Significado de Gênesis 39

Gênesis 39

Gênesis 39 conta a história de José, que foi vendido como escravo por seus próprios irmãos e levado para o Egito. Apesar de suas circunstâncias, José permaneceu fiel a Deus e encontrou o favor de seu mestre, Potifar. No entanto, quando a esposa de Potifar acusou falsamente José de tentar seduzi-la, ele foi jogado na prisão. Mesmo na prisão, Jose continuou a confiar em Deus e ganhou o favor do carcereiro. Este capítulo destaca a integridade e a fé de José diante da adversidade.

Um dos temas centrais de Gênesis 39 é a importância da integridade pessoal. Apesar de ser um escravo, José sempre agiu com honestidade e integridade. Ele recusou os avanços da esposa de Potifar, embora fosse fácil para ele ceder e aproveitar os benefícios da casa de seu senhor. Ao fazer isso, José demonstrou sua fidelidade a Deus e seu compromisso de viver uma vida justa, independentemente de suas circunstâncias.

Gênesis 39 é um poderoso lembrete da importância da fé, integridade e perseverança. A história de José é uma prova do fato de que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, podemos escolher confiar em Deus e fazer o que é certo. Ao permanecer fiel a Deus e defender seus valores, José não apenas conquistou o respeito das pessoas ao seu redor, mas também conseguiu ascender a uma posição de poder e autoridade no Egito.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

Ao examinar Gênesis 39 no hebraico massorético em diálogo com a tradução grega dos Setenta (LXX) e com o Novo Testamento, sobressaem convergências de fraseologia, sintaxe e léxico que iluminam a coerência canônica e ajudam a explicar a recepção cristã profundamente mediada pela LXX. O relato abre com a apresentação de Potifar no hebraico como śar haṭṭabbāḥîm (“chefe dos matadores/da guarda”), enquanto a LXX verte o cargo como archimágeiros (“chefe dos cozinheiros”) e qualifica Potifar como eunouchos de Faraó (Gênesis 39:1). Essa dupla opção grega mostra tanto uma equivalência funcional (chefe do aparelho palaciano) quanto a preferência da LXX por títulos gregos transparentes com o prefixo archi-, produtivo também no grego do Novo Testamento (por exemplo, archiereús, archisynágōgos). O hebraico śar haṭṭabbāḥîm está confirmado em edições on-line do MT; já a LXX de Gênesis 39:1 traz explicitamente eunouchos e archimágeiros, evidenciando o enquadramento cortesão que ecoará no mundo helenístico-romano (Gênesis 39:1).

O refrão teológico que estrutura o capítulo — “YHWH estava com José” — aparece no hebraico com a locução preposicional ʿim (“com”), e a LXX o verte com ho Kyrios meta Iōsēph (“o Senhor [estava] com José”; Gênesis 39:2). Essa construção com metá percorre a LXX e ressurge no grego do Novo Testamento em chaves narrativas e teológicas: Estêvão resume a história de José dizendo “Deus estava com ele” (kai ēn ho Theós met’ autou), explicitando o fio providencial que liga o patriarca à história da salvação (Atos 7:9). A fórmula de presença divina “o Senhor é contigo” reaparece também na anunciação a Maria (Lucas 1:28), o que mostra a continuidade semântica entre a presença eficaz de YHWH junto ao justo sofredor e a presença do Senhor no início da encarnação. 

Outro eixo léxico-sintático crucial é a justaposição hebraica ḥesed (“lealdade misericordiosa”) e ḥēn (“favor, graça”) em Gênesis 39:21: “YHWH… wayyeṭ ʾēlāyw ḥesed; wayyitten ḥinnô beʿênê…”, que a LXX verte como katécheen… éleos e “deu-lhe chárin” diante do archidesmophýlax (chefe do cárcere; Gênesis 39:21). A equivalência ḥesed → éleos e ḥēn → cháris cria uma ponte direta para a dupla “misericórdia e graça” tão característica da teologia neotestamentária (por exemplo, éleos em Tito 3:5; cháris em Romanos 3:24; Efésios 2:5, 8). Além disso, a expressão de “achar graça” (māṣāʾ ḥēn beʿênê) é refletida na LXX como heuriskein chárin enantíon/pros/para, padrão retomado no anúncio a Maria (heûres chárin pará tō Theō; Lucas 1:30) e na cristologia lucana (Lucas 2:52: cháris pará Theō kai anthrōpois). Como mostram as edições on-line, Gênesis 39:21 em grego emprega simultaneamente éleos e cháris, enquanto o hebraico apresenta ḥesed e ḥēn; Gênesis 39:4 traz māṣāʾ ḥēn (MT) que a LXX verte por charin enantíon, e Lucas 1:30 confirma o uso neotestamentário de heûres chárin pará tō Theō (Gênesis 39:21; Gênesis 39:4; Lucas 1:30).

