Significado de Gênesis 36

Gênesis 36

Gênesis 36 é um capítulo que detalha a genealogia de Esaú, irmão de Jacó. O capítulo é principalmente uma lista dos descendentes de Esaú, incluindo os vários reis que governaram em Edom. Este capítulo dá uma ideia da estrutura política e social de Edom e sua relação com as tribos vizinhas.

Uma das características significativas de Gênesis 36 é a ênfase na riqueza de Esaú e seus descendentes. O capítulo observa o grande número de gado que Esaú acumulou durante sua vida, bem como as muitas cidades e territórios que seus descendentes vieram a possuir. Essa ênfase nas posses materiais destaca o contraste entre Esaú e Jacó, que receberam as bênçãos espirituais de seu pai Isaque.

Outro aspecto notável de Gênesis 36 é o relacionamento entre Esaú e seu irmão Jacó. Embora eles tenham se reconciliado mais tarde na vida, este capítulo sugere que eles levaram vidas muito separadas e distintas. Esaú se estabeleceu na terra de Edom, e seus descendentes se tornaram os governantes desta região. Jacó, por outro lado, permaneceu em Canaã e se tornou o pai das doze tribos de Israel.

No geral, Gênesis 36 fornece informações sobre a história dos edomitas e seu relacionamento com os israelitas. Também destaca as diferenças entre os irmãos Esaú e Jacó, e as maneiras pelas quais suas vidas e legados divergiram.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

Gênesis 36, frequentemente lido como um “repertório de nomes”, revela, quando examinado filológica e canonicamente, um ponto de contato sofisticado entre o hebraico massorético, a tradução grega da LXX e o léxico-sintaxe do Novo Testamento. A abertura com a fórmula de tôlĕdôt — “ʾēlleh tôlĕdôt ʿĒśāw (huʾ ʾĔdōm)” — é vertida na LXX por hautai hai geneseis Ēsau (houtos estin Edōm). Essa equivalência não é apenas terminológica: o par hebraico tôlĕdôt / grego genesis cria a ponte para o início de Mateus, biblos geneseōs Iēsou Christou (Mateus 1:1), onde a narrativa messiânica se apresenta conscientemente no registro genealógico moldado pela LXX. A recorrência do rótulo identitário “Esaú — este é Edom” (houtos estin Edōm) ancora a etnônimia que, no grego do NT, reaparecerá como “Idumeia” (Idoumaia; Marcos 3:8), mantendo em koiné a continuidade histórica de Edom na geografia do Segundo Templo.

O campo semântico de governo em Gênesis 36 é decisivo para esse diálogo. O hebraico nomeia repetidamente os “chefes/clã-líderes” de Edom com ʾallūp (por exemplo, Gênesis 36:15.17–19.40–43). A LXX traduz com hēgemōn (“chefe, governador”) e, por vezes, fala de “os hēgemones de Edom”—indicando uma chefia clânica. No NT, hēgemōn torna-se o termo padrão para o “governador” romano (por exemplo, Pilatos em Mateus 27:2), o que mostra como um mesmo lexema grego, instalado pela LXX em Gênesis 36 para lideranças tribais, foi reutilizado no ambiente imperial para autoridades provinciais. O efeito canônico é de continuidade semântica: “chefes” de Edom e “governadores” romanos compartilham, em grego bíblico, o mesmo núcleo hēg- de liderança.

Outra peça-chave é a lista régia: “Estes são os reis que reinaram em Edom antes de reinar um rei em Israel” (Gênesis 36:31). A LXX formula com precisão temporal: houtoi hoi basileis hoi basileusantes en Edōm pro tou basileusai basilea en Israēl. O par basileus/basileuein é o mesmo que estrutura a linguagem régia do NT (por exemplo, “basileus tōn Ioudaiōn” em Mateus 2:2), de modo que a enumeração edomita funciona como um laboratório léxico para pensar monarquia — seja a de Israel, seja a de Herodes e, teologicamente, a do Messias. A construção sintática com pro tou + infinitivo (pro tou basileusai) é também a temporalidade típica da koiné que o NT emprega, reforçando a coesão estilística entre corpora.

No plano da macrofraseologia, o capítulo alterna listas de descendência e listas político-territoriais. A LXX marca a passagem para a etnografia dos horeus com o etnônimo Chorraios (hebr. ḥōrî), assinalando uma prática tradutória: transcrever e helenizar identidades tribais que compõem o mosaico de Seir. A linguagem enumerativa grega (houtoi…, ta onomata…, repetição anafórica de kai) espelha a coordenação wayyiqṭol e a parataxe hebraica típica de genealogias — um estilo que o NT herdará em suas próprias listas e catálogos (por exemplo, Mateus 1:1–17). A LXX ainda registra, em Gênesis 36:40, que os hēgemones de Esaú estão “nas suas tribos, nos seus lugares, nas suas regiões, e nas suas nações (en tois ethnesin autōn).” O plural ethnē da LXX disponibiliza ao NT o termo que, por excelência, designará os “gentios/povos” na missão apostólica — sem deslocamento semântico entre Antigo e Novo Testamentos.

