Significado de Atos 14

Atos 14

Em Atos 14, Paulo e Barnabé continuam sua jornada missionária, viajando por várias cidades e encontrando oposição e sucesso em seus esforços evangelísticos. Eles enfrentam perseguição e apedrejamento em uma cidade, mas são recebidos de braços abertos em outra.

O capítulo também destaca a importância dos sinais e prodígios na confirmação da mensagem do evangelho, como Paulo cura um homem que era coxo de nascença, e o povo de Listra confunde Paulo e Barnabé com deuses depois de testemunhar esse milagre.

Apesar dos desafios que enfrentam, Paulo e Barnabé permanecem firmes em seu compromisso de compartilhar o evangelho e fortalecer os novos crentes que encontram.

Atos 14 enfatiza a importância da perseverança diante da oposição e o poder do Espírito Santo para confirmar a mensagem do evangelho por meio de sinais e maravilhas. Também destaca a importância de edificar novos crentes e fortalecer a igreja, mesmo em meio a circunstâncias difíceis.

I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento

Atos 14 prossegue o arco inaugurado em Atos 13 e encena, em cidades mistas e pagãs, como a Palavra corre entre oposições, idolatrias e sinais do Reino, sob o selo de uma teologia que amarra Torá, Profetas, Salmos e evangelho. Em Icônio, Paulo e Barnabé começam, como de hábito, na sinagoga, e a “grande multidão” que crê é acompanhada de uma divisão que reproduz o Salmo real e sua hermenêutica cristã: “por que se enfurecem as nações?” (Salmo 2:1–2; Atos 14:1–2). A permanência “por muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3) retoma o padrão do Êxodo (Êxodo 7:3; Deuteronômio 34:10–12), reaparece como marca do ministério de Jesus (Lucas 7:22) e se torna critério apostólico (Hebreus 2:3–4). A trama para apedrejá-los (Atos 14:5) ecoa a sanção mosaica contra o suposto blasfemo (Deuteronômio 13:10; Deuteronômio 17:5) e antecipa a própria experiência de Paulo “uma vez apedrejado” (2 Coríntios 11:25), de modo que a fuga estratégica para Listra e Derbe cumpre a instrução do Mestre de, sob perseguição, partir para outra cidade sem interromper o anúncio (Mateus 10:23).

Em Listra, a cura do aleijado “de nascença”, que “nunca tinha andado”, com a ordem performativa “põe-te em pé direito sobre os pés”, reencena, agora por Paulo, a cena petrina do templo (Atos 14:8–10; 3:1–10) e ativa Isaías: “fortalecei as mãos frouxas... então o coxo saltará como cervo” (Isaías 35:3–6). O olhar que discerne “fé para ser curado” (Atos 14:9) dialoga com Jesus “vendo a fé” (Marcos 2:5), e o salto súbito com o léxico lucano de restauração integral (Lucas 7:22; Atos 3:8). A explosão popular, que identifica Barnabé com “Zeus” e Paulo com “Hermes” e prepara sacrifícios com bois e grinaldas (Atos 14:11–13), chama os apóstolos a rasgar as vestes em sinal de horror (2 Reis 22:11; Mateus 26:65) e a reencenar, em cenário greco-romano, a recusa cristã de toda divinização da criatura, como farão Paulo e Barnabé novamente em Listra (Atos 14:14–18) e, em contraste, Herodes Agripa receberá como blasfêmia em Cesareia (Atos 12:21–23).

O pequeno kerygma a gentios de Listra condensa uma “apologética da criação” coerente com a Escritura inteira e com Atos 17. O chamado a “converter-se destas vaidades ao Deus vivo” (Atos 14:15) retoma o refrão profético contra os “ídolos vãos” (Jeremias 2:5; Salmos 31:6; Jonas 2:8) e antecipa a memória paulina dos tessalonicenses, que “se converteram dos ídolos a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1 Tessalonicenses 1:9). A fórmula “o Deus que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há” é a confissão criacional que percorre a Bíblia (Êxodo 20:11; Neemias 9:6; Salmos 146:6) e reaparece na proclamação cristã (Atos 4:24; Apocalipse 14:7). Quando Paulo afirma que Deus, “nas gerações passadas, permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos, embora não tenha deixado de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos dos céus chuvas e estações frutíferas, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações” (Atos 14:16–17), ele articula a paciência governante do Altíssimo (Deuteronômio 32:8–9; Salmos 67) com a “testemunha comum” da bondade providente (Deuteronômio 11:14; Salmos 65:9–13; 104:14–15), a mesma que, segundo Paulo, torna “inexcusáveis” os povos (Romanos 1:19–20) e cuja “bondade” visa conduzir ao arrependimento (Romanos 2:4). Trata-se de uma homilia de Gênesis a Isaías em praça pública: antes de citar os profetas, ele convoca a criação e as estações como oráculos de Deus.

