Estudo sobre Sofonias 3
5) O oráculo contra Judá
(3.1-7)
v. 1. ádade rebelde.
Após o oráculo contra a Assíria, o trecho não identifica a cidade “alvo”. O
leitor pode supor que a palavra ainda é dirigida à Assíria. O efeito dessa
ambiguidade provavelmente intencional é induzir à aprovação do princípio
de que a rebeldia, profanação, opressão e a incorrigibilidade fazem por
merecer e chamam sobre Sl a ira divina; cf. Am 1.3—2.8. Esse consentimento
é dado mais facilmente quando se pensa em Nínive como a cidade
condenada. Jerusalém, a cidade santa, é retratada como se fosse a corrupta
capital da nação pagã da Assíria (3.14); cf. Jr 7.28. A sua correção (v.
2,7) é uma referência às circunstâncias adversas enviadas para
castigar, mas que só resultam em perda de fé e comunhão com Javé, seu
Deus — implicando o seu intercâmbio com as deidades pagãs dos seus
vizinhos (cf. 1.4ss). v. 3. seus líderes-. Ou do culto ou, mais
provavelmente, os príncipes (sãrim; cf. 1.8), e seus juízes
devoram sua presa até que não sobre nada. v. 4. Seus profetas
atrevidamente fazem profecias extravagantes para obter aplauso popular.
São traiçoéros, i.e., ou cheios de engano, ou produzem seus
próprios oráculos. Seus sacerdotes-. Guardas da sagrada “torá”;
eles cometem sacrilégios (cf. 1.4ss) e assim fazem violência à
instrução divina, v. 5. o Senhor: “Javé”, o nome da aliança que
implica a divina fidelidade da aliança, sua justiça: I.e., a sua
ajuda constante aos oprimidos, ilustrada pelo livramento diário e certo da
opressão da escuridão. mas o injusto não se envergonha:
Frase omitida pelo ICC em virtude do estilo e contexto, mas pode
haver uma relação entre ele não falha, ‘awlãh, e o injusto,
‘awwãl. v. 6. Eliminei: “A queda de grandes impérios
era causada por Deus [...] uma prévia do grande dia do juízo”
(Watts). V. comentário de 2.13ss. v. 7. a sua habitação não seria
eliminada, nem cairiam sobre ela todos os meus castigos-, O hebraico
aqui é difícil. O destino de outras nações fez Judá se tornar complacente
quando ele deveria ter servido como advertência.
6) Resumo (3.8)
“Por isso,
esperem por mim ”: A frase,
geralmente associada com piedade, pode ser aqui um oráculo de ironia contra os
maus. Se, por outro lado, for um encorajamento ao remanescente
temente a Deus a permanecer firme durante o derramar [da] minha ira (Keil),
então está associado com os v. 9-20 e 2.1-4. Cf. Hb 3.16-19. para
testemunhar. A LXX e a Siríaca pressupõem o TM emendado de P‘ad,
“para a presa”, para l‘‘êd.
VI. ANÚNCIO DA RESTAURAÇÃO
(3.9-20)
1) A
conversão das nações (3.9,10)
v. 9. purificarei os
lábios: Expressão associada com invoquem o nome, indica conversão da
oração a deidades pagãs e o juramento em nome delas. Se Babel (11.1-9)
significa que o homem arrogante (cf. Gn 3.5ss) perdeu a comunhão até
com o seu próximo, os lábios purificados na linguagem figurada de
Sofonias representa o alvorecer de um novo dia. A rebeldia e arrogância
serão expurgadas da terra para que todos eles invoquem o nome
do Senhor. Os novos lábios purificados, que virão como
resultado do reconhecimento por parte do homem das exigências morais
do caráter de Deus, vão capacitar os homens a servi-lo de comum
acordo (nr. da BJ: “hebr. lit.: ‘com um único ombro’ ”). Além disso, a
dispersão do meu povo (Gn 11.8,9) será revertida (v. 10). v. 10. Desde
além dos rios da Etiópia:
I.e., “os limites vagamente
reconhecidos da civilização como o profeta os reconhecia” (Watts), o povo
disperso de Javé vai reconhecer sua divindade e adorá-lo. Esse povo
disperso talvez seja o povo de Judá exilado, ou os povos, em
harmonia com o universalismo de Sofonias que é tão amplo na salvação
quanto no juízo.