Um detalhe sociológico-teológico relevante é o motivo do afastamento de Esaú: “seus hyparchonta (bens/posses) eram muitos para habitarem juntos” (cf. Gênesis 36:6–8 LXX). O termo hyparchonta, comum em koiné para “posses”, reaparece no NT (por exemplo, Lucas 12:33), o que sugere que a LXX não apenas traduziu, mas estabilizou um vocabulário econômico-social que o cristianismo primitivo empregou em sua catequese sobre o uso dos bens. A fixação toponímica “Edom/Seir” em grego (Σηιρ; Edōm) é, ademais, o pano de fundo que permite a Marcos 3:8 mencionar Idoumaia, com memória histórica da linhagem de Esaú no espaço do NT.

A própria moldura de Gênesis 36 — “hautai hai geneseis Ēsauhoutos estin Edōm” — funciona como ponto de comparação com a autoapresentação de Mateus (biblos geneseōs). A semântica de genesis (origem/linhagem) e a retórica do registro (listas nominais, fórmulas repetidas, marcadores de chefia e de realeza) mostram que a LXX legou ao NT uma gramática para falar de identidade, governo e povo. Ao traduzir ʾallūp por hēgemōn e ao enunciar uma linha cronológica com pro tou basileusai basilea en Israēl, o tradutor de Gênesis 36 forneceu o léxico e a sintaxe pelos quais os cristãos de língua grega leram monarquia, autoridade e pertencimento (ethnē/Idoumaia)—sem que o NT precisasse “inventar” uma terminologia nova. O resultado é uma coerência canônica perceptível: o hebraico estabelece os referentes (Esaú/Edom, chefes, reis), a LXX os verte em koiné, e o NT reaproveita essa mesma língua para confessar o “Rei dos judeus” e convocar “todas as nações”.

II. Comentário de Gênesis 36

Gênesis 36.1 O termo hebraico traduzido como gerações significa genealogia (ver Gn 2.4). Ao nascer, Esaú tinha a pele e os cabelos vermelhos (Gn 25.25). Por isso, foi chamado de Edom, que quer dizer vermelho.

Gênesis 36.2, 3 Esaú escolheu suas esposas dentre as filhas de Canaã. Sendo assim, sua família não era diferente das demais famílias daquele lugar. Rebeca e Isaque se preocupavam por causa das esposas de Esaú (Gn 26.34,35; 28.6-9). Será que elas o levariam a abandonar o Senhor, o Deus vivo? Uma das esposas de Esaú era Ada, [em hebraico ornamento]. O pai dela era Elom, nome cujo significado é terebinto [espécie de erva aromática]. A outra esposa de Esaú era Oolibama. Seu nome significa minha tenda é um lugar elevado, filha de Aná [em hebraico Cante]. O nome da terceira esposa era Basemate, que significa perfumada. Pode parecer que há certa confusão com os nomes das esposas de Esaú em Génesis. As companheiras do filho mais velho de Jacó, citadas alguns capítulos antes, são: Judite, filha de Beeri, o hitita (Gn 26.34), Basemate, a filha de Elom, o hitita (Gn 26.34), e Maalate, filha de Ismael e irmã de Nebaiote (Gn 28.9). Já em Génesis 36.2, as mulheres deles são nomeadas como Ada, filha de Elom, o hitita; Oolibama (ou Aolibama), filha de Aná e filha (ou neta) de Zibeão, o heveu; e Basemate, a filha de Ismael e irmã de Nebaiote. A confusão entre os nomes das esposas de Esaú e as esposas dos filhos de Jacó pode ter ocorrido por causa de erros de escrita ao longo dos séculos. Algumas versões bíblicas procuraram corrigir a grafia dos nomes para mostrar coerência. Mas também é possível que duas das esposas de Esaú tivessem dois nomes, e que quatro, não três, tenham sido as mulheres de Esaú. A confusão dos nomes pode ser resolvida da seguinte maneira: (1) Judite, a filha de Beeri (Gn 26.34), pode não ter sobrevivido, ou talvez tenha deixado de ser esposa de Esaú. Ela não está incluída na lista das esposas no capítulo 36. (2) Basemate, a filha de Elom, o hitita (Gn 26.34), é a mesma pessoa que Ada, a filha de Elom, o hitita (Gn 36.2); ao que tudo indica, esta esposa de Esaú era conhecida por ambos os nomes. Contudo, ela é diferente de Basemate, a filha de Ismael (número 4, abaixo). (3) Oolibama (ou Aolibama), a filha de Aná e filha (ou neta) de Zibeão, o heveu, só é mencionada no capítulo 36. 4 - Maalate, filha de Ismael e irmã de Nebaiote (Gn 28.9), é a mesma pessoa que Basemate, a filha de Ismael e irmã de Nebaiote (Gn 36.2). Aparentemente, também era conhecida por ambos os nomes. Sendo assim, a confusão acerca dos nomes é menor do que aparenta. Da mesma forma, atualmente encontramos certos nomes que parecem recorrentes nas famílias, não apenas entre os filhos, mas também entre os cônjuges destes e seus familiares. Então, diferenciamos as pessoas ao chamá-las de “Zé” e “Zezinho” ou “Ana morena” e “Ana loura”.

