Anátema — Estudo Bíblico
No grego ático, anathema significa algo “posto de lado”
ou “suspenso”, como um a oferta prometida, separada para um deus. Isso era
suspenso em um templo ou outro lugar de adoração. Na Septuaginta, veio a indicar
qualquer coisa devotada a Deus, proibida para uso ordinário, ou algo destinado
à destruição (Lev. 27:19; Jos. 6:17). No Novo Testamento, tem o sentido de
maldito, em Romanos 9:3; I Cor. 12:3 e Gál.
1:8,9.
A palavra veio a ser
associada a exclusão, visto que o excluído tomava-se “maldito”. Alguns pensavam
que desde o tempo refletido em Esd. 10:8, o termo (por meio do grego), indicava
exclusão. Assim foi empregado no Talmude e nos escritos dos p ais gregos, com
regularidade. Ver o artigo sobre a exclusão.
As referências do Novo Testamento não envolvem a ideia de exclusão eclesiástica,
mas sim, de maldição espiritual. Em I Cor. 16:22, a palavra aparece lado a lado
com o termo aramaico maranatha (nosso Senhor vem, ou o imperativo, vem,
nosso Senhor!). A interpretação com um disso é que aquele que não amar nosso Senhor,
por ocasião de Sua vinda, ao ter de defrontar-se com Ele, será espiritualmente
amaldiçoado.
Isso é um lembrete da
constante doutrina cristã de que a vinda do Senhor impõem o julgamento, e não
somente a bênção. Ver os artigos sobre o julgamento e os galardões. História:
1. Antes do Novo
Testamento. As ofertas votadas, nas com unidades hebreias e não-hebreias; algo maldito;
talvez a exclusão, em alguns casos.
2. No Novo Testamento.
As ofertas votadas, Lucas 21:5; algo espiritualmente maldito, ver as referências
acima.
3. Na Igreja primitiva.
Especialmente entre os pais gregos, a exclusão, bem como um pronunciamento sobre
os hereges e suas doutrinas, presumivelmente envolvendo uma maldição
espiritual, um uso comum entre os séculos III e VI de nossa era.
4. Após o século VI
D.C., com frequência a palavra era usada com sentido mais forte do que a
exclusão, que podia ser a simples interrupção da comunhão com a igreja, sem que
fossem vedados a adoração e os ritos. Esse uso mais forte presumivelmente pronunciava
um corte espiritual de Deus e da salvação em Cristo. Os homens têm se mostrado
prontos a perseguir e amaldiçoar àqueles que lhes parecem diferentes. Jesus e
Paulo não escaparam a isso. Essa circunstância deveria limitar o orgulho
daqueles que amaldiçoam.
A palavra traduzida por
anâtema, originalmente era utilizada
para indicar apenas um a oferta qualquer, e tanto nos escritos clássicos com o
na Septuaginta (tradução do A.T. hebraico para o grego, que já estava completa
por volta do século II A.C.), o uso regular da palavra é esse. Essa forma
substantivada se deriva do verbo anatithemi, que significa “dedicar”, “tal como uma oferta
votiva”. Essa palavra gradualmente foi se revestindo de um sentido negativo,
como algo “devotado” ao mal ou à destruição, certamente sugerido pelo fato de
que os sacrifícios eram consumidos.
Foi daí que a palavra assumiu
o seu sentido negativo de maldição, em que o indivíduo é declarado separado de
Deus e maldito, ou seja, oficialmente separado da vinculação à igreja ou sinagoga.
(Pode-se comparar com isso as passagens de Gál. 1:8,9; I Cor. 12:3 e 16:22,
onde esse tipo de uso negativo da palavra “anátema” é usado nas páginas do N.T.).
O Uso em Rom. 9:3.
Pouca dúvida pode haver de que Paulo usava o vocábulo em Rom. 9:3 em sentido
negativo; e o desejo hipotético, cuja impossibilidade ele esqueceu
momentaneamente, seria que ele desejava ser separado de Cristo, sendo assim lançado na destruição fatal da alma.
Alguns intérpretes, entretanto, têm procurado suavizar o desejo expresso aqui
por Paulo, fazendo com que esse anátema seja menos do que o próprio Paulo
tencionava que fosse. Como exemplos disso, alguns têm pensado que:
1. Paulo queria dar a
entender a morte física, e não a espiritual.
2. O apóstolo queria
indicar a exclusão da igreja, e não a condenação da sua alma.
3. Paulo pensava na
alienação entre sua pessoa e Deus, embora isso não envolvesse, necessariamente,
a condenação de sua alma. Entre os judeus, a exclusão dos membros das sinagogas
era realizada gradualmente: a. exclusão do templo; b. havia a expulsão da congregação,
em que o disciplinado ficava separado dos outros, já com maior severidade na
disciplina.
Neste segundo caso,
ordinariamente se supunha que Deus tomava o mesmo ponto de vista sobre os culpados
que as autoridades eclesiásticas; e isso significava que o réu corria o perigo
de ser condenado por Deus, no estado eterno. Se porventura Paulo fez alguma
alusão a essas ideias judaicas, então o texto deixa plenamente indicado que
esse desejo hipotético se estendia até a condenação divina, e que ele desejaria
ter ficado maldito por Deus, contanto que isso trouxesse o povo de Israel de
volta ao seu Deus. Ora, não há que duvidar que isso é o que Paulo queria dizer,
o que significa que não há nenhum a necessidade de suavizarmos nem o tipo de
desejo expresso por ele, e nem o sentido da palavra grega “anátema”.
Pode-se observar que Moisés
fez um a declaração similar, não menos radical do que a de Paulo, conforme se
lê no registro de Êxo. 32:32: “Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; — ou, senão, risca-me,
peço-te, do livro que escreveste”. Bacon considerava essa atitude de “êxtase de
amor e infinito sentimento de com unhão” com outras pessoas. Bengel observou
sobre Rom. 9:3: “Não é fácil calcular a medida do amor de um Moisés ou de um Paulo.
Porque a nossa razão tão limitada não a apreende, tal como uma criança não pode
compreender a coragem dos guerreiros!” Moule (em Rom. 9:3), aplicando, um
raciocínio estritamente lógico a essa questão, observa: “Desejar a maldição de
Deus é desejar não apenas o sofrimento, mas igualmente a alienação moral longe dele,
a retirada da capacidade que a alma tem de amá-lo. Por conseguinte, esse desejo
na realidade seria um ato de ‘maior amor ao próximo do que a Deus’. Além disso,
a alma redimida ‘não pertence mais a si própria’: desejar que o ‘eu’ seja
amaldiçoado e cindido de Cristo seria desejar a perda daquilo que foi ‘comprado
e feito de Cristo’.
Porém, a razão lógica desse
desejo transparece na leitura do oitavo capítulo da epístola aos Romanos, e
nisso percebemos quão inteiramente impossível, moralmente falando, era para
Paulo realmente desejar a realização desse anelo. Não há razão alguma para
supormos, entretanto, que o apóstolo Paulo, arrebatado em seu fervor momentaneamente,
não tivesse levado em conta tais “impossibilidades morais” dos desejos por ele
expressos, ainda que mui provavelmente soubesse que tal anelo, de fato, era
impossível.