Interpretação de Romanos 7

Romanos 7

Romanos 7 explora a luta entre a lei, o pecado e a nova vida do crente em Cristo. É um capítulo complexo que gerou diversas interpretações ao longo do tempo. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Romanos 7:

1. A Lei e o Poder do Pecado: Paulo começa abordando a relação entre a lei e o pecado. Ele usa a analogia do casamento, ilustrando que a lei tem autoridade sobre uma pessoa enquanto ela estiver viva. Neste contexto, a “lei” representa a lei mosaica dada aos israelitas. Embora a lei seja santa e justa, ela revela a extensão da pecaminosidade humana porque expõe a desobediência aos mandamentos de Deus (Romanos 7:1-13).

2. A Luta contra o Pecado: Paulo descreve uma luta pessoal contra o pecado. Ele reconhece que, mesmo sendo crente, experimenta uma tensão dentro de si. Ele deseja fazer o que é certo e agradável a Deus, mas também reconhece o poder do pecado que o leva a fazer o que não quer. Este conflito interno sublinha a batalha contínua contra a influência do pecado na vida de um crente (Romanos 7:14-20).

3. A miséria da natureza humana: Paulo expressa seu sentimento de miséria e frustração diante desta luta interna. Ele clama: “Quem me livrará deste corpo de morte?” Este reconhecimento da fraqueza humana e da incapacidade de alcançar a justiça através da lei serve como cenário para a solução encontrada em Cristo (Romanos 7:24-25).

4. Liberdade em Cristo: Paulo muda o foco para a solução da luta contra o pecado. Ele declara que não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Através da fé em Cristo, os crentes são libertos da lei do pecado e da morte. A lei não conseguiu isso porque foi enfraquecida pela carne. Contudo, através do Espírito de Cristo, os crentes são capacitados para viver em justiça (Romanos 8:1-4).

5. O Papel do Espírito Santo: Paulo introduz o papel do Espírito Santo na vida do crente. O Espírito capacita os crentes a cumprir os justos requisitos da lei, não pelos seus próprios esforços, mas através da sua submissão à orientação do Espírito. O Espírito transforma os crentes em filhos de Deus, afastando-os da escravidão do medo e levando-os a um relacionamento de intimidade com Deus (Romanos 8:5-17).

Em Romanos 7, Paulo aborda abertamente a luta humana contra o pecado e as limitações da lei para trazer a justiça. Ele enfatiza a necessidade de libertação, que é encontrada em Cristo Jesus e na obra capacitadora do Espírito Santo. O capítulo serve como ponte entre a discussão do papel da lei na revelação do pecado (Romanos 7) e a vida vitoriosa no Espírito (Romanos 8). Salienta a profunda transformação e liberdade que os crentes experimentam quando já não estão sob a lei, mas sob a graça de Deus e habitados pelo Espírito Santo.

Interpretação

7:1 A lei, diz o apóstolo, tem domínio sobre o homem, toda a sua vida. Paulo apresenta este axioma tanto por causa da ilustração que vai usar, como para mostrar que esta é a natureza da lei. Seus requisitos permanecem em vigor enquanto alguém vive sob o regime da lei.

7:2 A mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive. No primeiro versículo Paulo diz que ele está falando aos que conhecem a lei. Uma vez que a maioria dos romanos eram gentios, a lei aqui não é a lei mosaica em particular, mas simplesmente o princípio legal de que uma mulher casada está ligada ao seu marido. Tratando deste mandamento em particular, Paulo certamente o faz à luz de sua bagagem judia dentro da lei mosaica. Se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. A morte traz a anulação de todo o relacionamento anterior do seu casamento.

7:3 Será considerada adúltera se vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem. A tradução “se for de” (cons. Arndt, ginomai, II, 3, pág, 159) tem o sentido implícito de se for casada com. Mas, depois da morte do seu marido, ela pode tornar a se casar sem que seja acusada de adultério. A esposa que ficou viúva, está livre para casar-se com outro.

