Estudo sobre Mateus 25:1-46

Mateus 25

Se olharmos esta parábola com olhos ocidentais nos pode parecer que relata uma história pouco natural e inventada. Mas, de fato, trata-se de uma história que poderia ter ocorrido em qualquer momento em uma aldeia da Palestina e que pode acontecer ainda hoje.

Em qualquer aldeia da Palestina um casamento era um acontecimento muito importante. Toda a aldeia saía para acompanhar o casal a seu novo lar e usavam o caminho mais longo possível para receber os bons desejos da maior quantidade de gente que pudessem. "Todos", segundo o dito judeu, "dos seis até os sessenta anos seguirão o tambor nupcial." Os rabinos reconheciam que qualquer homem podia abandonar inclusive o estudo da Lei para participar da alegria de uma festa de bodas.

Agora, o tema central deste relato se apoia sobre um costume judeu que é muito diferente de algo que nós conheçamos. Quando um casal se casava na Palestina não saíam em viagem de bodas; ficavam em sua casa. Durante uma semana recebiam a seus amigos; estes os tratavam, e inclusive lhes falavam como a um príncipe e a uma princesa; era a semana mais feliz de suas vidas. Escolhia-se os amigos que assistiriam a essas festividades. As virgens néscias não só se perderam a cerimônia do casamento mas também essa semana de alegria, porque não estavam preparadas.

O relato sobre a forma como perderam a festa corresponde perfeitamente à realidade. O doutor J. Alexander Findlay nos conta o que ele mesmo viu na Palestina. Escreve:

“Quando nos aproximamos das portas de uma cidade da Galiléia vi dez jovens vestidas com roupas muito alegres que desciam pelo caminho diante de nosso carro, enquanto tocavam algum tipo de instrumento musical. Ao perguntar o que faziam, o intérprete me respondeu que foram acompanhar à noiva até que chegasse seu futuro esposo. Perguntei-lhe se havia alguma possibilidade de ver a cerimônia mas fez um gesto negativo com a cabeça e me disse: ‘Pode ser esta noite, ou amanhã de noite, ou dentro de quinze dias, ninguém sabe com certeza.’ Depois me explicou que uma das melhores coisas que se podiam fazer se fosse possível, em um casamento de classe média na Palestina, era surpreender o cortejo nupcial dormindo. O noivo chega em forma imprevista, às vezes em meio da noite. É certo que a opinião pública exige que envie a um homem pela rua que exclame: ‘Olhem! Está chegando o noivo!’, mas isso pode acontecer em qualquer momento; de maneira que o cortejo deve estar preparado para sair à rua a encontrá-lo, quando quer que decida vir...

“Outra das coisas importantes é que não se permite sair à rua a ninguém depois do anoitecer sem uma lâmpada acesa e, além disso, uma vez que chegou o noivo e se fechou a porta, não se deixa entrar os que chegam tarde para a cerimônia."

Como se vê, tudo o que Jesus descreveu se repete no século vinte. Não se trata de um conto, mas sim de uma parte da vida cotidiana de um povo da Palestina.

Como acontece em muitas das parábolas, esta tem um significado imediato e local, e outro sentido mais amplo e universal.

Em seu sentido imediato estava dirigida contra os judeus. Eles eram o povo eleito, toda sua história deveria ter sido uma preparação para a vinda do Filho de Deus; deveriam ter estado preparados para recebê-lo quando chegasse. Pelo contrário, não estavam preparados e portanto ficaram do lado de fora. Aqui vemos dramaticamente apresentada a tragédia da falta de preparação dos judeus.

Mas esta parábola encerra pelo menos duas advertências universais.

(1) Adverte-nos que há certas coisas que não se podem obter no último momento. Já é muito tarde para que o estudante prepare seus exames quando chegou o momento de prestá-los. Quando oferecem um trabalho a um homem já é muito tarde para adquirir uma habilidade ou capacidade. O mesmo acontece com nós e Deus. É fácil deixar as coisas para último momento de maneira que já não podemos nos preparar para nos defrontar com Deus. Quando Maria de Orange estava em seu leito de morte, seu capelão tratou de lhe ensinar o caminho da salvação. A resposta da rainha foi: "Não deixei esse assunto para este momento." Chegar tarde sempre é uma tragédia.

