Estudo sobre Êxodo 32
Êxodo 32
VI. REBELIÃO E
RECONCILIAÇÃO (32.1—34.35)
O bezerro de ouro (32.1-10)
v. 1. A exigência do povo e
o consentimento de Arão significam que já antes de as estipulações da aliança
terem sido entregues a eles de forma escrita, já haviam quebrado
o primeiro, o segundo e, provavelmente, o sétimo (cf. comentário do v. 6)
mandamentos, e também agido contra o preâmbulo da aliança (cp. o v. 4
com 20.2). Como história de um povo que “muito depressa se [desviou]” (v.
8), ela tem o seu correlato no NT (v. G1 1.6). ao redor de Arão
seria melhor traduzido por “contra Arão” (cf. NEB, “confrontaram”), v.
2,3. Assim como houve contribuições de posses pessoais para a construção e
embelezamento do tabernáculo (25.1-7; cf. 38.8), agora foi feita uma
coleta para um propósito bem diferente e totalmente indigno (cf.
Jz 8.24-27). v. 4. modelou com uma ferramenta sugere
que a imagem foi esculpida no ouro sólido. Por meio de uma pequena
alteração vocálica, com uma ferramenta pode ser mudado para
significar “em uma bolsa” e, por um pequeno salto de fé filológico, “dentro
de um molde” (assim NTLH e BJ; v. também NEB). bezerro:
é de esperar que os israelitas estivessem familiarizados com os cultos
a touros dos egípcios e cananeus que floresciam na região do delta do
Nilo.
O culto a Baal dos
cananeus provou ser uma armadilha constante aos israelitas depois de se
estabelecerem em Canaã. os seus deuses [...] que tiraram
vocês do Egito: mas somente uma imagem foi feita (v. nota de rodapé na
NVI). Muitos eruditos do AT consideram esse relato um protesto contra os
santuários de touros erguidos por Jeroboão (lRs 12.28,29). Se esse é o
caso, então temos aí uma explanação adequada da referência ao plural
(mas v. ISm 4.7,8). Contudo, é tanto mais provável que Jeroboão tivesse
adotado o chamado ao ajuntamento usado nessa ocasião; a menção da
libertação do Egito originou-se mais provavelmente no Sinai
do que na ocasião descrita em lRs 12. Por tudo isso, está claro que
Israel “ainda está à espera de um deus que age, nem que seja um deus falso”
(Cole), v. 5. uma festa dedicada ao Senhor: Arão,
um idólatra relutante, provavelmente pensou que poderia conter e
reprimir o erro ao associar a adoração a Javé com o bezerro de ouro. v. 6.
No dia seguinte, os israelitas ofereceram holocaustos e sacrifícios
de comunhão como o faria qualquer cananeu que não conhecesse
nada acerca do Deus de Israel; os dois tipos de sacrifícios (com a mesma
raiz semítica como o hebraico no caso de sacrifícios de comunhão) aparecem
nos textos ugaríticos do segundo milênio a.C. o povo se assentou
para comer, o ato comumente associado a ofertas de comunhão como
está prescrito em Lv 7.11-18. para se entregar à farra pode
ter uma conotação sexual (cf. a mesma palavra traduzida por “acariciando” em Gn
26.8). Normalmente, no entanto, o verbo é usado sem alusão a
isso, como em Gn 21.9. Em lCo 10.8, outra situação bem diferente de
imoralidade sexual por parte dos israelitas é citada (i.e., Nm 25.1-18),
embora o pecado da idolatria tenha há pouco sido ilustrado com base na
ocasião descrita nesses versículos de Ex 32. (Childs discorda nesse ponto,
considerando os 23 mil de lCo 10.8 uma variação dos 3 mil do v.
28 desse capítulo.)
A licenciosidade sexual
certamente era uma característica dos cultos nos santuários de touros dos
cananeus. E difícil determinar se Arão e os israelitas consideravam o seu
bezerro uma representação de Javé ou um trono em que repousava a sua
presença invisível; de qualquer forma, o seu pecado era extremamente grave. v.
7. Como no v. 1, embora lá por outra razão, a associação do êxodo com
a liderança de Moisés tem uma conotação negativa, o seu povo [de
Moisés\ implica que Deus já não o reconhecia como povo dele.
v. 8. curvaram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios: não
importa que Arão tenha tentado sincretizar o culto da fertilidade animal
com a adoração a Javé, a sua ”festa dedicada ao Senhor” (v. 5) é
rejeitada como simples e pura adoração, v. 10. farei de você
uma grande nação: cf. Gn 12.2. Para Moisés, havia sido um grande
sacrifício colocar-se do lado dos israelitas (cf. Hb 11.24ss); agora ele
estava ouvindo acerca da possível extinção do seu povo e recebendo a
oferta de se tornar o segundo Abraão, v. 11. o teu povo é
a resposta de Moisés a seu povo no v. 7. A libertação do
povo da escravidão egípcia era a medida do compromisso de Deus com a
causa deles. Por que Deus iria destruí-los agora?
