Estudo sobre Jonas 4
Jonas 4
IV. CAPÍTULO 4: O Senhor
SALVA O DESAPONTADO JONAS DE ATITUDES ERRADAS
Jonas continuou tendo de
aprender novas lições, isso porque havia se tornado obediente ao seu chamado.
Jonas parece não ter entendido a sua própria aventura e já esqueceu a
graça derramada generosamente sobre ele e também parece inconsciente do
fato de que ela deveria ser compartilhada com outros. Jonas agora se
comporta como o servo que não perdoa ou o irmão mais velho do filho
pródigo. Isso não esgota o amor e a paciência de Deus, e ele novamente
toma o seu servo rebelde pela mão.
Aí perguntamos: por que “a
pomba” se transforma em falcão quando se trata de Nínive? Ele sente essa
indignação patriótica porque, senão, os inimigos de Israel serão poupados
e se tornarão a “vara da ira de Deus” (Is 10.5) contra Israel? E
significativo observar que um dos resultados da missão bem-sucedida de Jonas a
Nínive é desfazer toda a bênção trazida sobre Israel por meio da profecia
anterior de Jonas. As fronteiras ampliadas de Israel sob Jeroboão II serão
perdidas para os assírios. Não é de admirar que Jonas esteja irado.
v. 2. Ele orou:
assim como havia feito no peixe. Mesmo com as atitudes erradas, mantemos a
forma exterior. Senhor: Jonas usa a palavra, mas questiona o
direito de Deus ao senhorio. “Ó Senhor Deus, eu não disse, antes de deixar
a minha terra, que era isso mesmo que ias fazer?” (NTLH). Isso
finalmente nos dá a razão da relutância inicial de Jonas, pois “a
pomba” não queria sair para uma missão redentora de misericórdia para poupar
o inimigo mais perigoso de Israel. Eu sabia: em virtude de sua
experiência pessoal de graça, experimentada apesar da sua desobediência,
ele sabe que Deus é um Deus per-doador que terá misericórdia do pecador, tu és
Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes
castigar mas depois te arrependes: Jonas está citando os “Treze
Atributos” (Ex 34.6,7), também citados por Joel (2.13). Ele bem pode tê-los
memorizado quando criança — mas não queria aceitá-los. v. 3. Jonas pede
para morrer. Será que ele está irado pelo constrangimento pessoal de ser
obrigado a profetizar algo que tanto o Senhor quanto ele sabiam que não
aconteceria, assim fazendo-o parecer um tolo e, pior, um falso profeta (Dt
18.20-22)? Para o profeta até então popular e bem-sucedido, a perda
da reputação é demais. Por que continuar vivendo? A sua atitude nos
lembra Elias (1Rs 19.4). Ambos evidentemente tiveram de arriscar a vida
por nada enquanto os inimigos de Israel continuavam poderosos. Ambos
parecem ter chegado próximo a um colapso nervoso.
Nem sempre é fácil
conciliar a vontade geral de Deus de salvar com a sua vontade particular de que
Jonas fosse um profeta de destruição. Quando Deus escolheu Jonas, ele
queria que o seu povo (a igreja) tivesse parte na salvação determinada
para Nínive (Ellul). Se Jonas aceita o chamado, se ele
é verdadeiramente salvo, é para os outros. Precisamos estar permeados da
convicção de que, se a graça foi conferida a nós, é principalmente para os
outros. O cristão não é somente a pessoa salva por Cristo; ele é a
pessoa que Deus usa para a salvação de outros por meio de Cristo, v.
4. E mais fácil arrepender-se de pecados declarados e abertos que
os ninivitas cometeram do que se arrepender de um ressentimento no
coração como Jonas precisa fazer. “A melhor forma de tratar
essas pessoas é com uma suavidade sarcástica, um pouco de humor, um
empurrãozinho, deixá-las expostas aos elementos da natureza e pegá-las de
surpresa nos seus próprios preconceitos declarados. Tudo isso — ouso pensar,
inclusive o humor — estão presentes na forma de Deus tratar Jonas. Isso é
natural e é belo. Duas vezes a voz divina diz com suave sarcasmo:
‘Você está muito zangado?. Jonas não responde — como o seu silêncio aqui
é semelhante à vida!” (G. A. Smith, ad. loc.)
