Estudo sobre Gênesis 17
Gênesis 17
A aliança eterna
(17.1-27)
O cap. 17 dá um passo em
direção ao nascimento do filho da promessa. As promessas de Deus se tornam cada
vez mais claras e detalhadas; e o mesmo ocorre com as
suas exigências. Os pólos gêmeos da promessa e da obrigação, do
privilégio e da responsabilidade, são resumidos na palavra aliança (v.
2). Surge a pergunta: qual é a relação entre os caps. 15 e 17? Os
dois relatam o estabelecimento de uma aliança entre Deus e
Abrão. Afirma-se com freqüência que são relatos paralelos, que se
originaram de fontes ou tradições literárias diferentes. Mas, independentemente
da posição que se tome em relação às fontes literárias de Gênesis, o autor
certamente construiu as duas narrativas como eventos separados, em vista
da cronologia bem elaborada que ele oferece ao leitor, e é mais
satisfatório considerar o cap. 17, do mesmo modo que Kidner, como um
segundo estágio da aliança divina com Abrão. O cap. 17 pode ser chamado de
renovação de aliança, assim como Js 24 registra uma renovação da aliança
sinaítica.
17:1-8. Deus mais uma vez apareceu
a Abrão e se dirigiu diretamente a ele; essa experiência direta poderia
ser considerada profética (cf. 20.7). As promessas divinas anteriores são
repetidas e confirmadas; mas a grande diferença em relação ao cap. 15
consiste na obrigação colocada sobre Abraão já no início: “ande segundo
a minha vontade e seja íntegro”. As duas determinações podem ser
combinadas; o seu significado é “obedeça-me em tudo” com relação às ordens
da aliança (isso não era algo moralmente impossível; cf. Fp 3.6).
Evidentemente, há algo de
especial nesse capítulo. Em primeiro lugar, Deus se revelou com um novo nome. Deus
todo-poderoso, heb. El Shaddai (v. 1). A origem e o significado
exatos do nome Shaddai continuam obscuros, mas a ênfase pode muito bem
estar no poder e na grandeza, como em geral tem sido destacado nas
traduções existentes. A expressão difere de outros títulos divinos semelhantes
usados em Gênesis no aspecto de que não pode ser associada a nenhuma
localidade específica; por isso o título parece descrever Deus na sua
função de poderoso ajudador dos patriarcas nas suas peregrinações
seminômades (Êx 6.3). Nesse contexto, ele é identificado como o nome
da aliança; e, ao mesmo tempo, Abrão recebe uma nova forma do seu nome,
pois o seu nome da aliança deve ser Abraão (v. 5). Essa mudança,
como também a de Sarai para Sara (v. 15), não indica nenhuma alteração de
significado; antes, a mudança de língua ou de dialeto. As duas formas
significam “o pai é exaltado” (cf. DTAT, “Abraão”), mas a forma
mais longa permite um jogo de palavras que faz referência a muitas
[nações] (heb. hamõn, v. 5).
17:9-14. o sinal da
aliança (v. 11), i.e., a marca da obediência pelo lado humano deve ser
a circuncisão. As origens desse ritual entre outros povos estão perdidas na
névoa da Antiguidade, mas era normalmente um ritual de passagem para a
puberdade ou o casamento (observe a idade de Ismael, v. 25). A marca
distintiva na prática judaica, com base na aliança abraâmica, é o seu elo
com a primeira infância (oito dias de idade, v. 12). Dessa forma,
uma criança judia nasce para a aliança assim como nasce para a comunidade
judaica. A circuncisão tornou-se especialmente importante durante e após o
exílio babilônico. É interessante observar que essa aliança já estava
aberta para outras pessoas além dos descendentes de Abraão (v. 12), e, ao
mesmo tempo, que os seus descendentes poderiam ser eliminado\s\ do meio do
seu povo se não fossem circuncidados (v. 14). A circuncisão, portanto,
não simbolizava uma afinidade ou parentesco social, mas a obediência às
ordens de Deus.
17:15-21. Mais uma vez, o
tema do filho prometido é retomado, e finalmente se revela que Sarai,
agora chamada Sara, deve ser a mãe (v. 15,16). O nome nas duas
formas significa “princesa”, e, assim como Abraão, ela também vai dar
à luz reis de povos (v. 16; cf. v. 6). Também é revelado que o
nascimento do tão esperado filho vai ser no ano que vem (v. 21), e
Abraão recebe a orientação de chamá-lo Isaque (v. 19). Esse nome
significa “Ele [i.e., Deus] ri”, ou, como deveríamos dizer, “está sorrindo
para ele”. Observa-se a importância desse nome várias vezes
nesses capítulos; aqui é Abraão que ri, incredulamente surpreso (v. 17).
O leitor é lembrado também do significado de Ismael,
“Deus ouve”, no v. 20. Os dois nomes servem para distinguir o futuro
dos dois meninos e a sua linhagem: Deus ouviu (“eu te ouvi”, ARA)
o apelo de Abraão acerca do seu primogênito, e Ismael não será
negligenciado por Deus nem desprezado pelos homens — antes, um grande
prestígio internacional o aguarda; mas o filho de Abraão para quem Deus
vai sorrir é Isaque, pois somente ele vai herdar as bênçãos incomparáveis
do relacionamento de aliança eterna com o próprio Deus (v. 19).
17:22-27. O sinal da aliança, a circuncisão, é agora implantado. Destaca-se que esse sinal não está limitado aos descendentes da promessa. Essa ênfase não somente reflete o fato histórico de que os ismaelitas e árabes também praticaram a circuncisão, mas também abre a porta da aliança para aqueles que são gentios (cf. Rm 4.9-12).
17:22-27. O sinal da aliança, a circuncisão, é agora implantado. Destaca-se que esse sinal não está limitado aos descendentes da promessa. Essa ênfase não somente reflete o fato histórico de que os ismaelitas e árabes também praticaram a circuncisão, mas também abre a porta da aliança para aqueles que são gentios (cf. Rm 4.9-12).