Interpretação de Romanos 6

Romanos 6

Romanos 6 se aprofunda nos conceitos de libertação do pecado, santificação e nova vida do crente em Cristo. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Romanos 6:

1. Mortos para o pecado, vivos em Cristo: Paulo começa abordando a questão de saber se os crentes devem continuar no pecado, uma vez que estão sob a graça. Ele rejeita enfaticamente esta ideia, afirmando que os crentes morreram para o pecado através da sua identificação com a morte de Cristo na cruz. Assim como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, os crentes são ressuscitados para uma nova vida Nele (Romanos 6:1-4).

2. O Batismo Simboliza a Identificação: Paulo usa o simbolismo do batismo para ilustrar a identificação do crente com Cristo. O batismo representa a morte do velho eu (sepultamento) e a ressurreição para uma nova vida em Cristo. É um símbolo poderoso do compromisso do crente com uma vida de justiça (Romanos 6:3-4).

3. Crucificando o Antigo Eu: Paulo enfatiza a necessidade dos crentes se considerarem mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Ele pede um cálculo ou contagem do velho eu como crucificado com Cristo. Esta é uma atitude mental e espiritual que reconhece que o poder do pecado foi quebrado (Romanos 6:11).

4. Liberdade da Escravidão ao Pecado: Paulo argumenta que os crentes não são mais escravos do pecado, mas agora são escravos da justiça. Embora isto possa parecer paradoxal, reflecte a transformação que ocorre quando alguém se torna um seguidor de Cristo. Os crentes são capacitados pelo Espírito Santo para resistir ao pecado e viver em obediência a Deus (Romanos 6:16-18).

5. As Consequências do Pecado e da Justiça: Paulo compara os resultados de servir ao pecado e servir à justiça. O fim do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna através de Cristo Jesus. Isto sublinha a seriedade do pecado e o valor imensurável do dom da vida eterna (Romanos 6:23).

6. Liberdade do Domínio do Pecado: Paulo enfatiza que o pecado não terá domínio sobre os crentes porque eles estão sob a graça. A graça capacita os crentes a vencer o pecado e viver em santidade. Isto não significa que os crentes não terão pecado, mas significa que não serão mais escravizados ao poder do pecado (Romanos 6:14).

Em Romanos 6, Paulo apresenta uma profunda compreensão teológica da relação do crente com o pecado e a justiça através da sua identificação com Cristo. Ele argumenta que através da fé em Jesus, os crentes foram libertos do domínio do pecado e são chamados a viver uma nova vida caracterizada pela justiça e pela santidade. O batismo serve como uma representação simbólica dessa transformação. A mensagem de Paulo é que a vida cristã não é uma continuação de uma vida pecaminosa, mas uma mudança radical para uma vida de obediência, fortalecida pela graça de Deus.

Interpretação

6:1-8:39 Até aqui Paulo tem destacado que Deus é justo e reto (cons. 3:26) e que Ele concede a justiça àqueles que creem (cons. 3:22). Diante da pergunta como os homens se tornam justos diante de Deus, ele replicou: “Não pelas obras mas pela confiança em Deus” (cons. 4:1-8). Mas aquele que tem a justiça, que Deus concede, deve viver uma vida justa. Paulo agora demonstra o que isto significa. Primeiro, ele elimina algumas ideias erradas sobre o seu ensinamento sobre a graça. A seguir, ele demonstra que na luta contra o pecado, o crente não deve condenar a lei. Depois ele descreve o pecado como um tirano poderoso, que não pode ser derrotado só pelos esforços humanos. Paulo conclui esta parte apontando como obter a vitória.

6:1. Já que a graça é tão poderosa, não poderia um homem permanecer no pecado e ainda assim experimentar o poder da graça libertadora?

6:2. A resposta de Paulo é enfática. De modo nenhum. Aquele que confia em Cristo identifica-se com o Senhor Jesus na Sua morte. Nós, os que para ele morremos? O versículo 10 esclarece que Paulo, aqui está falando da morte de Cristo. Mas ele usa a primeira pessoa do plural – Nós morremos para o pecado. É uma experiência do passado. Sendo assim, como poderíamos ainda viver no pecado quando já morremos para ele?

6:3-5. Tendo dito que o crente morreu com Cristo, Paulo refere-se agora à ordenança do batismo. Aqui o apóstolo segue seu familiar padrão de declarar a verdade e depois ilustrá-la.

6:3. Todos os que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? A frase “serem batizados em” (baptizein eis) também pode ser traduzida para foram batizados com respeito a. É usado no sentido de ser batizado com respeito ao nome de alguém (cons. At. 8:16; 19:5; I Co. 1:13, 15; Mt. 28:19; veja Arndt, baptizo, pág, 131). A ordenança do batismo está sendo focalizada com respeito à morte de Cristo – seu significado e resultado. Mas Paulo aqui aponta para as implicações do batismo no que se refere à maneira de viver dos romanos.

