Estudo sobre Êxodo 20
Êxodo 20
Os Dez
Mandamentos (20.1-20)
Os princípios fundamentais
da religião de Israel estão contidos nos Dez Mandamentos que são
transmitidos ao povo por Moisés. Considerados no seu devido contexto,
eles são os termos da aliança impostos por Deus a seus parceiros da
aliança, visto que os registros das transações do Sinai apresentam
características que ocorrem também nas alianças e tratados seculares
daquela época. As comparações mais úteis têm sido feitas com os tratados
de suserania do Oriente Médio, que ligavam um estado vassalo a um
suserano (“senhor”) com a promessa de proteção durante o tempo em que
as exigências do tratado fossem cumpridas. No Sinai, Deus, como
Senhor e Salvador, ditou as suas normas, o povo demonstrou a sua aceitação
e uma aliança foi ratificada (cf. 24.7,8).
Que esse “decálogo” é bem
antigo é sugerido pela ausência de exigências cultuais (às vezes, ele é chamado
de “decálogo ético” para distingui-lo do “decálogo ritual” de 34.11-26); que
não se trata simplesmente de um código de leis, mas de um
documento constitutivo, é indicado pela forma em que as exigências
são expressas e pela ausência de punições a serem aplicadas caso
fossem violados mandamentos individuais. Há outras seções legais no
Pentateuco (e.g., o “Livro da Aliança” em 20.21—23.33) que explicam os
mandamentos contidos nos Dez Mandamentos. A forma em que os mandamentos
são apresentados merece atenção detalhada. As leis do Antigo Oriente
Médio geralmente eram divididas em duas categorias principais: leis
casuísticas e leis apodícticas. Leis casuísticas são expressas na maioria
das vezes na forma “Se... (então) ...” (cf. 21.7) e podem ter cláusulas
subordinadas (“se”) apensas (cf. 21.8-11). Leis apodícticas tratam
com absolutos e estão exemplificadas da maneira mais clara nos Dez
Mandamentos.
Estas são apresentadas
principalmente na forma de proibições e são dirigidas ao israelita
individual. Somente o quarto e o quinto mandamentos são expressos em forma
de ordens afirmativas. Alguns eruditos têm con-jecturado que
originariamente esses também eram proibições e então tentaram forçá-los
a se amoldar ao padrão geral. O decálogo é repetido, com algumas pequenas
modificações, em Dt 5.6-21; as divergências principais estão no tratamento
dos quarto e quinto mandamentos. Parece ser correto afirmar que
o comentário acrescentado a esses mandamentos não fazia parte da
transmissão original; os mandamentos devem ter sido expressos
de forma sucinta para que pudessem ser facilmente inscritos em pequenas
tábuas. Três formas diferentes de contar dez mandamentos (cf. 34.28)
nos v. 2-17 foram propostas. Neste comentário, vamos considerar o v. 3 o
primeiro da série e os v. 4-6 o segundo, v. 2. Nos tratados de suserania
mencionados, os termos eram normalmente prefaciados por um relato dos atos
benevolentes realizados pelo suserano em favor do vassalo. A
lembrança dos atos de libertação realizados por Deus são breves em
comparação com outros exemplares, mas servem ao mesmo propósito,
v. 3. além de mim
(“diante de mim”, BJ): diversas explicações do termo hebraico foram
sugeridas; em outros contextos, a expressão denota hostilidade e exclusão
mútua. O mesmo termo é usado no hebraico no v. 23 e é traduzido, por
exemplo, por “ao lado de mim” (BJ). v. 4. ídolo\ feito de madeira
ou pedra. Em 34.17 (q.v.), “ídolos de metal” também são proibidos. E
a produção de imagens para uso na adoração que é proibida; nesse sentido,
a adoração israelita era iconoclasta. Independentemente das aberrações que
tenham desfigurado a história subsequente do povo de Israel, não há
evidência que sugira que imagens de Javé tenham sido feitas em nenhuma
época dessa história, nas águas debaixo da terra talvez reflita a
cosmologia hebraica, mas também se poderia pensar em fontes e rios
subterrâneos, v. 5. deles-, pode referir-se ao v. 4, embora o v. 3
de fato forneça um antecedente plural, zeloso é boa tradução,
pois ”ciumento” (BJ) tem conotações negativas. até a terceira e
quarta geração “reflete a extensão máxima provável de membros de
uma mesma família que vivam juntos numa casa” (Clements). v. 6. trato
com bondade (“ajo com amor”, BJ): o amor conduz à obediência e
tem sua recompensa (cf. Jo 14.21,23,24). v. 7. Concorda-se de forma
unânime que esse mandamento protege o nome de Javé daquele uso ilegítimo
que poderia ocorrer no juramento, na blasfêmia e na magia e, além disso, “sempre
que Israel de alguma forma abrisse suas portas para o culto a outra
divindade” (Stamm e Andrew).
