Bíblia — Estudos Bíblicos
Nome geral dado às Escrituras Sagradas da Igreja cristã. Uma discussão sobre este assunto deve necessariamente abranger uma grande variedade de aspectos, mas num verbete como este só será possível fazer uma análise geral do seu conteúdo, história, unidade e outras questões afins. Se houver necessidade de maiores detalhes, o leitor pode recorrer a verbetes que tratam de forma mais específica cada seção.
I. Termos descritivos. A palavra “Bíblia” deriva-se diretamente do termo grego βίβλια(“livro pequeno”), o qual, por sua vez, se deriva da palavra que designa a casca do papiro, que era amplamente usada como material de escrita. A forma plural βίβλιον (“livros”) a princípio foi empregada para a coleção de escritos sagrados, mas visto que a forma plural neutra é igual ao feminino singular, foi traduzida erroneamente como uma forma singular, de onde “livros” acabou sendo “livro” [Bíblia — feminino singular]. Em virtude da crescente convicção em relação à unidade do conjunto, o equívoco referente à direção gramatical do nome não foi inadequado. Na época de Jerônimo, a coleção completa era conhecida como biblioteca divina (Bibliotheca), o que chama atenção para a diversidade dentro do todo. A Bíblia é simultaneamente “o livro” e “os livros”, sendo um único volume e uma biblioteca.
O termo “Escrituras”, usado no Novo Testamento e nos escritos dos Pais da Igreja, representa a palavra grega γραφή (“escritos”). Também é usada no singular, mas neste caso em geral denota uma passagem em particular. Fica claro, pela maneira como o Novo Testamento emprega essas formas, que uma autoridade especial era atribuída ao AT. Pode-se ver isso pelo significado da expressão “está escrito”, usada com tanta frequência na introdução de importantes testimonia do Antigo Testamento. Visto que o plural é usado para a coleção toda, “Escrituras” corresponde ao uso inicial de “livros”, embora posteriormente o singular fosse usado também num sentido coletivo. Outro termo importante na descrição dos escritos sagrados é “Testamento”, derivado do latim Testamentum. A despeito do fato de que o termo grego em geral significa “testamento” no sentido de “última vontade”, ele é empregado na LXX para traduzir o termo hebraico para “aliança”.
Quando usada como título para o Antigo ou o Novo Testamentos, a palavra é interpretada neste último sentido. O AT contém os livros da Antiga Aliança, enquanto o NT contém os livros da Nova Aliança. Uma vez que foi o Senhor que usou o termo “Nova Aliança” na Última Ceia, daí foi apenas um passo pensar em todo o processo de salvação sob a figura de uma aliança (cp. Epístola aos Hebreus), que naturalmente sugere que, por comparação, a primeira aliança era antiga. É nesse sentido que os adjetivos descritivos “antigo” e “novo” devem ser compreendidos.
II. Divisões da Bíblia. Dentro do Antigo Testamento, há grupos bem definidos de livros, mas nenhuma ordem ou agrupamentos desses livros no texto em inglês (e em português) segue o padrão do texto hebraico. Neste, o agrupamento é triplo: a Lei, os Profetas e os Escritos (conhecidos na VS grega como Hagiografa). A Lei inclui os cinco primeiros livros da Bíblia. “Os Profetas” consistem da maior parte dos livros históricos (Josué, Juízes, Samuel, Reis) e dos livros proféticos (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores, de Oseias a Malaquias). Os Escritos incluem todo o restante (Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas). Uma vez que os livros duplos, bem como Esdras-Neemias eram respectivamente contados como livros únicos, a contagem rabínica normalmente era de 24 livros. Essa contagem não foi seguida por Josefo (Apion I. 8), que conta somente 22 livros, evidentemente 7 juntando Rute com Juízes e Jeremias com Lamentações. Jerônimo (Prefácio do AT) segue a mesma contagem. Josefo também diverge do procedimento rabínico geral, classificando 13 livros proféticos em vez de 8. Isso é feito mediante a transferência de todos os livros do terceiro grupo, exceto Salmos, Provérbios, Cantares e Eclesiastes.
O Novo Testamento testemunha em favor de uma divisão tripla das Escrituras do Antigo Testamento; por exemplo, em Lucas 24.44, “importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”, e esta última afirmação claramente se refere ao Hagiografa, do qual o livro dos Salmos era o primeiro. Às vezes são mencionados apenas a Lei e os Profetas (Mt 5.17; At 13.15). Em outras ocasiões, a Lei parece englobar todos os livros, desde que citações de livros fora do Pentateuco são feitas sob esse termo (Jo 10.34, uma citação do SI 82.6). Com mais frequência, porém, o NT não utiliza os termos das divisões, mas sim o termo mais abrangente, “a Escritura”. Pelo que já foi mencionado, pode-se observar que nenhum dos livros conhecidos como a Apócrifa foi considerado pelos rabinos ou por Josefo como pertencendo à Escritura judaica.
Esses livros são principalmente aqueles que foram acrescentados ao Cânon hebraico na LXX. Uma vez que esta VS grega tomou-se a Bíblia da Igreja primitiva, é notável que nenhum apócrifo tenha sido citado no NT, como Escritura. Alguns supõem que Judas cita o livro de Enoque dessa maneira, mas é altamente questionável se ele realmente tenciona mencioná-lo como Escritura. E digno de nota que Melito de Sardis (cerca de UO d.C.) considerou necessário consultar os judeus nos países onde o OT se originou para resolver a questão do seu conteúdo. Ao mesmo tempo, ele usou a LXX, mas claramente não considerou que era autoritativa para os livros adicionais. Os livros apócrifos foram incluídos na Vulgata de Jerônimo e desta forma tomaram-se parte das Escrituras da Igreja Católica Romana. Isto tomou-se conclusivo no Concilio de Trento, em 1546. Os reformadores rejeitaram os apócrifos, retirando-os do Cânon, mas permitiram-nos para simples leitura.
O interesse deste artigo se concentrará na Bíblia sem os apócrifos. No NT, a divisão dos livros segue a classificação de acordo com a forma literária: Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Há uma sequência natural nessa ordem, embora não se relacione com cronologia. Os Evangelhos foram colocados em primeiro lugar porque se concentram em Jesus Cristo, cuja obra e cujo ensino formam o traço central da mensagem cristã. Desde os primórdios, o livro de Atos dos Apóstolos foi ligado aos Evangelhos, em parte porque era visto como continuação do relato histórico do Evangelho e em parte porque sempre foi associado ao terceiro Evangelho, como obra do mesmo autor — Lucas. As Epístolas seguem naturalmente os Atos, porque preservam dados relacionados à pregação apostólica.
