Interpretação de Efésios 1
Efésios 1
A. Saudações.
1:1, 2.
As saudações em
todas as epístolas de Paulo são notavelmente semelhantes. Embora esta seja a fórmula
epistolar comumente usada por ele, há uma falta do elemento pessoal em Efésios
mais do que na maioria das cartas de Paulo.
1. Paulo,
apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus. Como nas outras
epístolas, Paulo enfatiza que ele foi chamado por Deus para o especial ofício
de apóstolo. Aos santos. No N.T., os santos são aqueles que foram
separados, isto é, todos os crentes. Que vivem em Éfeso. Veja
Introdução. E fiéis. Os crentes (cons. Gl. 3:9). A ausência do artigo
diante da palavra fiéis no original indica que os santos são os
crentes.
Em Cristo
Jesus. Uma
frase importante nesta epístola. Não importa qual seja a localização geográfica
dos santos, sua verdadeira posição diante de Deus é em Cristo Jesus. Foram
colocados em união vital com ele para que possam ser identificados com ele
(cons. Jo. 14:20).
2. Graça a vós
outros e paz. Esta
mesma saudação se encontra em todas as epístolas de Paulo, embora nas pastorais
fosse acrescentada a palavra misericórdia. A graça deve sempre preceder
a paz. A palavra grega para graça, karis, está relacionada com a
saudação comum grega, karein, mas dá à saudação uma ênfase visivelmente
cristã. Paz é a costumeira saudação hebraica.
Da parte de
Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. A preposição "de" da
contração do não se encontra no original. Aqui está uma conexão muito
íntima, que prova a identidade do Pai com o Senhor Jesus Cristo na sua
essência.
B. Todas as
Bênçãos Espirituais. 1:3-14.
O crente é
apresentado como o recipiente de toda sorte de bênção espiritual. Portanto
ele não necessita buscar bênçãos adicionais de Deus. Deve, pelo contrário,
apropriar-se das que já foram fornecidas. Todas as três Pessoas da Santa
Trindade participam desta provisão de bênçãos espirituais.
1) Escolhidos
pelo Pai. 1:3-6.
A obra do Pai
está mencionada em primeiro lugar.
3. Bendito o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. "Quase todas as epístolas
de Paulo começam com alguma atribuição de louvor" (Alf). Observe o jogo de
palavras no uso de bendito. Que nos tem abençoado. Somos
convocados a bendizer a Deus, o qual já nos abençoou a nós. Mas é claro que
Deus nos tem abençoado pelo que realizou, enquanto a nossa bênção em
retribuição é de palavras, isto é, de louvor. Ele é o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo. Isto o identifica como o Deus verdadeiro, não alguma
divindade falsa ou imaginária. A única maneira de conhecê-lo é por intermédio
de Jesus Cristo (cons. Jo. 14:6). Nas regiões celestiais. Embora o
adjetivo apareça em outro lugar, esta frase só ocorre em Efésios, em todo o
N.T. Aparece aqui cinco vezes – 1:3; 1:20; 2:6; 3:10; 6:12. A palavra regiões
não está no original. Indica aqui as esferas ou reinos de nosso
relacionamento em Cristo. Ainda não nos encontramos no céu, mas nossa vocação é
celeste; o poder de nosso viver diário é celeste; a provisão de Deus é celeste.
Observe a constante repetição da frase, em Cristo, na epístola. Somente
nEle poderíamos ter recebido estas bênçãos.
4. Como nos
escolheu. Em
grego está na voz média; isto é, Ele nos escolheu para Ele mesmo. As Escrituras
muito têm a dizer sobre o amor eletivo de Deus. As Escrituras nunca apresentam
a doutrina da eleição como algo que devamos temer, mas sempre como figo pelo
que os crentes devem se regozijar. Observe que fomos escolhidos nEle,
isto é, em Cristo, e que esta escolha aconteceu antes da fundação do mundo. Os
propósitos de Deus são eternos.
