Estudo sobre Gênesis 49
Estudo sobre o Livro de Gênesis
Gênesis 49
A bênção de Jacó
(49.1-28)
Tendo assim feito os
acertos em relação a Efraim e Manassés, o Jacó moribundo volta-se agora para
todos os seus 12 filhos. A chamada Bênção de Jacó é novamente
profética, indicando algo da futura natureza e experiência das tribos de
Israel; as palavras de Jacó não estão meramente prevendo o futuro, mas
em certo sentido o estão gerando (observe como o patriarca fala no v.
7). Muitas das frases individuais são de natureza aforística, e
podemos crer que foram repetidas e recitadas por muitas gerações. Os
ditados mostram diversas e diferentes características, às vezes
trocadilhos, e outras vezes simbolismos animais. Como é adequado para
aforismos, a linguagem é poética, concisa e alusiva, e há mais alguns problemas
para o tradutor moderno em virtude da grande antiguidade do hebraico.
49:1,2. Os ditados se
referem a dias que virão. O período em vista é, em grande parte, a época
dos juízes e do início da monarquia; a previsão é somente parcial, e toda
a seção é suplementada pela Bênção de Moisés (Dt 33). O final dos tempos
(como sugere a tradução da VA) não está em vista aqui.
49:3,4. Ao lembrar os
eventos de 35.22, Jacó prediz a perda da proeminência que Rúben,
como primogênito, sofreria entre as tribos de Israel. Rúben praticamente
desapareceu como tribo no período dos juízes.
49:5ss. A capa da liderança
não cairia sobre os irmãos na seqüência de idade, pois tanto Simeão
quanto Levi estavam condenados em virtude de sua violência. Já
tinham demonstrado a sua ferocidade em Siquém (cap. 34), e o v. 6
mostra que essa era uma característica constante, pela qual eram evitados
pelos outros israelitas. Simeão, como Rúben, foi ultrapassado bem cedo e
dispersado de forma considerável; Levi seria “espalhado” de outra forma, pois
era a única tribo que não tinha propriedade territorial, mas recebeu
cidades levitas em diferentes regiões do país. As importantes funções
sacerdotais de Levi não foram anunciadas enquanto essa tribo não
provou a sua identidade (v. comentários em Dt 33.8-11).
49:8-12. Judá, o
próximo na idade, tinha um futuro glorioso à sua espera — pois Judá já
havia provado a sua identidade. Essa tribo é retratada como tendo a
dignidade e a força de um leão (v. 9) e como
experimentando prosperidade material miraculosa. A linguagem do v. 11 é
hiperbólica: amarrar um jumento a uma videira e lavar as roupas no
vinho são ações de esbanjamento ridículo. O sentido do v. 12 não está
claro, mas provavelmente deveria ser traduzido (cf. NEB) como referência à
bela aparência física. Judá, consequentemente, será louvado (um jogo
de palavras com o seu nome; cf. Rm 2.29) pelo restante de Israel, qae
se curvarão diante dessa tribo dominante (v. 8). O v. 10 descreve
a crescente primazia de Judá; os símbolos do cetro e do bastão
de comando não são necessariamente emblemas reais (cf. Nm 21.18) e
podem ser considerados presságios de nobreza (mesmo que ainda não de realeza)
na época dos juízes; mas a continuação seria não somente real mas
imperial, pois nações parece incluir nações fora de Israel.
Assim, a profecia prevê o surgimento e as realizações de Davi, pois é a
ele que devem aludir as palavras até que venha aquele a quem
ele pertence — se essa for de fato uma tradução correta da frase.
E evidente que as promessas a Judá não se cumpriram completamente antes da
vinda do Messias; mas é difícil saber se esse texto já sinaliza esse tipo de
cumprimento, ou se contenta em não prever mais do que a época de Davi
(assim como as palavras acerca de Levi não deixaram transparecer nenhum sinal
do glorioso futuro dessa tribo sacerdotal).
A dificuldade em
interpretar o v. 10 é complicada ainda mais por incertezas e ambiguidades do
texto hebraico, que parece dizer “até que Siló venha” ou “até que ele
(i.e., Judá) venha a Siló”. Em outros textos, o nome Siló se refere
somente ao santuário em Efraim, e é praticamente impossível encontrar
qualquer significado satisfatório para ele nesse contexto, seja literal,
seja simbólico; além disso, não deveríamos esperar encontrar topônimo
algum nas declarações bastante gerais de Gn 49. E quase impossível
justificar a idéia de que Siló é um nome pessoal, designando o
Messias. Essa interpretação se tornou popular em círculos cristãos e
judeus, mas parece ter surgido menos em virtude do hebraico do quem
em virtude da inserção da palavra “Messias” que o Targum fez na
sua tradução desse versículo.