O último livro, o Apocalipse de João, que apresenta uma visão do estado futuro da Igreja, forma uma conclusão adequada para a coleção do Novo Testamento. É significativo que muitos livros não autênticos começaram a circular desde os primórdios, principalmente entre as seitas heréticas, os quais, com poucas exceções, copiavam o mesmo padrão quádruplo da coleção do NT. Era essencial que os cristãos fossem capazes de distinguir os livros genuínos das imitações — e eles fizeram isso com pouca hesitação (veja O Cânon do NT). A divisão ocorrida durante a história do cânon do NT baseava-se na existência, ou por outro lado, nas dúvidas quanto a qualquer um dos livros. Os livros inquestionáveis eram chamados de homologoumena (confessados ou aceitos), e aqueles em tomo dos quais havia dúvidas eram chamados de antilegomena (discutíveis). Estes últimos eram Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 1 e 3 João, Judas e Apocalipse. Tal divisão pertence à história do Cânon e não afeta o arranjo dos livros do NT.
III. Idiomas da Bíblia. Há três idiomas envolvidos no texto original da Bíblia. O hebraico é a língua da maior parte do AT, mas algumas porções foram preservadas em aramaico. São elas: Esdras 4.8— 6.18; 7.12-26; Daniel 2.4— 7.28 e Jeremias 10.11. O aramaico, intimamente relacionado ao hebraico, foi adotado pelos judeus durante o Exílio e daí em diante tomou-se a língua geral na Palestina, para o comércio e relações sociais. Na época de Jesus, o aramaico havia se tornado a língua nativa da Palestina, enquanto o hebraico era empregado apenas como a língua sagrada das Escrituras. Por volta do 2- séc. a.C., foi introduzido o hebraico quadrático, usado até os nossos dias. O método de escrever as consoantes hebraicas permaneceu inalterado por mais de dois mil anos.
Depois disso, houve muitas mudanças. As vogais, que eram omitidas em todos os escritos mais antigos, foram introduzidas por volta do ano 500 d.C. pelos massoretas (editores), e a partir dessa época tomaram-se padrão na ortografia hebraica. Muitas informações valiosas foram trazidas à luz pela biblioteca de Qumrã, sobre o estado da linguagem hebraica, cerca de setecentos anos antes de os massoretas terem fixado o texto; entretanto, há um notável grau de harmonia entre essas evidências mais antigas e as posteriores. A forma grega na qual o NT foi escrito é conhecida como grego koiné (ou comum), amplamente usado na época como a língua cotidiana do povo. Ele difere, em certas características, do grego clássico, em que menos precisão foi aplicada à estrutura gramatical. Muitas sutilezas da linguagem clássica se perderam. Mesmo dentro do grego koiné, menos preciso, havia diferenças acentuadas de estilo, as quais são visíveis no Novo Testamento.
O Evangelho de Lucas, por exemplo, é escrito em um estilo literário melhor do que o koiné de Marcos; no texto de Lucas há porções escritas num outro estilo de grego (o prólogo é mais clássico do que o resto, enquanto Lucas 1.5—2.52 é escrito num estilo semita, semelhante ao da LXX). Tantos dados lexicográficos sobre o grego koiné vieram às mãos vindos de pilhas de cacos de cerâmica do Egito, que os exegetas do NT têm fontes valiosas para o entendimento dos textos.
IV. O texto da Bíblia. Quando lidamos com um livro, ou mais precisamente, com uma coleção de livros, partes dos quais são antiquíssimas, é natural que se pergunte sobre a confiabilidade da sua preservação. Tal questão é mais fácil de ser respondida em relação ao NT do que com relação ao AT, uma vez que a quantidade de dados disponíveis neste é muito menor. A quantidade de material disponível para a verificação dos textos do NT apresenta seus próprios problemas pela necessidade de algum método de classificação e de acesso às evidências.
A. O texto do AT. Há quatro correntes principais de informação sobre esse texto. 1. As evidências mais antigas vieram de Qumrã. Entre os MSS descobertos ali, há muitos que preservam partes dos textos do AT. Embora em relação a alguns livros as evidências preservadas sejam extremamente fragmentadas, há porções remanescentes de todos os livros, exceto Ester. Ainda há muito trabalho a ser feito no exame dos textos, pois até agora apenas alguns textos bíblicos foram publicados. As informações disponíveis mostram que a principal parte dos textos de Qumrã concorda com o TM ou o texto tradicional. Essa evidência, que apenas recentemente tomou-se disponível, de fato aumentou o conhecimento do texto do AT em mais de mil anos.
Além dos MSS do texto hebraico, ha muitos comentários dos livros do AT, que esclarecem melhor o seu conteúdo. Outro fator nas evidências de Qumrã é a existência de alguns antigos fragmentos de textos gregos do AT, muito valiosos para se traçar a história primitiva da LXX (veja abaixo). 2. A próxima linha de evidências é a LXX. Trata-se de uma tradução completa do AT para o grego, inclusive livros da Apócrifa. Sua origem é obscura, mas aparentemente a necessidade de tal material surgiu no Egito. Havia uma grande colônia de judeus em Alexandria, e poucos deles conheciam a língua hebraica. Uma VS grega também teria sido útil durante a Diáspora. A tradição diz que o rei egípcio Ptolomeu Filadelfo (285 246 a.C.) incentivou o trabalho de tradução, mas não se sabe o quanto tal informação é confiável. Provavelmente é seguro concluir que a tradução foi completada por volta do ano 200 a.C.
Sua utilidade como evidência para o texto hebraico é problemática, pois com frequência se desvia do texto tradicional, em muitos casos acrescentando elementos. Em alguns casos tomou-se a liberdade de parafrasear ou até modificar o texto por meio de frases explicativas; esse processo mostra que se deve tomar cuidado com o uso da LXX como guia de interpretação do texto hebraico. Ao mesmo tempo, há alguns exemplos onde o texto hebraico, como se apresenta, é incompreensível, o que pode ser prova de que a LXX fez uma leitura correta. Outra precaução com relação à LXX é que às vezes os tradutores interpretaram mal a falta de pontuação do texto hebraico e consequentemente introduziram corrupções. 3. A terceira linha de evidências vem do Targum e do Talmude.
O primeiro é uma paráfrase aramaica, a qual se tomou necessária porque o povo judeu era incapaz de entender as leituras do texto hebraico. Essas paráfrases originalmente eram orais e não se sabe exatamente quando foram escritas pela primeira vez. Com toda probabilidade já havia acontecido parcialmente na época do nascimento de Jesus, embora a maior parte das evidências remanescentes seja do 42 séc. d.C. Há Targuns preservados sobre todos os livros do AT, exceto Daniel, Esdras e Neemias. Alguns targunitas ficam mais próximos do texto hebraico do que outros. As obras de Onquelos são as mais valiosas. Esses Targuns colocam mais luz sobre a interpretação do texto, do que sobre o texto propriamente dito, mas às vezes proporcionam informações sobre este último.
O Talmude contém a lei oral (Mishnah), a qual veio a ter a mesma posição da lei escrita, mas que por um longo período não foi reduzida à forma escrita. Contém também os comentários dos rabinos sobre a Mishnah (conhecidos como Gemara). Visto que os talmudistas explicavam e comentavam as Escrituras, com frequência se referiam às questões textuais, especialmente as partes afetadas pela ausência de sinais vogais. O Talmude pertence ao período entre os 4° e 52 séculos d.C. O texto empregado era o texto recebido. 4. As únicas outras evidências existentes sobre os textos hebraico são os MSS que preservam o TM. Este texto, que se tomou o texto tradicional, foi preparado pelos editores (massoretas) por volta do ano 500 d.C.
