Interpretação de Efésios 1
Efésios 1
Efésios 1 é um capítulo rico e teológico que dá o tom para toda a carta, enfocando as bênçãos e privilégios dos crentes em Cristo. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Efésios 1:
1. Bênçãos Espirituais em Cristo (Efésios 1:3-14): Esta seção destaca as bênçãos espirituais que os crentes receberam em Cristo. Enfatiza que Deus os escolheu antes da fundação do mundo para serem santos e irrepreensíveis aos Seus olhos, predestinando-os para adoção como Seus filhos. Estas bênçãos são resultado da graça de Deus e são derramadas sobre os crentes, incluindo a redenção através do sangue de Cristo, o perdão dos pecados e o selamento do Espírito Santo como garantia da sua herança.
2. Oração por Sabedoria Espiritual (Efésios 1:15-19): Paulo expressa sua gratidão pela fé e pelo amor dos crentes de Éfeso e oferece uma oração por eles. Ele pede que Deus lhes conceda um espírito de sabedoria e revelação no conhecimento Dele. Esta oração sublinha a importância da sabedoria e compreensão espiritual na vida cristã.
3. Exaltação de Cristo (Efésios 1:20-23): Esta seção destaca a posição exaltada de Cristo. Afirma que Deus ressuscitou Cristo dentre os mortos e O assentou à Sua direita nos lugares celestiais, muito acima de todas as autoridades e poderes terrenos. Cristo é descrito como o cabeça sobre todas as coisas da igreja, que é o Seu corpo. Esta imagem enfatiza a autoridade e supremacia de Cristo no reino espiritual e na vida da igreja.
Em Efésios 1, o autor enfatiza as bênçãos e privilégios espirituais que os crentes têm em Cristo. Essas bênçãos incluem eleição, adoção, redenção, perdão e selamento do Espírito Santo. O capítulo também enfatiza a importância da sabedoria e compreensão espiritual na vida cristã. Conclui destacando a posição exaltada de Cristo como cabeça da igreja e Sua autoridade sobre todas as coisas.
Interpretação
No geral, Efésios 1 estabelece um forte fundamento teológico para o resto da carta, enfatizando a identidade e a posição dos crentes em Cristo e o status exaltado do próprio Cristo. Serve como um lembrete das riquezas da graça de Deus e das bênçãos que estão disponíveis para aqueles que estão em Cristo.
As saudações em todas as epístolas de Paulo são notavelmente semelhantes. Embora esta seja a fórmula epistolar comumente usada por ele, há uma falta do elemento pessoal em Efésios mais do que na maioria das cartas de Paulo.
1:1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus. Como nas outras epístolas, Paulo enfatiza que ele foi chamado por Deus para o especial ofício de apóstolo. Aos santos. No N.T., os santos são aqueles que foram separados, isto é, todos os crentes. Que vivem em Éfeso. Veja Introdução. E fiéis. Os crentes (cons. Gl. 3:9). A ausência do artigo diante da palavra fiéis no original indica que os santos são os crentes. Em Cristo Jesus. Uma frase importante nesta epístola. Não importa qual seja a localização geográfica dos santos, sua verdadeira posição diante de Deus é em Cristo Jesus. Foram colocados em união vital com ele para que possam ser identificados com ele (cons. Jo. 14:20).
1:2 Graça a vós outros e paz. Esta mesma saudação se encontra em todas as epístolas de Paulo, embora nas pastorais fosse acrescentada a palavra misericórdia. A graça deve sempre preceder a paz. A palavra grega para graça, karis, está relacionada com a saudação comum grega, karein, mas dá à saudação uma ênfase visivelmente cristã. Paz é a costumeira saudação hebraica. Da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. A preposição "de" da contração do não se encontra no original. Aqui está uma conexão muito íntima, que prova a identidade do Pai com o Senhor Jesus Cristo na sua essência.
1:3-14 O crente é apresentado como o recipiente de toda sorte de bênção espiritual. Portanto ele não necessita buscar bênçãos adicionais de Deus. Deve, pelo contrário, apropriar-se das que já foram fornecidas. Todas as três Pessoas da Santa Trindade participam desta provisão de bênçãos espirituais.
