Deuteronômio 5 — Estudo Devocional

Deuteronômio 5 relata a entrega dos Dez Mandamentos aos israelitas por Deus por meio de Moisés. Este capítulo serve como uma reiteração e lembrete da aliança entre Deus e Seu povo. Os Dez Mandamentos descrevem os princípios essenciais para uma vida e adoração justas, enfatizando a importância de amar e obedecer a Deus, respeitar os outros e manter a santidade dos relacionamentos. A narrativa também destaca o momento inspirador em que Deus falou diretamente ao povo, destacando Sua santidade e a necessidade de reverência. Ao refletirmos sobre Deuteronômio 5, somos inspirados a cumprir os mandamentos de Deus em nossas vidas, nutrir nosso relacionamento com Ele, honrar nossas responsabilidades para com os outros e nos aproximar de Deus com a humildade e reverência que Ele merece.

Os dez mandamentos
Êxodo 20.1-17


5.1-32 Aprendam essas leis. Moisés apresenta de novo, como numa cópia, os mandamentos básicos que Deus lhe dera no Sinai (Êx 20), o chamado Decálogo, que quer dizer “dez palavras”, ou “dez ensinos” ou, ainda, “dez conselhos”. Esta repetição tem o propósito de assegurar que a geração dos filhos daqueles que saíram do Egito recebam diretamente a Lei de Deus, tal como aconteceu com seus pais 39 anos antes. O ouvir deve direcionar a ação (fazer/não desviar) e conduz a uma consequência (tudo correrá bem / viver com saúde). É importante ter em mente ao ler os mandamentos (Lei) com tantos “nãos”, que a compreensão hebraica das palavras “não”, “mandamento” e “lei” não têm o tom ameaçador que hoje lhes atribuímos. Por sua graça, Deus escreveu uma carta com dez “instruções”, com a intenção de evocar no povo o amor e respeito a Deus e ao próximo. Os quatro primeiros mandamentos tratam da relação do ser humano com Deus, e nos outros o enfoque é a relação do ser humano com o seu semelhante. Deus, fez uma aliança conosco. O Deus que deu esses mandamentos não é qualquer um: é o Deus que tirou o povo israelita do Egito e fez com eles uma aliança no Sinai. Naquela ocasião, do meio do fogo, Deus falou com eles diretamente, e mesmo assim, não morreram. Eles tiveram medo e grande temor, tanto que Moisés se colocou entre eles e Deus para amenizar o tremendo impacto desse encontro.

5.1 preste atenção. Essa expressão se repete em 6.4 (escute). A estrutura neurológica primária do ser humano, olho-mão, precisa ser substituída por uma estrutura ouvido-olho. Em Gênesis, a astuta serpente conduz a tentação exatamente utilizando esta estrutura: a mulher viu… aí apanhou a fruta (Gn 3.6). A nova estrutura neurológica aqui proposta conclama a ouvir e deixar que a escuta direcione o olhar. Para isso é preciso, em primeiro lugar, silenciar. Em meio a tantas distrações que o mundo atual oferece, o exercício do silêncio e da escuta é sempre um grande desafio.

5.3 Não foi com os nossos pais. Repare como Deus faz questão de um relacionamento direto, de pai para filhos (e não somente “netos”). Isso indica que Ele quer que você o conheça diretamente também.

5.6 eu, o Senhor, sou o seu Deus. Deus se apresenta, diz quem ele é para atrair a atenção do povo, antes de propor-lhes o seu maravilhoso pacto de amor e cuidados. Ao invés de apenas usar a sua autoridade e poder, Ele escolhe o caminho didático, aconchegante, acolhedor e esclarecedor, sem o qual estaríamos perdidos. Podemos dizer que nesta auto-apresentação, Deus diz simplesmente: “Eu sou!”. Este foi o nome com que Deus se apresentou a Moisés no monte Sinai (Êx 3.14). Ele aparece também na pregação dos profetas quando apresentavam aquele que os mandou dizer o que diziam. Nos evangelhos, particularmente o de João, inúmeras vezes Jesus usou este nome para apresentar-se aos discípulos. “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.35), “a luz do mundo” (Jo 8.12), “o bom pastor” (Jo 10.11), entre outras.

