Estudo sobre Gênesis 15
Gênesis 15
A terra prometida (15.1-21)
Após a digressão no cap. 14, a história volta ao tema das promessas de Deus a Abrão; a nova promessa de agir como escudo de Abrão (v. 1) pode muito bem refletir os perigos militares exemplificados no cap. 14. Todas as promessas que Abrão havia recebido, no entanto, dependiam totalmente do fato de ele ter um herdeiro; mas Sarai continuava estéril (11.30). Entrementes, a adequada provisão legal tinha de ser feita, e parece que Abrão já dera os passos comuns para essa situação nessa parte do mundo da época. Ele havia “adotado” um escravo para ser o seu herdeiro (v. 3). (Cf. J. A. Thompson, The Bible and Archaeology, cap. 2.) O nome desse escravo era Eliézer, mas, em vista das dificuldades e incertezas do texto hebraico, a sua posição exata (administrador?) na casa de Abrão não é clara, e a referência a Damasco é ambígua. Teoricamente, de qualquer maneira, Eliézer poderia ter providenciado herdeiros para Abrão, mas podemos entender prontamente o clamor do coração de Abrão: O Soberano Senhor, que me darás...? Em outras palavras, “de que me vale a tua recompensa?” (NTLH). A resposta generosa de Deus deu paz à sua mente; o seu herdeiro seria da sua própria carne e sangue (v. 4). Mas observe que não se menciona nada acerca da identidade da mãe.
O v. 6 é um versículo-chave, chamando atenção para a fé e a confiança de Abrão e para a resposta de Deus a essa fé. Os três termos-chave são creu, creditado e justiça. A linguagem usada lembra a do sacrifício e da aceitação (cf. Lv 7.18; 17.4, como a paráfrase da GNB tenta expressar). Mas a base para a aceitação de Abrão não são os seus sacrifícios e altares, mas a sua fé, que significa no contexto o “consentimento com os planos de Deus na história” (G. von Rad). Para entender as implicações mais abrangentes, v. Rm 4, G1 3 e Tg 2.14-26. E a aceitação tranqüila e obediente dos planos de Deus (da história e da salvação) que coloca o homem num relacionamento correto com Deus.
v. 7-21. Assim como Abrão tinha buscado ter segurança acerca do herdeiro, ele agora procura ter segurança em relação a seu território, pedindo algum sinal de Deus. Podemos pressupor com alguma certeza que ele havia retornado a Manre, e provavelmente tinha horizontes limitados, procurando alguma propriedade territorial naquela região. A palavra hebraica, traduzida por terra (v. 7) é tão vaga quanto a nossa palavra “território”. Mais tarde, Abrão iria adquirir um pequeno pedaço de terra próximo de Manre por meio de uma compra habitual (23.16-20); o contraste aqui é surpreendente. Ele e seus descendentes receberão (dei) a terra — não vão comprá-la — um território vasto desde o ribeiro do Egito até o grande rio, o Eufrates (v. 18). A longa lista de povos a serem conquistados ou desalojados (v. 19ss) destaca o tamanho e a maravilha da promessa. Foi somente no reinado de Davi que essa promessa se cumpriu. Devemos destacar que o ribeiro do Egito (v. 18) deve ser um uádi demarcando a divisa (provavelmente o uádi El-Arish), e não o Nilo. A área total é a do império de Davi, e não somente a pátria de Israel.
Essa era, então, a promessa; mas qual era o sinal? Foi providenciado por uma aliança (v. 18), e isso significa que era um acordo legal solene, no qual Deus entrou voluntariamente. Os detalhes bem trabalhados da cerimônia (v. 8-11,17), que têm paralelos em grande variedade de documentos do Antigo Oriente Médio, destacam tanto a solenidade do empreendimento quanto a condescendência de Deus, cuja presença deve ser reconhecida nos v. 12 e 17. Depois disso, essa aliança sempre serviria de segurança e inspiração para os israelitas e judeus (também no sionismo do século XX). O “como” e o “quando” da promessa, no entanto, estão completamente debaixo do controle de Deus, como é demonstrado logo a seguir nos v. 13 a 16. Antes de serem estabelecidas as dimensões da terra prometida, a perspectiva histórica tem prioridade. Os descendentes de Abrão enfrentam uma espera longa, além de opressão e escravidão, antes de receberem a posse da terra. A razão é digna de nota; não se fala nada aqui dos méritos ou das falhas de Israel, mas somente dos deméritos dos amorreus (v. 16), a população pré-israelita da região. Eles só serão derrotados quando merecerem o castigo radical e completo.
A extensão de tempo considerado é um enigma, porque quatro gerações (cf. v. 16) abarcam um período muito mais curto do que quatrocentos anos (v. 13). A palavra hebraica dôr geralmente significa geração, mas, nesse contexto, “tempo de vida” (i.e., de dimensões patriarcais) parece mais apropriado. V. o comentário em Ex 12.40.
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