A atitude de Jonas aqui
certamente é um retrato da atitude de Israel para com os gentios. Assim, o
comentarista judeu J. H. Hertz (Pentateuch and Haftorahs, Soncino,
1968) escreve: “Tampouco pode ser apenas a lição de que os gentios
também são criaturas de Deus e dignos de perdão se sinceramente
se arrependerem [...] o ensino essencial é que o amor de Deus, o seu
cuidado e seu perdão devem ser concedidos aos gentios, e isso não de
má vontade". O conhecimento de que Deus era infinitamente bondoso
perseguia o orgulho dos judeus; surgiu o temor e o ciúme de que Deus iria
demonstrar a sua graça a outros, e não só a eles. Deus havia sido tão
bondoso e paciente com eles que eles não conseguiam confiar nele para que
mostrasse essas misericórdias aos outros, nem a seus
piores opressores. Nesse caso, qual era o sentido da singularidade e
dos privilégios deles? (Que os eleitos do Senhor em qualquer época
considerem isso!).
v. 5. Jonas senta e
observa. Deus tinha de fato falado com ele? Ou tinha sido somente uma
ilusão dos seus sentidos? Teria ele compreendido mal o chamado de Deus? A
forma extraordinária em que ele primeiro rejeitou o chamado de Deus e
foi então conduzido a enxergar a necessidade para aí aceitá-lo significava
que Jonas não poderia duvidar do seu chamado, somente aceito após o
segundo convite. Então ele ainda espera que Nínive seja destruída com fogo
e os seus habitantes sejam “grelhados”? Teria ele compreendido mal a
misericórdia de Deus? v. 6. o Senhor Deus\ essa expressão
composta Yahweh-’Elõhim é uma característica de Gn 2 e 3,
“possivelmente relevante para a provisão miraculosa da planta que lhe deu
abrigo” (Kidner). Em geral, “o Senhor” é usado num contexto
israelita, em que Jonas está envolvido, e “Deus”, no contexto dos
marinheiros pagãos e dos ninivitas, embora esse padrão seja deixado
de lado depois desse versículo, e ’Elõhim trata com Jonas nos v.
7-9. uma planta (ARC e ACF: “aboboreira”): talvez o mamoneiro
(Ricinus communis L.), com folhas em forma de palma da mão, e
notável pelo seu crescimento rápido. Em países tropicais, plantas
como o bambu normalmente brotam rapidamente, e não precisamos pensar
necessariamente nesse suprimento como miraculoso, mas como providencial (cf. R.
K. Harrison, Introduction to the OT, p. 910-1). v. 7. uma
lagarta-, tudo, a não ser Jonas, obedece à ordem direta de Deus (1.4; 2.10;
4.6, 7,8), até uma peste de inseto, v. 8. um vento oriental muito quente-,
o siroco (cf. Jr 18.17; Os 13.15), um vento seco,
sufocante, quente e poeirento vindo do deserto, agravando o desconforto da
vigília de Jonas. O fato de o Senhor preparar a planta, a lagarta e o
vento para abençoar Jonas num dia e arruiná-lo no outro certamente é
uma demonstração da sua soberania na sua forma de lidar com as nações como
Israel e Nínive, e nos lembra do fato de que da sua soberania
recebemos a prosperidade ou o infortúnio, a saúde ou a enfermidade,
v. 9,10. Tanto a planta quanto os ninivitas eram obra das mãos de Deus,
e ele se importa com o que criou. v. 11. Não deveria eu ter
pena...? Essa é a grande questão, pois Jonas está indignado porque
Deus concedeu o perdão aos inimigos arrependidos de Israel, cento e
vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda',
uma expressão singular, e assim não temos base bíblica para decidir
se estavam incluídas as crianças que não alcançaram ainda a idade
da prestação de contas, ou que era mais provavelmente toda a população
ignorante. Cálculos baseados em dimensões de uma cidade assíria
comparável, Ninrode em 879 a.C. com uma população de 69.674 pessoas, mas
consistindo geograficamente em somente a metade do tamanho (NBD), sugere que é
mais provável que esse número seja o de toda a população, muitos
rebanhos', é totalmente apropriado que num livro em que um monstro marinho,
uma lagarta e uma planta, como também os elementos da natureza, obedecem à
vontade de Deus, ele também tenha misericórdia de animais irracionais.
Assim, Deus tem
compaixão e adia o juízo sobre Nínive por causa do seu povo ignorante e dos animais.
O juízo final sobre Nínive foi declarado por Naum e cumprido em
612 a.C. Por que Deus poupou Nínive e permitiu que se tornasse mais tarde
a “vara da sua ira” (Is 10.5) contra Israel? Israel precisava saber
que Deus era Senhor da Assíria também, e que se agora ele não
trazia juízo sobre eles, isso não significava que não era soberano.
Deus é soberano para trazer tanto juízo quanto misericórdia sobre quem ele
quiser.