Significado de Gênesis 43

Gênesis 43

Gênesis 43 continua a história de José e seus irmãos, quando eles voltaram ao Egito para comprar mais grãos. José testou seus irmãos novamente colocando uma taça de prata na bolsa do irmão mais novo, Benjamim, e acusando-o de roubo. Apesar do medo e da ansiedade, os irmãos de José defenderam Benjamim e se ofereceram para substituí-lo como escravo. Este capítulo mostra o crescimento e a maturidade dos irmãos desde a traição de José, bem como o desejo contínuo de José de testar seu caráter e amor por seu irmão.

Um dos temas centrais de Gênesis 43 é o poder do amor sacrificial. A disposição dos irmãos de defender Benjamin e se oferecer como escravos demonstra a profundidade de seu amor e lealdade a ele. Este capítulo nos desafia a considerar como podemos cultivar amor sacrificial em nossa própria vida e como podemos estar dispostos a colocar as necessidades e o bem-estar dos outros antes de nosso próprio conforto e segurança. Somos lembrados de que o amor verdadeiro exige sacrifício e que devemos estar dispostos a desistir de nossos próprios desejos e preferências pelo bem daqueles que amamos.

Gênesis 43 é um poderoso lembrete da importância da confiança e da fé em nosso relacionamento com Deus e com os outros. Os testes de José com seus irmãos não eram apenas uma forma de determinar sua lealdade, mas também uma forma de construir confiança e fé em seu relacionamento com ele. Este capítulo nos desafia a considerar como podemos construir confiança e fé em nossos próprios relacionamentos e como podemos confiar no plano e na providência de Deus mesmo quando as coisas parecem incertas ou difíceis. Somos lembrados de que a verdadeira confiança e fé requerem rendição e humildade, e que devemos estar dispostos a confiar na bondade e no amor de Deus mesmo em meio a provações e dificuldades.

I. A Septuaginta e o Texto Grego

A coerência canônica de Gênesis 43 emerge com nitidez quando o texto hebraico (MT) é lido em diálogo com sua versão grega na LXX e com a recepção neotestamentária, especialmente no nível da fraseologia, da sintaxe e do léxico semântico-teológico. Já no núcleo peticional de Israel em Gênesis 43:14 — “ʾēl šadday yittēn lākem raḥamîm liphnê hāʾîš”—o MT articula a súplica por “raḥamîm”, enquanto a LXX verte: “ho theos mou dōi hymin charin enantion tou anthrōpou”. A escolha de charis para “raḥamîm” desloca o campo semântico de compaixão visceral para o de “favor” gracioso; esse deslocamento é decisivo para a sintaxe teológica do Novo Testamento, em que charis se torna o termo-quadro da economia salvífica (por exemplo, “heures charin para tō theō”, em Lucas 1:30). Assim, o pedido patriarcal por “misericórdia” em Gênesis recebe, na LXX, a coloração de “graça/favor”, que será normativo para leitores cristãos helenizados.

Algo semelhante ocorre no acolhimento do mordomo egípcio em Gênesis 43,23. O hebraico “šālôm lāḵem, ʾal-tîrāʾû” é conhecido dos leitores por traduções “paz a vós; não temais”, mas a LXX registra “hileōs hymin, mē phobeisthe”, isto é, “seja(-vos) propício”, introduzindo a raiz hil- (propício/propiciação). Essa opção lexical cria pontes com a linguagem neotestamentária: “hileōs soi, kurie” em Mateus 16:22 (interjeição de petição de clemência) e, no registro cultual, hilastērion/hilaskomai para a obra de Cristo (Romanos 3:25; Hebreus 2:17). A transição MT → LXX, portanto, não só conserva o sentido pastoral (“não temais”) como também antecipa uma rede semântica que o Novo Testamento desenvolverá para descrever a ação propiciatória de Deus em Cristo.

Ainda que a bênção sobre Benjamim em Gênesis 43:29 traga no grego “ho theos eleēsai se, teknon” (verbo eleeō), o capítulo alterna, assim, três eixos lexicais — charis (43:14), hileōs (43:23) e eleeō (43:29) — que o Novo Testamento retomará de modo convergente: charis como favor imerecido (Lucas 1:30), eleos como misericórdia compassiva (cf. a liturgia “Kyrie, eleison”), e oiktirmoi como “misericórdias” que comovem as “entranhas” (Romanos 12:1; 2 Coríntios 1:3). O leque verbal da LXX de Gênesis 43, ao traduzir “raḥamîm”, oferece ao leitor cristão uma paleta teológica unificada para graça, misericórdia e propiciação.

A sintaxe ritual-cortês do encontro com José é igualmente programática. Em Gênesis 43:26, os irmãos “hištaḥăwû lō ʾarṣāh”; a LXX verte com o par fraseológico que se tornará fórmula de corte e culto: “prosenēngkan dōra… kai prosekynēsan autō epi prosōpon epi tēn gēn”. Essa justaposição de “oferecer presentes” (prospherein dōra) e “prostrar-se/adorar” (proskyneo) reaparece emblematicamente em Mateus 2:11, onde os magos “prosekynēsan … prosēnegkan dōra”. Assim, a fraseologia de Gênesis 43, lida na LXX, fornece tanto o gesto quanto o vocabulário para cenas cristológicas de homenagem régia e culto cristão, reafirmando a coerência intertextual entre patriarcas e Evangelhos.