O texto do Antigo Testamento foi editado à luz dos dados do Talmude. Um sistema de pontos foi utilizado para indicar as vogais, com base na interpretação mais provável do texto, segundo as tradições rabínicas. Subsequentemente esse texto foi cuidadosamente preservado, de modo que há uma notável uniformidade entre os MSS remanescentes do hebraico pontuado, o mais antigo dos quais é uma cópia do Pentateuco produzida no 102 séc. d.C. A razão da falta de evidências mais antigas é que o Talmude instruía o copista de qualquer MS usado na adoração pública a destruir a cópia antiga, assim que a nova fosse concluída. A partir dessas variadas linhas de evidências, pode-se concluir que há razoável certeza quanto à confiabilidade dos textos no tempo do Senhor Jesus, embora seja impossível ser conclusivo com relação a diversas passagens.
B. O texto do NT. O problema com o texto do NT reside na mais abundância do que na falta de material. Existem milhares de MSS gregos, além de uma grande quantidade de textos das VSS. A maioria dos MSS é posterior ao 82 século d.C. Logo ficou evidente para os editores do texto, quando a ciência da crítica textual foi desenvolvida durante o século 18, que os MSS mais recentes tinham pouco valor para assegurar a originalidade do texto, uma vez que no decurso das transcrições os erros de escriba tenderam a ser perpetuados.
Entretanto, só recentemente se reconheceu que um processo específico de edição eclesiástica ocorreu no final do 42séc., o que significa que a maioria dos MSS posteriores estava de acordo com o texto editado. Portanto, o foco das atenções entre os editores do texto passou a ser os MSS mais antigos. A evidência de MS consiste de três tipos principais: MSS em papiro, MSS em pergaminho usando letras maiúsculas ou unciais, e os manuscritos em pergaminho utilizando letra cursiva (letra corrente minúscula). Os MSS cursivos têm valor apenas quando preservam uma forma mais antiga de texto, como ocasionalmente ocorre. Existem papiros de um tipo fragmentário, do 2° séc., como por exemplo o fragmento Rylands do Evangelho de João. Existem outros mais extensos que podem ser datados dos 2° ou 3S séculos, como o papiro Bodmer e o Chester Beatty. Este último traz partes dos Evangelhos, Atos, Epístolas de Paulo e Apocalipse. Os mais importantes MSS unciais são o Códice Vaticano (B) e o Códice Sinaitico (Aleph), ambos produzidos em Alexandria na primeira metade do 42 séc. d.C.
Aleph é o mais antigo texto completo do NT, mas o B, que é defeituoso depois de Hebreus 9.14, em geral é reconhecido como superior em qualidade de texto. A maioria dos editores modernos concorda que esses códices preservaram um texto mais próximo do original do que qualquer outro, em termos de isenção de corrupção. Em grande medida, isto se deve aos trabalhos de B. F. Westcott e F. J. A. Hort, e à influência de sua edição de 1881 do NT grego. Muito trabalho tem sido feito desde então no texto. Como resultado, algumas opiniões de Westcott e Hort foram modificadas em leituras individuais, mas seu elevado conceito desses MSS continua sendo fortemente apoiado. Outros unciais importantes são o Códice Alexandrino (A) e Códice Bezae (D). Este último é de especial importância porque preserva um texto mais longo do que outros unciais mais antigos e tem características bem diferentes. Além desses MSS, existem várias VSS, algumas delas de valor como evidência do texto básico, porque estes remontam a um período anterior ao dos textos unciais existentes, embora a evidência de MS pertença a um período bem posterior.
As antigas VSS Latina e Siríaca são de muito valor, representando um texto original, de c. 200 d.C. Ambas as VSS tiveram edições posteriores, a Vulgata Latina e a Peshita Siríaca, embora estes sejam de menor valor. A próxima em importância é a VS Copta (nos dialetos saídico e boárico), o qual possui um texto muito semelhante ao texto do B. Houve outras VSS, tais como a Antiga Armênia e a Antiga Georgiana, que preservam algumas leituras significativas, mas que sobreviveram principalmente na forma de edições posteriores. O NT foi traduzido para o gótico por um missionário ariano. Houve também uma VS etíope e uma árabe, as quais não têm muito valor para a edição textual do texto do NT.
A maioria dos Pais da Igreja fazia frequentes alusões ao texto do NT ou citações do mesmo, às vezes acrescentando comentários sobre leituras variantes. Esta é uma frutífera fonte de informação, porque capacitam o editor a apurar que tipo de texto que era usado em certas áreas época e também a determinar a data do texto. As vezes a evidência das fontes patrísticas são mais antigas do 7 que qualquer outra evidência (como, por exemplo, no caso de escritores como Irineu e Tertuliano). Entretanto, as citações patrísticas têm suas limitações, visto que é essencial ter certeza de que um texto não corrompido, do autor patrístico, antes que muito uso seja feito da evidência.
Além disso, alguns autores eram notoriamente imprecisos em seus métodos de forma como citar as Escrituras e as informações que proporcionam sobre o texto usado são menos valiosas. Dessa massa de evidências emergiram diversas famílias de textos, com base nas quais os editores puderam construir um texto provisório do NT. A família Alexandrina é considerada a mais confiável, mas o texto Ocidental (representado pelo D e pela Latina Antiga) é consideravelmente antigo e pode bem ter preservado algumas leituras genuínas. onde difere do Alexandrino. Outra família é conhecida como texto Cesariano, porque a princípio acreditava-se que se baseara em Cesaréia.
Uma quarta família é a Siríaca e a quinta é o tipo de texto Bizantino, que se tomou o tradicional texto editado e posteriormente ficou conhecido como Textus Receptus (TR). É consenso geral de opinião textual que o texto do NT, como hoje pode ser editado, de acordo com os princípios reconhecidos de edição de texto, permanece razoavelmente próximo dos escritos originais, embora haja muitas leituras isoladas sobre as quais não se pode ter plena certeza. E possível que alguns desses problemas ainda sejam resolvidos, à medida que mais MSS forem descobertos. Enquanto isso, porém, a abordagem do NT deve ser governada pela certeza de que a proporção de incertezas concernentes ao texto do NT é pequena e não afeta as questões doutrinárias.
V. As VSS da Bíblia. Já foram mencionadas várias VSS antigas. Todas elas foram introduzidas para suprir necessidades práticas. Além da LXX, havia outras VSS gregas do AT (as de Aquila, Teódoto e Simaco), que levaram Orígenes a produzir uma obra notável no 3E séc. d.C., conhecida como Hexapla. na qual ele comparou, por meio de colunas paralelas, todas as VSS gregas com o texto hebraico e sugeriu sua própria revisão. Quando Jerônimo traduziu o AT, ele retomou ao texto hebraico, porque a VS Latina Antiga do AT baseava-se diretamente na LXX. Outras antigas VSS do AT eram paralelas às do NT (as principais VSS eram a Siríaca e a copta) e mostram que o uso crescente do AT estava intimamente relacionado às necessidades crescentes da Igreja. A Bíblia toda existia em pelo menos sete VSS por volta do 6- séc. d.C., em latim, siríaco. cópta, armênio, georgiano. gótico e etíope. Durante a Idade Média, o movimento para traduzir a Bíblia na língua do povo obteve pouco apoio.
