O Cânon Hebraico (Velho Testamento)
De acordo com os costumes judaicos, o Cânon as Escrituras Hebraicas (Velho Testamento) são divididas em três grupos conhecidos como Torah (Lei), Nebi'im (Profetas - Anteriores e Posteriores) e Kethubim (Hagiógrafo ou Escritos). Consistem em vinte e quatro livros que, por divisão diferente, aparecem na Versão Autorizada como trinta e nove. Desses livros, considerados inspirados e sagrados e que possuíam a autoridade “canónica”, os judeus diziam que “tornam as mãos sujas” — frase cuja origem está perdida na obscuridade, mas que “pretendia provavelmente prevenir descuidos e manuseio irreverente dos livros sagrados, particularmente pelos sacerdotes”.(G. F. Moore, ibid., vol. III, p. 66.) Nem todos os livros das Escrituras Sagradas eram considerados de igual autoridade, como também, nem, de fato, constavam nas três seções em que as Escrituras estavam divididas. Eles eram classificados em três níveis, por assim dizer; o primeiro lugar representando a Torah, em seguida, os Profetas e o último, os Escritos.
Desde o tempo de Esdras em diante, o judaísmo que gradualmente se desenvolveu atribuiu a maior importância possível à revelação da Torah dada por Deus a Moisés no Sinai, e considerou a história subsequente como de menor importância; dessa maneira a Torah recebeu um lugar de suprema autoridade escriturística dentro da igreja judaica. Parece provável que em cerca de 400-350 a.C, a Torah ou o Pentateuco, como nós o temos agora, foi concluído; mas é mais difícil apurar a que ponto ele foi considerado como tendo obtido autoridade canónica.
O cerne da idéia talvez só possa ser encontrado em data mais remota, em 621 a.C, quando a leitura do Livro da Lei perante o rei Josias (provavelmente os trechos principais do livro de Deuteronômio), causou grande impressão no povo, e novamente em 397 a.C, quando o Livro da Lei de Esdras foi lido com efeito semelhante. Não resta dúvida de que em cerca de 350-300 a.C. o Pentateuco como uma unidade era venerado pelo povo. Mas foi provavelmente durante o período de 300-200 a.C, quando, como já temos visto, ocorreu uma troca gradual de ênfase do Templo para a Torah, que esse conjunto das Escrituras passou a ter cada vez mais o que nós chamamos de autoridade canónica. O livro de Tobias (cerca de 200 a.C.) mostra grande respeito para com a Torah, e Ben Sira (Eclesiástico) escrevendo em 180 a.C, fala sobre a Torah como o supremo dom de Deus e equipara-a à Sabedoria (24.23), indicando que nessa época, de alguma forma, ela era considerada por Ben Sira como verdadeiramente canónica. Assim, por volta do ano 200 a.C, ou algum tempo antes, a religião da Torah estava solidamente fundamentada. A luz desse fato podemos compreender bem a importância atribuída aos rolos do Templo, no Primeiro Livro de Macabeus, onde a implicação é que a Torah deve ser defendida, mesmo que o Templo seja destruído (cf. 1.56 s; 2.26 s,48).
Mais adiante, valiosas informações são dadas por Ben Sira com respeito à formação da segunda divisão do Cânon, conhecida como “Profetas”. Nos capítulos 44 e seguintes, ele apresenta uma lista de homens famosos mencionados nas Escrituras, cujos nomes são organizados de tal maneira e com tantos detalhes, que nos leva à conclusão de que a maior parte do Antigo Testamento, como nós o temos agora, era conhecida por ele naquele tempo. Ele deixa claro que conhecia pelo menos “a Lei” e “os Profetas” e, de fato, se refere aos “Doze Profetas” como uma coleção definida. Um fator que pode ter facilitado a conclusão dessa divisão dos “Profetas”, foi a crença então prevalecente de que desde o tempo de Esdras a atividade profética e a inspiração profética haviam cessado (cf. I Macabeus 4.46; 9.27; 14.41 e Salmos de Macabeus 74.9). Por volta de 250-200 a.C, então, nós podemos dizer que a divisão dos “Profetas” estava concluída. Isso explica por que um livro como Daniel não é encontrado entre os “Profetas” mas entre os “Escritos”, pois Daniel não havia sido escrito até o ano 165 a.C.