7:4 Quando Paulo aplica a ilustração ao relacionamento de um indivíduo com a Lei e com Cristo, é o indivíduo que morre (o crente que morre com Cristo) e fica livre da Lei e livre para pertencer a Cristo. Vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo. A expressão por meio do corpo de Cristo refere-se à identificação do crente com Cristo em sua morte física. Em 6:6 Paulo já disse que a pessoa não regenerada foi crucificada com Cristo. Esta morte privou a Lei do seu poder sobre nós e teve por fim o nosso pertencer a outro – aquele que ressuscitou dentre os mortos. Eis aí um novo alistamento. Agora pertencemos a Cristo, para que possamos produzir frutos para Deus. Traduzir a frase; eis to genesthai humas hetero, para “para que sejais de (casados com) outro”, está absolutamente certa. Faz parte da analogia de Paulo e concorda com o uso que faz da comparação com o casamento em outra passagem (II Co. 11:2; Ef. 5:25, 29).

7:5 Estar na carne significa estar sob o controle e domínio do pecado. As paixões pecaminosas, as quais a Lei tornou conspícuas, lembrando aos homens os padrões divinos, operavam constantemente em nossos membros. Dominados por essas paixões, os homens produziam fruto para a morte. A morte aqui está personificada. Significa morte eterna (veja 6:21).

7:6 Agora, porém, libertados da lei. A Lei não tinha poder para remover as paixões dos pecados. Livres da lei, equivalente aqui a estar livre da carne.

Estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos (pela Lei). Sob a Lei, o crente morre com Cristo. Ele morre às exigências da Lei que reclamam a condenação. Paulo fala desta morte para a Lei em Gl. 2:19. Ficar livre da lei produz um novo relacionamento com uma nova atitude. O relacionamento é o de ser escravo constante de Deus. Isto significa que devemos servir a Deus, completamente cônscios de que Lhe pertencemos. Ele nos possui porque Ele nos redimiu.

Servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra. Ou melhor, em novidade de Espírito que contrasta com o velho código legal. Em vez de um legalismo que dá força aos estatutos, há um espírito de amor e dedicação.

7:7-25 Aqui Paulo desvenda suas próprias lutas íntimas. Ele não o relata como se fosse uma parte interessante de sua autobiografia, mas porque sabe que seus leitores têm as mesmas lutas. Paulo controlado pelo pecado fazia coisas que o Paulo controlado por Deus não queria fazer. Paulo controlado pelo pecado não era o seu verdadeiro ego, mas o falso. Apesar disso, era o mesmo ego. Paulo era culpado quando era controlado pelo pecado e santo quando controlado por Deus. Na qualidade de judeu ele conhecia a vontade de Deus (Fp. 3:6; Atos 22:3; 26:4, 5). Até onde executava a vontade de Deus, era controlado por Deus. Isto não fazia dele um crente em Cristo ou cristão. Mas tornava-o cônscio da luta entre fazer o que é certo, e fazer o que é errado. Quando se tornou cristão, a luta se intensificou. Todo o crente, cônscio da justiça que Deus concede, e da justiça como meio de vida cristã, pode dizer ao ler esta passagem, “Esta é a minha experiência”. Paulo também se coloca representativamente para aquelas pessoas judias – o povo da Lei – que passaram da atitude de complacência sob a Lei, para a condição de preocupação com as lutas profundas, que tiveram lugar, e então para a posição de serenidade e vitória em Cristo.

7:7 Se, ao se tornar cristão, um homem é libertado ou isentado da Lei, isso significa que a Lei tem algo de errado? Paulo responde: De modo nenhum. A Lei lhe mostrou (e mostra-nos também) exatamente o que o pecado é. Por exemplo, Paulo diz: Eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça se a lei não dissera: Não cobiçarás. O anseio pelo mal toma-se visível quando o mandamento declara: Esta coisa má está proibida. Então o pecador a deseja.

7:8 O apóstolo conta como o pecado considerou o mandamento, tomando ocasião, despertou nele toda a concupiscência (pelo que estava proibido). Sem lei está morto o pecado. Paulo não diz que sem a lei não se comete pecado. Ele diz que sem a lei o pecado não nos é aparente. É preciso o nível de um carpinteiro para nos mostrar como uma tábua é torta.