(2) Adverte-nos que há certas coisas que não se podem pedir emprestadas. As virgens néscias não puderam pedir azeite emprestado quando descobriram que o necessitavam. O homem não pode pedir emprestada uma relação com Deus; deve possuí-la. Não pode pedir emprestada uma personalidade, deve estar revestido dela. Não podemos viver sempre do capital espiritual que outros reuniram. Há certas coisas que devemos ganhar ou possuir por nossa conta, porque não podemos pedi-las a outros.
Não há nada mais carregado de lágrimas de arrependimento que o som das palavras: É demasiado tarde.

Estudo sobre Mateus 25:14-30

Como no caso da parábola anterior, esta também tinha um ensino imediato para aqueles que a ouviam pela primeira vez e uma série de ensinos eternos para nós, na atualidade. Esta parábola sempre foi chamada como a parábola dos talentos. Na Palestina o talento não era uma moeda e sim uma medida de peso; de maneira que o valor do talento dependia de se era de moedas de cobre, ouro ou prata. O metal mais comum era a prata e o valor de um talento de prata era ao redor de 560 dólares.

Não há dúvida de que, em sua intenção original, toda a atenção da parábola se concentra no servo inútil que recebeu um talento. A quem representa este servo? E a quem Jesus adverte e observa? É evidente que o servo inútil representa os escribas e fariseus, e sua atitude para com a Lei e para com a verdade de Deus. O servo inútil tomou seu talento e o enterrou a fim de poder devolvê-lo a seu senhor tal como este lhe deu. Todo o objetivo vital dos escribas e fariseus era obedecer a Lei tal como Deus a entregou. Segundo suas próprias palavras, queriam "construir um cerco ao redor da Lei".

Qualquer mudança, desenvolvimento, alteração, algo novo era um anátema. Seu método implicava a paralisação da verdade religiosa e o ódio para com tudo o que era novo. Tal como o homem do talento, queriam manter tudo como estava, e é por isso que são condenados. Nesta parábola Jesus nos diz que não pode haver religião sem riscos, e que Deus não quer ter nada a ver com uma mente fechada. Mas esta parábola contém muito mais que isso.

(1) Diz-nos que Deus dá diferentes dons aos homens. Um homem recebeu cinco talentos, outro dois e o outro um. O que importa não é o talento do homem e sim a forma em que faz uso dele. Deus jamais exige do homem habilidades que este não possui, mas exige que empregue a fundo as habilidades que tem. Os homens não são iguais quanto a seus talentos, mas podem ser iguais em seu esforço. A parábola nos diz que qualquer que seja o talento que possuamos, grande ou pequeno, devemos entregá-lo para servir a Deus.

(2) Diz-nos que a recompensa do trabalho bem feito é mais trabalho. Aos dois servos que tinham atuado bem não se lhes diz que se sentem a descansar sobre os louros. São dadas tarefas maiores e responsabilidades mais sérias na obra do senhor. A recompensa do trabalho não é o descanso e sim mais trabalho.

(3) Diz-nos que o homem que recebe um castigo é aquele que se recusa a fazer algum esforço. O homem que recebeu um talento não o perdeu, limitou-se a não fazer nada com ele. Inclusive se se tivesse arriscado e o tivesse perdido, teria sido melhor que não fazer nada com ele. O homem que tem um só talento sempre se sente tentado a dizer: "Tenho um talento tão pequeno, e posso fazer tão pouco com ele, que não vale a pena provar, porque minha contribuição seria insignificante." Mas a condenação se dirige àquele que, com um só talento, recusa-se a usá-lo e não quer arriscá-lo em favor do bem comum.

(4) Diz-nos que esta é uma lei da vida que tem validade universal. Diz-nos que quem tem lhe será dado, e quem não tem, inclusive o que tem lhe será tirado. O sentido da frase é o seguinte: Se um homem tiver um talento e o usa, é cada vez mais capaz de fazer mais coisas com ele. Mas se tiver um talento, e não o usa, ele o perderá irremediavelmente. Se tivermos alguma capacidade para algum jogo ou artesanato, se tivermos habilidade para fazer algo, quanto mais empreguemos essa capacidade e esse dom, maior será o trabalho que seremos capazes de fazer. Enquanto que se não o usamos, o perderemos. Isto se aplica tanto ao jogo do golfe, como a tocar piano, a cantar, a escrever sermões, a esculpir madeira ou a pensar. A vida nos ensina que a única forma de manter um dom é empregá-lo a serviço de Deus e de nosso próximo.

