Lucas 9 — Comentário de Matthew Henry
Comentário de de Lucas 9
Lucas 9
Versículos 1-9: O envio dos apóstolos; 10-17: A multidão é milagrosamente alimentada; 1827: A confissão de Pedro - Exortação à abnegação; 28-36: A transfiguração; 37-42: A expulsão de um espírito imundo; 43-50: Cristo refreia a ambição dos seus discípulos; 51-56: Repreensão pelo zelo errado que possuíam; 57-62: Renunciar a tudo por amor a Cristo.
Vv. 1-9. Cristo enviou os seus doze discípulos, que já eram capazes de ensinar ao próximo aquilo que receberam do Senhor. Não deveriam estar ansiosos por receber a estima do povo pela aparência exterior. Deveriam ir como estavam.
O Senhor Jesus é a fonte de poder e autoridade a quem todas as criaturas devem se submeter de um ou de outro modo; e se Ele acompanha a Palavra de seus ministros através de seu poder, para livrar os pecadores da escravidão de Satanás, podem ter a segurança de que Ele se ocupará de suprir as suas necessidades. Quando a verdade e o amor caminham unidos, e ainda assim alguns rejeitam e desprezam a mensagem de Deus, os homens ficam sem desculpas e a situação se torna um testemunho contra eles.
A consciência culpável de Herodes estava pronta para concluir que Jesus era alguém que havia sido levantado dentre os mortos. Desejava ver Jesus; e porque não foi vê-lo? Provavelmente por pensar que era inferior a Ele, ou para que não fosse novamente repreendido por causa dos pecados que praticava. Ao postergar esta situação, o seu coração se endureceu e quando viu Jesus, já tinha tantos preconceitos em relação a Ele como alguns outros o tinham (Lc 23.11).
Vv. 10-17. O povo seguiu a Jesus, e mesmo sendo aquele momento inoportuno, deu-lhes o que necessitavam. Ele lhes falou a respeito do reino de Deus. Curou aqueles que precisavam de saúde. Com cinco pães e dois peixes, Cristo alimentou cinco mil homens. Ele tem o cuidado de que nada de bom falte àqueles que o temem, e que o servem fielmente. Quando recebemos o consolo por meio de outras criaturas, devemos reconhecer que o recebemos da parte de Deus, e que somos indignos de recebê-lo. Todo consolo que tenhamos é devido à mediação de Cristo, por meio de quem toda a maldição foi retirada. A bênção de Cristo fará com que o pouco sirva para muito. Ele satisfaz a todas as almas famintas com a abundância de sua casa. Todas as sobras foram recolhidas: na casa de nosso Pai existe a provisão suficiente, e até mesmo para guardar. Em Cristo não estamos [imitados e nem em escassez.
Vv. 18-27. É um consolo indescritível que o Senhor Jesus seja o Ungido de Deus; isto significa que Ele foi designado para ser o Messias, e que está qualificado para isto. Jesus fala de seus sofrimentos e de sua morte. os discípulos deveriam estar longe de pensar em evitar que o Senhor sofresse, e também deveriam se preparar para sofrer. Muitas vezes nos deparamos com cruzes no caminho de nosso dever. E não devamos lançá-las para longe de nós quando nos estão reservadas, e sim tomá-las e levá-las com Cristo. Algo é bom ou mau para a nossa vida conforme seja bom ou mau para a nossa alma. O corpo não poderá estar feliz se a alma estiver disposta de tal modo que será infeliz no porvir; porém, a alma é capaz de estar feliz, ainda que o corpo esteja completamente aflito e oprimido neste mundo. Jamais devemos nos envergonhar de Jesus Cristo ou do seu Evangelho.
Vv. 28-36. A transfiguração de Cristo foi uma demonstração da glória com a qual virá a julgar o mundo; e foi uma chamada aos seus discípulos, para que sofressem com Ele. A oração transfigura e transforma o nosso rosto, e o faz brilhar. O Senhor Jesus, em sua transfiguração, estava disposto a falar de sua morte e dos seus sofrimentos. Mesmo em meio às maiores glórias na terra, recordemo-nos que não possuímos uma cidade definitiva neste mundo.