A cena doméstica de Potifar intensifica esse vocabulário da “graça” e da “prosperidade”. O hebraico descreve José como ʾîš maṣliaḥ (“homem bem-sucedido”) e afirma que “o Senhor fazia prosperar” (hiṣliaḥ) “em sua mão” (Gênesis 39:2–3). A LXX reproduz a ideia com o verbo euodoō (“fazer prosperar”), que reaparece no Novo Testamento na oração pastoral de 3 João 2 (euodoûsthai). Essa continuidade lexical (prosperidade como dom da presença de Deus) reforça a leitura cristã de José como paradigma do justo cuja fidelidade sob a providência resultará em eulogia (“bênção”) para muitos — termo presente em Gênesis 39:5 LXX (eulogía Kyriou), que no Novo Testamento integra a doxologia paulina (Efésios 1:3). As formas publicadas on-line de Gênesis 39 e 3 João 2 permitem verificar euodoō/euodoûsthai e eulogía nesse campo semântico de prosperidade e bênção (Gênesis 39:2–5; 3 João 1:2; Efésios 1:3).

No nível da sintaxe e da pragmática do discurso, a LXX oferece um vocabulário que o Novo Testamento herdará em campos semânticos específicos. Quando Potifar “o constituiu sobre sua casa” (hebr. hipqîḏ… ʿal bêtô; Gênesis 39:4–5), a LXX recorre a kathistēmi (katestēsen auton epi ton oikon), o mesmo verbo e preposição do dito de Jesus sobre o “servo fiel e prudente que o senhor constituiu sobre a sua casa” (Mateus 24:45), sustentando o eco tipológico do mordomo fiel que administra recursos alheios sob a vigilância do Kyrios. As fontes on-line interlineares de Gênesis 39 e o aparato de Mateus 24:45 confirmam o paralelismo verbo-preposicional (kathistēmi + epi + oikos) que, teologicamente, vincula mordomia, graça e presença do Senhor (Gênesis 39:4–5; Mateus 24:45).

A narrativa do assédio e da recusa de José fornece outro ponto de contato hebraico-grego com relevância neotestamentária. O hebraico registra sua objeção culminante: “Como, pois, faria eu esta grande maldade e pecaria contra Deus?” (ʾêk ʾeʿeseh… weḥāṭāʾtî leʾlōhîm; Gênesis 39:9). A LXX verte: pōs poiēsō to rhēma to ponēron touto kai hamartēsōmai enantíon tou Theou — exatamente o par verbo-objeto (hamartanō + complemento teológico) que o Novo Testamento retoma ao tratar de pecado como afronta diante de Deus (a preposição oscila entre enantíon, enōpion e para). O gesto de José de literalmente “fugir” da tentação é narrado pela LXX com ephygen (Gênesis 39:12, 15, 18), verbo que Paulo emprega imperativamente em 1 Coríntios 6:18: pheúgete tēn porneían (“fugi da imoralidade sexual”), oferecendo à ética cristã um paradigma narrativo antigo para uma exortação apostólica. As páginas on-line da LXX de Gênesis 39 e as edições gregas de 1 Coríntios 6:18 documentam tanto o campo semântico do “pecar diante de Deus” quanto a reiteração do fugir como resposta adequada (Gênesis 39:9, 12, 15, 18; 1 Coríntios 6:18).

Ainda no registro lexical, a acusação da esposa de Potifar utiliza empaízō (“escarnecer, zombar”) para insinuar que o “servo hebreu” veio “empaixai” dela (Gênesis 39:14, 17 LXX), ampliando o campo desta raiz, que no Novo Testamento descreve a zombaria sofrida por Jesus (Mateus 27:29: enépaixan autō). A escolha da LXX por empaízō em Gênesis 39 para um ato sexualmente abusivo-irônico e a sua recorrência na paixão de Cristo acentuam a transposição semântica de “humilhação do justo” como tema veterotestamentário cumprido na cruz. Edições on-line confirmam a ocorrência de empaízō em ambos os contextos (Gênesis 39:14, 17; Mateus 27:29).

Por fim, o cárcere egípcio é descrito na LXX com terminologia que reaparecerá nos Atos dos Apóstolos: José acha graça “diante do archidesmophýlax” (Gênesis 39:21 LXX), e o ambiente carcerário inclui “os desmōtai do rei” (Gênesis 39:20 LXX). No Novo Testamento, o desmophýlax filipense (o “carcereiro”) de Atos 16:27 pertence ao mesmo campo lexical da LXX, de modo que as narrativas carcerárias apostólicas herdam o vocabulário jurídico-administrativo já consagrado pela tradução grega do Pentateuco. O dado é verificável nas edições on-line da LXX de Gênesis 39 e no texto grego de Atos 16:27 (Gênesis 39:20–22; Atos 16:27).