Para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele. Esse é o propósito para o qual Deus nos
escolheu em Cristo (cons. Rm. 8:29; Judas 24, 25). A frase em amor provavelmente
pertence ao que vem a seguir e não ao que o precede; isto é, em amor nos
predestinou (Nestle).
5. Nos
predestinou. A
escolha que Deus fez de nós em Cristo foi para um propósito eterno.
Para a adoção
de filhos. A
palavra traduzida para adoção de filhos foi usada cinco vezes no N.T.
(Rm. 8:15, 23; 9:4; Gl. 4:5; e aqui). Refere-se, à nossa colocação em posição
de filhos. Não é a idéia moderna de adoção, mas antes a colocação de uma
criança na posição de filho adulto. O propósito de Deus é que todos os crentes
deviam ser filhos adultos em sua família, na qual Cristo é o
"primogênito" (Rm. 8:29).
Segundo o
beneplácito de sua vontade. Qualquer tentativa de fundamentar a
eleição e predestinação divinas em méritos humanos, quer antevistos ou
quaisquer outros, é contrário às Escrituras e fútil. O motivo da escolha divina
não se encontra em nós, mas apenas nEle (cons. Tt. 3:5; Ef. 2:8-10). A vontade
de Deus é o fator determinante.
6. Para louvor
da glória de sua graça. Observe o uso triplo desta expressão (cons. vs.
12,14). As três ocorrências desta frase assinalam a parte que as três Pessoas da
Deidade desempenham na nossa salvação, dando-nos bênçãos que já recebemos. A
mais importante motivação do universo é a glória de Deus. O "Westminster
Shorter Catechism" expressa isto bem na resposta à sua primeira pergunta,
"Qual é o principal objetivo do homem?" "O principal objetivo do
homem é glorificar a Deus, e deleitar-se nEle eternamente".
Sua graça. "A graça é
imerecida, sem jus e irrecompensável" (Chafer). É o favor autodependente
de Deus concedido aos homens pecadores, que apenas merecem a Sua ira.
Que ele nos
concedeu gratuitamente, no Amado. Mais literalmente, a qual livremente
outorgou-nos. Aqui está um novo jogo de palavras no original – "Sua
graça, a qual Ele favoreceu". É difícil expressá-lo em português. Esta
concessão é no Amado; isto é, no Senhor Jesus Cristo (cons. Cl. 1:13;
Mt. 3:17).
Redimidos
pelo Filho. 1:7-12.
7. No qual – isto é,
Cristo – temos a redenção. Esta é a nossa possessão presente.
Pelo seu
sangue. As
Escrituras apresentam o sangue de Cristo como o infinito preço da transação que
envolveu a nossa redenção (cons. Atos 20:28; I Co. 6:20; I Pe. 1:18-20).
Colossenses 1:14 faz paralelo com este versículo.
A
remissão dos pecados. Os fariseus fizeram a observação (pelo menos uma
vez) de que nenhum homem pode perdoar pecados a não ser Deus (Mc. 2:7). O fato
do Senhor Jesus Cristo perdoar é evidência de que é Deus.
Segundo a
riqueza da sua graça. Novamente a ênfase sobre a completa ausência de
mérito humano (cons. Rm. 5:21). Observe a palavra riqueza. Sua graça não tem
limites.
8. Que Deus
derramou abundantemente sobre nós. Deus abunda sob todos os aspectos. Ele
é o Infinito. A sabedoria do Senhor Jesus Cristo é ilimitada, e Ele fez
abundar para conosco a Sua sabedoria que foi posta à nossa disposição, como
indica o versículo seguinte.
9.
Desvendando-nos. A
explicação de sua abundância.
O mistério. No N.T. – a
palavra mistério (literalmente, segredo) indica algo que não foi
claramente revelado antes, mas agora esclarecido. Segundo o seu beneplácito,
que propusera em Cristo. Vemos novamente que Deus é completamente
autodeterminante e auto-suficiente.