Um marco divisório claramente definido ao traçar a idéia do Cânon é fornecido no Prólogo a Ben Sira que foi composto pelo neto desse escritor aproximadamente em 132 a.C. Ele fala sobre a lei e os profetas, e outros que seguiram depois deles, e da “própria lei, e das profecias, e do restante dos livros”. Tais declarações mostram que nessa época outros livros eram considerados como de valor religioso especial e poderiam ser classificados à parte; elas indicam que a divisão tríplice das Escrituras já existia, mas que a terceira seção estava ainda fluida e não tinha ainda adquirido um nome distinto. Essa mesma conclusão é indicada pela evidência de Lucas 24.44, que se refere ao que está escrito “na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”, onde novamente a última seção é deixada indeterminada. O autor de II Esdras (cerca de 90 d.C.) indica que naquela época havia provavelmente vinte e quatro livros nas Escrituras hebraicas (cf. 14.44 ss) e essa é também uma conclusão justificável da evidência do Novo Testamento e de Josephus que, provavelmente por um agrupamento diferente, dá o número como vinte e dois. Nenhuma dessas fontes, entretanto, dá o nome técnico para a terceira seção das Escrituras. A primeira referência às três seções juntas por seus nomes hebraicos é dada pelo Rabino Gamaliel, o mesmo Gamaliel mencionado em Atos 5. Nós podemos chegar à conclusão de que antes dos tempos do Novo Testamento, pelo menos, o Cânon das Escrituras estava virtualmente concluído.
Contudo, por muito tempo ainda a controvérsia a respeito do número de livros continuou. Em particular,' houve dissensão entre a famosa Escola de Hülel e Shammai sobre a posição do Cântico dos Cânticos de Eclesiastes. Uma decisão do Concilio de Jamnia (cerca de 90 d.C) aceitou o dois livros como canónicos, apoiando, assim, a Escola de Hillel. As Escrituras Hebraicas eram então limitadas aos vinte e quatro livros (cinco no Pentateuco, oito nos Profetas e onze nos Escritos) que correspondem aos trinta e nove livros da Versão Autorizada. Mas as opiniões continuaram divididas e a questão do Cânon era ainda um ponto de debate no segundo e terceiros séculos d.C. Não há, então, data definida, de quando foi concluída a coleção dos livros chamados “canónicos”. Pelo contrário, por sua contribuição ao registro da revelação divina e por sua popularidade e uso nos cultos da sinagoga, eles foram estabelecendo gradualmente sua posição dentro do conjunto das Sagradas Escrituras.
Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.
Veja outros estudos bíblicos relacionados:
Cf. Literatura Apócrifa e os Livros não Canônicos
Cf. Livros Apócrifos Judaicos
Cf. O Cânon do Novo Testamento
Desde o tempo de Esdras em diante, o judaísmo que gradualmente se desenvolveu atribuiu a maior importância possível à revelação da Torah dada por Deus a Moisés no Sinai, e considerou a história subsequente como de menor importância; dessa maneira a Torah recebeu um lugar de suprema autoridade escriturística dentro da igreja judaica. Parece provável que em cerca de 400-350 a.C, a Torah ou o Pentateuco, como nós o temos agora, foi concluído; mas é mais difícil apurar a que ponto ele foi considerado como tendo obtido autoridade canónica.
O cerne da idéia talvez só possa ser encontrado em data mais remota, em 621 a.C, quando a leitura do Livro da Lei perante o rei Josias (provavelmente os trechos principais do livro de Deuteronômio), causou grande impressão no povo, e novamente em 397 a.C, quando o Livro da Lei de Esdras foi lido com efeito semelhante. Não resta dúvida de que em cerca de 350-300 a.C. o Pentateuco como uma unidade era venerado pelo povo. Mas foi provavelmente durante o período de 300-200 a.C, quando, como já temos visto, ocorreu uma troca gradual de ênfase do Templo para a Torah, que esse conjunto das Escrituras passou a ter cada vez mais o que nós chamamos de autoridade canónica. O livro de Tobias (cerca de 200 a.C.) mostra grande respeito para com a Torah, e Ben Sira (Eclesiástico) escrevendo em 180 a.C, fala sobre a Torah como o supremo dom de Deus e equipara-a à Sabedoria (24.23), indicando que nessa época, de alguma forma, ela era considerada por Ben Sira como verdadeiramente canónica. Assim, por volta do ano 200 a.C, ou algum tempo antes, a religião da Torah estava solidamente fundamentada. A luz desse fato podemos compreender bem a importância atribuída aos rolos do Templo, no Primeiro Livro de Macabeus, onde a implicação é que a Torah deve ser defendida, mesmo que o Templo seja destruído (cf. 1.56 s; 2.26 s,48).