A Vulgata tomara-se puramente eclesiástica, e a própria Bíblia em grande medida ignorada. A filosofia medieval substituíra a teologia bíblica. Consequentemente, somente no período da Reforma as necessidades práticas do povo exerceram influência dominante no campo da tradução da Bíblia. As mais antigas tentativas de traduzir as Escrituras para o inglês podem ser acompanhadas no verbete sobre a Bíblia (VSS em Inglês). Várias VSS apareceram antes da publicação da KJV em 1611. A maior parte das tentativas anteriores foi baseada na Vulgata, mas os estudiosos que produziram a KJV fizeram uma tentativa séria de baseá-la nos textos grego e hebraico. Movimentos similares ocorreram em outros países da Europa, principalmente na Alemanha e França. Somente muito tempo depois os movimentos se dedicaram a traduzir a Bíblia para a língua vernácula de outros povos do mundo, inclusive para os dialetos tribais.
As sociedades bíblicas modernas, fundadas com este propósito, desenvolveram-se lado a lado com os movimentos missionários. A British and Foreign Bible Society ("Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira”) começou em 1804, a American Bible Society (“Sociedade Bíblica Americana”) em 1816 e muitas outras sociedades similares se espalharam por toda a Europa. Por exemplo, a Basel Bible Society (“Sociedade Bíblica da Bailéia”), fundada em 1806, empreendeu a produção da Bíblia em alemão. No mesmo ano, foi fundada a Berlin Bible Society (“Sociedade Bíblica de Berlim”). O interesse despertado por esse movimento foi tão grande que em 1805 foi fundada uma Sociedade Bíblica Católica Romana (Regensburg), mas suas atividades não tiveram a aprovação do Vaticano e foram suprimidas em 1817.
Suíça, Holanda e os países escandinavos adotaram movimentos similares, os quais começaram nos primeiros anos do século 19. Esse notável despertamento do interesse não somente pela tradução, mas também pela distribuição das Escrituras, continuou sem arrefecimento. Atualmente, o número de VSS de toda a Bíblia, ou de porções dela, supera os 1.200 e é um testemunho inegável da relevância da Bíblia para suprir as necessidades dos vários povos do mundo. Mais recentemente, movimentos especiais como o Wycliffe Bible Translators ("Instituto Wycliffe de Tradutores da Bíblia”) foram formados para tentar preencher as lacunas no trabalho de tradução. O alvo de colocar a Bíblia nas mãos do povo, que começou antes mesmo da Reforma, ainda não foi completado para todas as regiões do mundo. Novas VSS da Bíblia, ou porções dela, aparecem constantemente e esse fato é um testemunho de sua contínua relevância.
VI. O cânon da Bíblia. A Bíblia é composta de 66 livros, 39 no AT e 27 no NT. A questão surge naturalmente: por que estes livros, nem mais nem menos? A resposta nos leva ao campo da canonicidade. Como aconteceu com o texto, assim também com relação ao cânon; só é possível amais breve revisão do assunto e aqueles que desejarem maiores detalhes devem consultar os verbetes sobre o Cânon do AT e d o NT. Novamente, há muito mais informação específica referente ao NT do que ao AT.
A. O cânon do AT. O ponto de partida mais conveniente para este assunto é uma declaração do tratado talmúdico Baba Bathra (c. 200 d.C.), que contém uma lista de livros praticamente igual à do cânon atual. Durante o 2C séc. d.C., houve certa discussão entre os judeus relacionada a Provérbios, Rute, Ester, Eclesiastes e Cantares. O problema não se referia tanto à canonicidade quanto a dificuldades internas. Não havia discussão relacionada à antiga tradição ou à autoria. Durante aquele período há evidências de que a Igreja Cristã estava preparada para aceitar somente os livros que formavam parte do cânon Hebraico: por esta razão, as evidências das fontes judaicas eram importantes. Numa assembleia de anciãos judeus (c. 90 d.C.), realizada em Jamnia sob a presidência do rabino Eleazar. houve debates sobre a canonicidade de Eclesiastes e Cantares, mas ambos foram aceitos.
Uma vez que Jamnia se tomou o centro do judaísmo palestino depois da queda de Jerusalém, suas decisões aí teriam amplos efeitos entre os judeus. Durante o l2 séc. d.C., a principal evidência procede de Josefo e do NT. Como já mencionado, Josefo refere-se a 22 livros, mas com quase toda certeza são os mesmos do cânon atual. Há a possibilidade de que ele tenha rejeitado Eclesiastes e Cantares, mas por ser fariseu, essa hipótese é bem improvável. Com toda probabilidade, Josefo reflete a abordagem popular do cânon do AT, em sua época. Ele menciona que o limite dos livros aceitos foi estabelecido na época de Artaxerxes, depois do que nenhum outro livro autorizado foi produzido. Nem todos os livros do AT são citados no NT. Faltam alguns da Hagiografa e dos profetas (por exemplo, Juízes, Obadias, Naum e Sofonias).
Com base nesse fato, não se pode concluir que o AT estava definitivamente fixado naquela época, mas a evidência aponta nessa direção. Por todo o NT assume-se que o AT possui o caráter de Escritura inspirada. O Senhor Jesus e seus apóstolos compartilhavam a crença do povo judeu, em geral reconhecendo a autoridade do AT. É significativo que embora existam certas alusões extraídas dos apócrifos, não há exemplo de um deles sendo citado como Escritura (Judas 14 não é exceção). O Cânon do AT da igreja primitiva certamente parece se aproximar mais do cânon hebraico que do grego, a despeito do uso do texto da LXX.
A principal evidência anterior do nascimento de Jesus vem da biblioteca de Qumrã e do Prólogo de Siraque. Não existe uma lista canônica específica que tenha sido preservada de Qumrã, mas atualmente existem fragmentos remanescentes dos textos de todos os livros do AT, exceto Ester. Com base nos numerosos MSS preservados de alguns dos livros, é possível determinar quais eram mais populares, a saber: Deuteronômio, Isaías e Salmos. Os comentários sobre os livros do AT mostram um pouco da elevada consideração que os pactuantes de Qumrã tinham pelas Escrituras, mesmo que a exegese tenda pesadamente em favor da situação dos próprios pactuantes. A partir desses comentários fica evidente que há acentuada diferença entre as Escrituras canônicas e os numerosos outros livros da biblioteca de Qumram.
