a destruição da biblioteca, uma das mais antigas remete ao incêndio ocorrido durante a campanha de Júlio César no Egito, em 47 a.C. Durante o cerco de Alexandria, César ordenou queimar parte da frota egípcia ancorada no porto, e o fogo teria se alastrado para depósitos próximos ao Museu. Embora autores posteriores mencionem o incêndio, não há unanimidade sobre o alcance exato dos danos causados à biblioteca nesse episódio.

Outros momentos críticos incluem a progressiva hostilidade entre comunidades religiosas na cidade entre os séculos III e VI d.C., quando pagãos, judeus e cristãos disputavam violentamente a supremacia teológica e política da cidade. Em muitos casos, a própria Igreja incitava a destruição de templos pagãos e seus arquivos. Durante esse período de instabilidade, muitos manuscritos foram perdidos, roubados ou deliberadamente destruídos. A perseguição aos saberes considerados heréticos ou profanos pode ter contribuído decisivamente para a dispersão ou extinção do acervo bibliográfico alexandrino.

No século VII, quando o Egito foi conquistado pelos árabes sob o comando de Amr ibn al-As, subordinado do califa Omar ibn al-Khattab, não há evidência sólida de que a biblioteca ainda existisse. É provável que, àquela altura, já estivesse em ruínas ou dissolvida. Ainda assim, uma tradição tardia — de autenticidade contestada — sustenta que o califa teria ordenado a queima dos livros restantes sob o argumento de que, se estivessem de acordo com o Corão, eram desnecessários; e se discordassem, eram heréticos.

Mais devastadora que qualquer incêndio pontual, porém, foi a perda cumulativa: centenas de obras de dramaturgos gregos, tratados filosóficos, textos científicos e registros históricos se perderam para sempre. Entre os fragmentos preservados, restaram apenas pequenas partes da produção intelectual grega, e os cinco primeiros séculos da história helênica sobreviveram sobretudo pelas obras de Heródoto, Tucídides e Xenofonte.

Essa perda foi não apenas material, mas simbólica: a queda da Biblioteca de Alexandria representou a falência de uma utopia do saber integral, de uma civilização que buscava reunir todo o conhecimento humano em um só lugar. Sua ausência ecoaria como uma ferida na memória da humanidade até o século XXI, quando a ideia de Alexandria como guardiã do saber seria ressuscitada com vigor.

III. A Reconstrução Moderna e sua Vocação Contemporânea

Em outubro de 2002, quase dois milênios após o declínio da antiga Biblioteca de Alexandria, um projeto ambicioso e simbólico foi finalmente concretizado: a inauguração da Bibliotheca Alexandrina, uma instituição cultural e científica dedicada não apenas à preservação da memória da Antiguidade, mas também ao fomento do conhecimento global contemporâneo. Concebida como homenagem e renascimento da lendária biblioteca ptolomaica, a nova estrutura reafirma Alexandria como um centro de saber, agora voltado para os desafios do século XXI.

A Reconstrução Moderna da Biblioteca e sua Vocação Contemporânea

A nova Biblioteca de Alexandria foi construída junto ao Mar Mediterrâneo, próxima ao local tradicionalmente associado ao antigo Museu. Seu projeto arquitetônico foi selecionado em um concurso internacional organizado pela UNESCO e vencido pelo estúdio norueguês Snøhetta. A estrutura central é composta por um edifício circular inclinado, com uma cobertura metálica de vidro e alumínio que se eleva até 30 metros de altura a partir de um ponto abaixo do nível do mar. A forma remete ao disco solar erguendo-se no horizonte — um símbolo egípcio por excelência. Quando iluminado, seu teto espelhado confere à construção uma aparência de sol nascente, reavivando a conexão visual com o conhecimento como luz que desponta sobre as trevas da ignorância.

A fachada externa do cilindro central é revestida por placas de granito cinza nas quais estão gravados caracteres de centenas de alfabetos antigos e modernos, evocando a diversidade linguística e cultural do patrimônio humano. O edifício abriga, em seu interior, uma ampla sala de leitura distribuída em vários níveis, com capacidade física para 8 milhões de volumes. As instalações incluem ainda salas de exposição, auditórios, bibliotecas especializadas — incluindo uma dedicada a pessoas com deficiência visual — e um planetário que se projeta como uma esfera externa independente, remetendo à figura de um satélite.