Assim, o capítulo em hebraico e sua versão na LXX convergem em três frentes que prepararam a linguagem do Novo Testamento: (1) fórmulas de presença divina (YHWH ʿim / Kyrios meta), reapropriadas cristologicamente (Gênesis 39:2; Atos 7:9; Lucas 1:28–30); (2) o par semântico ḥesed/ḥēnéleos/cháris, fulcro da soteriologia apostólica (Gênesis 39:21; Lucas 1:30; Efésios 2:5, 8); e (3) um léxico ético e institucional (kathistēmi; empaízō; desmophýlax) que verte, em grego, a experiência do justo fiel — José — e a projeta no discipulado e na missão cristã. Em suma, a fraseologia e a sintaxe hebraico-gregas, mediadas pela LXX, explicam por que o Novo Testamento fala a “língua” de Gênesis 39 tanto em termos teológicos (presença, graça, misericórdia) quanto práticos (mordomia fiel, fuga da imoralidade, perseverança sob injustiça), preservando a coerência interna da Escritura (Gênesis 39; Mateus 24:45; 1 Coríntios 6:18; Atos 7:9; Atos 16:27; Lucas 1:28–30).

II. Comentário de Gênesis

Gênesis 39.1 José foi levado ao Egito. Este versículo reintroduz a história de José em Gênesis 37.36, que fora interrompida pela narrativa de Judá e Tamar (Gn 38). Os primeiros leitores de Gênesis foram as pessoas da segunda geração após a saída do Egito sob o comando de Moisés. Esta passagem lhes explica por que seus pais foram escravos egípcios. Os irmãos de José talvez pensassem que ele seria vendido como um servo comum para fazer trabalhos pesados de construção. As edificações antigas requeriam muito esforço do operário e sempre se davam sob condições opressivas e cansativas. Isso fazia com que a vida de um homem jovem e trabalhador fosse encurtada. Contudo, por causa da misericórdia divina, José fora vendido a um rico e importante oficial real.

Gênesis 39.2 O Senhor estava com José. Esta expressão-chave desta passagem é repetida nos versículos 21 e 23. Esta manifestação divina indica que Deus olhava por ele, protegia-o e abençoava-o.

Gênesis 39.3 Potifar via a prosperidade como decorrência da presença de José, e reconheceu que isso acontecia porque o Senhor estava com ele. Talvez José também causasse algum tipo de influência no estado espiritual de seu senhor.

Gênesis 39.4 José se tornou um exemplo de administrador fiel, ilustrando o ensinamento de que aquele que é fiel no pouco será posto sobre o muito (Mt 25.21; 1 Co 4.2).

Gênesis 39.5 O Senhor abençoou a casa do egípcio por amor a José. Deus ordenou a Abraão e seus descendentes que fossem uma bênção para todos (Gn 12.2,3). Aqui, José, que foi enviado para outra terra por causa do ódio de seus irmãos, levou a bênção ao lar do oficial egípcio. E o que é melhor: Potifar sabia que toda bênção vinha do Senhor.

Gênesis 39.6 Tudo o que tinha. A confiança de Potifar em José era tamanha que tudo ficava a cargo do filho de Jacó, exceto o cardápio do oficial (v. 23). E José era formoso de aparência e formoso à vista. Raramente as características físicas de alguém são mencionadas na Bíblia, como ocorre no caso de Sara, Rebeca, Raquel, José e Davi (Gn 12.11; 24.16, 29.17; 1 Sm 16.12).

Gênesis 39.7 A mulher do senhor egípcio começou a cobiçar José. Talvez ela estivesse entediada ou ociosa. Por outro lado, o termo hebraico saris, traduzido como oficial no versículo 1, pode significar eunuco, que normalmente era um homem castrado. Se Potifar fosse realmente um eunuco, isso poderia explicar a atitude de sua esposa. [Mas a interpretação mais aceita é que ele era apenas um marido ausente e desatento.]

Gênesis 39.8 Porém ele recusou. José exemplificou o mais alto padrão moral. A frase o Senhor estava com ele (v. 2,21,23), usada de forma recorrente, ajuda a explicar a bondade e a integridade de José. A presença poderosa de Deus em sua vida o ajudou a resistir às tentações.

Gênesis 39.9, 10 Pecaria eu contra Deus? José não só permaneceu fiel aos seus princípios éticos, como também disse à mulher, que provavelmente tinha a crença em deuses egípcios, coisas a respeito da justiça e da integridade do único e verdadeiro Deus!