Existem muitos livros apócrifos e pseudepígrafos, mas nenhum comentário similar sobre eles. O Prólogo de Siraque (c. 130 a.C.) fala da Lei, dos profetas e de outros livros, mas não há evidência clara com relação ao terceiro grupo. A maioria dos livros desse grupo parece ter sido conhecida, mas há dúvidas quanto a Eclesiastes e Cantares. Antes dessa data as evidências quanto ao Cânon do AT são esparsas, exceto no caso do Pentateuco. A tradição sustenta que Esdras foi o principal responsável pela reunião do material num cânon reconhecido. Embora esse fato seja questionado por muitos estudiosos, que dão a alguns livros uma data subsequente a essa. é bastante provável que a maior parte do material seja do período pré-exílico. Na ausência de evidência suficiente da origem do cânon do AT, é impossível ter certeza. Assim como os antigos foram movidos pelo Espírito Santo para escrever os livros, da mesma forma os homens foram liderados pelo Espírito para preservar e ter em grande estima esses livros. O cânon não era organizado, mas sobreviveu. O mesmo fenômeno é visto na história do cânon do NT.
B. O cânon do NT. O desenvolvimento do cânon do NT pode ser traçado em vários estágios. Os estágios mais antigos são os mais difíceis de ser reconstruídos, em virtude da escassez de evidências. Somente a partir do ano 180 d.C. as evidências tomaram-se mais abundantes, mas certamente o período anterior tem provado ser mais significativo. A elevada consideração dispensada ao AT proporcionou um padrão, pois visto que o AT era lido nos cultos cristãos, logo os ensinos de Jesus e os eventos de sua morte e ressurreição chamariam a atenção. É impossível dizer quando os primeiros livros do NT foram colocados em igualdade com os textos do AT. Mais tarde as epístolas apostólicas seriam lidas publicamente, para prover resposta para muitos problemas que surgiam com frequência. Essa importância atribuída ao testemunho apostólico é significativa em toda a história da canonicidade do NT e pode ser considerada sua verdadeira chave.
A base do cânon do NT era o testemunho dos evangelhos e dos apóstolos. Eles eram as autoridade com relação aos ensinamentos de Cristo e dos representantes dele autorizados imediatos. A definição das qualificações requeridas de um candidato à função apostólica (At 1.21,22) é de grande importância no estudo da história do cânon do NT. A exigência para o substituto de Judas foi a de ter sido um associado aos discípulos durante o ministério do Senhor Jesus, desde o tempo do seu batismo por João Batista até a Ascensão, e que tivesse testemunhado a Ressurreição. Em outras palavras, os apóstolos tinham de estar em posição de autenticar a tradição das palavras e obras de Jesus. Isso explica por que tanta ênfase foi dada — não só nos primórdios, mas posteriormente— à origem apostólica dos vários livros. Foi o herege Marcião quem primeiro deu expressão à ideia de um cânon autorizado, entendido no sentido de uma lista pública. A Bíblia de Marcião consistia de somente 11 livros — o Evangelho de Lucas e dez epístolas de Paulo (exceto as Pastorais).
O AT era excluído. Mesmo os livros do NT que foram mantidos sofreram severas modificações, com muitas partes excluídas. Esse tipo de abordagem do cânon não teve apoio geral. Na época de Irineu e de Tertuliano, as igrejas cristãs, em geral, além de manterem firmemente o AT como Escritura, colocavam a maioria dos livros do NT em pé de igualdade com ele. Há suficiente evidência positiva para mostrar que a maioria dos livros do NT era reconhecida como autoritativa. Isso certamente era verdade em relação aos quatro evangelhos, as Epístolas de Paulo, 1 Pedro, 1 João e Atos. O livro de Apocalipse era muito lido na Ásia. Os outros livros não parecem ter sido citados pelos autores patrísticos, exceto Hebreus, o qual era conhecido por Clemente de Roma e Tertuliano, que o citou uma vez. Judas também era conhecido por Tertuliano e considerado apostólico por ele. Para os livros restantes, é voltar à evidência do 39 séc.
Essa sugestão suscita o problema de esses livros deverem permanecer como parte do cânon. Duas observações importantes devem ser feitas com relação ao NT nos l 9 e 2a séculos d.C. A despeito do fato de que em algumas regiões certos livros fora do NT eram reverenciados (principalmente no Egito), a evidência mostra que basicamente a Igreja primitiva era altamente seletiva nessa abordagem da literatura cristã. Ela não permitiu que o surgimento de evangelhos, atos e outras literaturas pseudo-apostólicas modificasse essa abordagem básica. Os livros aceitos eram aqueles que preservaram as doutrinas apostólicas. Quando Tertuliano argumenta sobre os evangelhos considerados autênticos, ele dá seu apoio a Mateus e João, porque os escritores eram apóstolos, e a Marcos e Lucas, porque eram discípulos dos apóstolos Pedro e Paulo, respectivamente. A segunda característica importante desse período é a falta de qualquer pronunciamento oficial das igrejas ortodoxas com relação ao cânon do NT, a despeito da lista de Marcião. Isto é o bastante para mostrar que o conteúdo do NT era o resultado, não de uma seleção eclesiástica, mas do uso estabelecido.
As igrejas não precisavam de exortação oficial para considerar esses livros do NT em pé de igualdade com o AT. Fizeram isso instintivamente, como parte do seu entendimento da continuidade do cristianismo, de acordo com as predições do AT. O período entre os 32 e 42 séculos d.C., durante o qual as questões em tomo dos “livros controversos” foram resolvidas, é caracterizado por uma distinção entre a atitude do Oriente e a do Ocidente. As igrejas orientais, embora conscientes das dúvidas levantadas por alguns sobre os livros em questão, reconheceram-nos mais rapidamente como Escrituras. Na época de Atanásio (meados do 4a séc. d.C.), não havia mais qualquer dúvida, exceto com relação ao livro de Apocalipse, o qual não foi incluído na lista vinculada aos decretos do Concilio de Laodicéia, em 363 d.C. O Ocidente demorou mais para incluir os livros sobre os quais questões haviam sido levantadas, mas na época de Agostinho e do Concilio de Cartago, em 397 d.C., todos eles foram aceitos. Será que a decisão dos dois concílios encerrou o canon para sempre?
Lutero e Calvino sentiram-se com liberdade para levantar questões sobre alguns dos livros da Bíblia, embora nenhum dos dois questionasse a canonicidade deles, a ação de Lutero, de dar preferência a alguns livros dos NT em detrimento de outros, com base na interpretação deles sobre a doutrina da justificação pela fé, praticamente introduziu a ideia de graus de canonicidade, mas sua abordagem era influenciada por sua experiência pessoal e não por análise critica. A despeito das questões dos reformadores, o Canon permaneceu inalterado. Em virtude dos constantes apelos deles no sentido de a Bíblia ser a única regra de fé e da prática (veja A Bíblia como Guia para a Vida), a importância fundamental da Bíblia para a Igreja cristã foi reafirmada. Nos últimos 150 anos tem havido outros fatores que suscitam novas questões.
A crítica bíblica tem submetido a Bíblia a exame científico e às vezes a exames que são tudo, menos científicos, e cujo resultado tem sido apresentado como indicativo da ideia de que um cânon autoritativa não pode mais ser sustentada. A crítica do AT tem levado a uma reconstrução radical do desenvolvimento do AT, a qual afeta a abordagem do cânon, mesmo que de fato não leve a uma revisão. O mesmo ocorre com o NT. A questão que surge, consequentemente, é se há necessidade de um cânon uniforme. Por exemplo, aqueles que não aceitam a autenticidade de alguns livros da Bíblia poderiam excluí-los legitimamente do seu cânon, mesmo que a opinião pessoal deles não seja aceita por todos? A maioria dos estudiosos reluta em afirmar isso. A abordagem geral, adotada por críticos hostis, de partes das Escrituras, tem sido a de manter a canonicidade, mas reduzir sua relevância.