Que grande necessidade temos de orar a Deus pedindo que a sua graça nos vivifique! Ainda que os discípulos pudessem ser as testemunhas deste sinal do céu, após um momento foram despertados para que dessem um relato completo daquilo que havia acontecido. Aqueles que falam de fazer tabernáculos na terra, para os santos glorificados que estão no céu, não sabem o que estão dizendo.
Vv. 37-42. Quão deplorável é o caso deste menino! Estava sob o poder de um espírito maligno. As enfermidades desta natureza são mais aterradoras do que aquelas que surgem de causas apenas naturais. Quanta maldade o Diabo faz quando toma posse de uma pessoa! Porém, bem-aventurados são aqueles que têm acesso a Cristo! Ele pode fazer por nós aquilo que os discípulos não podem fazer. Uma palavra de Cristo foi suficiente para curar a criança. E quando os nossos filhos se recuperem de enfermidades, recebamo-los como curados pela mão de Cristo.
Vv. 43-50. Esta predição dos sofrimentos de Cristo era bastante clara, mas os discípulos não a compreenderam porque não estava de acordo com as suas idéias. Um pequenino é o símbolo pelo qual Cristo nos ensina a simplicidade e a humildade. Que honra maior do que esta um homem pode obter neste mundo, do que ser recebido pelos homens como mensageiro de Deus e de Cristo, e que Deus e Cristo se reconheçam como recebidos e bem-vindos nEle?
Se alguma sociedade de cristãos deste mundo teve motivos para fazer calar aqueles que não fazem parte de sua própria comunhão, esta sociedade foi aquela formada pelos doze discípulos neste tempo; porém, Cristo os advertiu para que não tornassem a fazê-lo. Mesmo não seguindo conosco, podem ser encontrados seguidores fiéis do Senhor Jesus Cristo e serem aceitos por Ele.
Vv. 51-56. Os discípulos não consideravam ser a conduta dos samaritanos mais um efeito de preconceito e fanatismo nacional do que de inimizade contra a Palavra e a adoração a Deus. Ainda que tenham se negado a receber a Cristo e aos seus discípulos, não os maltrataram nem os injuriaram, sendo portanto, o caso completamente diferente do caso de Acazias e Elias. Tampouco deram-se conta de que a dispensação do Evangelho seria marcada por milagres de misericórdia. Porém, acima de tudo, ignoravam os motivos dominantes em seus próprios corações, que eram o orgulho e a ambição carnal. O nosso Senhor os advertiu a este respeito. É fácil dizermos: venham e vejam o zelo que temos pelo nosso Senhor! E pensarmos que somos muito fiéis em sua causa, quando na realidade estamos seguindo os nossos próprios objetivos e até mesmo fazendo o mal, e não o bem ao nosso próximo.
Vv. 57-62. Nesta passagem há um que se apresenta para seguir a Cristo, alas parece ter>-se apressado e precipitado, sem calcular corretamente o custo desta decisão. Se quisermos seguir a Cristo, devemos deixar de lado o pensamento de grandes coisas neste mundo, coisas superiores à capacidade que cada um de nós possui. Não procuremos fazer profissão de sermos cristãos quando andarmos em busca de vantagens mundanas.
Nesta passagem há outro que parece estar decidido a seguir a Cristo, mas pede unta curta postergação. Cristo primeiro deu a este homem a chamada: "Segue-me". A religião nos ensina a sermos bons e misericordiosos, a mostrar piedade em casa e a respeitar os nossos pais; porém, não devemos converter tudo isto em desculpas para nos descuidarmos de nossos deveres para com Deus.
Aqui há ainda outro disposto a seguir a Cristo, porém, pede tempo para falar com os seus amigos a este respeito, colocar em ordem os seus assuntos domésticos e dar ordens sobre as suas atividades. Parecia ter mais preocupações do mundo em seu coração do que de fato deveria ter, e estava disposto a ceder à tentação que o afastaria de seu propósito de seguir a Cristo. Ninguém é capaz de fazer algo do modo que é devido, se estiver dedicando a sua atenção a outras coisas. Aqueles que entram na obra de Deus devem estar dispostos a seguir, ou de nada servirão. olhar para trás conduz a pessoa a retratar-se, e retroceder significa perdição. Somente aquele que perseverar até o fim será salvo.