6:4 Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo. “Fomos sepultados junto” destaca a realidade da morte de Cristo. Cristo morreu, e o crente realmente morreu com Ele. Como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai. Esta é uma cláusula comparativa. A ressurreição concedeu ao Senhor Jesus uma nova maneira de vida. De modo semelhante nós também deveríamos andar em novidade de vida. Já que fomos identificados com Cristo na Sua morte, somos identificados com Ele na Sua ressurreição. Para o Salvador, a ressurreição significou nova maneira de vida. Somos sepultados com Cristo para que nós, como Ele, possamos viver em novidade de vida. A tradução andar em novidade de vida traz em si o viver diário na costumeira rotina da vida.

6:5 Se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte (MM, pág. 598), certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição. A palavra semelhança foi usada em relação a duas palavras na tradução deste versículo em português – morte e ressurreição. Embora apareça uma única vez no texto original, está claro que Paulo tinha a intenção de aplicá-la a ambas, morte e ressurreição. Alguns têm desejado acrescentar “com ele” ao versículo – “Se fomos plantados juntamente com ele na semelhança”. Mas sua morte e ressurreição torna claro, não obstante, que Cristo é a figura central do versículo. A expressão com ele não se encontra no texto, e sem ela o sentido já é bom. A ênfase do versículo recai sobre a palavra semelhança (homoioma). Pecar na semelhança da transgressão de Adão (5:14) significa pecar do mesmo modo, isto é, desobedecer uma ordem específica. Não significa pecar o mesmo pecado. Portanto a palavra pode ter os significados de “representação”, “cópia”, “fac-símile” e “reprodução”. (Para um excelente exame da palavra e as diversas interpretações dadas neste contexto, veja Johannes Schneider, TWNT, V, 191l95). Uma vez que os crentes tiveram uma morte como a de Cristo, certamente terão uma ressurreição igual. Isto não significa que terão uma ressurreição idêntica a de Cristo; antes, terão uma ressurreição como a dEle. No batismo os crentes são ligados à representação de Sua morte. Ser ligado à semelhança da ressurreição de Cristo é uma esperança futura da qual eles têm certeza. Ambos os fatos (batismo e ressurreição) apontam para um modo de vida transformado, entre estes dois eventos - o andar em novidade de vida.

Nos versículos 6-10, como no versículo 2, Paulo aponta o acontecimento histórico da morte de Cristo.
Nosso velho homem. O homem velho ou não regenerado, antes de ser renovado, mudado, transformado. Este homem não regenerado, foi crucificado com Cristo para que o corpo do pecado seja destruído. O corpo aqui foi destacado por causa do papel que exerce na execução dos desejos pecaminosos do homem. Para que não sirvamos o pecado como escravos. O pecado aqui foi personificado. Como tirano, ele mantém os homens presos em abjeta escravidão.

Porquanto quem morreu, justificado está do pecado. Uma pessoa morta não pode atuar nos acontecimentos diários da vida. Alguém que morreu para o pecado não reage ao padrão da vida do pecado.

6:8 Se já morremos com Cristo. Nosso morrer com Cristo é a base de nossa crença em que seremos ressuscitados com Ele.

6:9 A morte de Cristo foi em relação ao pecado. Sua vitória sobre a morte é permanente. Isto aconteceu uma vez por todas.

6:10 Desde o momento de sua morte Ele vive somente para Deus, isto é, para o lucro e glória de Deus. E Ele viveu somente para Deus antes da Sua morte. Mas quando Jesus realizou a Sua obra redentora, que se centralizou em Sua morte, Sua vida para Deus recebeu uma nova aparência. Ele resolveu a questão do pecado de uma vez para sempre. Ele conquistou a morte. Com o pecado e a morte derrotados, pôde viver para Deus tendo estas experiências por trás dEle.

6:11 Devemos nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus (prosseguir nos considerando). O fato de que devemos prosseguir nos considerando mortos para o pecado, mostra que a possibilidade do pecado está sempre presente. Mas o nosso considerar é mais do que negativo. Devemos nos reconhecer vivos (constantemente vivendo) para Deus. A frase em vosso corpo mortal equivale ao vos (v. 13). Porque o pecado não terá domínio sobre vós, isto é, sobre vossas pessoas, para obedecerdes aos seus desejos malignos. Se estamos em Cristo, temos o poder de destronar o pecado em nossas vidas. Se um crente permite que o pecado reine, ele obedece aos desejos malignos que o pecado gera.

6:13 Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniquidade. Quando o pecado, o tirano, reina nos corações dos homens, os pecadores livremente oferecem suas mãos, pés, olhos e mente para a causa da injustiça. Em lugar dessa constante dedicação para o mal, Paulo insiste: oferecei-vos a Deus..., e os vossos membros... como instrumentos de justiça. Por que deveríamos nos apresentar a Deus? Porque aqueles que estão em Cristo vivem como ressuscitados dentre os mortos. Nós morremos com Cristo. Vemos, portanto, a vida sob uma nova perspectiva. Dedicamo-nos a Deus. O ego, é claro, inclui cada membro ou parte do nosso ser e cada atividade em que possamos estar ocupados. Tudo aquilo que forma a personalidade humana, ou estará servindo ativamente à justiça, ou estará servindo ativamente à injustiça. Em qual serviço os nossos membros estão ocupados?