5.7-9 adore somente a mim. Ao dizer “Eu sou!”, Deus exclui toda e qualquer outra divindade. Seu povo tinha que ser monoteísta radical. Isto deveria lhes servir de orientação nos relacionamentos com os povos vizinhos. Não faça imagens. Deus proíbe o uso de qualquer expressão visual ou tátil de si mesmo. Em todas as escavações arqueológicas feitas até hoje, nunca foi encontrado qualquer sinal ou gravura pela qual Javé, o Deus de Israel, se tornasse visível. Jesus concorda com isto quando diz à samaritana que “Deus é Espírito” (Jo 4.24). Qualquer representação visual facilmente limita e condiciona a adoração. A coisa essencial para a vida humana e sua salvação não é uma figura de Deus, mas a compreensão de Seu amor, Suas ações e Sua vontade. A exclusão de outros deuses significa que Javé era o Deus que veio ao encontro e fez de Israel o seu próprio povo. Israel era seu povo exclusivo e ele queria ser o Deus exclusivo de Israel. Quanto a nós hoje, poucos grupos ainda cultivam imagens. Porém, isso não quer dizer que não sejamos idólatras. A adoração ao dinheiro, ao poder, ao sexo, ao prestígio, aos produtos tecnológicos, os constitui facilmente em deuses, que tentam ocupar nosso tempo e nossa atenção. Esta pode ser a fonte de muitos sofrimentos humanos. Este quadro clama por um aconselhamento espiritual de qualidade, que nos coloque novamente face a face com o Deus vivo e pessoal, que é a melhor coisa que um ser humano pode ter em suas aflições. Veja o quadro “Deus e suas representações”.

5.9-10 até seus bisnetos e trinetos. A referência ao “castigo” para aqueles que odeiam a Deus e à “bênção” para aqueles que o amam significa que os filhos são afetados, para o bem ou para o mal, física e socialmente, pelas decisões teológicas e espirituais dos pais. A leitura dos profetas nos mostra isso com muitos exemplos.

5.11 Não use o meu nome sem o respeito que ele merece. Deus determina que seu nome não seja banalizado, mas santificado, pois ele é santo. Santo significa especial, ímpar, exclusivo, incomparável. É isto que Deus é. Jesus reforça isto na oração do Pai Nosso: “que todos reconheçam que o teu nome é santo” (Mt 6.9). Na língua hebraica o nome não é apenas uma palavra, mas a representação da própria pessoa. Assim, o uso banal do nome de Deus significa desrespeito, falta de reconhecimento de quem ele é. Isso acontece quando usamos o nome de Deus como meio para atingirmos nossos próprios objetivos (p. ex., quando afirmamos ser “vontade de Deus” o que na verdade é o nosso próprio desejo). O uso supersticioso ou mágico do nome de Deus, tal como em juramentos, maldições, etc., também está incluído nessa recomendação. Notemos que não se trata da proibição do uso do nome de Deus, mas do seu uso inadequado. O mandamento enfatiza um relacionamento espiritual de alta qualidade e alegre respeito. Em suma, não se diz bobagem de quem se ama.

5.12-15 Guarde o sábado. “Guardar” para nós significa “praticar”. “Sábado”, na língua hebraica significa “descanso”. Então o conselho é: “Pratique um dia de descanso”, ou “tire um dia para descansar, como o Senhor Deus mandou”. Ou seja, este dia é especial (santo), cujo valor não pode ser ignorado. Nossa palavra “sábado” tende a nos prender a um dia de nossa semana. Mas essa palavra é apenas uma adaptação da palavra hebraica “shabat” (descanso), e não uma tradução dela. É claro que não se trata de desprezo ao trabalho, mas de lembrar que não se deve trabalhar demasiadamente, sem descanso. Por outro lado, também não se trata de um descanso sem trabalho. O mandamento institui um ritmo de trabalho-descanso que é divinamente sancionado. O descanso é necessário após o trabalho, até como uma preparação adequada para a próxima jornada de trabalho. Este será mais bem feito, mais prazeroso, mais produtivo e saudável para a pessoa que está descansada. Enfim, podemos ver que a ideia de descanso é um bom conselho para a nossa vida, tanto no sentido físico, como no emocional e espiritual. Além do mais, é uma forma de culto a Deus.

