Comentário de Gênesis 1:5
Gênesis 1:5
Chamou Deus à luz, Dia. O primeiro dia começou mesmo sem o concurso da luz solar (vs. 14). Sem dúvida, o autor estava pensando em termos de luz e de dia literais, provavelmente de vinte e quatro horas, apesar do problema da ausência do sol. Os intérpretes recorrem a toda espécie de contorções para explicar como isso pode ter acontecido, fazendo a luz primeva atuar como se fosse uma espécie de sol, que mais tarde teria sido incorporada ao sol, quando este foi criado. O autor sacro deixa-nos sem nenhuma explanação, e aquelas que muitos têm oferecido são vãs. O autor sagrado não estava pensando em algum aeon ou era, como alguns têm sugerido. Se essa tivesse sido a sua intenção, sem dúvida ele teria deixado clara a questão. Bem pelo contrário, logo adiante ele começou a falar em dias de vinte e quatro horas. A ciência sacode a cabeça aqui, devido ao seu ceticismo. Os intérpretes têm oferecido toda forma de explicação, procurando conciliar o relato da criação com a ciência moderna. Em meu artigo sobre a Criação (que antecede a exposição deste capitulo), na sétima seção, mencionei algumas teorias que buscam conseguir essa conciliação. Ver outros problemas que são examinados na quinta seção daquele artigo.
Noite. Não há que duvidar que o autor sacro falava literalmente. Antes do sol, dia e noite já existiam e tinham suas respectivas funções. Os que interpretam literalmente continuam a depender da luz primeva para produzir dias de vinte e quatro horas, sem a ajuda do sol. Talvez o autor sacro não tivesse antecipado o problema que ele criou assim. Os que interpretam ultraliteralmente procuram tolamente identificar até mesmo a data do primeiro dia — 23 de outubro, de acordo com o bispo Usher. Mas essas tentativas apenas lançam confusão.
Dias Longos e Outras Explicações e Contorções. Cada intérprete, à sua maneira, procura “corrigir” o texto para fazê-lo concordar com a razão ou com a ciência. Ofereço sete tipos de interpretação na sétima seção do artigo intitulado Criação. Os estudiosos liberais e críticos aceitam a palavra do autor sacro, mas asseguram que ele estava cientificamente equivocado. Os conservadores, por sua vez, buscam corrigir o texto para que concorde com o que a ciência hodierna ensina. O debate enevoa a mensagem espiritual do texto e gera o rancor teológico. O debate pode ser saudável. Mas muitas pessoas preferem um debate doentio.
Houve tarde e manhã, o primeiro dia. Para os hebreus, o dia começava às 18 horas, o que justifica o fraseado dessa expressão. Os atenienses também computavam seus dias de um pôr-do-sol ao outro, o que igualmente ocorria entre outros povos antigos, como algumas tribos germânicas e os antigos druidas das ilhas britânicas. Os romanos iniciavam o dia à meia-noite. A intenção do autor do Gênesis é, como é óbvio, fazer seu “primeiro dia” ser um período de vinte e quatro horas, apesar da ausência do sol. Orfeu fazia a noite dar início a todas as coisas (Plínio, Hist. Nat. 1.2), mas o autor sagrado atribui isso à luz de Deus.