1:3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. “Quase todas as epístolas de Paulo começam com alguma atribuição de louvor” (Alf). Observe o jogo de palavras no uso de bendito. Que nos tem abençoado. Somos convocados a bendizer a Deus, o qual já nos abençoou a nós. Mas é claro que Deus nos tem abençoado pelo que realizou, enquanto a nossa bênção em retribuição é de palavras, isto é, de louvor. Ele é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Isto o identifica como o Deus verdadeiro, não alguma divindade falsa ou imaginária. A única maneira de conhecê-lo é por intermédio de Jesus Cristo (cons. Jo. 14:6). Nas regiões celestiais. Embora o adjetivo apareça em outro lugar, esta frase só ocorre em Efésios, em todo o N.T. Aparece aqui cinco vezes – 1:3; 1:20; 2:6; 3:10; 6:12. A palavra regiões não está no original. Indica aqui as esferas ou reinos de nosso relacionamento em Cristo. Ainda não nos encontramos no céu, mas nossa vocação é celeste; o poder de nosso viver diário é celeste; a provisão de Deus é celeste. Observe a constante repetição da frase, em Cristo, na epístola. Somente nEle poderíamos ter recebido estas bênçãos.
1:4 Como nos escolheu. Em grego está na voz média; isto é, Ele nos escolheu para Ele mesmo. As Escrituras muito têm a dizer sobre o amor eletivo de Deus. As Escrituras nunca apresentam a doutrina da eleição como algo que devamos temer, mas sempre como figo pelo que os crentes devem se regozijar. Observe que fomos escolhidos nEle, isto é, em Cristo, e que esta escolha aconteceu antes da fundação do mundo. Os propósitos de Deus são eternos.
Para sermos santos e irrepreensíveis perante ele. Esse é o propósito para o qual Deus nos escolheu em Cristo (cons. Rm. 8:29; Judas 24, 25). A frase em amor provavelmente pertence ao que vem a seguir e não ao que o precede; isto é, em amor nos predestinou (Nestle).
1:5 Nos predestinou. A escolha que Deus fez de nós em Cristo foi para um propósito eterno. Para a adoção de filhos. A palavra traduzida para adoção de filhos foi usada cinco vezes no N.T. (Rm. 8:15, 23; 9:4; Gl. 4:5; e aqui). Refere-se, à nossa colocação em posição de filhos. Não é a ideia moderna de adoção, mas antes a colocação de uma criança na posição de filho adulto. O propósito de Deus é que todos os crentes deviam ser filhos adultos em sua família, na qual Cristo é o “primogênito” (Rm. 8:29).
Segundo o beneplácito de sua vontade. Qualquer tentativa de fundamentar a eleição e predestinação divinas em méritos humanos, quer antevistos ou quaisquer outros, é contrário às Escrituras e fútil. O motivo da escolha divina não se encontra em nós, mas apenas nEle (cons. Tt. 3:5; Ef. 2:8-10). A vontade de Deus é o fator determinante.
1:6 Para louvor da glória de sua graça. Observe o uso triplo desta expressão (cons. vs. 12,14). As três ocorrências desta frase assinalam a parte que as três Pessoas da Deidade desempenham na nossa salvação, dando-nos bênçãos que já recebemos. A mais importante motivação do universo é a glória de Deus. O “Westminster Shorter Catechism” expressa isto bem na resposta à sua primeira pergunta, “Qual é o principal objetivo do homem?” “O principal objetivo do homem é glorificar a Deus, e deleitar-se nEle eternamente”. Sua graça. “A graça é imerecida, sem jus e irrecompensável” (Chafer). É o favor autodependente de Deus concedido aos homens pecadores, que apenas merecem a Sua ira. Que ele nos concedeu gratuitamente, no Amado. Mais literalmente, a qual livremente outorgou-nos. Aqui está um novo jogo de palavras no original – “Sua graça, a qual Ele favoreceu”. É difícil expressá-lo em português. Esta concessão é no Amado; isto é, no Senhor Jesus Cristo (cons. Cl. 1:13; Mt. 3:17).
