Comentário de Apocalipse 17:1-18 (J. W. Scott)

Comentário de Apocalipse 17

APOCALIPSE 17, COMENTÁRIO, ESTUDO, LIVRO
Estes três capítulos expandem as visões da sexta e sétima taças (Ap 16.12-21), Ap 17.1-19.10 tem que ver principalmente com a sorte do império (isto é, a sétima taça). O cap. 17 explica a situação que dá na destruição dos inimigos de Deus, com especial referência ao reino anticristão (18) e, ao mesmo tempo, lança luz sobre certas obscuridades no cap. 13.

As palavras do anjo a João poderiam formar um título adequado dos caps. 17 e 18: A condenação da grande prostituta que está assentada, sobre muitas águas. Como o cap. 17 descreve as circunstâncias da sua queda, a promessa na título não é realmente cumprida até o cap. 18. A cidade de Tiro é chamada meretriz, por Isaías (Is 23.16-17), como também é Nínive por Naum (Ap 3.4), enquanto a última parte do vers. 2 cita a descrição, por Jeremias, de Babilônia (Jr 51.7), assim como esta cidade foi chamada pelo profeta como "tu que habitas sobre muitas águas" (Jr 51.13). Do vers. 9 é claro que Roma está na mente de João. Nesta descrição, portanto, como na figura apocalíptica do vers. 3, ele ensina que este império inclui em si a maldade de todos os seus predecessores. A besta, que representa o império, retrata-se semelhantemente como o dragão (cfr. Ap 12.3), mostrando com isso a sua afinidade com ele. O símbolo de uma mulher assentada sobre uma besta cor de escarlate (3) originalmente denotava uma unidade, a besta sendo a representação anterior, e a mulher a posterior, de um e o mesmo monstro caótico. Para João, contudo, forma um retrato adequado para ilustrar a relação entre a cidade capital e o Império. À primeira vista, parece estranho que no vers. 1 a prostituta assenta-se sobre muitas águas, enquanto que no vers. 3 ela habita num deserto. A explanação pode ser que João está recordando a profecia de Isaías contra Babilônia, o título de que é "Sentença contra o deserto do mar" (Is 21.1); é digno de nota que os LXX omitem as últimas três palavras. A luxúria e a imundícia moral da cidade aqui se revelam vividamente, de novo com o auxílio da caracterização, de Jeremias, de Babilônia. A exibição do nome na testa da prostituta (5) provavelmente alude ao costume das meretrizes romanas que, semelhantemente, expunham seus nomes nas suas testas. O prefixo MISTÉRIO podia ser uma parte da inscrição; mas é mais provável que indique que o nome não devia ser tomado literalmente (cfr. Ap 11.8, "a grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito"). Moffatt traduz "por meio de símbolo". O título serve para caracterizar cidade tirana como sendo da mesma natureza como aquela contra a qual os antigos profetas profetizavam tão veementemente; é a MÃE DAS MERETRIZES (ou devassidões, Vulg. e Primasius) E DAS ABOMINAÇÕES (isto é, IDOLATRIAS) DA TERRA (5). Roma causou a ruína moral de todo o Império. A alusão no vers. 6 inclui não somente a perseguição Nerônica, como também o costume geral de levar para Roma todos os mártires para morrerem no anfiteatro.

A interpretação desta seção se torna difícil pela flutuação no simbolismo. Nos vers. 10 e 11, diz-se encarnar a besta num rei que uma vez viveu e que reaparece como o último imperador de uma sucessão ímpia; isto é, ele é um indivíduo. Contudo, é claro que os vers. 1-6 falam de uma cidade e de um império, não de um indivíduo ou até mesmo uma linha de soberanos (imperadores são apenas cabeças, não a besta toda). Com isto concordam os vers. 9 e 10, os sete montes denotando a cidade de Roma, a sede do império anticristão. Uma vez que é tradicional o uso da besta com sete cabeças e dez chifres para representar a potência universal sem Deus e perseguidora, é quase certo que João se serve de fontes anteriores em vez de compor algo inteiramente original (cfr. o cap. 12); isto pode explicar algo da ambiguidade. A maioria dos expositores interpretam o vers. 8 com o auxílio do vers. 11, e consideram que a passagem toda descreve um anticristo individual; a expressão era, e já não é, mas que virá no vers. 8, sente-se ser inteiramente explicável pelo mito do Nero ressuscitado, cujo retorno dos mortos para lutar contra Roma era largamente esperado quando este livro estava sendo escrito. Com esta expectação os vers. 16 e 17 concordam admiravelmente.