2) A
restauração do remanescente de Sião (3.11-20)
Em Sofonias, a rebeldia
arrogante é o pecado principal, e o reconhecimento da dependência de Javé é
fundamental para o relacionamento com ele (2.1,3,8,10,15; 3.3,5). Enquanto
o orgulho é reduzido à vergonha e desmoralização pelo juízo de Deus
(1.14-17), a humildade resulta em alegria indizível, não somente para
o seu povo (3.14,20), mas para o próprio Deus (3.17). O reconhecimento
da vergonha do pecado (2.1) resulta na exaltação conferida por Deus
(3.20). Aqui Sofonias está na vertente central do pensamento bíblico (cf. Gn
3.5ss; Fp 2.5-11). O paradoxo bíblico é que, para que eles não sejam envergonhados,
Javé precisa retirar os que se regozijam em seu orgulho e os altivos
(v. 11). Assim, os mansos e humildes, que reconhecem sua
dependência de Javé e se refugiarão no nome, i.e., no caráter do
Senhor, para que não cometam injustiças nem mintam nem se ache engano em
suas bocas, esses terão provisão e segurança (v. 13b) e se regozijarão de
todo o coração (v. 14). Depois de a antiga e rebelde Jerusalém (3.1)
ter sido eliminada (3.6ss; cf. 1.2—2.4), a nova Sião a
substitui. Sem dúvida, Sofonias pensa nela como uma Jerusalém geográfica,
mas não são seus valores materiais, e sim os espirituais que o
interessam: humildade (v. 11,12), obediência (v. 13a), segurança (v.
13b,15b,17,18), alegria exuberante (v. 14), a teocracia e presença de
Javé (v. 15b), moral confiante (v. 16), amor divino e comunhão com
Javé (v. 17b), preocupação com os fracos (v. 19), o sentimento de
pertencer, de estar junto e a reputação (v. 20). v. 14. Cante [...]
de todo o coração: Sião é chamada a desfrutar de felicidade
exuberante. No hebraico, o coração é o centro de toda
a personalidade, especialmente do intelecto. Esse regozijo é desviado
dos rituais de adoração orgiástica e impensada oferecida a Baal (cf.
1.4-9) e dirigido à adoração reverente e inteligente, e nem por isso menos
entusiástica, oferecida a Javé. A ira e o juízo divinos são substituídos
pela presença de Javé: o Senhor [...] esta em seu meio e no
seu lugar de direito como o rei de Israel, assim restabelecendo o
ideal teocrático (v. 15). Sofonias não apresenta nenhuma crítica à
monarquia em Judá nem ao rei, apesar de sua experiência sob Manassés
e Amom.
Jerusalém nunca
mais [...] temerá perigo algum, a oposição e a invasão realizadas
pelos inimigos são diminuídas, de modo que a ação propositada e as
realizações são novamente possíveis (v. 16). Em uma época de
cruéis técnicas de guerra dos assírios, o conhecimento de que Javé está
em seu meio, poderoso para salvar (v. 17) possivelmente não
era tanto a expressão de despedaçar o inimigo na batalha quanto a
esperança de segurança nacional. A presença de Javé é a
experiência de um relacionamento íntimo. Ele se regozijará em você; com
o seu amor a renovará. A expressão hebraica “ser silencioso em
seu amor” pode significar que não haverá mais palavras de juízo, ou
um amor tão profundo que não pode ser expresso com palavras, ou o seu
planejamento silencioso para o benefício de Israel. A estrutura métrica está
correta como aparece no TM ou na LXX; assim, a omissão está
descartada. De qualquer forma, o futuro trará uma intimidade de amor
com Javé. ele se regozijará em você com brados de alegria-, O texto
hebraico é ininteligível; v. ICC, WC. Cf. Ef 1.18b. v. 18. Eu
ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram
de vocês, para que isso não mais lhes pese como vergonha-, O hebraico
é ambíguo, como também a LXX. A emenda textual em que se baseia a NVI,
se for aceita, denota a remoção de todo motivo para zombaria (cf.
2.8,10,11). O v. 19b é uma exposição do conceito hebraico de justiça:
a destruição de todos os que oprimiram vocês e a defesa dos
interesses dos fracos na sociedade — os aleijados e os dispersos.
Nesse contexto, eles são o povo de Judá politicamente incapacitado e
exilado que vai ter a sua vergonha transformada em honra.
Agirei...-. Essa ação de Deus “é ainda mais terrível em virtude
de seu caráter indefinido e geral” (ICC). O v. 20 é considerado por
muitos uma glosa repetitiva, mas talvez Sofonias, assim como outros
pregadores, a consideravam a repetição de uma verdade
particularmente notável, por demais tentadora para ser evitada! O povo
humilhado de Deus (3.12) será conduzido para a sua casa divinamente
apontada. Ele vai ajuntar os parentes dispersos. Um povo quebrantado e
desmoralizado por zombarias durante suas catástrofes nacionais
será honrado e louvado em toda a terra, quando eu restaurar a sua
sorte: Ou: “quando eu anular o seu cativeiro”, diante dos seus
próprios olhos-, Pode estar destacando mais a realização dramática dos
eventos do que o cumprimento factual dos eventos durante a vida deles.