O Messias no Antigo Testamento
O Messias no Antigo Testamento
Na organização do Antigo Testamento, várias pessoas foram ungidas com óleo e, em decorrência, separadas para cumprir alguma função divinamente ordenada na teocracia. Assim, os sacerdotes eram ungidos (Lv. 4:3; 6:22), os reis eram ungidos (1 Sm. 24:10; 2 Sm.19:21; 23:1; Lm. 4:20), e possivelmente os profetas (1 Rs. 19:16). Esta unção indicava uma designação divina para o ofício teocrático em questão e, por conseguinte, indicava que, em virtude da unção, as pessoas ungidas pertenciam a um círculo especial de servos de Deus e que suas pessoas eram sagradas e invioláveis (1 Cr. 16:22). As pessoas ungidas foram concebidas como participantes da santidade de seu ofício (1 Sm. 24:6; 26:9; 2 Sm. 1:14). (G. Dalman, The Words of Jesus (1909), 295.) Algumas vezes Deus refere-se a certas pessoas como “seu ungido”, porque no propósito de Deus elas foram colocadas à parte para dar cumprimento ao propósito divino, ainda que não tivessem sido realmente ungidas com o óleo da consagração. Dessa forma, Ciro, o Persa, é chamado de “seu [do Senhor] ungido” (Is. 45:1), os patriarcas são chamados de “meus ungidos” (SI. 105:15), e Israel é também chamado de “o ungido de Deus” (Hc. 3:13).
Supõe-se, com frequência, que o Antigo Testamento esteja repleto de referências com o título messiânico “o Messias”. Isto, contudo, é contrário aos fatos. Na realidade, o termo isolado “o Messias” não ocorre de forma alguma no Antigo Testamento. A palavra sempre tem um genitivo ou sufixo qualificativo, como “o messias de Jeová”, ou “meu messias”. Alguns estudiosos insistem que em parte alguma do Antigo Testamento o vocábulo messias é aplicado a um rei escatológico.(Ibid., 289) Esta conclusão, entretanto, é questionável. Em Salmos 2:2, o título parece referir-se a um rei messiânico. (G. Vos, The Pauline Eschatology (1954), 105-6. Para um estudo mais profundo a respeito deste assunto no livro de Salmos, veja Vos, “The Eschatology of the Psalter,” em The Pauline Eschatology (1952), 321-65.) Este é o uso messiânico mais destacado da palavra, no Antigo Testamento. O rei que virá é simultaneamente o filho de Deus e o ungido que governará em favor de Deus e sobre toda a terra. Daniel 9:26 provavelmente também seja messiânico: a passagem fala da vinda de “um ungido”. Os estudiosos conservadores consideram esta passagem como uma profecia de Jesus Cristo. (E. J. Young, The Prophecy of Daniel (1949), 206-7.) Outros a vêem como uma referência a Onias III, que era o sumo sacerdote na época da revolta dos Macabeus, ou a algum outro líder desconhecido do período dos Macabeus.
O uso mais primitivo do vocábulo “messias”, em um contexto messiânico, é o encontrado no cântico de Ana (1 Sm. 2:10), quando ela ora: “O Senhor julgará as extremidades da terra; e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido”. Esta profecia projeta-se além do seu cumprimento imediato na casa de Davi e de Salomão até o seu cumprimento escatológico no grandioso Rei messiânico, o Filho de Davi. Na maior parte das profecias que fazem referência futura ao último Rei davídico, o termo “messias” não é aplicado a este rei. Há, entretanto, um grande número de importantes profecias que fazem referência futura ao domínio de um rei davídico. A profecia em 2 Samuel 7:12 e ss., promete que o reino de Davi permanecerá para sempre. Quando a história pareceu negar o cumprimento desta profecia, seu cumprimento foi esperado na pessoa de um Filho de Davi, maior do que um simples rei em um dia de cumprimento escatológico.(Veja SI. 89:3 e ss.; Jr. 30:8 e ss.; Ez. 37:21 e ss.)
As mais notáveis profecias messiânicas no Antigo Testamento, que determinaram a ênfase do judaísmo posterior, foram Isaías 9 e 11. Muito embora não seja chamado de “messias”, ele é um rei da linhagem de Davi que será dotado de um modo sobrenatural para ferir a terra com a espada de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matar o ímpio (Is. 11:4). Ele purificará a terra da impiedade, reunirá o Israel fiel e reinará para sempre desde o trono de Davi sobre uma terra transformada.
Zacarias descreve o rei como um que assegurou a vitória e ganhou a paz para os filhos de Jerusalém. Ele entrará em Jerusalém em triunfo e vitória sobre um jumentinho, banirá a guerra, trará paz às nações e os governará sobre toda a terra (Zc. 9:9,10). O fato de que Ele cavalga sobre um jumentinho, em lugar de um cavalo ou carruagem (Jr. 22:4) sugere que alcança a vitória e retorna a Jerusalém em paz.
FONTE: Teologia Do Novo Testamento de George Eldon Ladd.