A seguir, a chegada de opositores de Antioquia e Icônio, que incitam o apedrejamento de Paulo e o arrastam para fora, pensando que está morto (Atos 14:19), reflui à morte de Estêvão (Atos 7:58–60) e às sanções deuteronômicas, mas desdobra o paradoxo pascal: “fomos atribulados... mas não destruídos” (2 Coríntios 4:8–10). O levantar-se de Paulo e seu retorno à cidade (Atos 14:20) soam como cumprimento do Salmo: “não morrerei, mas viverei, e contarei as obras do Senhor” (Salmos 118:17) e do refrão sapiencial: “muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra” (Salmos 34:19). Em Derbe, “muitos discípulos” são feitos (Atos 14:21), sinal de que a perseguição não interrompe a fecundidade da Palavra, que “corre” (Salmos 147:15; 2 Tessalonicenses 3:1), e de que a “mão do Senhor” continua abrindo portas (Atos 11:21; 14:27).

Na volta pelas mesmas cidades, a pastoral apostólica é moldada por Escritura e evangelho. “Fortalecendo as almas dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé e dizendo que, por muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22) vincula o caminho da igreja às bem-aventuranças dos perseguidos (Mateus 5:10–12), ao ensino do Mestre sobre a cruz e o seguimento (Marcos 8:34–35), à advertência de que “no mundo tereis aflições” (João 16:33) e à regra apostólica de que “todos os que querem viver piedosamente... serão perseguidos” (2 Timóteo 3:12). Ao “designarem presbíteros em cada igreja, tendo orado com jejuns, encomendaram-nos ao Senhor em quem haviam crido” (Atos 14:23), Paulo e Barnabé inscrevem a organização eclesial na tradição do povo: líderes levantados para compartilhar o peso (Êxodo 18:17–26; Números 11:16–17), imposição de mãos como confirmação e delegação (Números 27:18–23; Atos 6:6; 13:3), e a prática que Paulo consolidará como regra (Tito 1:5; 1 Timóteo 4:14). A “encomenda ao Senhor” ecoa o salmista — “entrega o teu caminho ao Senhor” (Salmos 37:5) — e antecipa o discurso de Mileto: “agora, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça” (Atos 20:32).

Ao regressarem pela Pisídia e Panfília, anunciando em Perge, passando a Atália e retornando a Antioquia da Síria, “de onde tinham sido recomendados à graça de Deus para a obra” (Atos 14:24–26), os missionários narram “tudo quanto Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé” (Atos 14:27). A imagem da “porta” liga-se às profecias de abertura da salvação às nações (Isaías 45:1–6; 60:11) e torna-se um tópico da missão paulina (1 Coríntios 16:9; 2 Coríntios 2:12; Colossenses 4:3). O relatório à igreja que os enviara cumpre a dinâmica de Atos 13:1–3 (missão como culto e envio) e confirma que o Servo luz das nações (Isaías 49:6) cumpre agora sua vocação na boca dos apóstolos (Atos 13:47), em cidades que saem da sinagoga para a praça, da Torá para a criação, da idolatria para o Deus vivo. Assim, Atos 14 mostra que o evangelho, firmado na história de Israel e no Cristo ressuscitado, sabe falar tanto aos que conhecem Moisés quanto aos que só conhecem as chuvas e as colheitas; que a idolatria não resiste à parrésia que aponta para o Criador; que a perseguição não detém a Palavra; e que a igreja, entre tribulações e gozo do Espírito, amadurece com presbíteros, jejum, oração e prestação de contas, até que Aquele que “fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há” seja confessado em Icônio, Listra, Derbe e além, abrindo portas de fé aos gentios até os confins (Êxodo 20:11; Salmos 146:6; Atos 1:8; 14:27).

