Interpretação de 1 Coríntios 9

1 Coríntios 9

Em 1 Coríntios 9, Paulo começa defendendo seu apostolado e abordando a questão de seus direitos como apóstolo. Ele ressalta que, como apóstolo, tem o direito de ser apoiado pela igreja de Corinto, assim como outros apóstolos são apoiados pelas igrejas que servem. No entanto, ele opta voluntariamente por não exercer esse direito entre os coríntios para evitar impedir a propagação do evangelho.

Paulo usa exemplos de atletas e agricultores para ilustrar os princípios de dedicação e trabalho no serviço de Deus. Ele enfatiza que se torna tudo para todas as pessoas, adaptando sua abordagem para alcançar diferentes grupos para Cristo. Ele faz isso para salvar o maior número possível, ilustrando seu compromisso em espalhar o evangelho.

O capítulo destaca o altruísmo e a flexibilidade de Paulo em seu ministério, demonstrando sua disposição de renunciar aos direitos pessoais por causa do evangelho e da salvação de outros. Também destaca a importância de adaptar a abordagem para alcançar eficazmente públicos diversos com a mensagem de Cristo.

Interpretação

9:1-27 Paulo não se afasta aqui do assunto em pauta. Antes, ele exemplifica os princípios que acabou de apresentar, recorrendo a sua própria experiência. Na qualidade de apóstolo que também possuía liberdade cristã, ele poderia reclamar sustento financeiro daqueles aos quais pregava (vs. 1-14). Na realidade, entretanto, ele se recusava exercer seus direitos para merecer uma recompensa (vs. 15-23). Tal decisão exigia disciplina pessoal e implicava em provações (vs. 24-27). Os coríntios, é claro, deviam aplicar a lição da abnegação e disciplina ao problema da carne sacrificada aos ídolos.

9:1. Não sou eu, porventura livre? Nos principais manuscritos esta pergunta precede a outra referente ao apostolado. Nessa ordem há também uma peculiaridade, pois passar dos direitos de cristão aos direitos de apóstolo fornece um clima adequado para a abertura desta seção. Não vi a Jesus, nosso Senhor? A base da sua qualificação ao apostolado (cons. Atos 1:21, 22). Acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor? Palavras que têm a intenção de enfatizar a genuinidade do trabalho de Paulo entre os coríntios.

9:2, 3. Os coríntios eram o selo do seu apostolado. Isto é, eles eram a garantia do fruto espiritual no seu trabalho entre eles, ou, em outras palavras, a prova de que Deus realmente lhe dera “o crescimento” (cons. 3:5-7). Os que me interpelam. Aqueles que duvidavam da posição e ofício apostólico de Paulo. Esta. volta-se para os versículos 1-3, não para os seguintes (vs. 4-14).

9:4 Tendo resolvido a questão do apostolado, o apóstolo prossegue discutindo a autoridade ou direitos ao sustento, os quais derivam do seu ofício. Compare 8:9, onde a “liberdade” é a mesma palavra usada aqui para direito (poder). Comer e beber não se refere às carnes sacrificadas aos ídolos, mas ao alimento comum.

9:5, 6 Cinco motivos para o direito de sustento podem ser distinguidas. O primeiro, mencionado aqui, pode ser chamado de exemplo dos outros. Os irmãos do Senhor, que antes não criam nEle, eram agora missionários (cons. Jo. 7:5; Mt. 13:55). A menção da esposa de Cefas é interessante. Se Pedro foi o primeiro papa (ele não foi, está claro), hão há dúvidas de que foi um papa casado! (cons. Mt. 8:14). O direito de Paulo incluía o sustento de sua família.

9:7 O segundo, o princípio do direito comum, foi apresentado através das bem conhecidas ilustrações – o soldado, o agricultor e o pastor.

9:8-10 O terceiro motivo, o ensino das Escrituras, vai ser introduzido agora (cons. Dt. 25:4). Paulo declara que o V.T. ensina o direito do sustento para aqueles que pregam a Palavra. O uso que ele faz das Escrituras aqui tem sido muitas vezes impugnado. Tem-se dito que ele demonstrou desdém pelo sentido literal do V.T. (cons. MNT, pág. 116, 117). Não é verdade. Tudo o que Paulo declara é que a passagem em Deuteronômio tem um significado mais profundo do que o sentido literal. Ambos os sentidos, o literal e o alegórico (ambos são sentidos espirituais), encontram-se neste passagem.