7:9 Outrora, sem lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri. O apóstolo aqui fala de sua própria consciência do pecado. Quando era rapaz, o conteúdo da Lei não o alcançava. Ele não entendia o verdadeiro propósito da lei. Esta falta de entendimento não se limita às crianças. Um adulto, como o jovem e fico doutor da lei pode declarar confiantemente: “Todas estas coisas tenho guardado (observado) desde a minha mocidade” (Mc. 10:20; cons. Mt. 19:20; Lc. 18:21). 10. Mas houve um dia na vida de Paulo quando o mandamento específico, “Você (sing.) não deve desejar o que está proibido”, acertou-o em cheio. Paulo tomou consciência do pecado, e ficou sabendo que estava espiritualmente morto. Este mandamento específico (“Não cobiçarás”) além de tornar claro que é pecado desejar o que está proibido, também lhe disse como deveria viver. Fê-lo lembrar que não estava vivendo da maneira certa.

7:11 O pecado o enganara. Compreendendo o mandamento, a extensão da mentira do pecado tornou-se-lhe clara. O mandamento fez Paulo ver que o pecado operara a sua morte. Primeiro o pecado engana, depois mata. Esta ordem mostra como o pecado é astuto e qual o seu objetivo – a ruína eterna dos indivíduos.

7:13, 14 Paulo faz esta pergunta a respeito de si mesmo. E responde enfaticamente: De modo nenhum. Deus colocou as coisas de tal maneira que o pecado produz a morte através daquilo que é bom.

O pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte; a fim de que pelo mandamento se mostrasse sobremaneira maligno. Sendo o homem pecador, ele não crê que o pecado seja realmente o que é. A Lei lhe mostra claramente o que é, e o que pretende fazer.

Tanto os leitores como o escritor sabiam que a lei é espiritual (cheia do Espírito divino). (Veja Arndt, pneumatikos, pág. 685). A palavra pneumatikos também pode ser traduzida para pertence ou corresponde ao Espírito (divino). (Ibid.). Eis aí o grande tributo de Paulo prestado à Lei. Ela é induzida ou cheia do Espírito de Deus. Paulo condena a lei em um único ponto – legalismo. Ele se opõe ao ponto de vista, que considera a lei como um penhor da certeza de que somos de Deus – pelo qual Deus é obrigado a fazer isto ou aquilo pelo homem (por exemplo, salvá-lo), só porque o homem obedeceu a certas regras. Em contraste com a Lei, a qual está cheia ou é induzida pelo Espírito de Deus, Paulo se vê pertencente à carne. Ele é aquele que está vendido à escravidão do pecado. O apóstolo certamente não quis dizer que era inteiramente carnal (veja vs. 16, 18, 22). Ele quis dizer que sabia o que era estar sob o domínio do pecado. A batalha de Paulo não era constituída de alguns poucos conflitos isolados, mas uma guerra contínua.

7:15-25 Nesta parte o escritor pinta vivamente a luta interna de sua própria alma. Ele usa algumas expressões para descrever sua própria pessoa servindo ao ego ou ao pecado. Usa outras para descrevê-lo servindo a Deus. O conflito surge porque ele quer servir a Deus, mas descobre-se servindo ao ego e ao pecado.

7:15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir. Não sei o que está acontecendo comigo. É a declaração de alguém que está desconcertado. Mas ele não ignora o que está errado. O problema é vencer o erro. Pois não faço o que prefiro, e, sim o que detesto.

7:16 Eis aqui uma pessoa que tem conhecimento. Ele declara que consente com a lei, que é boa, quando diz que odeia suas atitudes que são contrárias à lei. Portanto, não é o verdadeiro ego de Paulo que pratica o mal, mas o pecado que habita nele (v. 17). Aqui o escritor identifica seu verdadeiro ser com o “Eu” (ego). Quando ele diz que é o pecado que pratica o mal, Paulo não está esquivando-se à responsabilidade, mas simplesmente reconhecendo que é o pecado que torna falso o seu ego.