II. Comentário de Atos 14

Atos 14:1-5 Seguindo um plano previamente estabelecido, Paulo e Barnabé foram primeiro à sinagoga dos judeus que ficava em Icônio, uma província a leste da Frigia. O texto diz que uma grande multidão (v. l), tanto de judeus como de gregos, creu. No entanto, os judeus incrédulos começaram a se opor à mensagem dos apóstolos. Como tal oposição foi pequena no início, Paulo e sua equipe puderam permanecer ali pregando o evangelho por muito tempo. Em seu estilo de narrativa histórico, Lucas não diz quanto tempo esse período durou, tornando quase impossível fixar uma cronologia exata para as viagens de Paulo. Por fim, os judeus hostis conseguiram incitar um motim que levou Paulo e Barnabé a fugir de Icônio. O versículo 3 diz que a mensagem do evangelho era a palavra da sua graça e que o ministério deles foi seguido por sinais e prodígios, ou seja, por milagres.

Atos 14:1-7 Paulo e Barnabé falaram com autoridade porque pregavam a verdade. O poder de Deus não está na pessoa que testifica, mas no que é testificado.

Atos 14:8-13 Os deuses [...] desceram até nós. Ovídio, um poeta romano, conta uma lenda em que Zeus e Hermes foram até a região da Frigia disfarçados como mortais em busca de abrigo. Depois de serem rejeitados em mil lares, eles encontraram abrigo na casa humilde de um casal já idoso. Em gratidão à hospitalidade do casal, os deuses transformaram a humilde casa em um templo com telhado de ouro e colunas de mármore. Por outro lado, todas as casas das pessoas que não haviam sido hospitaleiras foram destruídas. Essa antiga lenda pode ter sido a razão pela qual Paulo e Barnabé foram tratados como deuses. Depois de testemunharem a cura de um coxo, eles não queriam cometer o mesmo erro que cometera os seus ancestrais.

Atos 14:14 Rasgaram as suas vestes. Rasgar as vestes era uma forma de os judeus demonstrarem consternação e sofrimento. Esse costume remonta a Josué e Calebe, que rasgaram suas vestes depois de ouvirem o povo de Israel dizer que queria voltar para o Egito ao invés de entrar na terra prometida (Nm 14-6). Mais tarde, ao acusar Jesus de blasfêmia, o sumo sacerdote também rasgou as suas vestes (Mt 26.65). As vestes eram rasgadas geralmente do pescoço até onde as mãos alcançavam. Os judeus também faziam isso em tempos de aflição (Js 6.7) e, principalmente, em épocas de grande sofrimento (2 Sm 1.11).

Atos 14:15-18 O sermão de Paulo nesses três versículos é um resumo do sermão que ele pregou no Areópago (At 17.22-31). Esses gentios não conheciam as Escrituras nem criam nelas, então Paulo pregou verdades irrefutáveis e levou seus ouvintes à verdade bíblica.

Atos 14:19-22 Cuidando que estava morto. Talvez, o que o médico Lucas queira dizer aqui é que Paulo não estava morto. Entretanto, alguns creem que esse texto fala da ressurreição dele. Nós não sabemos se Paulo recebeu o milagre da cura ou da ressurreição.

Atos 14:23, 24 Eleito anciãos. E difícil saber se esses anciãos foram eleitos por Paulo e Barnabé ou por outros votos. Todavia, o processo descrito em Atos 6.1-7 para a escolha de sete homens nos dá uma pista do processo usada para a escolha dos anciãos aqui. Tanto a Igreja como os apóstolos estavam envolvidos no processo de seleção. Em cada igreja. Esse é um texto que mostra claramente a diversidade de anciãos que havia na liderança de cada Igreja. Isso é muito parecido com o que vemos em Atos 20.17, que também fala sobre a diversidade de anciãos na Igreja de Éfeso.

Atos 14:25, 26 E tendo anunciado a palavra. As boas-novas que o Messias veio para salvar do pecado.

Atos 14:27-28 Quão grandes coisas Deus fizera. A obra de Deus para salvar os gentios exigia uma mudança na teologia e na estratégia da Igreja.

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