Acaso é de bois que Deus se preocupa? O sentido literal da pergunta não deve ser forçado. A construção grega é tal que a resposta “não” é a que se espera. Paulo quer dizer que o cuidado de Deus não se destina primariamente aos animais, mas aos homens. Entretanto, o cuidado divino pelos animais foi afirmado em muitas passagens do V.T. (cons. Sl. 104:14, 21, 27; Mt. 6:26). O argumento de Lutero foi más ousado do que o de Paulo. Ele disse que a passagem de Deuteronômio foi escrita inteiramente para o nosso bem, uma vez que os bois não sabem ler! O sentido da palavra certamente aqui, provavelmente tem o significado de sem dúvida (ICC, pág. 184).

9:11-13 O direito do santo ministério, o quarto motivo, está exposto aqui e o argumento torna-se mais valioso por causa da preponderância do espiritual sobre o material. Coisas carnais (E.R.C.) são as coisas referentes ao corpo, tendo a palavra carnal aqui um sentido neutro. Desse direito é o privilégio do mestre de participar das coisas materiais dos crentes. Ao que parece alguns mestres tinham exercido este direito sobre os coríntios. Mas Paulo triunfantemente se ufana de não ter usado desse poder. Se ele tivesse aceito a ajuda financeira tecla imposto algum obstáculo ao evangelho de Cristo, pois haveria aqueles que teriam pensado que ele pregava só por causa disso. Do próprio templo se alimentam faz alusão aos direitos dos sacerdotes da antiga aliança (cons. Nm. 18:8-24).

9:14 A ordem do Senhor, o quinto motivo, conclui o argumento sobre o sustento que a igreja deve dar ao obreiro (cons. Mt. 10:10; Lc. 10:7).

9:15 O apóstolo mostra agora como o amor agiu neste caso, ainda que ele tivesse todo o direito de receber sustento dos coríntios. Assina ele contrasta seu sacrifício pessoal com o egoísmo daqueles que estavam usando a sua liberdade, na questão das carnes em detrimento dos outros. Porém chama a atenção para o contraste, e a mudança para a primeira pessoa destaca a ilustração pessoal, a ilustração do conhecimento regulado pelo amor.

9:16 Os leitores são conduzidos ao propósito da pregação de Paulo sem pagamento – isto é, ele desejava alcançar uma recompensa. Pois sobre mim pesa essa obrigação refere-se à vocação na Estrada de Damasco, uma chamada que ele não podia deixar de atender.

9:17 Se o faço de livre vontade introduz uma suposição que jamais poderia ser verdadeira em se tratando de Paulo. Assim, neste caso não haveria nenhuma recompensa pela pregação, pois ele pregava por necessidade. A pista para o argumento de Paulo se encontra na expressão, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada (a do evangelho). A responsabilidade de despenseiro (E.R.C., dispensação) era um trabalho confiado a alguém que tivesse um dono. O mordomo, portanto, pertencia à classe dos escravos (cons. Lc. 12:42, 43). E um escravo não recebia recompensa; ele tinha de trabalhar (cons. Lc. 17:10). Paulo, portanto, tinha de introduzir a ideia da purgação sem pagamento. Como Moffatt o expõe: “Seu pagamento era fazê-lo sem pagamento” (op. cit., pág. 121). Era assim que o apóstolo ganhava a sua recompensa. Assim, a luz é regulada pelo amor.

9:18 Proponha de graça o evangelho era o seu alvo e a sua recompensa. Isto, é claro, não é um princípio que deve ser aplicado a todos os pregadores do Evangelho. É a escolha voluntária de alguém que, embora tendo direito ao sustento, sentia-se competido a proclamar a verdade através de uma visão sobrenatural do Salvador ressuscitado.

9:19 Agora Paulo acrescenta outros motivos pelos quais, por amor aos outros, ele recusava exercer seus direitos. Sendo livre de todos refere-se a sua falta de dependência dos outros sob todos os aspectos (cons. v. 1).

9:20 O princípio que Paulo esposou foi mobilidade de métodos, não de moral. Depois das palavras para os que vivem sob o regime da lei, o texto grego acrescenta, embora não esteja eu debaixo da lei, uma declaração notável que enfatiza quão completamente Paulo se desprendera da Lei de Moisés. É difícil encontrar uma declaração mais forte deste fato em qualquer outro lugar de seus escritos.

9:21. Aos sem lei, refere-se aos gentios. Não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo foi acrescentado para evitar uma má interpretação. Enquanto Paulo não se encontrava debaixo da lei, ele não se transformara em alguém fora da lei, ou sem lei. A lei do amor a Cristo é a mais forte motivação para a justiça do que o medo dos juízos do Sinai. Aqueles que, embora não estando sob a Lei Mosaica, andam pelo Espírito de Deus com amor ao Senhor Jesus Cristo, cumprirão as justas exigências da Lei (cons. Rm. 8:3; Gl. 5:16-23).