No plano narrativo-social, Gênesis 43:24 registra o serviço de hospitalidade: “e trouxe água para lavar os pés” (LXX: ēnenken hydōr nipsai tous podas), ecoando uma prática que o Novo Testamento reconfigura cristologicamente quando Jesus “começa a lavar os pés dos discípulos” (João 13:5; niptō + podes). A continuidade fraseológica (niptō/podes) sustenta a leitura tipológica que vê no banquete de José uma prefiguração da mesa inclusiva e do serviço humilde do Messias.

Em Gênesis 43:16, José ordena ao “ʾîš ʿal-bayit” (o homem “sobre a casa”); a LXX mantém a perífrase administrativa “tō epi tēs oikias autou”. Essa construção, muito comum no grego bíblico, oferece o pano de fundo para o termo técnico oikonomos no Novo Testamento (Lucas 12:42; 1 Coríntios 4:1–2; Tito 1:7), com o qual Jesus e Paulo descrevem o gestor fiel da casa ou dos “mistérios de Deus”. Assim, a sintaxe institucional da LXX de Gênesis 43 fornece a matriz conceitual da “mayordomia” cristã.

A enumeração dos presentes em Gênesis 43,11 mostra também o trabalho tradutório da LXX na interface léxica: “ṣōrî/‘bálsamo’, dᵉḇaš/‘mel’, nᵉkōt, lōṭ, botnîm/‘pistaches’, šēqēdîm/‘amêndoas’” são vertidos como “rētinē, meli, thymiama, staktē, tereminthos, karya”. Alguns termos (p.ex., staktē) alinham-se ao vocabulário cultual do incenso, reativado em Apocalipse 5,8; 8,3–4 (thymiama). O resultado é uma rede de palavras que atravessa a Torá, a LXX e o Novo Testamento, mantendo o referente semântico e atualizando-o para leitores gregófonos.

Outro ponto de interseção decisivo é Gênesis 43:32, onde a separação de mesas é justificada porque “comer pão com hebreus é toʿēbāh”; a LXX traduz com bdelygma (“abominação”). O mesmo substantivo reaparece no discurso escatológico de Jesus: “to bdelygma tēs erēmōseōs” (Mateus 24:15). Essa recorrência lexical ilustra como a LXX disciplina o leitor cristão a ouvir ecos veterotestamentários nas palavras de Jesus; bdelygma torna-se um marcador semântico de impureza/abominação tanto em Gênesis quanto no querigma sinóptico.

A cena final (Gênesis 43:34) confirma a precisão da LXX na construção de motivos: a “meris” de Benjamim é “pentaplasios” e todos “epion kai emethysthēsan met’ autou”. O vocábulo emethysthēsan ressoa com exortações neotestamentárias (“mē methyskesthe oinō”, Efésios 5:18), mostrando como a tradução grega já fornece o mesmo verbo para descrever o uso excessivo de vinho, agora qualificado eticamente pelos apóstolos. A manutenção do par “porções–banquete/embriaguez” (merismethyskō) desde Gênesis até as admoestações apostólicas reforça a continuidade moral-teológica.

Por fim, a psicologia de José em Gênesis 43:30 — “nikmerû raḥămāw... wayĕvaqqēš liḇkōt” — é vertida pela LXX com um realismo corpóreo: “etarachthē... synestrephonto ta entera autou... kai eklasen ekei”. O hebraico “raḥămîm” (entranhas/misericórdias) e o grego “entera/splanchna” convergem naquela semântica afetiva que o Novo Testamento retoma quando fala em “misericórdias” (oiktirmoi) que movem o apelo apostólico (Romanos 12:1; 2 Coríntios 1:3). Assim, do pathos de José ao ethos parenético de Paulo, a mesma linguagem afetiva — traduzida e ampliada — sustenta a unidade interna da Escritura.

O diálogo entre o hebraico de Gênesis 43 e a LXX não é mero exercício filológico, mas um canal hermenêutico pelo qual a fraseologia (p. ex., proskyneō + prospherein dōra), a sintaxe institucional (p. ex., “epi tēs oikias” → oikonomos), e os campos léxicos da graça/misericórdia/propiciação (charis, eleos, hileōs/hilastērion) são disponibilizados para o Novo Testamento. Desse modo, o leitor que transita entre Gênesis, a LXX e o Novo Testamento percebe uma harmonia intratextual em que os mesmos signos—traduzidos, sim, mas coerentes—fundam a teologia cristã da graça, do serviço e da reconciliação.

II. Comentário de Gênesis 43

Gênesis 43.1-6 Por que me fizestes tal mal? Jacó culpou seus filhos por terem dito ao oficial egípcio que havia mais um irmão. Eles alegaram que apenas responderam às perguntas que lhes foram feitas (v. 7).