10. Na
dispensação da plenitude dos tempos. A palavra dispensação significa
"mordomia". Ela é usada no N.T, para se referir às diferentes
administradores das bênçãos de Deus. Evidentemente a dispensação da plenitude
dos tempos é a mordomia final confiada aos homens, a qual levará os propósitos
de Deus a serem desfrutados pela história humana. O propósito mencionado
resume-se na expressão, de fazer convergir nEle ... todas as coisas. Esta
é uma observação literária (Robertson) – "que colocaria todas as coisas
debaixo de Cristo" (cons. Cl. 1:8). Todas as coisas inclui toda a
criação. Uma vez que Cristo é preeminente no propósito de Deus dentro do
universo e na Igreja, o indivíduo que não tem Cristo preeminente em sua vida
está inteiramente em desarmonia com propósito do Pai.
11. No qual
fomos também feitos herança. Há uma diferença de opinião quanto ao
grego nesta passagem – se está na voz ativa ou passiva. Esta última parece a
mais provável, e assim poderíamos traduzir como consta. Somos herança de
Cristo, como Ele é a nossa.
Predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as causas, conforme o conselho da sua
vontade. As
palavras predestinados, propósito, conselho e vontade têm
íntima ligação. Não há declaração mais clara ou mais sublime em lugar algum das
Escrituras referente à soberania de Deus. Correndo através de toda a Bíblia estão
as linhas paralelas da soberania de Deus e da responsabilidade do homem. Não
podemos reconciliá-las, mas podemos crer em ambas porque ambas são ensinadas na
Palavra.
12. A fim de
sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo. Alguns creem
que "nós" aqui se refere aos judeus, por causa da expressão de
antemão esperamos. Isto parece provável à vista do contraste entre o nós do
versículo 12 e o vós do versículo 13. Pará louvor da sua glória. Isto
demarca a segunda seção nesta grande tríade.
Selados pelo
Espírito Santo. 1:13,14.
13. Em quem
também vós. Isto
é, os gentios, em contraste aos judeus. Depois que ouvistes a palavra da
verdade. Quando vocês ouviram a palavra da verdade, ou a palavra que
consiste da verdade. Isto está igualado mais adiante com o evangelho da
vossa salvação – as boas novas que lhes trouxeram à salvação.
Tendo nele
também crido, fostes selados. Literalmente, em quem também quando
vocês creram, foram selados. Este selar não aconteceu como algo subsequente
à salvação mas foi simultâneo com a salvação. O ministério da confirmação do
Espírito Santo está mencionado diversas vezes no N.T. (cons. lI Co. 1:22; Ef.
4:30). Um selo indica posse e segurança. O Espírito Santo é o próprio selo. Sua
presença garante a nossa salvação. Com o Santo Espírito da promessa. O
próprio Espírito Santo é o objeto ou o conteúdo da promessa que foi dada.
14. O qual é o
penhor da nossa herança. Isto é, a garantia de que todo o resto virá depois.
Até ao resgate
da sua propriedade. Jesus
Cristo nos comprou para Si mesmo e deu-nos o Espírito Santo como uma garantia
de que a redenção, que tão maravilhosamente teve início, será completada.
Novamente encontramos o refrão, em louvor da sua glória. A repetição deste
refrão faz-nos lembrar novamente o Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo –
três Pessoas, mas um só Deus.
C. A Primeira
Oração de Paulo. 1:15-23.
A oração que se
segue baseia-se no parágrafo justamente concluso. Paulo pode orar dessa maneira
porque Deus fez todas essas coisas pelo crente, levando-o desde o Seu eterno
propósito na eternidade do passado até a consumação da redenção na eternidade
futura. Observe que, contrastando com a maioria das nossas orações, a
intercessão de Paulo foi primeiramente pelo bem-estar espiritual daqueles por
quem ele orava.
