Interpretação de Zacarias 1

Em Zacarias 1, o profeta recebe uma série de visões de Deus que servem como um chamado ao arrependimento e uma promessa da restauração de Deus. O capítulo começa com um chamado para que Israel retorne a Deus, assim como seus ancestrais foram chamados pelos profetas anteriores. O povo é exortado a aprender com os erros dos seus antepassados, que enfrentaram as consequências da sua desobediência.

O capítulo então apresenta uma série de visões noturnas que Zacarias teve. Essas visões envolvem várias imagens simbólicas, como cavaleiros, murtas e chifres. Esses símbolos representam diferentes aspectos dos planos de Deus para Israel e as nações. As visões enfatizam o cuidado vigilante de Deus sobre Seu povo, Seu julgamento final sobre seus inimigos e a futura reconstrução de Jerusalém.

Zacarias 1 serve como uma introdução aos temas de arrependimento, restauração e a vinda do Messias que são explorados com maior profundidade ao longo do livro. O capítulo dá o tom do ministério profético de Zacarias e fornece um contexto para a compreensão das visões e mensagens que se seguem.

Interpretação

I. Introdução: Chamado ao Arrependimento. 1:1-6.

1:1. O segundo ano de Dario. Datar uma profecia segundo o reinado de um monarca gentio evidencia que o tempo dos gentios, que começou com Nabucodonosor, já estava em andamento (cons. Lc. 21:24).

1:2. O SENHOR se irou em extremo. Em linguagem enfática o profeta declara o aborrecimento divino com os pais de seus patrícios. Foi mais que a negligência deles em construir o Templo que o aborreceu; foi a sua visão espiritual de modo geral. Voltar do exílio não bastava para agradar ao Senhor; eles precisavam fazê-lo de coração.

1:3. Eu me tornarei para vós outros. Seu arrependimento encontraria Deus pronto e desejoso de recebê-los e abençoá-los.

1:4. Não sejais como vossos pais. O mau exemplo é tão infeccioso que Zacarias precisou advertir seus correligionários a não imitarem o modo de vida de seus predecessores. Estes trilham fracassado em atender às mensagens autênticas dos profetas de Deus e consequentemente tinham feito uma colheita de miséria e sofrimento no cativeiro babilônico.

1:5. Vossos pais, onde estão eles? Pais e profetas, todos tinham partido. O homem é uma planta que murcha, mas há uma força permanente no universo (Is. 40:6-8).

1:6. Não alcançaram a vossos pais? O homem é mortal, mas as palavras e os estatutos de Deus são imortais. Embora a geração anterior já tivesse partido, os acontecimentos subsequentes revelaram a verdade da mensagem de Deus nos juízos que sobrevieram a Israel por causa da desobediência. Assim ele nos fez. Deus cumpriu todas as predições ao pé da letra. Os contemporâneos de Zacarias deviam aprender das lições da história e decidir a obedecer a Deus implicitamente.

II. As Visões Noturnas de Zacarias. 1:7 – 6:15.
A. Visão de Cavalos e Cavaleiros. 1:7-17.


1:7. Aos vinte e quatro dias do mês undécimo. Todas as oito visões noturnas foram concedidas ao profeta em uma só noite, três meses depois da primeira mensagem. Formam uma unidade que tem a sua chave na primeira visão.

1:8. Um homem montado num cavalo vermelho. Nos versículos 11 e 12 o homem sobre o cavalo vermelho é chamado de “anjo do Senhor”. O Anjo do Senhor através de todo o V.T. é considerado o próprio Deus (veja Gn. 16:7-13; Êx. 3:2-6; Juízes 13:9-18, 22; e outros). O Talmude babilônico interpreta assim : “Este homem não é outro que o Santo, bendito seja”; pois foi dito, “O Senhor é um homem de guerra”. Cavalos vermelhos, baios e brancos. Já houve quem dissesse que as cores dos cavalos representam as diversas missões dos cavalos com os seus cavaleiros. De acordo com este ponto de vista, o vermelho significa guerra, e, neste exemplo, juízo para os inimigos de Israel (cons. Ap. 6:4). O fato do Anjo do Senhor estar cavalgando este animal revela qual o propósito de Deus para aquela hora. O bafo indica uma mistura das outras cores. O branco indica vitória (cons. Ap. 6:2). As murteiras representam Israel.

1:9. O anjo que falava comigo. Este anjo é o mediador ou anjo intérprete, comissionado para explicar as visões ao profeta (cons. Ap. 1:1; 22:16). Ele não apresenta as visões, mas esclarece o seu significado a Zacarias.

1:10. O SENHOR tem enviado para percorrerem a terra. Os cavalos que simbolizam atividade divina entre as nações da terra, foram enviados em uma missão de reconhecimento. Deus está sempre interessado nos negócios da terra, especialmente quando se relacionam com a sorte de Israel, Seu povo terrestre.

1:11. Eis que toda a terra está agora repousada e tranquila. O relatório dos cavaleiros foi fora do comum; disseram que a terra estava em paz. Na realidade, os primeiros anos do reinado de Dario foram tempestuosos, marcados por repetidas rebeliões através de todo o seu domínio; mas nesse ano tudo estava em paz novamente. Mas Deus antevira que as nações seriam abaladas (Ageu 2:21, 22). Por que essa disparidade e como podia ser explicada?