Há, contudo, uma outra possível linha de interpretação. Admite-se unanimemente que os vers. 1-6 retratam um império, não um indivíduo. Se João utilizou algum escrito anterior em compilar os vers. 7-18, essa fonte também se referia à besta como o império. Por isso não é improvável que o profeta cristão tivesse particularmente em vista, o império. Se assim é, o vers. 8a deve-se explicar principalmente, não de Nero ressurreto, mas do império. De tais Escrituras, como Is 27.1; Is 30.7; Is 51.9-10, é claro que os profetas do Velho Testamento aplicavam propositadamente o símbolo do "monstro caótico" às nações hostis a Israel, especialmente ao Egito, mas não somente àquela potência. Deus havia conquistado aquele monstro no princípio. Jaz dormente por enquanto (cfr. Is 30.7) mas está, para se levantar de novo. A tal tempo, Deus o destruiria de uma vez para sempre. "A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição" (comp. Is 27.1) assim descreve este monstro, esboçando a sua história. Uma solução razoável parece ser que João aqui fundiu dois símbolos para dar a sua mensagem, o do monstro caótico e o de Nero Redivivus. A besta é o poder do mal, manifestando-se através da história nos impérios sem Deus, mas agora no Império Romano. Até agora, tem jazido mais ou menos dormente; em breve se levantará da sua inatividade e revelar-se-á num furor de impiedade, encarnando-se no Nero ressurreto. Com esta chave à passagem em mente, podemos atender aos seus detalhes. A explanação dada pelo anjo (7) é uma continuação direta da visão anterior; diz quem a mulher e a besta representam. É de esperar, portanto, que a interpretação envolverá mais de que um membro da besta. A besta foi, e já não é (8); isto é, tinha antes uma existência como uma potência má e ímpia, mas que tem sido silenciada. Isaías chama o Egito de "Gabarola que nada faz" (Is 30.7), isto é, o monstro caótico, feito inútil por Deus. A Roma é dado aqui um nome semelhante, ela foi, e já não é, mas que há de vir, isto é, brevemente está para subir do abismo e fará uma obra de horror como os faraós, os reis assírios e Antioco Epifânio de outrora. Contudo, irá para a perdição-o monstro caótico não pode triunfar sobre Deus, nem o pode Roma. Como o vers. 11 refere isto a Nero, que está para voltar à terra, podemos compreender que a plena posse por parte de Roma das características do monstro caótico só poderá, ser quando ele se encarnar no Nero que há de vir. Este rei demoníaco compartilha tão plenamente da natureza do poder do mal, que as suas histórias podem ser delineadas nos mesmos termos. Ele é a besta encarnada. Uma manifestação tão espantosa de poder sobrenatural faz que toda a terra se admire, salvo aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida. Dá-se uma dupla interpretação das sete cabeças a fim de identificar a besta além de qualquer dúvida. Roma era familiarmente conhecida como "a cidade sobre sete montes". A besta se localiza desta forma em Roma. Mas as cabeças representam reis. Qualquer que tenha sido o significado do número "sete" aos antigos escritores, para João era símbolo de inteireza; cinco já caíram (10) significa que a maioria já passou; o "um existe" refere-se ao soberano contemporâneo; outro imperador reinará, mas quando vier, convém que dure um pouco de tempo (10); a curta duração do seu reino se reforça pela consideração que "o tempo está próximo" (Ap 1.3).

Depois do último imperador humano, a besta revelar-se-á em toda a sua bestialidade. A besta que viste foi e já não é (8), é o poder perene do mal; manifestar-seá como o oitavo rei, se bem que na realidade não o oitavo, pois ele manifestar-se-á, na forma de um dos sete, isto é, Nero. No contexto dos vers. 9 e 10 parece que a afirmação "a besta... também é ele o oitavo rei" (11) deve significar que o império inteiro, ou antes o mau gênio que caracteriza o império, se encarna no oitavo rei. A ênfase está no império na sua inteireza. Não deve ser interpretado como "A besta, Nero, é um oitavo rei, além de um dos sete"; a cláusula descritiva "era, e já não é" denota o império monstro caótico em primeiro lugar, e Nero só secundariamente. Quando, contudo, se diz que a besta "subirá ao abismo", a ênfase está na pessoa que é a sua encarnação.

Os dez reis aliados ao anticristo (12) podem ser governantes de estados satélites ou governadores de províncias. Bousset sugere, com menos probabilidade, que eles podem ser poderes demoníacos de uma natureza semelhante ao seu líder. Reconta-se imediatamente o destino final dos dez reis a fim de completar a sua descrição (14). Logicamente este versículo devia seguir 17 depois da narração da sua parte na destruição do império. Alguns comentadores, por conseguinte, o transferem para esse lugar. Mas apocaliptistas nem sempre seguem uma seqüência estritamente lógica. Este versículo realmente antecipa Ap 19.19 e segs.; se de um ponto de vista é supérfluo nesta visão, de outro a sua posição aqui é plenamente inteligível. O seu significado é, ou que eles, que estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis (14), compartilham desta conquista do anticristo e dos seus auxiliares, ou que eles, tão bem como o Cordeiro, triunfarão sobre o anticristo na sua vida moral (cfr. Ap 12.11).

Enquanto as águas de Babilônia foram literalmente em vista na profecia de Jeremias (ver nota no vers. 1), o profeta as considera como apropriadamente simbolizando os povos sobre os quais reinava Roma (15). O anticristo, com os seus aliados, ajudará na destruição de Roma, que, de outra forma, se faz pelo grande terremoto (Ap 16.19). Ambos os meios de destruição são devidos à providência ativa de Deus. A linguagem do vers. 16 é tirada da descrição de Ezequiel do castigo de Israel (Ez 23.25-29). Não se dá nenhuma explanação porque o imperador anticristão se vira contra a cidade anticristã. A história popular de Nero esperava que ele se erguesse somente para esmagar o império; contudo, este capítulo todo, e Ap 8.5, dá explicitamente por admitido que ele primeiro reinará sobre o império e, com o auxílio deste, se enfurecerá contra as obras de Deus durante três anos e meio. Este procedimento bem ilustra o método de João de livremente adaptar as suas fontes a fim de entregar a mensagem que Deus lhe tem dado para a instrução dos seus santos. A mulher é Roma (18), a meretriz do mundo de então.




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