1:7 No qual – isto é, Cristo – temos a redenção. Esta é a nossa possessão presente. Pelo seu sangue. As Escrituras apresentam o sangue de Cristo como o infinito preço da transação que envolveu a nossa redenção (cons. Atos 20:28; I Co. 6:20; I Pe. 1:18-20). Colossenses 1:14 faz paralelo com este versículo. A remissão dos pecados. Os fariseus fizeram a observação (pelo menos uma vez) de que nenhum homem pode perdoar pecados a não ser Deus (Mc. 2:7). O fato do Senhor Jesus Cristo perdoar é evidência de que é Deus. Segundo a riqueza da sua graça. Novamente a ênfase sobre a completa ausência de mérito humano (cons. Rm. 5:21). Observe a palavra riqueza. Sua graça não tem limites.
1:8 Que Deus derramou abundantemente sobre nós. Deus abunda sob todos os aspectos. Ele é o Infinito. A sabedoria do Senhor Jesus Cristo é ilimitada, e Ele fez abundar para conosco a Sua sabedoria que foi posta à nossa disposição, como indica o versículo seguinte.
1:9 Desvendando-nos. A explicação de sua abundância. O mistério. No N.T. – a palavra mistério (literalmente, segredo) indica algo que não foi claramente revelado antes, mas agora esclarecido. Segundo o seu beneplácito, que propusera em Cristo. Vemos novamente que Deus é completamente autodeterminante e auto-suficiente.
1:10 Na dispensação da plenitude dos tempos. A palavra dispensação significa “mordomia”. Ela é usada no N.T, para se referir às diferentes administradores das bênçãos de Deus. Evidentemente a dispensação da plenitude dos tempos é a mordomia final confiada aos homens, a qual levará os propósitos de Deus a serem desfrutados pela história humana. O propósito mencionado resume-se na expressão, de fazer convergir nEle todas as coisas. Esta é uma observação literária (Robertson) – “que colocaria todas as coisas debaixo de Cristo” (cons. Cl. 1:8). Todas as coisas inclui toda a criação. Uma vez que Cristo é preeminente no propósito de Deus dentro do universo e na Igreja, o indivíduo que não tem Cristo preeminente em sua vida está inteiramente em desarmonia com propósito do Pai.
1:11 No qual fomos também feitos herança. Há uma diferença de opinião quanto ao grego nesta passagem – se está na voz ativa ou passiva. Esta última parece a mais provável, e assim poderíamos traduzir como consta. Somos herança de Cristo, como Ele é a nossa.
Predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as causas, conforme o conselho da sua vontade. As palavras predestinados, propósito, conselho e vontade têm íntima ligação. Não há declaração mais clara ou mais sublime em lugar algum das Escrituras referente à soberania de Deus. Correndo através de toda a Bíblia estão as linhas paralelas da soberania de Deus e da responsabilidade do homem. Não podemos reconciliá-las, mas podemos crer em ambas porque ambas são ensinadas na Palavra.
1:12 A fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo. Alguns creem que “nós” aqui se refere aos judeus, por causa da expressão de antemão esperamos. Isto parece provável à vista do contraste entre o nós do versículo 12 e o vós do versículo 13. Pará louvor da sua glória. Isto demarca a segunda seção nesta grande tríade.
1:13 Em quem também vós. Isto é, os gentios, em contraste aos judeus. Depois que ouvistes a palavra da verdade. Quando vocês ouviram a palavra da verdade, ou a palavra que consiste da verdade. Isto está igualado mais adiante com o evangelho da vossa salvação – as boas novas que lhes trouxeram à salvação. Tendo nele também crido, fostes selados. Literalmente, em quem também quando vocês creram, foram selados. Este selar não aconteceu como algo subsequente à salvação mas foi simultâneo com a salvação. O ministério da confirmação do Espírito Santo está mencionado diversas vezes no N.T. (cons. lI Co. 1:22; Ef. 4:30). Um selo indica posse e segurança. O Espírito Santo é o próprio selo. Sua presença garante a nossa salvação. Com o Santo Espírito da promessa. O próprio Espírito Santo é o objeto ou o conteúdo da promessa que foi dada.
1:14 O qual é o penhor da nossa herança. Isto é, a garantia de que todo o resto virá depois. Até ao resgate da sua propriedade. Jesus Cristo nos comprou para Si mesmo e deu-nos o Espírito Santo como uma garantia de que a redenção, que tão maravilhosamente teve início, será completada. Novamente encontramos o refrão, em louvor da sua glória. A repetição deste refrão faz-nos lembrar novamente o Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo – três Pessoas, mas um só Deus.