Assim, se o Pentateuco não é aceito como procedente da época de Moisés, ainda pode ser tratado como uma fonte útil de dados. Semelhantemente, qualquer uma das epístolas de Paulo, que não seja considerada como tendo sido escrita por ele, ainda é mantida como canônica. O que é afetado não é sua canonicidade, mas sim sua autoridade. Esses dois conceitos estão tão intimamente associados que deve se perguntar se tais livros devem ser declarados não canônicos, para que a canonicidade possa manter um significado relevante. Um passo tão drástico não pode ser dado enquanto houver qualquer dúvida concernente à correção das conclusões crítica. A Bíblia não pode ser considerada com base em opiniões. O testemunho da consciência cristã através dos séculos não pode ser dispensado tão prontamente. O cânon das Escrituras, como Calvino percebeu, é apoiado pelo testemunho do Espírito para o cristão individual e para a comunidade cristã como um todo.
VII. O uso da Bíblia. Como Escritura Sagrada da igreja cristã, a Bíblia tem sido usada de várias formas; algumas indicações disso serão úteis para ilustrar sua notável abrangência e versatilidade. Alguns dos seus principais empregos podem ser classificados como segue:
A. O uso litúrgico. É impossível ter certeza sobre os procedimentos adotados nas igrejas primitivas a com relação à leitura da Bíblia como um elemento regular dos cultos. Entretanto, é razoável supor que os cristãos tenham sido influenciados pela prática judaica. Sabe-se que um lecionário (conjunto de passagens bíblicas para serem lidas na igreja) de três anos do AT era usado entre os judeus no período cristão, mas não se pode determinar quando seu uso começou. Alguns estudiosos acham que esses lecionários já existiam no tempo do Senhor. Há teorias que supõem que alguns dos evangelhos foram elaborados com base no padrão dos lecionários (cp. a teoria de Carrington sobre Marcos e a teoria de Guilding sobre João). Entretanto, isto são suposições que, embora possíveis, não podem ser consideradas consistentes.
Pode-se presumir que a leitura regular do AT e do NT nos cultos públicos logo tenha-se desenvolvido. Há diversas referências nos escritores patrísticos que mostram que a leitura pública de qualquer livro do N I era uma evidência de que se tratava de um livro aceito, isto é. um livro canônico. No Fragmento Muratoriano, alguns livros, como o Pastor de Hermas. eram permitidos para leitura em particular, mas não nas reuniões públicas. Durante a Idade Média o uso da Escritura para esse propósito foi abandonado, e foi restaurado apenas na Reforma. Essa volta das Escrituras ao uso litúrgico coincidiu com o fato de as Escrituras tomarem-se o tribunal de apelação para as igrejas protestantes. A reação da Igreja Católica Romana foi de proibir o uso da Escritura até mesmo particularmente, entre os leigos (veja a próxima seção).
B. O uso privativo. Em virtude do custo elevado da produção de MSS, nos primórdios do cristianismo a maioria das cópias da Bíblia pertencia às igrejas ou a poucos indivíduos abastados. O povo comum não tinha condição de possuir seu próprio exemplar e dependiam da leitura pública para conhecer as Escrituras. Além disso, a leitura pública era inestimável para os cristãos iletrados. Foi somente por volta do 8- séc. que um tipo de códice menor e mais barato da Bíblia passou a ser usado. Foi um grande avanço, pois permitiu que um número consideravelmente maior de pessoas tivesse sua própria cópia.
A prática da leitura das Escrituras para estudo tinha sido recomendada muito antes por Agostinho e Jerônimo, mas durante a Idade Média a Igreja Católica Romana não fez nenhum esforço para encorajá-la. No início desse período não havia nenhuma proibição direta da leitura da Bíblia, mas com a negligência do estudo do latim e a falta de VSS no vernáculo, a Igreja fechou os olhos para o desaparecimento da prática por omissão. Quando surgiram grupos como os albigenses e valdenses (durante os séculos 12 e 13), que apelavam para a Bíblia, a Igreja se opôs fortemente ao uso privativo das Escrituras.
Essa atitude atingiu seu clímax em 1546, no Concilio de Trento, quando foi estipulado que nenhuma VS feita por hereges poderia ser lida sem o consentimento do bispo. Embora esta continue sendo a atitude oficial da Igreja Romana, houve uma mudança significativa a partir do Concilio Vaticano II. Sem dúvida, tal mudança foi motivada pela abordagem ecumênica. A postura rígida adotada em Trento visava combater o livre uso das Escrituras pelos reformadores, principalmente por Martinho Lutero. Certamente um dos pontos principais do Protestantismo é a sua doutrina de que Deus é seu próprio intérprete da Palavra. Os movimentos mais fortes têm sido aqueles que reconhecem a importância do uso devocional da Bíblia.
C. O uso teológico. Na Igreja moderna, como na antiga, a Bíblia está no centro da discussão teológica. O renovado interesse pela teologia bíblica, em meados do século 20, é relevante porque mostra um reconhecimento crescente de que nenhuma estrutura teológica adequada pode existir sem um fundamento bíblico. Na base de toda verdadeira teologia bíblica há um entendimento exegético investigativo. Isso explica o fato de que número surpreendente de comentários da Bíblia não diminui. A atenção é atraída para o uso teológico da Bíblia apenas para enfatizar sua importância central em todo o debate teológico. A maior parte dos desvios doutrinários se deve à negligência das verdades bíblicas ou à má interpretação de princípios bíblicos fundamentais.
D. O uso na literatura. A despeito do fato de que a Bíblia nunca se destinou a ser lida como literatura, ela possui certas qualidades literárias e sem dúvida tem exercido grande influência sobre outras obras, principalmente no mundo de língua inglesa. A KJV na Inglaterra foi um meio poderoso de padronização do uso do inglês, não somente na esfera do vocabulário, mas também na do estilo. Uma comparação entre essa VS e suas predecessoras é o bastante para mostrar como as características literárias eram variadas antes da padronização ter lugar. Processos similares ocorreram em outras culturas, mas provavelmente não com o mesmo notável alcance, uma vez que a KJV foi produzida no período mais florescente do estilo de prosa inglês. Do ponto de vista literário, a Bíblia contém amostras de drama, poesia, prosa histórica e simples narrativa. No NT, as amostras de escrita epistolar não têm paralelo em nenhum outro lugar, por sua intimidade e amplo apelo. Não têm similar nas cartas particulares contemporâneas, nem com a literatura epistolar destinada a uma ampla audiência. Como os evangelhos, essas formas literárias foram criadas para suprir necessidades específicas. Embora a Bíblia continue merecendo um estudo literário, não é por esta razão que é o livro mais vendido em todo o mundo.