9:22. Fracos. São os super-escrupulosos mencionados em 8:7 e 9-12 Paulo não se afasta muito do assunto geral das carnes sacrificadas aos ídolos. Fiz-me tudo para com todos expressa o seu princípio. (O verbo aqui está no tempo perfeito, não no aoristo como no versículo 20, expressando o resultado permanente de sua ação passada). Não é o fim justificando os meios, mas a adaptabilidade por amor dentro da Palavra. Salvar é mais forte do que ganhar (v. 19). Com o fim de (que eu possa) salvar alguns não remove a salvação das mãos de Deus; simplesmente enfatiza a cooperação humana do servo de Deus no ministério da verdade.

9:23 Por causa do evangelho não significa para o progresso do Evangelho, mas por causa da sua preciosidade na opinião do apóstolo.

9:24 A decisão de Paulo exigia disciplina pessoal. Quando um homem se recusa a disciplinar-se, exercendo sempre a sua liberdade em detrimento dos fracos, além de injuriar os fracos, também prejudica-se a si mesmo. Essa é a responsabilidade dos versículos restantes (vs. 24-27). Os antecedentes da seção são o grande espetáculo atlético, os Jogos Ístmicos, que se realizavam perto de Corinto cada dois anos. O prêmio indica que o apóstolo tinha em mente o serviço e as recompensas, não a salvação e a vida (cons. v. 17, “prêmio”; Fp. 3:11-14).

9:25 Depois da ilustração no versículo 24, segue-se a aplicação, contendo ambas, uma comparação e um contraste. Em tudo se domina. Pratica o autodomínio (MNT, pág. 125). O que Paulo quer mostrar é que os atletas que esperam vencer precisam de treino diligente – uma verdade bem ilustrada pela diligência dos atletas modernos, quer nas coradas, no futebol ou qualquer outro esporte. Uma coroa corruptível mostra o contraste. Os atletas disciplinam-se para ganhar um prêmio insignificante (nos jogos ístmicos era uma coroa de pinheiro). Quanto mais deveriam fazer os cristãos para alcançarem uma coroa incorruptível (cons. II Tm. 4:8; I Pe. 5:4; Ap. 2:10; 3:11).

9:26, 27 Segue-se a conclusão de Paulo introduzida por assim. Paulo corda, mas não sem meta; sabia para onde ia (cons. Fp. 3:14). Ele não era como o menininho que estava aprendendo a andar de bicicleta e gritou cheio de si para sua irmã: “Estou saindo do lugar. Estou realmente saindo do lugar”. A irmã, observando finalmente seu progresso cambaleante replicou: “É, você está saindo do lugar, mas não está indo a lugar nenhum!”

Como desferindo golpes no ar é uma metáfora sobre o pugilismo. A declaração não se refere ao treino, um exercício necessário e legítimo para o lutador; refere-se às falhas durante a luta. Paulo era um lutador certeiro, sempre acertando o alvo.

Subjugo o meu corpo (E.R.C.) é a tradução do texto de alguns manuscritos fracos. A tradução mais autêntica seria esmurro, ou espanco. A ideia, é claro, é o da disciplina pessoal. Andar com Deus exige sacrifício pessoal, sacrifício de coisas não necessariamente más, mas que prejudicam a devoção total da alma a Deus - tais como os prazeres e interesses mundanos. Numa época de luxo, como a presente, as palavras têm verdadeiro significado para o servo de Cristo compenetrado. Tendo pregado a outros. Uma referência ao costume de convocar os competidores à corrida por meio de um arauto (keryx, palavra derivada da mesma raiz da palavra pregar). Paulo convocara muitos à corrida da vida cristã através da pregação do Evangelho. Ele não queria ficar desqualificado depois disso. A palavra não se refere à perda da salvação. Significa literalmente desqualificado. Está claro que o apóstolo estava preocupado em não ser rejeitado pelo juiz quando fosse concedido o prêmio. Ele não tinha receio que o arauto barrasse sua participação na corrida. Todos podiam correr, mas nem todos recebiam o prêmio. Paulo queria alcançar o prêmio.

Índice: 1 Coríntios 1 1 Coríntios 2 1 Coríntios 3 1 Coríntios 4 1 Coríntios 5 1 Coríntios 6 1 Coríntios 7 1 Coríntios 8 1 Coríntios 9 1 Coríntios 10 1 Coríntios 11 1 Coríntios 12 1 Coríntios 13 1 Coríntios 14 1 Coríntios 15 1 Coríntios 16