Estudo sobre Mateus 25:31-46

Esta é uma das parábolas mais gráficas que Jesus pronunciou e seu sentido é tão claro como a água. O ensino é a seguinte: Deus nos julgará de acordo a nossa resposta à necessidade humana. O julgamento de Deus não depende do conhecimento que adquirimos, nem da fama que nos granjeamos, nem da fortuna que reunimos, mas sim da ajuda que brindamos. Mas esta parábola nos ensina certas coisas a respeito dessa ajuda.

(1) Deve ser uma ajuda nas coisas simples. As coisas que escolhe Jesus, dar de comer a alguém que tem fome, dar de beber a quem tem sede, acolher a um estranho, respirar ao doente, visitar detento, são coisas que qualquer pessoa pode fazer. Não se trata de dar milhares de dólares nem de escrever nossos nomes nos anais da história; trata-se de brindar uma ajuda singela e humana às pessoas com quem nos encontramos todos os dias. Nunca houve outra parábola que abrisse tanto o caminho para a glória às pessoas mais simples.

(2) Deve ser uma ajuda desinteressada. Aqueles que ajudaram não o fizeram pensando que estavam ajudando a Jesus e portanto acumulando méritos eternos; ajudaram porque não podiam evitá-lo. Foi a reação natural, instintiva, desinteressada, do coração amante. Enquanto que, por outro lado, a atitude de quem não ajudou foi a seguinte: "Se tivéssemos sabido que foi você, teríamos ajudado de todo coração, mas pensamos que se tratava de um homem vulgar a quem não valia a pena ajudar." Segue sendo verdade sobre certo tipo de gente que só está disposta a brindar alguma ajuda em troca de agradecimento, louvor e publicidade; mas isso não é ajuda, não é mais que fomentar louvor próprio. Essa ajuda não é generosidade: só é egoísmo disfarçado. A ajuda que obtém o louvor de Deus é aquela que se dá apenas por si mesma.

(3) Jesus nos confronta com a magnífica verdade de que toda ajuda desse tipo é dada a Ele, e toda ajuda que se nega, é negada a Ele. Como pode ser? Se realmente queremos agradar o coração de um pai, se queremos comovê-lo para que experimente gratidão, a melhor forma de fazê-lo é ajudando a seu filho. Deus é o grande Pai; e a forma de ajudar o coração de Deus é ajudando a seus filhos, que são nossos próximos.

Houve dois homens que encontraram uma verdade sublime nesta parábola. Um deles foi Francisco de Assis. Era rico, poderoso, pertencia à aristocracia e tinha um caráter muito alegre. Mas não era feliz. Sentia que faltava algo em sua vida. Um dia saiu a passear a cavalo e se encontrou com um leproso, desagradável e repulsivo em sua doença. Algo fez com que Francisco desmontasse e rodeasse com seus braços a esse miserável e eis que, em seus braços, a cara do leproso se converteu no rosto de Cristo.

O outro foi Martín de Tours. Era um soldado romano e um cristão. Um dia frio de inverno entrava numa cidade quando um mendigo o parou e lhe pediu esmola. Martín não tinha dinheiro, mas o mendigo tremia de frio e Martín lhe deu o que tinha. Tirou sua capa de soldado, usada e gasta, partiu-a em duas e deu a metade ao mendigo. Essa noite teve um sonho. Viu os lugares celestiais, os anjos e Cristo no meio, e Jesus levava a metade da capa de um soldado romano. Um dos anjos lhe disse: "Mestre, por que leva essa capa velha e gasta? Quem lhe deu isso?" E Jesus respondeu com suavidade: "Deu-me meu servo Martín." Quando aprendermos a generosidade que ajuda os homens nas coisas mais simples de maneira desinteressada, nós também conheceremos a alegria de ajudar ao próprio Jesus Cristo.

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