Livro de Apocalipse — Interpretação

APOCALIPSE, LIVRO, INTERPRETAÇÃO
Geralmente, os vários tipos de exposição do livro de Apocalipse limitam-se a quatro. A concepção preterista vê as profecias como inteiramente relacionadas aos dias de João, sem nenhuma referência a épocas futuras. A interpretação histórica contempla as visões como a predição da história desde o tempo do escritor até o fim do mundo. A explicação futurista coloca a relevância das visões inteiramente no fim da época, afastando-as grandemente do tempo do profeta. A explanação poética considera ilegítimos todos os sistemas de interpretação rígidos. Segundo ela, o profeta simplesmente descreve, à maneira dos seus predicados de artista, o triunfo certo de Deus sobre todos os poderes do mal.

Autores liberais francamente endossam a escola preterista e repudiam os elementos de predição no livro; muitos, contudo, aceitam como válidos os princípios do governo moral de Deus, que se revelam no fundamento do ensino profético. Geralmente, os reformadores adotam o ponto de vista histórico. Identificam o poder coativo com a Roma papal. Rigidamente interpretado, este conceito parece ser contrário à analogia de todas as outras profecias da Bíblia. A exposição futurista era a dos primeiros séculos da Igreja e goza de grande aceitação hoje entre os evangélicos. Em sua forma popular, contudo, está sujeita a sérias objeções, visto que o pano de fundo histórico do livro é quase inteiramente negligenciado. Na verdade, vulgarmente consta que João escreveu o Apocalipse, não para a sua própria época, mas para a Igreja do tempo final. Daí os seus proponentes fazem com que o livro preste informações e idéias tais como as de que o profeta jamais cogitou. Exageros desta espécie levam muitos leitores a avaliar o livro somente do ponto de vista estético, negando tivesse relação com uma situação específica qualquer.

Os símbolos, não obstante, significam alguma coisa. João foi mais do que poeta, apresentando em imagens indefinidas o triunfo de Deus sobre o mal. Ele escreveu para as igrejas a seus cuidados com uma situação prática em mira, a saber, o prospecto da adoração popular de César tornar-se em seus dias obrigatória para os cristãos. Ninguém que diz “Jesus é Senhor” pode também confessar “César é Senhor”, esta última exigência ameaçou a própria existência de toda a Igreja de Deus. Com lúcida compreensão dos princípios envolvidos, João percebeu nitidamente o que seria a consumação lógica das tendências já em operação, a saber, a humanidade dividida para a obediência de Cristo ou do anticristo. No esboço da época de João, portanto, e nas cores do seu delineamento, ele descreveu a última grande crise do mundo, não meramente porque, de um ponto de vista psicológico, ele não pudesse fazer outra coisa, mas por causa da real correspondência entre a sua crise e a dos últimos dias. Como a Igreja era, então, alvo de uma devastadora perseguição de Roma, assim deveria nos últimos dias encontrar-se violentamente perseguida pelo poder mundial prevalescente. A vitória dessa grande luta será o advento de Cristo em glória, e com Ele o estabelecimento do reino de Deus em poder. João claramente contemplou o fim como próximo (Ap 1.1-3), mas esta “antecipada perspectiva” não invalida as suas predições mais do que o fizeram aquelas dos profetas do Velho Testamento e de nosso Senhor, por ser isto característico de toda a profecia.

A exposição seguinte, então, procura interpretar as visões do livro como os leitores devem ter feito a quem elas foram primeiro endereçadas, reconhecendo, não obstante, que o seu próprio cumprimento aguarda o dia que não é conhecido nem de homem nem de anjo, mas que está ainda sob a divina autoridade (At 1.6).


Cf. Título do Livro de Apocalipse
Cf. Teologia do Livro de Apocalipse
Cf. Introdução Geral ao Livro de Apocalipse
Cf. Fundo Histórico do Livro de Apocalipse