VIII. A inspiração e a autoridade da Bíblia. A doutrina da inspiração é abordada em outro verbete (veja Inspiração), mas nenhum artigo geral sobre a Bíblia seria completo sem voltar atenção para isso (veja A Bíblia como Palavra de Deus e de Homens). Exceto por aqueles que adotam uma abordagem radical da Bíblia, a maioria concorda que é um livro inspirado. Contudo, há diferenças de opinião quanto ao significado de “inspirado’; portanto, é fundamental uma breve clarificação de termos. Inspiração pode consistir em nada mais do que um súbito lampejo de discernimento, ou pode se referir àquele estado mental que eleva o escritor ou o artista acima da sua rotina, dando-lhe condições de realizar algo que normalmente estaria fora de sua capacidade.
A inspiração bíblica é diferente. Os homens falaram movidos pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). O impulso veio de Deus, não do homem, mas é preciso cautela. Não significa adotar uma visão mecânica da inspiração, pois isso faria com que os homens deixassem de ser homens. O modo da inspiração é menos importante do que o fato. O conceito de Justino, sobre o Espírito tocando as cordas de uma lira, não faz justiça aos escritores nem ao próprio Espírito. O motivo que levou a tal conceito — para salvaguardar a revelação divina da corrupção — é altamente louvável, mas o Espírito tem meios de assegurar a pureza da revelação, sem uma completa suspensão das faculdades humanas. Aquele que criou as habilidades humanas certamente pode trabalhar por meio delas. Se a idéia da inspiração mecânica deve ser rejeitada, em que sentido então o Espírito inspirou as Escrituras?
Não é suficiente limitar a inspiração à mensagem de salvação, pois neste caso qualquer livro que apresentasse Cristo seria igualmente inspirado, e a Bíblia perderia sua autoridade única, que os cristãos instintivamente sempre lhe atribuíram. A inspiração deve ter alguma referência ao próprio livro, como o meio pelo qual Deus fala com o homem. Consequentemente, tem sido convicção de muitos de que a inspiração deve se estender às palavras, no sentido de que as palavras usadas foram o melhor veículo pelo qual as verdades da revelação puderam ser expressas. A ênfase recai sobre o resultado, mais do que sobre o processo. Assim como todos os diferentes fatores, nas várias partes do AT e do NT, convergem para formar uma unidade sob a influência do Espírito de Deus, de uma forma que os autores individuais jamais sonharam, esse Espírito também coordenou perfeitamente os vários processos que vieram compor a escrita para o resultado inspirado. Não existe nenhum outro livro que possua o poder de desafiar e tranquilizar, de iluminar e confortar, de instruir e advertir, como a Bíblia. Isto é suficiente testemunho da sua inspiração. Sua autoridade está intimamente relacionada à sua inspiração.
Por que um livro contendo um material tão diversificado exerce uma autoridade tão grande sobre a mente dos homens? Este não é o lugar adequado para discutirmos a natureza da autoridade da Bíblia , mas o assunto não pode ser ignorado. É um fato claro que a Bíblia possui o poder de exercer autoridade, seja qual for a explicação. O testemunho do Espírito atrai a atenção para o propósito principal das Escrituras, ou seja, mostrar a influência progressiva da revelação de Deus ao homem, a qual atingiu seu clímax na encarnação e na expiação de Cristo. O aspecto religioso dessa autoridade é bem expresso nas palavras da Confissão de Fé de Westminster: “Pelo Testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso coração”.
Por causa deste testemunho interior do Espírito quanto à mensagem da Bíblia, a própria Bíblia assume autoridade para o crente. E esse aspecto que a diferencia de todos os outros livros, embora estes possam ser inspiradores, mas também têm suscitado problemas. Um dos maiores problemas relacionados à autoridade da Bíblia é se ela deve ou não ser submetida à crítica histórica como qualquer outro livro. Uma escola de pensamento adota o entendimento de que, visto que a Bíblia é um livro inspirado, é irrelevante submetê-la ao escrutínio humano. As questões sobre autoria são inválidas, uma vez que o autor é o Espírito Santo. Data e contexto também são irrelevantes, pois o Espírito pode aplicar a palavra sem auxílio histórico.
Entretanto, a não ser que a situação humana e a personalidade dos autores não tenham afetado a elaboração dos vá rios livros, deve ser útil inquirir sobre eles. Outra escola de pensamento, que também reconhece a obra do Espírito Santo na elaboração dos livros, sustenta não obstante que, visto ser o Cristianismo uma religião histórica, suas Escrituras devem ser submetidas à crítica histórica (veja Crítica Bíblica ). Há um sentido no qual a Bíblia é única, e a critica bíblica deve reconhecer isto em sua abordagem. Deve-se levar em conta que os escritores humanos eram homens do Espírito, de uma forma diferenciada dos seus contemporâneos. Ao mesmo tempo, o argumento dos melhores críticos tem sido que a Bíblia pode suportar a crítica e não precisa temer nenhum exame minucioso. Outra escola de pensamento considera que a crítica não deve levar em conta a inspiração.
É esta abordagem que tem resultado numa enxurrada de teorias relacionadas à origem de muitos dos livros do AT e do NT, o que por sua vez tem levado à rejeição de sua autenticidade. Fazem parte desta escola os liberais mais idosos e os desmistificadores mais recentes, para os quais a questão da inspiração e da autoridade não é essencial, se é que de fato tenha qualquer relevância. Isso exalta o crítico a um nível mais elevado do que a Bíblia, conferindo-lhe uma autoridade que nega a própria Bíblia. O que o crítico faz quando suas opiniões sobre a Bíblia entram em conflito com as reivindicações da Bíblia? Se a autoridade das Escrituras não tem nenhuma influência sobre ele, ele rejeitará tais reivindicações e manterá sua opinião. Se mantiver a autoridade bíblica, ele terá de questionar a validade de suas próprias deduções.
As vezes ocorre um dilema e nestes casos as pressuposições do crítico influenciarão sua opinião. Não há teoria fácil sobre a inspiração que não esteja repleta de dificuldades; entretanto, nenhuma teoria que tente construir um muro artificial em tomo da Bíblia para protegê-la do exame mais minucioso, embora reverente, é adequada. E relevante que não são poucas as teorias especulativas que, anteriormente difundidas com toda a confiança, caíram por terra devido a evidência posterior que veio à luz. A teoria de uma datação tardia, no 2 séc. d.C., para o Evangelho de João, ou da falibilidade histórica do livro de Atos podem ser citadas como graves exemplos que devem causar muitas reservas antes de qualquer teoria, ainda que bem elaborada, seja considerada fato. A despeito da grande quantidade de crítica destrutiva, a Bíblia ainda preserva sua influência poderosa e única sobre a mente humana. A Bíblia vindica a si própria.