1:15-23 A oração que se segue baseia-se no parágrafo justamente concluso. Paulo pode orar dessa maneira porque Deus fez todas essas coisas pelo crente, levando-o desde o Seu eterno propósito na eternidade do passado até a consumação da redenção na eternidade futura. Observe que, contrastando com a maioria das nossas orações, a intercessão de Paulo foi primeiramente pelo bem-estar espiritual daqueles por quem ele orava.
1:15 Eu também, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus, e o amor para com todos os santos. Às vezes nos esquecemos que, depois de salvas as pessoas, deveríamos orar com a mesma veemência que oramos pela sua salvação. A fé e o amor desses crentes efésios eram um incentivo para Paulo orar pelo seu continuado crescimento espiritual.
1:16 Não cesso de dar graças por vós. Por vós, isto é, graças a Deus pelo que Ele fizera pelos efésios.
Fazendo menção de vós nas minhas orações. Paulo não considerava a oração como algo vago e indefinido. Ele se lembrava especificamente deles e de suas necessidades diante de Deus.
1:17. Que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo (cons. v.3), o Pai da glória. Isto é, o Pai caracterizado pela glória. Vos conceda espírito de sabedoria e de revelação. Provavelmente isto é objetivo; isto é, o Espírito Santo que dá sabedoria e revelação. No pleno conhecimento dele. Esta expressão indica pleno conhecimento experimental.
1:18. Iluminados os olhos do vosso coração. “O coração nas Escrituras é o próprio âmago e centro da vida” (Alf). Para saberdes. Só quando Deus nos ilumina é que podemos realmente saber o que Ele quer que saibamos. Qual é a esperança do seu chamamento. Esperança nas Escrituras é a certeza absoluta do bem futuro. A riqueza da glória da sua herança nos santos. Compare com as "riquezas da sua graça" no versículo 7 (cons. também Dt. 33:3, 4).
1:19 A suprema grandeza do seu poder. As frases que se seguem acumulam palavras que denotam todo o poder de Deus sobre nós.
1:20 O qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos. No V.T. o padrão para o poder de Deus é frequentemente o livramento do Egito, especialmente a travessia do Mar Vermelho. Mas aqui está um padrão de poder muito maior. O próprio poder de Deus que ressuscitou Cristo dos mortos está à nossa disposição, e podemos experimentá-lo. Fazendo-o sentar à sua direita. Provavelmente as diversas referências a Cristo assentado à direita de Deus, no N.T., tem sua origem no Salmo 110. Nos lugares celestiais. Nesta segunda vez, das cinco em que foi usada esta frase, o sentido é evidentemente local: o Senhor Jesus está literal e corporalmente no céu.
1:21. Acima de todo principado... e poder. Todo no sentido de “cada”. Diferentes palavras foram usadas no N.T. para as diversas categorias e espécies de seres celestiais, para ambos, anjos santos e decaídos. Compare esta exaltação de Cristo com Fp. 2:8-11. No presente século. Uma palavra que se refere a tempo – nesta dispensação.
1:22 E pôs todas as coisas debaixo dos seus pés. Novamente a alusão é ao Sl. 110:1 (cons. também Sl. 8:6). Isto indica a última vitória completa de Cristo. E, para ser o cabeça sobre todas (cons. Jo. 3:16). Esta é a primeira menção, na epístola de Cristo como a Cabeça da Igreja, uma verdade que será posteriormente desenvolvida de maneira mais completa (veja Introdução).
1:23 A qual é o seu corpo. Embora falemos disto como uma figura, é mais do que isso. Indica a completa união da Igreja com o Senhor Jesus, a absoluta identificação dos crentes com ele (cons. I Co. 12: 12). A plenitude. Aquilo que está cheio. “Ela (a Igreja) é a contínua revelação de Sua vida divina na forma humana” (JFB). Pode-se ver que a verdadeira oração inclui uma abundância de louvor. Adoração de nosso maravilhoso Deus deveria ter a precedência sobre nossas petições egoísticas e ego-centralizadas. Como nossas vidas seriam diferentes se orássemos assim uns pelos outros continuamente!