1:12. Até quando não terás compaixão? O contraste entre as nações tranquilas e o povo de Deus tiranizado era doloroso; por isso o Anjo de Deus intercedeu por eles. Ele orou pedindo que a misericórdia fosse estendida a eles após seu longo período de castigo sob a disciplinadora mão de Deus. Setenta anos. O período tem sido diversamente computado. Um cálculo estabelece as datas finais em 606 A.C. (cons. II Reis 24:1) e 538 A.C., o ano do decreto de Ciro para a reconstrução (cons. Jr. 25:11; 29:10). Neste caso setenta anos seriam obtidos ou contando ambos os anos finais, que é uma prática antiga, ou considerando setenta como um número redondo. Aqui os setenta anos parecem referir-se ao período de 586 a 516, quando o Templo (“minha casa”, v. 16) se encontrava em ruínas.

1:13. Palavras boas, palavras consoladoras. De acordo com sua necessidade Deus lhes respondia com palavras que previam coisas boas e davam conforto. O restante da primeira visão mostra o que eram essas palavras consoladoras. O conforto consistia na certeza que o Senhor dava de 1) que tinha ciúmes contínuos por Israel; 2) que estava grandemente aborrecido com as nações; 3) que retornariam a Jerusalém pela misericórdia; 4) que o Templo seria reconstruído; 5) que a cidade arruinada seria restaurada; 6) que as cidades da terra prosperariam; 7) que Sião seria consolado; e 8) que Jerusalém seria escolhida.

1:14. Estou zelando por Jerusalém. Em confortador para Israel saber que Deus anda se preocupava grandemente e zelava pelo seu bem-estar.

1:15. Estou irado contra as nações. Este é o inverso do conceito do amor zeloso de Deus por Israel. Mas pela própria natureza do caso Ele devia se opor inalteravelmente a tudo o que buscasse prejudicar o Seu povo. Confiantes. O fato das nações estarem desfrutando de paz não significava que Deus as estava abençoando. Elas agravaram o mal. É verdade que Deus comissionou as nações para castigar Israel, mas elas assumiram e executaram a tarefa por si mesmas e não por causa dEle. Seus propósitos malignos dominavam suas ações. Elas não pensavam na glória de Deus; assim elas se sentiam despreocupadas e insensivelmente confiantes.

1:16. Voltei-me para Jerusalém com misericórdia. Agora os propósitos divinos em relação a Israel referiam-se à sua restauração, bênçãos e engrandecimento. A minha casa nela será edificada. O sinal do favor divino restituído a Jerusalém era a reconstrução do Templo. O Templo já estava sendo reconstruído, mas não ficou pronto até o sexto ano de Dario (Esdras 6:15). O cordel será estendido. Antes de uma cidade ser destinada à destruição, estendia-se um cordel sobre ela, como para delimitar e definir a área da destruição (cons. lI Reis 21:13). Agora uma linha devia ser estendida sobre a cidade de Jerusalém em preparação para a reconstrução (cons. Jó 38:5). Uma completa inversão de condições é o que se indica aqui.

1:17. Ainda se transbordarão. As cidades de Judá veriam uma notável prosperidade. Josefo, o historiador judeu do primeiro século d.C., declarou que a população do país aumentou grandemente no tempo dos Macabeus (século segundo A. C.). O SENHOR ainda consolará a Sião. As fortes consolações de Deus para o Seu povo revelariam aos seus corações compreensivos a imutabilidade da escolha que fizera deles para si mesmo. Ninguém pode negar que essas predições se cumpriram naqueles dias do século sexto A.C. , mas o campo de ação mais amplo das Escrituras mostra que elas se cumprirão mais detalhadamente nos dias messiânicos.

B. Visão dos Chifres e dos Ferreiros. 1:18-21.
1:18. Eis quatro chifres. No cânon hebraico a segunda visão começa o segundo capítulo do livro. As versões inglesas seguem a LXX e a Vulgata. Nenhum dos arranjos afeta o sentido da passagem.. Na Bíblia o chifre é uma figura bem conhecida de poder; animais com chifres manifestam sua força através deles (cons. Mq. 4:13; Dn. 8:3, 4). Intérpretes não concordam quanto ao significado dos quatro chifres. Já se disse que eles representam: os quatro cantos da terra; os inimigos de Israel de cada lado; inimigos específicos nas fronteiras da Terra Prometida; todos os adversários de Israel até o reino do Messias. Aceitando o amplo testemunho das Escrituras, especialmente à vista das figuras de Daniel e do Apocalipse, um grande número de expositores relacionam os chifres com os quatro poderes mundiais de Daniel 2, 7 e 8, a saber, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Provavelmente este é o ponto de vista melhor consubstanciado. Não se pode negar que no tempo de Zacarias o terceiro e quarto reinas ainda não existiam, mas sabe-se que a preferia reúne em um amplo panorama os elementos componentes do plano profético. Compare Is. 61:1-3; Dn. 9:24-27; Zc. 9:9, 10.

1:20. Quatro ferreiros. A palavra usada no original é empregada em relação a qualquer trabalhador especializado em madeira, metal ou pedra.

1:21. Vieram para os amedrontar. Os artesãos vieram com o propósito de amedrontar e aterrorizar os corações das nações que não tiveram misericórdia de Israel, deixando-a prostrada e esmagada. Para cada inimigo de Israel Deus tinha um instrumento de juízo correspondente para execução do castigo.

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