15. Eu também,
tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus, e o amor para com todos os
santos. Às
vezes nos esquecemos que, depois de salvas as pessoas, deveríamos orar com a
mesma veemência que oramos pela sua salvação. A fé e o amor desses crentes
efésios eram um incentivo para Paulo orar pelo seu continuado crescimento
espiritual.
16. Não cesso
de dar graças por vós. Por vós, isto é, graças a Deus pelo que Ele
fizera pelos efésios.
Fazendo menção
de vós nas minhas orações. Paulo não considerava a oração como algo vago e
indefinido. Ele se lembrava especificamente deles e de suas necessidades diante
de Deus.
17. Que o Deus
de nosso Senhor Jesus Cristo (cons. v.3), o Pai da glória. Isto
é, o Pai caracterizado pela glória. Vos conceda espírito de sabedoria e de
revelação. Provavelmente isto é objetivo; isto é, o Espírito Santo que dá
sabedoria e revelação. No pleno conhecimento dele. Esta expressão indica
pleno conhecimento experimental.
18. Iluminados
os olhos do vosso coração. "O coração nas Escrituras é o próprio âmago e
centro da vida" (Alf).
Para saberdes. Só quando Deus
nos ilumina é que podemos realmente saber o que Ele quer que saibamos.
Qual
é a esperança do seu chamamento. Esperança nas Escrituras é a certeza
absoluta do bem futuro.
A riqueza da
glória da sua herança nos santos. Compare com as "riquezas da sua
graça" no versículo 7 (cons. também Dt. 33:3, 4).
19. A suprema
grandeza do seu poder. As frases que se seguem acumulam palavras que
denotam todo o poder de Deus sobre nós.
20. O qual
exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos. No V.T. o
padrão para o poder de Deus é frequentemente o livramento do Egito,
especialmente a travessia do Mar Vermelho. Mas aqui está um padrão de poder
muito maior. O próprio poder de Deus que ressuscitou Cristo dos mortos está à
nossa disposição, e podemos experimentá-lo. Fazendo-o sentar à sua direita. Provavelmente
as diversas referências a Cristo assentado à direita de Deus, no N.T., tem sua
origem no Salmo 110. Nos lugares celestiais. Nesta segunda vez, das
cinco em que foi usada esta frase, o sentido é evidentemente local: o Senhor
Jesus está literal e corporalmente no céu.
21. Acima de
todo principado... e poder. Todo no sentido de "cada".
Diferentes palavras foram usadas no N.T. para as diversas categorias e espécies
de seres celestiais, para ambos, anjos santos e decaídos. Compare esta exaltação
de Cristo com Fp. 2:8-11. No presente século. Uma palavra que se refere
a tempo – nesta dispensação.
22. E pôs todas
as coisas debaixo dos seus pés. Novamente a alusão é ao Sl. 110:1
(cons. também Sl. 8:6). Isto indica a última vitória completa de Cristo. E,
para ser o cabeça sobre todas (cons. Jo. 3:16). Esta é a primeira menção,
na epístola de Cristo como a Cabeça da Igreja, uma verdade que será
posteriormente desenvolvida de maneira mais completa (veja Introdução).
23. A qual é o
seu corpo. Embora
falemos disto como uma figura, é mais do que isso. Indica a completa união da
Igreja com o Senhor Jesus, a absoluta identificação dos crentes com ele (cons.
I Co. 12: 12). A
plenitude. Aquilo
que está cheio. "Ela (a Igreja) é a contínua revelação de Sua vida divina
na forma humana" (JFB). Pode-se ver que a verdadeira oração inclui uma
abundância de louvor. Adoração de nosso maravilhoso Deus deveria ter a
precedência sobre nossas petições egoísticas e ego-centralizadas. Como nossas
vidas seriam diferentes se orássemos assim uns pelos outros continuamente!
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