Andar — Estudo Bíblico
Esse verbo é tradução
de cerca de sete vocábulos hebraicos, no Antigo Testamento, e de cinco palavras
gregas, algum as das quais raramente usadas. Naturalmente, há um sentido
literal e sentidos figurados da ação. Os sentidos figurados podem ser antropomórficos,
como quando se lê que Deus andava pelo jardim do Éden na viração do dia (ver
Gên. 3:8), ou metafóricos, quando se lê sobre a maneira de andar do coração
(ver Jó 31:7), da língua dos ímpios (ver Salmos 73:9), do trajeto das pestes (ver
Sal. 91:6) ou do curso da lua (ver Jó 31:26).
O uso metafórico mais comum dessa
ação representa a conduta do homem, bem como a atitude de Deus para com essa
maneira de andar. Por exemplo, ver Lev. 26:23,24: “Se...porém, andardes
contrariamente comigo, eu também serei contrário a vós outros...” Mais
raramente, o termo pode ser usado em um sentido mais limitado, referindo-se às
leis e preceitos para observância por parte dos homens (ver Atos 21:21). E no
evangelho de João tem o sentido de atividade incansável (ver João 11:9), ou
mesmo de aparição em público (ver João 7:1). Quando Jesus curava alguém da
paralisia, restaurando-lhe a capacidade de andar, não o fazia somente para que
a pessoa readquirisse sua movimentação, mas para ensinar que há necessidade de
um a renovação interna, que capacite o pecador a prosseguir caminho, uma vez
arrependido (ver Mar. 2:9: “Qual é m ais fácil, dizer ao paralítico: Estão perdoados
os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito,‘e anda?”) No caso de
Pedro, ao imitar Jesus, que caminhava por sobre as águas, continuar andando ou
afundar era questão de fé.
Quando a atenção de Pedro desviou-se de Jesus para a
força das ondas, e ele começou a afundar e recorreu a Jesus, este lhe
perguntou: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (Mat. 14:31). O ato do
batismo cristão indica que o crente deixou de andar pelo caminho da
auto-suficiência pecaminosa e passou a andar pelo novo “caminho” (ver Rom. 6:4),
da mesma maneira que, após Sua ressurreição, Jesus estava andando em uma nova
maneira de viver. Assim, o crente é exortado a “andar no Espirito” (Gál. 5:16),
e não mais a andar segundo a carne. O “andar dignamente” (ver Rom. 13:13) é
melhor compreendido quando contrastado com o andar indigno de quem vive em
orgias e bebedices, imoralidades e dissoluções, contendas e ciúmes. A ideia de
progressão espiritual também é retrata da pelo ato de andar. Promete Jesus,
àqueles que não se macularem, não acompanhando o exemplo de outros, os quais abandonavam
a integridade cristã: “...andarão de branco junto comigo, pois são dignos”. No
céu não haverá estagnação, mas a progressão espiritual será perene. Essas e
outras idéias proveitosas estão ligadas metaforicamente ao ato de andar. O
estudioso da Bíblia muito aproveitará se meditar sobre as passagens que usam
dessa metáfora.
Uso do termo “andar”
como metáfora. A metáfora do ato de andar expressa a
natureza geral da vida espiritual. Isso é comum nas páginas do NT. Ver Gál.
5:16,25; 6:16; Rom. 4:12; 6:4; 8:1,4; 13:13; I Cor. 3:3; 7:17; Efé. 2:10;
4:1,17; 5:2,8,15; Fil. 3:16-18; Col. 1:10; 2:6; 4:5; I Tes. 2:12; 4:1,12; II Tes.
3:11. A metáfora se encontra em Paulo 33 vezes, e no resto do NT, 16 vezes. Nos
filósofos éticos, também é comum. 2. A orientação do Espírito. Andar no
Espírito, na comunhão e sob a influência do Espírito, o Poder Divino que
cultiva em nós seus frutos. “Devemos dar os nossos passos pela ajuda e
orientação do Espírito”. (Robertson, em Gál. 5:25). Andai na luz! Assim
conhecereis aquela comunhão de amor, Que somente seu Espírito pode dar, E que
reina na luz superior. Andai na luz! E nem mesmo o sepulcro terá sombra
temível; A glória espantará sua tristeza, Pois Cristo conquistou também ali. (Bernard
Barton) 3. Os mandamento e o andai a. Todos os mandamentos éticos do N.T.,
estão relacionados ao modo de “andar”, ou seja, à maneira do crente conduzir-se
neste mundo. O ato de andar é um a série de quedas interrompidas. Em nossas imperfeições,
caímos com frequência, e mesmo quando andamos, levamos conosco muitas quedas. Porém,
o crente autêntico acaba encontrando a vitória cabal sobre todos os vícios. b.
