Âncora — Estudo Bíblico
As âncoras mais
primitivas eram pedras preparadas de modo a serem seguras por uma corda. Antigas
âncoras desse tipo têm sido encontradas no Mediterrâneo. Começaram a existir
âncoras similares às atuais por volta do século I A.C., completas com a barra
transversal, os dentes e vários tipos de projeções, e também feitas de
variegados materiais. As primeiras âncoras desse modelo eram feitas de madeira,
com uma barra transversal de chumbo. Em Atos 27:29, lemos que quatro âncoras
foram arriadas da popa do navio.
Usos figurativos Ancora
da alma, Heb. 6:19. (Ver I Tim. 1:19 quanto à mesma
figura simbólica implícita). O navio precisa de uma âncora, para segurá-lo na
tempestade. Mediante essa medida é obtida a segurança. A alma também enfrenta
perigos, e deve ser protegida. A esperança de Deus, dada em Cristo é que nos
fornece a segurança necessária. O navio ancorado no porto, embora agitado pelo
vento e pela tempestade, acha-se em segurança, pois é resguardado de áreas
eivadas de perigo. Por isso é que tanto na literatura antiga como no tempo
moderno, a âncora é símbolo de esperança e segurança. “A ‘esperança’ básica em
uma falsa suposição é como confiar em uma âncora fraca” (Sócrates). E mais
adiante, no mesmo texto (Stob. 1), diz Sócrates: “Um navio não deve confiar em
uma âncora, e nem a vida em uma só esperança”.
Na igreja primitiva, a
âncora era símbolo, não menos que a cruz, das realidades cristãs. No Túmulo de Gordon,
que muitos creem ter sido o sepulcro de Cristo (que vide), sobre o lugar onde o
corpo esteve, aparece uma âncora, esculpida sobre a parede de pedra. Os
túmulos de cristãos antigos e mais recentes com frequência têm sido decorados
com a representação de uma âncora. Trata-se de um símbolo bem apropriado para
a esperança, posto que se agarra a algo “invisível”, mas bem real. Por isso, o
autor sagrado reputa que, em Cristo, a esperança é segura, embora ainda precise
concretizar-se e ser desfrutada.
Filo também se utilizou
desse símbolo (ver De somniis 1:39),
e é bem possível que o autor sagrado obteve a ideia da parte dele, posto que
neste tratado se pode ver muito da influência de Filo. Eurípedes (ver Helena,
277), Aristófanes (ver Cavaleiros, 1244) e Pitágoras (ver Stob. Ecolg. 3), usaram da âncora como símbolo da
segurança. Pitágoras rejeita tais coisas como glória, governos, honrarias,
etc.. como 'âncoras fracas, tanto quanto o corpo humano físico. As virtudes,
porém, como a prudência, a magnanimidade e a fortaleza seriam âncoras
inabaláveis. “A alma se apega, como que com temor do naufrágio, a uma âncora, e
não vê para onde vai o cabo da âncora, e nem onde esta ficou presa: mas sabe
que está segura além do véu que oculta a glória futura, e que se ela mesma ao
menos segurar-se firmemente na âncora, com o tempo será levada para onde está
esta última, isto é, ao Santo dos Santos, pelas mãos do nosso Libertador”.
(Ebhard, em Heb. 6:19). “A âncora é firme e constante; é segura em sua própria
natureza e é constante quanto ao seu objetivo, visto que está presa à rocha, a
Rocha dos séculos; não está presa à areia, mas está segura para além do véu e em
Cristo”. (Matthew Henry, em Heb. 6:19). “O homem que não encontra sua segurança
para além do véu torna-se vítima de forças mundanas que o tratam como um
brinquedo. É desviado de seu curso. Seu frágil batei muda de direção ao
elevar-se e baixar-se qualquer onda. Até mesmo as estrelas morais são apagadas
quando não há marcos de terra que meçam o ‘avanço’.
É patente que o
reconhecimento dos perigos que enfrentamos, tanto do lado de fora como do lado
de dentro, encontrando nossa ‘âncora segura’, nossa esperança no Deus que fez a
promessa, é salvação para todo homem, para toda a circunstância, para toda
geração”. (Cotton, em Heb. 6:19).
Tua âncora se manterá firme no temporal da vida Quando as nuvens desdobram suas asas contenciosas? Quando as marés se levantam e os cabos ficam tensos. Tua âncora se desviará ou permanecerá firme? Temos uma âncora que mantém a alma Segura e firme, enquanto as ondas rolam, Segura à Rocha que não pode mover-se. Bem segura e profunda no amor do Salvador. (Priscilla J. Owens)
Segura e firme, Hebreus 6:19. Alguns aplicam isso à esperança-, e outros à âncora. Alguns aludem à ideia
do “refúgio”, que transparece no décimo oitavo versículo, mas isso é menos
provável. A esperança torna-se a âncora, a âncora da esperança, dentro do simbolismo
combinado; portanto a questão da segurança e da firmeza está envolvida em ambos
os elementos. O termo segura deriva-se do vocábulo gr. “asphale”, “firme”, como
se dá com alicerces “seguros”, sendo um derivativo de “spallein”, “cambalear”;
era termo usado metaforicamente com o sentido de “deixar perplexo” ou “frustrar”.
“Firme” vem de “bebaios”; “permanente”, “bem firmado”. Penetra além do véu,
Heb. 6:19. A metáfora é mantida, e agora somos informados sobre onde a âncora
se firma, de onde procede a nossa segurança.
A âncora se firma além do
véu, isto é, na presença mesma de Deus,
p ara onde Cristo Jesus já foi. Os cabos da âncora vão de nós para ele,
firmando-nos na sua presença. Além do véu é a realidade invisível e eterna do mundo
celeste. Dois símbolos são aqui combinados; a. o mundo como m ar; a alma como
um navio; o fundo oculto do oceano como a realidade oculta do mundo celestial;
b. a vida presente nos átrios externos do templo; a bem-aventurança futura do
santuário dentro do véu. A alma como navio tangido pela tempestade, mas que é
mantido firme pela âncora. A alma no átrio externo do templo é segura, pela fé,
à bendita realidade no interior do templo”. (Vincent em Heb. 6:18). “A âncora
está fora de vista, mas ela se mantém firme. Isso é o que importa” (Robertson
em Heb. 6:19). O trabalho de Cristo, como nosso Sumo Sacerdote (o tema agora
tem prosseguimento, com vinculações com o trecho de Heb. 5:10), é o que garante
a chegada segura no porto, o bem-estar eterno da alma.