Teologia de Rute 4

Teologia de Rute 4

Teologia de Rute 4

Por David W. Smith


Índice: Rute 1 Rute 2 Rute 3 Rute 4

Como Noemi supôs em 3.18, Boaz age rápido para assegurar o direito de se tornar o resgatador mais próximo (4.1). Para facilitar as coisas, embora com algum risco para si mesma, Noemi inclui a terra de Elimeleque como uma parte dos custos do resgate. Para resgatar a terra, é necessário resgatar e cuidar da mulher. Mas qual mulher? Hubbard teoriza que o homem pensou que ele deveria sustentar Noemi que não poderia ter filhos que viessem a compartilhar a herança com seus outros filhos. Para obter uma boa terra ele teria “apenas” de querer uma esposa mais velha. Porém Rute poderia ter “vários filhos, o primeiro qualificado para reivindicar a propriedade de Elimeleque como sua herança, os outros talvez para compartilhar a própria herança do resgatador (v. 6)”. Assim ele rejeita a oportunidade e Boaz anuncia suas intenções (4.1-10). Os últimos sete versos da seção contêm quatro pontos teológicos distintos. Primeiro, as mulheres da cidade oferecem suas bênçãos. Elas esperam que Rute seja como Lia e Raquel, as matriarcas das doze tribos de Israel (4.11). Elas também rogam que o futuro clã seja importante em Belém e próspero como o de Tamar, a heroína de Gênesis 38 que enganou um resgatador para gerar seu filho. 

As referências ao Gênesis mostram que Rute foi aceita integralmente como membro das tradições da aliança de Israel.  Segundo, 4.13 afirma que o Senhor concedeu a gravidez a Rute para que ela concebesse um filho. O filho é um presente de Deus. Diz-se que Yahweh age diretamente somente num segundo momento do livro (v. 1.6), dessa vez como um meio de trazer a resolução ao enredo. Os seres humanos podem conceder misericórdia uns aos outros, mas só Deus pode dar a vida. Terceiro, Rute dá o filho a Noemi como um restaurador da família e um protetor financeiro para sua velhice (4.14-17). Este presente de uma vida divinamente dada finaliza o compromisso de Rute com Noemi e prova mais uma vez a própria retidão e grande capacidade de amor misericordioso. Em quarto lugar, as mulheres de Belém louvam a Deus pela recuperação da boa sorte de Noemi. Tanto ela quanto Rute já não estão mais destituídas de descendência. O futuro delas já não é duvidoso. A misericórdia de uma para com a outra e a de Boaz resultaram num feliz desfecho. Prinsloo conclui que a quarta parte pode ser resumida da seguinte forma: embora a iniciativa humana seja enfatizada e um grande destaque seja dado ao homem como colaborador de Yahweh, o foco  naturalmente recai sobre o fato de que há limites para a iniciativa humana. Yahweh é quem resolve a crise e a quem deve ser dado louvor.

Síntese canônica: esperança para os que não possuem descendentes

A seção analisada repete relatos canônicos anteriores sobre Deus abençoando o ventre materno. O caso mais famoso é o de Sara, a mãe de todo o Israel (Gn 21.1- 7). Yahweh fez com que a desprezada Lia tivesse filhos em Gênesis 29.31. Também abençoou o útero da amada Raquel em 30.22. A mãe de Sansão é semelhantemente abençoada (Jz 13.1-3), assim como Ana, a mãe de Samuel (ISm 1.1—2.10). Nesses exemplos, Deus age como o Criador da vida. Yahweh oferece esperança aos desejosos da alegria e segurança dos filhos, mas que durante algum tempo não são capazes de experimentar essa bênção. Deus remove a dor e a incerteza e os substitui por honra e glória.

O Deus que concede misericórdia a todo o Israel: Rute 4.18-22

O livro de Rute é concluído com a genealogia da família de Davi. Tal fim transforma o texto de um relato que expressa a misericórdia de Deus sobre certas pessoas honradas para uma declaração sobre como Deus age misericordiosamente a favor de Israel, dando-lhe seu maior monarca. Rute narra de novo o esforço de Deus em impedir que a linhagem de Davi desapareça, no caso, antes mesmo de seu início. O que carrega a reputação permanente da família e de Belém está agora no lugar certo.26 Ao dar à luz o ancestral de Davi, Rute contribui para Israel tanto quanto Lia e Raquel. Ela é tão abençoada quanto Tamar.

Síntese canônica: a promessa davídica

O testemunho canônico é que esse nascimento conseqüentemente estenderá a misericórdia por todo o mundo. Assim, Samuel 7.1-17 promete um reino eterno para o herdeiro de Davi, e Isaías 9.2-7 e 11.1-10 declaram que o reino alcançará todas as partes do mundo. Zacarias 9-14 também confirma essa visão universal, como o faz o NT em geral e os escritos de Paulo em particular. Por meio da obra do rei davídico, a misericórdia de Deus será conhecida em todos os países que Yahweh criou. Isso muito se aproxima da misericórdia concedida a um par de viúvas honradas. Em todos os sentidos concebíveis, esse pequeno livro evidencia-se como um sucessor valioso de Provérbios. Rute confirma a fé de Jó na remissão divina, e a alegação de Provérbios de que o Senhor abençoa o justo. O texto demonstra como as leis encontradas em Levítico e Deuteronômio deveriam ser obedecidas e ilustra mais uma vez como as mulheres abençoadas com filhos em Gênesis, Juízes e Samuel não são as beneficiárias de uma coincidência feliz, mas as receptoras da vontade divina. As alianças feitas com Abraão, Moisés e Davi são aqui honradas. E difícil imaginar que em todo o cânon haja outro livro tão curto fazendo mais pela preservação da fé.