IX. A unidade da Bíblia. Em outros verbetes pode-se encontrar discussões sobre a unidade do AT e do NT (veja Antigo Testamento e Novo Testamento). Entretanto, é importante uma breve consideração sobre a unidade dos dois Testamentos combinados. Neste artigo já foi feita mais de uma menção do elo essencial entre o AT e o NT, e do fato de que os dois formam um — e não dois — livros. Vale a pena destacar alguns aspectos dessa unidade. Primeiro, uma vez que o Espírito inspirou as duas partes, pode-se esperar que uma complemente a outra. O que é prefigurado no AT é realizado no NT. Segundo, visto que a fé cristã tem sua base no ministério e na missão de Cristo no NT, alguns conceitos da revelação progressiva, que sempre se move em direção a um entendimento mais profundo até que alcança a plenitude em Cristo, são essenciais para uma verdadeira apreciação do papel do AT. Terceiro, alguma unidade é vista no arranjo dos livros. Assim como há uma divisão tripla no AT (Lei, Profetas e Escritos), há também uma estrutura tripla no NT (Evangelhos-Atos, Epístolas, Apocalipse).
Não seria frutífero buscar uma correspondência mais conclusiva entre essas estruturas. A unidade é muito mais profunda do que isso. Quarto, a unidade básica baseia-se na unidade da mensagem. E o mesmo Deus que se revela no AT e no NT; um Deus que condena o pecado, mas está sempre pronto a mostrar misericórdia ao penitente; um Deus que escolheu o sacrifício como meio pelo qual se pode alcançar a salvação; um Deus que enviou seu Filho, predito pelos profetas no AT, e manifestado em came no NT. As muitas ocasiões em que os escritores do NT citam o AT mostram a pressuposição apostólica de B que havia uma unidade entre os atos de Deus em Cristo e a revelação do AT.
X. A singularidade da Bíblia. Visto que para os cristãos a Bíblia é um livro sagrado, surge a questão sobre qual é a relação dela com os livros sagrados de outras religiões. Em que sentido a Bíblia é superior? Essa questão é importante porque, a menos que essa superioridade possa ser estabelecida, a Bíblia não pode afirmar ser única a revelação da verdade religiosa. As principais literaturas religiosas do mundo, fora a Bíblia, consistem nos Vedas do Bramanismo, a Tripitaca do Budismo, o Zend-Avesta do Zoroastrismo, os textos sagrados do Confucionismo e o Alcorão do Islamismo. Os hinos védicos, compostos de quatro livros, reúnem comentários ritualísticos conhecidos como Brâmanas, com os Upanichades (tratados filosóficos especulativos). Além desses hinos sagrados, há as leis de Menu, que entesouram certos códigos para a regulamentação da conduta, e muitos deles são de elevada qualidade moral. Muitos desses escritos são dirigidos às divindades da natureza.
Embora grande parte do material nesses escritos seja antiga, provavelmente sua forma atual não é anterior ao 2° séc. d.C. Nestes escritos, o objetivo da alma é alcançar a absorção no auto-existente. Tripitaca, ou os três cestos do Budismo, não foram escritos muito antes do tempo de Cristo, embora os ensinos de Buda sejam considerável antigos. Os três volumes que compõem essa literatura sagrada são o Vinaia Pitaca, Abidarma Pitaca e Sutra Pitaca, que contêm regras para a vida comunitária, doutrinas filosóficas e os ensinos orais de Buda, respectivamente. O tema principal desses livros é a busca da alma do escapar da existência. Acredita-se que alguns dos escritos que formam o Zend-Avesta são anteriores a 800-700 a.C., mas não existe certeza sobre a época em que Zoroastro viveu. Originalmente havia um texto sagrado e 21 livros de comentários sobre ele, dos quais remanescem apenas fragmentos.
Eles formam três seções: Iasna (liturgias), Visperade (litanias sacrificiais) e Vendidade (leis e narrativas legendárias). O ponto de vista religioso desses fragmentos é mesclado, embora os textos preservem ótimas passagens. Os textos do Confucionismo não reivindicam autoridade sobrenatural. Há cinco textos. Partes são compostas pelos ensinamentos do próprio Confúcio e partes são material mais recente. Trata-se de uma mistura de crônicas, fórmulas mágicas, leis morais e cânticos. As vezes preservam alguns conceitos nobres. O Confucionismo não possui uma divindade, portanto não se trata estritamente de uma religião. Os textos devem ser considerados preceitos morais sem autoridade que lhes dê sustentação. Um famoso livro sagrado produzido por Lao-Tzé, um filósofo nascido pouco antes de Confucio e que na idade avançada o conheceu pessoalmente, é conhecido como Tao-ti-King e contém alguns refinadas injunções morais. Foi esse texto sagrado que levou ao Taoísmo; este porém se desenvolveu só 500 anos mais tarde e manteve pouca semelhança com os ensinamentos de Lao.
O Alcorão consiste nas revelações que se afirma terem sido recebidas por Maomé e escritas por seus seguidores. Em sua forma original não possuía nenhuma organização e tratava de uma grande variedade de assuntos, apenas alguns deles relacionados com religião. A relevância principal do Alcorão para o Islamismo é o preceito é tido como originalmente escrito pelo dedo de Deus e transmitido a Maomé em uma série de revelações. Portanto, o próprio livro reivindica autoridade divina. Há diversas características que distinguem todos esses livros sagrados da Bíblia, e mostram a superioridade desta. A distinção mais nítida é a falta de pano de fundo histórico. Nenhum desses livros compreende valor como revelação histórica revelação histórica, como a Bíblia faz.
O lugar que a história ocupa na Escritura cristã, nesses livros é preenchido por rituais, comentários explicativos ou superstições. Por essa razão, a revelação bíblica tem se adaptado às necessidades de sucessivas gerações, o que não ocorre com as outras literaturas. Aquilo que se baseia na história tem relevância imediata, em virtude de seu apelo essencialmente humano. Além disso, os outros livros exaltam o passado acima do presente. Retomam aos pensamentos refinados de mentes nobres, mas não dão poder para traduzir esses pensamentos do passado para o presente. Em contraste, a Bíblia apela para a confrontação no presente, ao desafio de uma vida mais santa com Deus hoje. O passado é importante somente quando leva a uma experiência genuína no presente. Comparada com outros livros, a Bíblia é um livro de esperança. Trata do problema do pecado, mas aponta um meio de vencê-lo. Não apoia o desespero sombrio dos Vedas e do Tripitaca, ou o fatalismo do Alcorão. Resumindo, é o conteúdo da Bíblia que a toma superior aos outros livros. Seu conceito de Deus, das necessidades humanas, de salvação e destino, e acima de tudo a apresentação de Cristo, ilustram esta superioridade.
A Bíblia tem uma mensagem para as várias necessidades do homem. Além disso, apresenta um quadro completo 7 da situação religiosa do ser humano, que os outros livros não possuem. Estes, embora apresentem alguns vislumbres ocasionais de luz, no geral estão no escuro do ponto de vista religioso. A Bíblia, por outro lado, apresenta uma visão progressiva da verdade, alcançando seu clímax com a afirmação de Jesus: “Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida”. Tal declaração entesoura a singularidade do Cristianismo e das suas Escrituras Sagradas. A superioridade da Bíblia, sobre todos os outros livros que reivindicam ser revelação divina, reside na superioridade de Cristo, não somente como mestre de moral, mas como Salvador.
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