Fé e Domínio da Língua — Tiago 3:1-12

LÍNGUA, FÉ, DOMÍNIO, CONTROLE, PALAVRAS, TIAGO
Fé e Domínio da Língua  (Tiago 3:1-12) Pela linguagem expressamos os nossos pensamentos e revelamos se o que nos domina é nossa própria vontade ou se é a obediência à vontade de Deus. Tiago inicia esta seção com um aviso “Não vos apresseis em ser mestres” (Moff.) Parecia haver uma ansiedade da parte de muitos para falar em público, enquanto falhavam em reconhecer que a qualificação fundamental do mestre é saber. Talvez também houvesse a tendência de confundir fluência de linguagem com erudição. Os mestres levam sobre si grande responsabilidade e serão julgados com especial rigor em virtude da influência exercida sobre os outros. Note-se o vers. 2 “Todos tropeçamos em muitas coisas”. O verbo grego é ptaio, tropeçar ou escorregar (cfr. 2-10). O perigo do pretenso mestre está no falar desenfreado, que leva a declarações irrefletidas e demonstrações de mau gênio. Tiago não diz que todo o mundo deliberadamente usa mal a língua, mas que esta é às vezes mal empregada por todas as pessoas, involuntariamente. Quem nunca é culpado de um deslize cometido com a língua, quem nunca profere uma palavra ociosa ou vã, esse é perfeito (2), isto é, plenamente instruído, bem equilibrado e bem aparelhado para aceitar a responsabilidade de ensinar a outros e de frear toda inclinação menos digna. A expressão todo o corpo pode-se aplicar à Igreja de Cristo, tanto quanto às paixões e apetites. Se esta interpretação for adotada aqui, significará que o homem plenamente instruído nas coisas de Deus está aparelhado para exercer o governo na Igreja de Cristo.

O escritor reforça seu ensino acerca da língua disciplinada, empregando as ilustrações do cavalo e do freio (3), dos navios e respectivos lemes (4); do fogo e da selva (5-6), dos animais bravios (7-8) da fonte d’água (11), da árvore e seus frutos (12). No caso dos cavalos, são subjugados por freio e brida, tornando-se úteis ao homem, cuja força, em comparação, é pequena. Todo o corpo deles é dirigido pelo domínio da boca. Assim também os navios são dirigidos empregando-se os lemes, de tamanho relativamente pequeno, aliás a sorte dos navios depende dos lemes. Ambas estas figuras ilustram a grande influência exercida por uma coisa tão pequena, a língua.

Cf. O Falar em Línguas na Igreja de Corinto
Cf. A Ceia do Senhor na Igreja de Corinto
Cf. Grupos Religiosos no Novo Testamento
Cf. O Texto do Novo Testamento

No vers. 5b adote-se a redação da ARA, “Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!”. Uma coisa diminuta como uma faísca pode ser a origem de tremenda conflagração, de resultados desastrosos, ilustrando assim os danos causados pela língua. Mundo de iniqüidade (6); gr. ho kosmos tes adikias, “mundo de injustiças”. A palavra grega kosmos primeiramente exprime ordem, e depois mundo, ou universo, como sistema ordenado; adikia denota “falta de retidão”, comumente traduzida por “iniqüidade”. Aqui, como em Tg 1.27; 2Pe 1.4; 2Pe 2.20, “mundo” é isso “separado de Cristo e oposto a Ele; é a esfera em que a vida é puramente egoísta” (Cent. Bible). A língua, este mundo de maldade, está colocada entre nossos membros e mancha o corpo todo, visto como toda palavra má deixa sua impressão no caráter da pessoa, maculando-a. Põe em chamas a carreira (“roda”) da existência humana, como é posta ela mesma em chamas pelo inferno (6). A língua descontrolada é posta em chamas pelo diabo, e o fogo propaga-se a todas as paixões inferiores da natureza humana.

Depois de falar nos estragos causados pela língua desgovernada, Tiago passa a tratar de sua fúria, usando a figura de animais selvagens. Enquanto o homem tem sido capaz de domar toda espécie de animal bravio, como feras, aves, répteis e peixes, a língua ninguém pode domar (8). Nada a subjuga, a não ser a graça de Deus. É um mal inquieto, que não se pode dominar ou governar, carregado de veneno mortífero (8; cfr. Sl 140.3). Em toda esta descrição Tiago tem em mente, de modo particular, a língua do caluniador detrator murmurador e boateiro. Serpentes venenosas não oferecem maior perigo à vida do que tais pessoas à paz e à reputação alheia Segue se nos vers. 9-12 uma representação gráfica do outra característica da língua, a incoerência. A língua, que é capaz de louvar o Eterno Deus o de Lhe manifestar a glória, também é capaz de pilhérias ofensivas ao próximo, feito á semelhança do mesmo Deus. Embora esta observação tenha aplicação geral, Tiago sem dúvida tinha em mente a atitude de judeus para com cristãos, ou mesmo cristãos judeus fanáticos para com gentios podiam erguer a voz em louvores altissonantes a Deus, e em bendizer-lhe o Nome, sendo igualmente prontos em vociferar terríveis imprecações contra os que não adoravam à maneira deles, mas que não obstante eram criaturas, da mesma forma que eles, feitas à mesma imagem de Deus. Veja-se a incoerência da bênção e da maldição, a procederem da mesma boca! Certamente isso não devia acontecer. Tiago chama atenção para a natureza, e pergunta se uma fonte lança de si ao mesmo tempo água doce e água salobra, figura muito natural na Palestina, onde não era difícil encontrar fontes de água salgada, outras sulfurosas e salobras. Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas? (12). A resposta é clara. Assim não pode a mesma fonte dar água salgada ou água doce. Se tal acontecesse, a água doce perderia sua qualidade característica ou se arruinaria com a água salobra. De igual modo, quando os mesmos lábios proferem louvores a Deus e maldições aos homens, os louvores se corrompem ou perdem seu valor. Como é incongruente tal maneira de proceder!