Gênesis 43:1-14 José e Benjamim juntos são uma figura do Messias. Em José vemos o servo sofredor do Senhor, rejeitado e neste tempo glorificado. Em Benjamim vemos o Messias que em breve reinará com poder e majestade (Gn 49:27), o Filho da destra do Pai (Gn 35:18). Os judeus ortodoxos esperam o Messias hoje, mas apenas como Benjamim. Os irmãos rejeitaram José, mas amam Benjamim.

A coisa mais terrível para Jacó não é a fome, mas o fato de ele ter que entregar Benjamim. Forçados pela fome, Jacó e os irmãos agora têm que trazer Benjamim a José, o que significa unir Benjamim e José. Judá, que insistia na rejeição de José (Gn 37:26-27), agora se mostra como aquele que busca os interesses de seu pai e de Benjamim. Há uma obra de restauração acontecendo nele e nos irmãos. Jacó finalmente admite. Primeiro ele arruma tudo de novo para apaziguar “o homem”. Só então ele entrega o assunto nas mãos de Deus, o Todo-Poderoso. Aqui vemos por um momento o velho Jacó novamente.

Mas há também a lembrança da misericórdia de Deus, na qual ele quer confiar. Podemos confiar nisso no caminho que temos que percorrer; Não há outro caminho. Às vezes temos que ser forçados a experimentar essa misericórdia. Jacó pensa que perde tudo, mas recupera tudo e isso em maior medida do que perdeu. Essa é a maneira de Deus nos abençoar.

Gênesis 43.7, 8 Judá prometeu ao pai que protegeria o irmão, apresentando um comportamento [protetor] completamente diferente do que teve nos episódios com José e com Tamar. Judá tinha a intenção de manter seu irmão seguro e preocupava-se com o bem-estar de seu pai.

Gênesis 43.9 O verbo hebraico 'arab, traduzido como serei fiador tem relação com o substantivo garantia, que aparece em Génesis 38.17,18. O verbo chatã, traduzido como serei culpado, deriva de um verbo geralmente traduzido como pecar (Gn 40.1 ;41.9).

Gênesis 43.10, 11 Como a terra estava enfrentando um período de fome, as especiarias e os outros produtos que os filhos de Jacó deveriam levar para oferecer ao oficial egípcio provavelmente eram de colheitas antigas. O gênero alimentício de que mais precisavam era os grãos; daí a troca.

Gênesis 43.12-14 Esta é a quarta vez em Gênesis que o Senhor é chamado de El Shaddai, o Deus todo-poderoso (Gn 17.1; 28.3; 35.11). Ele concederia misericórdia aos filhos de Jacó diante do oficial egípcio. Caso contrário, mais uma vez Jacó ficaria desfilhado. A palavra hebraica aqui traduzida como misericórdia é racham [e não checed]. Denota uma manifestação do amor de Deus pelo Seu povo, que está entranhado no coração de um pai, vem do ventre, do útero. Pode indicar a afeição maternal de Deus pelo Seu povo. Esta afeição é a base no Antigo Testamento. (E compatível com as palavras de Paulo entranhas de misericórdia, em Cl 3.12.) O velho Jacó ainda não sabia que Deus, por causa de Sua grande e maternal afeição por ele, já tinha planejado a reunião de toda a sua família, incluindo o filho que ele presumia estar morto.

Gênesis 43.15-18 Os irmãos devem ter ficado surpresos. Da última vez, foram tratados como espiões e criminosos (Gn 42.9-14). Agora José os convidava para ir até a sua casa e almoçar com ele.

Gênesis 43.19-23 O administrador teve uma reação inesperada. Ele não os acusou de furto e convidou-os para entrar na casa com uma bênção de paz: Paz seja conosco, não tem ais; o vosso Deus, e o Deus de vosso pai, vos tem dado um tesouro nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim. Surpreendentemente, José expressou a sua fé no Deus de Jacó, embora tenha omitido a verdade ao afirmar o vosso dinheiro me chegou a mim.

Gênesis 43.24 Eles lavaram os pés porque usavam sandálias abertas percorrendo caminhos empoeirados.

Gênesis 43.25, 26 Pela segunda vez (Gn 42.6), os irmãos de José se curvaram perante este, exatamente como lhe foi revelado nos sonhos que tivera.

Gênesis 43.27-29 Benjamim não tomou parte na conspiração contra José anos antes. O relacionamento entre José e seu irmão mais novo deve ter sido estreito, visto que José ficou emocionado ao ver Benjamim (v. 30).

Gênesis 43.30-32 A princípio, José manteve a sua identidade egípcia. Assim, seguiu o costume do povo com o qual agora vivia e fez a sua refeição em uma mesa separada da mesa dos hebreus, visto que, para os egípcios comer com hebreus era abominação. Este termo, no original, indica algo impuro que provoca uma repulsa muito forte; algo que pode causar uma enfermidade física (Gn 4 6 .34). Talvez os egípcios também sentissem aversão pelos hebreus, principalmente pelo corpo destes, coberto de pelos.

Gênesis 43.33, 34 Os irmãos de José devem ter ficado surpresos e confusos por terem sido dispostos à mesa de acordo com suas idades.

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