Mais adiante, valiosas informações são dadas por Ben Sira com respeito à formação da segunda divisão do Cânon, conhecida como “Profetas”. Nos capítulos 44 e seguintes, ele apresenta uma lista de homens famosos mencionados nas Escrituras, cujos nomes são organizados de tal maneira e com tantos detalhes, que nos leva à conclusão de que a maior parte do Antigo Testamento, como nós o temos agora, era conhecida por ele naquele tempo. Ele deixa claro que conhecia pelo menos “a Lei” e “os Profetas” e, de fato, se refere aos “Doze Profetas” como uma coleção definida. Um fator que pode ter facilitado a conclusão dessa divisão dos “Profetas”, foi a crença então prevalecente de que desde o tempo de Esdras a atividade profética e a inspiração profética haviam cessado (cf. I Macabeus 4.46; 9.27; 14.41 e Salmos de Macabeus 74.9). Por volta de 250-200 a.C, então, nós podemos dizer que a divisão dos “Profetas” estava concluída. Isso explica por que um livro como Daniel não é encontrado entre os “Profetas” mas entre os “Escritos”, pois Daniel não havia sido escrito até o ano 165 a.C.
Um marco divisório claramente definido ao traçar a idéia do Cânon é fornecido no Prólogo a Ben Sira que foi composto pelo neto desse escritor aproximadamente em 132 a.C. Ele fala sobre a lei e os profetas, e outros que seguiram depois deles, e da “própria lei, e das profecias, e do restante dos livros”. Tais declarações mostram que nessa época outros livros eram considerados como de valor religioso especial e poderiam ser classificados à parte; elas indicam que a divisão tríplice das Escrituras já existia, mas que a terceira seção estava ainda fluida e não tinha ainda adquirido um nome distinto. Essa mesma conclusão é indicada pela evidência de Lucas 24.44, que se refere ao que está escrito “na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”, onde novamente a última seção é deixada indeterminada. O autor de II Esdras (cerca de 90 d.C.) indica que naquela época havia provavelmente vinte e quatro livros nas Escrituras hebraicas (cf. 14.44 ss) e essa é também uma conclusão justificável da evidência do Novo Testamento e de Josephus que, provavelmente por um agrupamento diferente, dá o número como vinte e dois. Nenhuma dessas fontes, entretanto, dá o nome técnico para a terceira seção das Escrituras. A primeira referência às três seções juntas por seus nomes hebraicos é dada pelo Rabino Gamaliel, o mesmo Gamaliel mencionado em Atos 5. Nós podemos chegar à conclusão de que antes dos tempos do Novo Testamento, pelo menos, o Cânon das Escrituras estava virtualmente concluído.
Contudo, por muito tempo ainda a controvérsia a respeito do número de livros continuou. Em particular,' houve dissensão entre a famosa Escola de Hülel e Shammai sobre a posição do Cântico dos Cânticos de Eclesiastes. Uma decisão do Concilio de Jamnia (cerca de 90 d.C) aceitou o dois livros como canónicos, apoiando, assim, a Escola de Hillel. As Escrituras Hebraicas eram então limitadas aos vinte e quatro livros (cinco no Pentateuco, oito nos Profetas e onze nos Escritos) que correspondem aos trinta e nove livros da Versão Autorizada. Mas as opiniões continuaram divididas e a questão do Cânon era ainda um ponto de debate no segundo e terceiros séculos d.C. Não há, então, data definida, de quando foi concluída a coleção dos livros chamados “canónicos”. Pelo contrário, por sua contribuição ao registro da revelação divina e por sua popularidade e uso nos cultos da sinagoga, eles foram estabelecendo gradualmente sua posição dentro do conjunto das Sagradas Escrituras.
Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.
Veja outros estudos bíblicos relacionados:
Cf. Literatura Apócrifa e os Livros não Canônicos
Cf. Livros Apócrifos Judaicos
Cf. O Cânon do Novo Testamento