Invocar o nome de Deus para
a concretização de um pedido maldoso ou fraudulento era convidar a
intervenção furiosa do próprio Deus. V. comentário de Lv
24.16. Igualmente repreensível era a afirmação de alguns falsos
profetas de que estavam proclamando o “peso da palavra do Senhor” (cf. Ml
1.1, ARC); o simples uso dessa expressão era proibido (Jr 23.33-40). v. 8.
Lembra-te\ Dt 5.12 traz “guardarás”. O shapattu babilônio
era o nome pelo qual era conhecido o décimo quinto dia do mês (lua cheia).
Apesar da sua aparente ligação com o shabbãt hebraico (“sábado”), a
tentativa de descobrir uma relação entre as duas instituições tem
se mostrado infrutífera. Não há razão para duvidarmos da observância do
sábado na época de Moisés, ou até antes disso. Os v. 10,11 apresentam
razões religiosas e humanitárias para a instituição do sábado, v. 11. Cf.
Gn 2.1ss. Em Dt 5.14,15, o aspecto humanitário é destacado (“para que
o teu servo e a tua serva descansem como tu”), e, em prosseguimento à
argumentação, a referência à experiência de escravidão que os próprios israelitas
tiveram no Egito substitui o argumento da criação que é usado aqui. Isso
está em harmonia com a ênfase humanitária apresentada em Deuteronômio. E
pouco provável que alguma dessas razões para a observância do sábado
tenha sido incluída na formulação original do mandamento (v. antes), v.
12. Um princípio de ampla aplicação na “família ampliada” da sociedade
israelita antiga. Tanto a mãe quanto o pai deveriam ser
honrados. Cf. a responsabilidade conjunta conferida aos pais do “filho
obstinado e rebelde” (Dt 21.18-21). O mandamento não foi anulado na
dispen-sação cristã (cf. Ef 6.1ss).
v. 13. Não
matarás: o uso do verbo rãsah no AT não está restrito a um
tipo específico de matar. No presente contexto, significa algo parecido
com “assassinar”; não haveria razão em legislar contra homicídio não
intencional! Nem a pena de morte (por parte do Estado) nem o matar
na guerra estavam incluídos nessa interdição, v. 14. A relação sexual
com uma mulher não casada ou noiva (com contrato de casamento) não
era punida tão severamente quanto o adultério; observe a diferença entre
as penas prescritas em 22.16 e em Lv 20.10 (cf. Dt 22.22ss). Mt
5.27,28 volta diretamente aos primeiros princípios. O v. 15 trata do
roubo em geral. Alguns estudiosos preferem interpretar isso de forma mais
restrita ao roubo de pessoas (sequestro; cf. 21.16; Dt 24.7). Mesmo numa
comunidade cristã, a prescrição talvez precise ser destacada e repetida (cf. Ef
4.28). v. 16. Lit. “Não responderás contra o teu próximo como testemunha falsa”.
A evidência falsa não deveria ser colocada diante dos juízes com o
objetivo de garantir a condenação de um réu. v. 17. não cobiçarás:
afirma-se com frequência que essa ordem aponta além da motivação para a
ação de fato. Mas o sentido normal do verbo e o uso em Dt 5.21 de um
sinônimo cujo significado não é questionado depõem contra esse ponto de
vista. Hyatt observa que “o mal da cobiça era conhecido e condenado muito
tempo antes de Moisés na literatura sapiencial egípcia”, casa é
explicado por aquilo que segue; cf. a tradução de “casas” por “famílias” em
1.21. v. 20. A própria majestade da teofania teria o efeito positivo
de desencorajar o povo a violar os mandamentos que lhe foram ordenados.Índice: Êxodo 1 Êxodo 2 Êxodo 3 Êxodo 4 Êxodo 5 Êxodo 6 Êxodo 7 Êxodo 8 Êxodo 9 Êxodo 10 Êxodo 11 Êxodo 12 Êxodo 13 Êxodo 14 Êxodo 15 Êxodo 16 Êxodo 17 Êxodo 18 Êxodo 19 Êxodo 20 Êxodo 21 Êxodo 22 Êxodo 23 Êxodo 24 Êxodo 25 Êxodo 26 Êxodo 27 Êxodo 28 Êxodo 29 Êxodo 30 Êxodo 31 Êxodo 32 Êxodo 33 Êxodo 34 Êxodo 35 Êxodo 36 Êxodo 37 Êxodo 38 Êxodo 39 Êxodo 40