Mais do que um simples centro de leitura, a Bibliotheca Alexandrina foi projetada como um polo internacional de pesquisa e intercâmbio acadêmico. Seu sistema de informática, altamente avançado, permite acesso remoto a bancos de dados e bibliotecas digitais ao redor do mundo, conectando-se àquilo que foi o sonho da antiga Alexandria: ser a casa do saber universal. As coleções destacam, em particular, as culturas do Mediterrâneo oriental, com ênfase na tradição árabe, helênica e egípcia, reafirmando o papel da cidade como elo entre Oriente e Ocidente.

O renascimento da Biblioteca de Alexandria também se reveste de profundo simbolismo. Sua construção foi concebida como um gesto civilizatório diante da memória de uma perda cultural irreparável — a destruição da antiga biblioteca. Em tempos de reconstruções imaginárias e revisionismos históricos, a nova biblioteca se oferece não como réplica arqueológica, mas como um gesto contemporâneo de reconciliação com o passado e de esperança para o futuro. Em sua forma, conteúdo e missão, ela expressa a continuidade do ideal alexandrino: o de que o conhecimento, preservado e compartilhado, pode transcender impérios, guerras e catástrofes.

Assim, Alexandria, que já foi o palco de conflitos étnicos e religiosos, de glórias intelectuais e de declínios trágicos, volta a ocupar um lugar simbólico no cenário global. A nova Biblioteca, com sua arquitetura solar e vocação plural, honra a memória da cidade e de sua antiga vocação de iluminar o mundo com saber, enquanto se projeta como um farol do conhecimento para o século XXI e além.

Bibliografia

BARCLAY, John M. G. Jews in the Mediterranean Diaspora: From Alexander to Trajan (323 B.C.E.–117 C.E.). Edinburgh: T & T Clark, 1996.
BOWMAN, Alan K. Egypt After the Pharaohs: 332 B.C.–A.D. 642: From Alexander to the Arab Conquest. 2. ed. London: British Museum Publications, 1996.
BOWMAN, Alan K. (ed.). The Augustan Empire, 43 B.C.–A.D. 69. 2. ed. (The Cambridge Ancient History, 10). Cambridge: Cambridge University Press, 1996.
CLAYTON, Peter A. “The Pharos at Alexandria”. In: CLAYTON, P. A.; PRICE, M. J. (ed.). The Seven Wonders of the Ancient World. London: Routledge, 1988.
CROOK, John A. (ed.). The Last Age of the Roman Republic, 146–43 B.C. 2. ed. (The Cambridge Ancient History, 9). Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
DELIA, Diana. Alexandrian Citizenship During the Roman Principate. Atlanta: Scholars Press, 1991.
EL-DIN, Mostafa S. Alexandria: The Site and the History. New York: New York University Press, 1993.
FRASER, Peter M. Ptolemaic Alexandria. 3 vols. Oxford: Oxford University Press, 1972.
KASHER, Aryeh. The Jews in Hellenistic and Roman Egypt. (Texts and Studies in Ancient Judaism, 7). Tübingen: Mohr Siebeck, 1985.
MURRY, S. A.. The library: An illustrated history. New York: Skyhorse Publishing, 2009.
HEATHER, Phillips. “The Great Library of Alexandria?”. In.: Library Philosophy and Practice. University of Nebraska–Lincoln. 2010. 
MARLOWE, John. The Golden Age of Alexandria: From Its Foundation by Alexander the Great in 331 B.C. to Its Capture by the Arabs in 642 A.D. London: Victor Gollancz, 1971.
MODRZEJEWSKI, Joseph M. The Jews of Egypt: From Rameses II to Emperor Hadrian. Edinburgh: T & T Clark, 1995.
PEARSON, Birger A.; GOEHRING, James E. (ed.). The Roots of Egyptian Christianity. (Studies in Antiquity and Christianity). Philadelphia: Fortress Press, 1986.
SLY, Dorothy I. Philo’s Alexandria. London: Routledge, 1996.
TRUE, Marion; HAMMA, Kenneth (ed.). Alexandria and Alexandrianism: Papers Delivered at a Symposium Organized pelo J. Paul Getty Museum and the Getty Center for the History of Art and the Humanities and Held at the Museum, April 22–25, 1993. Malibu, CA: J. Paul Getty Museum, 1996.
WALBANK, Frank W. The Hellenistic World. 2. ed. (The Cambridge Ancient History, 7). Cambridge: Cambridge University Press, 1984.

Quer citar esse artigo? Siga as instruções da ABNT:

GALVÃO, Eduardo M. Biblioteca de Alexandria. In: ENCICLOPÉDIA BÍBLICA ONLINE. [S.l.]: [s.d.]. Disponível em: Biblioteca Bíblica. Disponível em: [Cole o link aqui]. Acessado em: [Coloque aqui a data que você acessou a página].