v. 12. O que também estava
em jogo era a reputação de Deus. Até mesmo os egípcios reconheciam a mão
de Deus no êxodo; se Israel fosse destruído, os seus
antigos escravizadores concluiriam que Deus prefere usar o seu poder para
propósitos destruidores. v. 13. Em terceiro lugar, havia as promessas
feitas aos patriarcas. Mas essas não poderiam ser cumpridas por meio de
Moisés, que também era filho de Abraão? Nenhum desses pensamentos vem
à mente de Moisés, quando ele lembra a Deus sua promessa inicial feita a
Abraão; e essa promessa tinha sido reforçada por juramento (cf. Gn
22.16ss). Será que agora o cumprimento estava em jogo apesar da
incondicionalidade da promessa? O judaísmo tem em alta consideração
os méritos dos patriarcas na explanação da lealdade de Deus na sua
aliança; a coerência de Deus é a sua verdadeira origem, v. 14. arrependeu-se:
isso não implica que os propósitos de Deus são menos do que perfeitos (cf.
Nm 23.19). E uma descrição da atitude de Deus vista do ângulo humano. João 6.6 ajuda
a vermos todo o diálogo da perspectiva correta. As tábuas são quebradas
(32.15-20) v. 15. escritas em ambos os lados: isso
era algo bem comum em tábuas escritas. As tábuas devem ter sido bem
pequenas e eram provavelmente iguais; sobre isso, v. M. G. Kline, 'Westminster
Theological Journal (XXII, 1960, p. 133-46). v. 16. As
expressões feitas por Deus e escrito por Deus podem
significar que as tábuas e suas inscrições eram o produto direto da
criatividade divina, ou, visto que o termo hebraico ’elõhim é usado
com fre-quência com força de superlativo, que foram feitas de forma
primorosa e perfeita. V. comentário de 31.17. v. 17. Josué havia
acompanhado Moisés em parte do caminho como seu auxiliar (cf.
24.13). v. 18. A resposta de Moisés é dada em forma de verso; há aí
certa medida de jogo de palavras, v. 19. Moisés quebrou as
tábuas como uma expressão da sua ira, mas a sua ação teve um
significado mais profundo no aspecto de que anunciou a anulação da
aliança que acabara de ser feita, v. 20. destruiu no fogo
sugere a alguns estudiosos que o bezerro de ouro tinha um núcleo de
madeira. O verbo não é de todo inadequado para um objeto de metal sólido. Foi
sugerido — com base num texto cananeu — que a colocação dos três verbos “destruir
no fogo”, ”moer” e “espalhar” é uma forma convencional de expressar
destruição completa, fez com que os israelitas a bebessem: esse
elemento lembra o que aconteceu em Nm 5.11-31 e o julgamento e teste
de uma mulher da qual se suspeitava que tivesse sido infiel ao
marido. O v. 35 talvez tenha alguma relação com essa imposição. Deus
é o marido ciumento de Israel (cp. Nm 5.14 com Êx 20.5).
v. 22. propenso para o mal é preferível a “profundamente atribulado” da NEB, embora a palavra em
questão possa às vezes ter o significado de “tribulação”, v. 24. Moisés havia
colocado a culpa pela aberração do povo de forma justa e clara em Arão. A
defesa deste — o bezerro autógeno — pode ter sido um caso de “maneiras
requintadas orientais” (Cole), mas são maneiras requintadas a
ponto de virarem trapaça; isso não é nada melhor do que a resposta de
Geazi (2Rs 5.25).
A grande
matança (32.25-29)
v. 25. fora de controle: ou: “desenfreado” (BJ). v. 26. os levitas eram
companheiros de tribo de Moisés e haviam permanecido leais a Deus na
ausência de Moisés, v. 28. três mih não temos indicação
alguma do motivo de esses terem sido mortos à espada e os outros não.
Talvez tenham sido pegos no ato da idolatria ou tenham sido os líderes na
adoração do bezerro, v. 29. vocês se consagraram, o sentido
necessário pode ser obtido do TM sem recorrer a emendas, com a permissão
das notas de rodapé da RSV e da NEB; v. a explicação de Cassuto do TM. nenhum
de vocês poupou o seu filho: os relacionamentos familiares estavam
subordinados ao serviço a Deus (cf. Dt 33.8,9). A bênção consistia no
direito de oficiar no tabernáculo (cf. Dt 33.10,11; Nm 25.10-13).
Moisés ora
novamente (32.30-35)
v. 32. teu livro: cf. SL 69.28; 139.16. Os nomes dos vivos eram escritos no
registro divino. A remoção do nome significava a perda da vida. No
NT, a figura é aplicada à vida futura, como em Lc 10.20; Fp 4.3. v.
33. todo aquele que pecar reflete o princípio anunciado em Jr
31.29,30; Ez 18.1-4. v. 34,35. meu anjo: cf. 23.20,23; 33.2.
eu os punirei: uma ameaça de julgamento no futuro distante,
ao qual o v. 35 pode estar se referindo ou não. O v. 35 talvez tenha
o propósito de resumir tudo que o precedeu: E o Senhor feriu o
povo com uma praga {feriu com uma praga traduz uma única
palavra em hebraico).
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