Gênesis 36.4-8 Neste trecho, Gênesis descreve o crescimento da família de Esaú e de suas posses. Ele se mudou para os montes de Seir (NVI). Por causa da ocupação da família de Esaú, esta região seria chamada mais tarde de Edom, a terra vermelha (v. 43). A separação de Esaú e Jacó é similar à de Abraão e Ló (Gn 13.6-13).

Gênesis 36.6-8 A separação entre os dois irmãos provavelmente ocorreu durante a época em que Jacó obteve o direito de primogenitura (Gn 25.29-34) e a bênção que Isaque havia destinado a Esaú (Gn 27.18-29), um pouco antes de Jacó ter sido mandado para Harã (Gn 28.5). Quando Jacó retornou a Canaã, Esaú já estava morando no monte Seir (Gn 32.3), a sudeste do mar Morto.

Gênesis 36.9-19 Estes versículos fazem um paralelo com os versículos 1-8. Ambos são um registro da descendência de Esaú; embora estes se constituam uma lista um pouco maior. Os versículos 15-19 ampliam ainda mais a mesma listagem. A genealogia de Jacó é mais cuidadosamente explicada. Quando esses dados são agrupados, temos a seguinte genealogia: os filhos de Esaú, nascidos antes da saída de Canaã, são Elifaz, filho de Ada (Gn 36.4), Reuel, filho de Basemate (Gn 36.4), e Jeús, Jalão e Corá, filhos de Oolibama (Gn 36.5). Os filhos de Elifaz (filho de Esaú e Ada) são Temã, Omar, Zefô, Gaetã, Quenaz (Gn 36.11) e Amaleque, cuja mãe é a concubina Timna. Os filhos de Reuel (filho de Esaú e Basemate) são Naate, Zerá, Samá e Mizá (Gn 36.13). Não é citado o nome de nenhum filho dos filhos de Esaú e Oolibama (Gn 36.14).

Gênesis 36.12 O filho de Timna, Amaleque, deu origem a um povo que mais tarde causaria problemas aos israelitas (Nm 14-39-45).

Gênesis 36.20-30 O povo de Seir, os horeus [hb. choriy, habitantes das cavernas], tinha relações muito próximas com a família de Esaú. Estas histórias familiares são repetidas em 1 Crônicas 1.38-42.

Gênesis 36.31-39 A lista aqui segue a dos príncipes de Edom (v. 15-19). Os oito nomes listados não apresentam relação entre si. Isso indica que eles eram escolhidos por razões alheias à descendência real.

Gênesis 36.40-43 Os príncipes citados aqui provavelmente sucederam os reis listados nos versículos 31-39. Os versículos trazem alguns dos nomes dos antepassados deles (v. 1-14). Os edomitas eram descendentes de Esaú. Mesmo que este não tenha sido o herdeiro da eterna aliança de Deus com a família de Abraão, o Senhor abençoou a descendência de Esaú, que também se tornou uma grande nação. Os leitores atuais podem se perguntar qual a razão de um capítulo como este estar registrado na Bíblia. Por que todos estes detalhes de nomes e príncipes? Para muitas pessoas em várias partes do mundo, mesmo atualmente, estes dados são fascinantes e valiosos. Em algumas culturas, é muito valorizada a genealogia de uma pessoa. Essa foi, provavelmente, a realidade de muitos povos do período bíblico. Assim, tais listas demonstravam uma série de valores: (1) a conexão com o passado que a descendência de Esaú trazia em seu rol de nomes. Desta forma, uma pessoa poderia ser bem conceituada pelo fato de possuir nobre linhagem; (2) o sentido histórico que estes nomes produzem. Qualquer leitor pode olhar estas listas e compreender, mesmo de forma superficial, que os antepassados davam grande importância aos laços familiares ao longo da história; (3) o orgulho e a satisfação por causa da memorização desses detalhes. Em todas as culturas há aqueles indivíduos que são (ou dizem ser) capazes de traçar a linha de descendência dos seus ancestrais ao longo dos séculos;
(4) a promessa pela qual Esaú também foi agraciado pelo Senhor. Esta foi mantida (Gn 27.39,40).

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