O andar do crente precisa envolver as seguintes características: Honestidade
(ver I Tes. 2:12). Ser digno de Deus (ver I Tes. 2:12), ser digno do Senhor
(ver Col. 1:10), e ser digno de nossa vocação (ver Efé. 4:1). No Espírito (ver
Gál. 5:25), e como filhos da luz (ver Efé. 5:8). “digno de Deus”, I Tess 2:12.
No grego encontramos o termo
aksios, — um advérbio muito bem traduzido
aqui, isto é, de maneira tal que o crente possa ser aprovado por ele, cuja vida
seja agradável ao Senhor, sendo conduzido ao destino que o Senhor planejou para
nós, em Cristo Jesus. (Comparar com Col. 1:10). Essa passagem diz: “. ..a fim
de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em
toda boa obra, e crescendo no pleno conhecimento de Deus”. É dessa maneira que podemos
cultivar uma conduta digna. Também se pode comparar com o trecho de Efé. 4:1: “Rogo-vos,
pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que
fostes chamados...” Essa expressão tem sido encontrada em vários papiros e inscrições
de tipo diverso do N .T ., bem como em antiquíssimos documentos cristãos, como
em I Clemente 21:1 e Policarpo 5:2.4. A maneira digna de andar Aspectos da
conduta ideal:
a. O seu exemplo é Cristo, o qual, como homem em que se tornou,
enfrentou as mesmas tentações e problemas com que nos defrontamos, mas triunfou
sobre tudo e muito aprendeu disso. (Ver Heb. 5:9). Dessa maneira se tornou o
Pioneiro de nossa fé, mostrando-nos a vereda a seguir e como podemos enveredar
por esse caminho. (Ver as notas a respeito, em Heb. 2:10, no NTI). Ele dizia: “Vinde
após mim?” (Mat. 4:19).
b. A maneira ideal de andar leva-nos a uma missão específica
que precisa ser cumprida, pois cada indivíduo é singular e tem um a obra
singular a realizar. (Ver notas completas sobre esse conceito em Apo. 2:17 no
NTI). Assim como o Pai enviou o Filho em sua missão, assim também somos agora
enviados (ver João 17:18).
c. A maneira ideal de andar inclui a nossa comunhão
com Deus, através do Espírito, ao ponto mesmo de sermos o templo do Espírito
Santo, o lugar onde ele habita. (Ver Efé. 2:20-22). Isso requer a santidade e
as boas obras (Ver I Tes. 4:3 e Efé. 2:10).
d. A maneira digna de andar requer
que o crente ponha em prática os meios de desenvolvimento espiritual: O estudo
dos documentos sagrados, bem como de outros livros que sejam espiritualmente
úteis. A oração (ver o artigo) A meditação (ver o artigo) A santificação (ver o
artigo) A vida diária segundo a lei do amor, as boas obras (ver no NTI em I
João 4:7,8). A possessão e o uso dos dons espirituais (ver no NTI em Efe. 4:11
e ss ).
5. Através disso é que nos tornamos “dignos” de Deus, o qual nos chamou
como seus filhos. O Lado Negativo: O Andar nas Trevas. O “curso” geral da vida
conduz as pessoas aos vícios do paganismo, à participação na rebeldia maléfica,
fazendo-os enveredar por avenidas de degradação do corpo e do espírito. A
expressão, “andar nas trevas” é usada somente nas obras joaninas. (Comparar com
João 8:12 e 12:35). Para que não andemos nas trevas, precisamos da iluminação
sobrenatural, pois o andar espiritual é inspirado e dirigido pelo Espírito de
Deus. É impossível tal alvo para o homem natural. Este precisa de iluminação,
de transformação, de inspiração e de ajuda da parte de Deus. A experiência
mostra isso para nós, porque frequentemente falhamos em nossas próprias forças;
e quando a nossa santidade depende de nossa própria iniciativa, tornamo-nos profanos.
Para andarmos santamente precisamos “nascer de novo” (ver I Ped. 1:23); e é o
poder residente, do Espírito Santo, em nós infundido, que no confere a natureza
moral de Cristo (ver Gál. 5:22,23).