Parece significativo que
nenhuma das versões antigas tenha a palavra “Siló”. Pode ser que as vogais da
palavra hebraica no TM sejam incorretas — elas certamente não eram representadas
nos escritos dos tempos antigos.
Uma pequena mudança resulta
na palavra sellõh, “pertencente a ele”; foi essa a conjectura que a NVI
aceitou. Ela pode reivindicar algum apoio da LXX e da Peshita Siríaca, e
o Targum talvez tenha fundamentado sua referência ao “Messias” nesse tipo
de leitura. O apoio mais forte vem de Ez 21.27, que poderia muito bem
estar aludindo a (e esclarecendo) essa profecia.
Uma alternativa muito boa
(cf. nota de rodapé da NVI) vem de uma antiga interpretação rabínica. Se “Siló”
originariamente fosse duas palavras, e não uma, poderia facilmente ser
vocalizada como say lõh, lit. “tributo a ele”; então a frase
significaria “até que venha aquele a quem pertence o tributo” (nota de
rodapé da NVI). Essa interpretação parece estar ganhando popularidade, aparecendo,
por exemplo, na NTLH. A sua principal virtude é que provê um
paralelismo muito próximo com a frase seguinte; observe como a NTLH liga
as duas frases: “As nações lhe trarão presentes, os povos lhe obedecerão”.
Essa interpretação, embora não diretamente messiânica, mesmo assim
vislumbra posição real (e não somente sobre Israel) atribuída à tribo de
Judá.
49:13ss. Os oráculos acerca
de Zebulom e Issacar dão um breve testemunho dos efeitos da
situação geográfica dessas duas tribos em formação. Os interesses da
primeira seriam inevitavelmente voltados para o mar; enquanto Issacar
preferiria terras férteis à independência austera. Ao estar preparado
para suportar o domínio cananeu, faria um forte contraste com Judá.
49:16ss. Dã defenderá o
direito é um jogo de palavras em hebraico (dãn yãdin). No contexto,
a frase torna Dã, embora fosse uma tribo tão pequena quanto Issacar, muito
mais independente em natureza — governando-se a si mesma e rebatendo
qualquer tentativa exterior de invasão e domínio. A carreira
de Sansão ilustra de forma vívida esse ponto. O v. 18 continua um
enigma para todos os comentaristas; o seu sentido está claro, mas não a
sua relevância para o contexto. Talvez as palavras devam ser entendidas
como sendo de Dã, e não de Jacó, reconhecendo as duras pressões que
Dã sofreria dos poderosos vizinhos filisteus.
49:19ss. O dito acerca de
Gade nos proporciona mais um trocadilho (Gade pode significar
“ataque” e “bando”) e ilustra as pressões que essa tribo sofreria, na região a
leste do Jordão; como Dã, ela mostraria um espírito independente,
reagindo rapidamente a qualquer ataque. Fertilidade e boas colheitas seria a
sorte de Aser. O significado exato do oráculo acerca de Naftali
nos escapa (a nota de rodapé da NVI traz uma alternativa
bem diferente), mas a sua imagem pode estar novamente relacionada à
prosperidade.
49:22-26. José, como
Judá, recebe uma atenção maior em virtude de sua importância. O cap. 48
ocupou-se principalmente com a relação mútua entre as duas tribos que
descendiam de José; mas aqui são vistos como uma unidade (no centro da
Palestina), prosperando e tentando expandir-se (v. 22), sob dura pressão
da população local (v. 23), mas tendo vitórias com a ajuda de Deus (v.
24). A promessa enfática de bênçãos contrasta com a solidão
que o indivíduo separado tinha experimentado no Egito. O sofrimento será
substituído pela glória. (Por outro lado, a palavra “separado” poderia
denotar uma perspectiva futura, a de ser “escolhido” para a
bênção especial; cf. NTLH.)
49:27. O mais novo, Benjamim,
geraria uma tribo pequena, mas uma que seria conhecida por sua bravura e
destreza.
A morte de Jacó (49.29—50.14)
49.29-33. As últimas palavras registradas de Jacó eram concernentes ao seu próprio futuro. Os antigos egípcios preocupavam-se muito com a vida após a morte e possuíam uma mitologia bem elaborada sobre o tema; por isso é ainda mais marcante que o patriarca moribundo se preocupasse somente com o fato de que os seus ossos não permanecessem no Egito; ele não diz uma palavra acerca do Sheol ou da vida por vir. A coisa importante era a família estar unida na morte — reivindicando, por assim dizer, a terra prometida. A aquisição de Macpela é lembrada em detalhes (cf. cap. 23); um novo detalhe é a menção da morte e do sepultamento de Lia (v. 31).
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