Gênesis 39.11 Neste versículo, observa-se que a mulher de Potifar aproveitou um momento em que José estava sozinho para assediá-lo.

Gênesis 39.12, 13 Um escravo provavelmente usava poucas roupas por causa do clima quente do Egito. Ela agarrou José e, durante esse momento de assédio e recusa, ele escapou, deixando sua veste nas mãos dela.

Gênesis 39.14-18 A mulher de Potifar ofendeu a dignidade de José na frente dos outros empregados. O termo hebreu só é usado quatro vezes em Gênesis (14.13; 39.17; 41.12). Neste versículo, é utilizado para expressar discriminação racial. Essa ideia é reforçada pelo uso do verbo escarnecer ou insultar (ara e NVI), que indica ódio e desprezo de uma raça. Os egípcios hamitas desprezavam os povos semitas de Canaã (Gn 43.32). Os escravos egípcios tinham, provavelmente, inveja da prosperidade de José. Por causa disso, a esposa de Potifar encontrou servos prontos a ouvir e acreditar em suas mentiras. Dessa forma, claro, ela não foi desmentida por nenhum deles. Contudo, a acusação de violência sexual naquela época era tão séria quanto é hoje. O atentado sexual a uma esposa de oficial por um escravo estrangeiro era um ultraje gravíssimo. A pena do réu podia ser a morte.

Gênesis 39.19 Era compreensível e previsível que Potifar ficasse irado.

Gênesis 39.20 Potifar tinha uma função importante como oficial real (Gn 39.1), e José, na condição de seu servo, havia se tornado um membro da família. Talvez, por causa disso, o filho de Jacó foi mandado para uma prisão especial. [Ou talvez Potifar, conhecendo bem o mau caráter da esposa, para não desonrá-la mais, tenha enviado José para a cadeia, em vez de para a morte]

Gênesis 39.20 Surpreendentemente, Potifar não fez com que José fosse condenado à morte nem o assassinou com suas próprias mãos. É possível que José, durante o tempo que passou na casa de seu senhor, tenha impressionado Potifar de tal forma que o oficial não acreditara totalmente na história que sua esposa lhe contou. É possível que Potifar tenha jogado José na prisão real, sobre a qual tinha o comando (Gn39.1; 40.3; 41.9-11), a fim de poupar a vida dele. Em todo caso, José acabou preso por uma coisa que se recusou a fazer.

Gênesis 39.21 O Senhor continuou ao lado de José mesmo na prisão (Sl 139.7-12). Neste caso, a misericórdia de Deus pode ser representada por Sua benignidade (Sl 13.5). No cárcere egípcio, José experimentou o amor e a fidelidade do Senhor. Deus cumpriu Sua promessa ao permanecer ao lado de Seu povo — ainda que em difíceis circunstâncias (para relembrar as promessas de Deus aos descendentes de Abraão, leia Gn 12.1-3;50.24). O carcereiro era o encarregado sob as ordens do capitão da guarda (Gn 40.3), a saber, Potifar (Gn 39.1).

Gênesis 39.22 O carcereiro soube, coisa que Potifar já sabia, que o que animava e sustentava José era a presença de Yahweh. Assim, o carcereiro-mor entregou na mão de José todos os presos que estavam na casa do cárcere; e ele fazia tudo o que se fazia ali. A integridade e a eficiência de José atestavam a todos sobre quem era o verdadeiro Deus, mesmo ele estando no cárcere (da mesma forma que Paulo e outros apóstolos fariam tempos depois).

Gênesis 39.23 Por causa das bênçãos de Deus, tudo que José fazia prosperava (Sl 1.1-3).

Índice: Gênesis 1 Gênesis 2 Gênesis 3 Gênesis 4 Gênesis 5 Gênesis 6 Gênesis 7 Gênesis 8 Gênesis 9 Gênesis 10 Gênesis 11 Gênesis 12 Gênesis 13 Gênesis 14 Gênesis 15 Gênesis 16 Gênesis 17 Gênesis 18 Gênesis 19 Gênesis 20 Gênesis 21 Gênesis 22 Gênesis 23 Gênesis 24 Gênesis 25 Gênesis 26 Gênesis 27 Gênesis 28 Gênesis 29 Gênesis 30 Gênesis 31 Gênesis 32 Gênesis 33 Gênesis 34 Gênesis 35 Gênesis 36 Gênesis 37 Gênesis 38 Gênesis 39 Gênesis 40 Gênesis 41 Gênesis 42 Gênesis 43 Gênesis 44 Gênesis 45 Gênesis 46 Gênesis 47 Gênesis 48 Gênesis 49 Gênesis 50

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