7:18. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum. A frase em mim e na minha carne descreve Paulo sob o controle do pecado. A ausência do bem na esfera da carne é outra maneira de dizer que o óleo e a água não se misturam. Onde a carne tem poder, a vontade de fazer o bem torna-se ineficiente. O querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Paulo quis dizer que estava no processo de querer, mas não de fazer.

7:19. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Paulo sentia que não fazia progressos na prática do bem. Mas na área do mal ele tinha consciência de suas atividades.

7:20 Sendo isto verdade, novamente ele conclui, como no verso 17, que não é mais o Eu que o faz, mas o pecado que habita em mim.

7:21 Por isso o escritor conclui: “ao fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim”. Seu desejo de fazer o bem tem um vigoroso oponente que ele chama de a lei ou o princípio. Aqui o pecado é chamado de lei ou princípio por causa da regularidade de sua ação.

7:22 Para encorajamento Paulo declara: Tenho prazer (veja Arndt, synedomai, pág. 797) na lei de Deus, no tocante ao homem interior. Eis aí a reação íntima de Paulo diante da lei de Deus, filho de Deus que é. A frase “o homem interior” só aparece três vezes nos escritos paulinos – Rm. 7:22; II Co. 4:16; Ef. 3:16. Na segunda e terceira destas passagens, Paulo fala da renovação do homem interior e do fortalecimento do homem interior. Aqui em Rm. 7:22 encontra-se uma atitude espiritualmente sadia diante da lei de Deus.

7:23 Ao mesmo tempo, Paulo via uma outra lei nos seus membros. Seu verdadeiro ego, o homem interior, concordava com a lei de Deus. Mas outra lei (a lei do pecado) mantinha o “eu” cativo, como um prisioneiro. Mas antes de fazer de Paulo um prisioneiro, a lei do pecado batalha contra a lei do seu entendimento. Esta lei do seu entendimento, com o homem interior, representava o verdadeiro ego de Paulo controlado pelo ser de Deus. Paulo diz, que o seu verdadeiro ego foi aprisionado pela lei do pecado em seus membros. Se Paulo parasse aqui, ele estaria discordando de sua declaração em 6:14. Mas ele não parou. Ele afirma que o pecado em seus membros é uma força poderosa (e ninguém deveria tentar negar este fato).

7:24 O pensamento de que o pecado podia mantê-lo prisioneiro levou-o a exclamar: Desventurado homem que sou! quem me livrará do como desta morte? O corpo é o cenário desta luta. O pecado vivo nos membros produz a morte espiritual do corpo, e o homem se torna cônscio de que precisa de ajuda externa. Paulo grita não por libertação do corpo como tal, mas pela libertação do corpo caracterizado pela morte espiritual – o fazer daquilo que é mau em oposição ao seu desejo de fazer o que é bom.

7:25. Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Emocionado demais, o apóstolo não dá uma resposta direta a sua pergunta. file apresenta Aquele a quem devemos agradecer, enfatizando que é o Libertador. A declaração completa deveria ser: “Graças sejam dadas a Deus; o livramento vem por meio de Jesus Cristo nosso Senhor”. Em Romanos 8 ele fala mais de seu livramento. Mas aqui ele simplesmente resume o argumento de 7:7-25. Com o seu entendimento ou mente ele constantemente serve à lei de Deus. Mas com a sua carne (o ego controlado pelo pecado) ele serve ao princípio do pecado.

As expressões seguintes caracterizam Paulo sob o controle do pecado: “o pecado que habita em mim” (vs. 17, 20); “a lei” (v. 21); “nos meus membros outra lei” (v. 23); “lei do pecado que está nos meus membros” (v. 23); “em mim, isto é, na minha carne” (v. 18); “segundo a carne” (v. 25). As expressões seguintes designam Paulo sob o controle de Deus: “eu” enfático com o pronome expresso (vs, 17, 20); “ao homem interior” (v. 22); “a lei da minha mente” (v. 23); “com a mente” (v. 25).

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