6:14 A abundância da graça é de natureza tal que o pecado não terá domínio sobre os crentes. Não estamos debaixo da lei mas da graça. Aqueles que estão em Cristo não estão sob o regime da lei mosaica para obtenção da salvação. Estamos sob a graça de Deus e de Cristo. Todo o V.T. – a Lei, os Profetas e os Escritos (os Salmos, por exemplo) – certamente revelam o pecado (Rm. 3:20; 5:20) quando compreendidos à luz dos ensinamentos de Cristo, e dos apóstolos depois da morte e ressurreição dEle. O V.T, também ensina as grandes verdades cristãs sobre Deus. Paulo encarava Cristo e seus ensinamentos como sendo a própria lei. “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl. 6:2). “Aos sem lei, (eu me fiz) como se eu mesmo o fosse sem lei (para os gentios como gentio), não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. (os gentios)” (I Co. 9:21).

6:15 –7:6 Quando estamos sob a graça, temos um novo proprietário. Este fato muda toda a conduta -do crente. Nosso “status” sob a graça é como o de uma mulher casada com outro homem depois da morte do marido. Envolve toda uma nova maneira de vida. Assim, por analogia, Paulo mostra que estar sob a graça, não permite nunca que o crente seja indiferente ao pecado.

6:15-23 Aqui Paulo apela para o que seus leitores já conhecem. Ele os faz lembrar de suas vidas passadas e do fruto que produziam. Ele lhes fala do resultado de sua nova dedicação. Ele apresenta o contraste dos resultados eternos das duas diferentes formas de fidelidade.

6:15 Poderia um homem cometer um pecado porque não está sob a lei, mas sob a graça? Paulo replica: De modo nenhum.

6:16 Ele faz seus leitores se lembrar de que são escravos daquele a quem eles mesmos se entregaram. Se eles se entregam ao pecado, o resultado é a morte. Se eles se tomam escravos da obediência a Deus, o resultado é a justiça. A entrega é encarada aqui como um processo constante de submissão.

6:17 Eram antigamente escravos do pecado. Houve então um rompimento dessa escravidão. Viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. O padrão de ensinamentos é o Cristianismo, é claro. Eles foram entregues para o aprendizado do seu conteúdo. Eles reagiram obedecendo – uma obediência que vinha das profundezas do seu ser. Isto provocou mudança decisiva. Foram libertados do pecado. Tornaram-se escravos da justiça. Ambos, o pecado e a justiça, foram personificados, e esta figura de linguagem – ser escravo do pecado ou da justiça - ajuda-nos a compreender exatamente o que está se discutindo.
 
6:19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Paulo diz que esta analogia humana é necessária por causa do discernimento deficiente daqueles, que facilmente se tornam instrumentos do pecado. O homem sob o controle do pecado está “na carne”. Antigamente os leitores de Paulo apresentavam os seus membros como escravos da impureza, cometendo um pecado após o outro. Isto comprovava sua constante devoção à diversas formas de impiedade. Assim oferecei agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Com o mesmo abandono com o qual os homens dedicam-se ao mal, deveriam agora apresentar seus membros como escravos da justiça. O resultado é consagração ou santificação. Consagração a quem? A Deus. Santidade é o produto da consagração a Deus.

6:20 Paulo afirma, que quando os leitores pertenciam ao pecado, eles certamente não tinham a justiça por senhor.

6:21 Que resultados colhestes? Quando vocês eram escravos do pecado, que fruto vocês produziam? Vocês produziam o tipo de fruto de que agora vos envergonhais. Os pecadores produzem mau fruto (veja Mt. 7:16-20). O fim delas é morte (dessas coisas). Paulo aqui se refere à morte eterna (veja Arndt, thanatos, 2, b, pág. 352; Rm. 1:32; 6:16, 21, 23; 7:5; lI Co. 2:16; 7:10; II Tm. 1:10; Hb. 2:14b; I Jo. 5:16; Ap. 2:11; 20:6, 15; 21:8).

6:22 Estar livre do pecado significa ser escravo de Deus. O fruto imediatamente produzido é a consagração. O resultado final de se pertencer a Deus é a vida eterna.

6:23 Porque o salário do pecado (pelos serviços que se lhe prestam) é a morte. Paulo aqui muda ligeiramente a sua analogia. O pecado paga solário àqueles que trabalhara para ele. O salário pago é a morte.

Mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor. O dom gratuito da libertação do pecado oferecido por Deus, a transformação de todo o ser do pecador, é a vida eterna. Vida eterna é um novo tipo de vida. O pecador o considera um favor não merecido. Este tipo de vida, esta qualidade de existência, encontra-se em uma só pessoa – em Jesus Cristo. A última frase – nosso Senhor – é a maneira de Paulo dizer, que o Senhor nos pertence como nós lhe pertencemos. Nós o fizemos nosso Senhor por ato de entrega. Seu senhorio se estende à maneira de nosso comportamento.

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