5.14 Não faça nenhum trabalho nesse dia. O texto enfatiza que o descanso é coisa séria. Ele deve ser observado sem trapaças por toda a família, toda a nação, incluindo os estrangeiros residentes e os animais. Até mesmo as máquinas que hoje fazem muitos serviços precisam “descansar”, vez ou outra, para manutenção. escravos também devem descansar. Hoje podemos dizer que assim como os patrões descansam, também os empregados devem ter o seu descanso assegurado.

5.15 Lembre que você foi escravo. Há uma diferença de como Deus se apresenta no contexto desse mandamento, em Êxodo 20 e aqui. Em Êxodo 20, Deus diz que Ele mesmo descansou após o “trabalho” da criação. Aqui a referência é ao “trabalho” divino realizado para libertar o povo, tirando-o do Egito (sem menção de que Deus tenha, ele próprio, descansado). O tipo de “trabalho” nos dois textos é diferente. Em Êxodo ele é criador; em Deuteronômio ele é libertador. Essas duas formas têm a intenção de mostrar o poder de Deus e sua autoridade em conceder não só o mandamento do descanso mas, também, todos os outros. O descanso semanal é, sem dúvida, o momento especial para cultuar o Deus da Criação e lembrar a libertação do Egito.

5.16 Respeite o seu pai e a sua mãe. O respeito aos pais está profundamente arraigado na vida judaica, pois eles são a base da instituição familiar antiga e moderna. O cristianismo herdou esse conceito. O grau de seriedade que Deus confere a esse mandamento pode ser aferido pela promessa de vida longa e de bem-estar. Na época do texto, a promessa tinha em vista a vida na Terra Prometida. Hoje, ela se refere ao nosso futuro até o fim da nossa vida. Nesse sentido, esse mandamento pode ser um estímulo à fé e à confiança em Deus e em suas promessas.

5.17 Não mate. Esse mandamento aponta para o alto valor da vida humana na fé bíblica, decorrente do pacto de Deus com o povo. Esse pacto valoriza relacionamentos continuados e a manutenção da comunidade como povo de Deus. Jesus vai além dizendo que matar não é apenas um ato físico, mas também relacional. Falar mal, amaldiçoar, acusar sem provas, ou xingar também podem significar uma espécie de morte e, por isso, serem passíveis de julgamento (Mt 5.21-22 e 18.15-17). A fala pode contribuir para um bom relacionamento e aconselhamento, em vez de servir como instrumento de destruição.

5.18 Não cometa adultério. Esse mandamento enfatiza a santidade do casamento, que é um relacionamento estabelecido por Deus em Gn 2.18-24. Embora este mandamento não se refira diretamente a relacionamentos sexuais de pessoas solteiras, a lei hebraica sempre dedica muita atenção ao assunto. Jesus, também aqui, aprofunda a questão ao mostrar a origem interior do pecado, no próprio olhar cobiçoso (Mt 5.27-28).

5.19 Não roube. O usufruto de algo pertence ao seu dono e não a quem o cobiça, seja pouco ou muito.

5.20 Não dê testemunho falso. Assegurar a justiça e a verdade nas cortes é a intenção desse mandamento. É nítida a condenação de qualquer testemunho falso, seja por ingenuidade ou por interesse escuso, para evitar a condenação de inocentes. Também podemos incluir aqui o testemunho irresponsável, de quem fala apenas por falar.

5.21 Não cobice… nada que seja de outro homem. Os últimos dois mandamentos se referem a uma grande quantidade de pecados ao longo da história humana, uma vez que as muitas ações condenadas nos mandamentos anteriores também “nascem” da cobiça. O ser humano tem necessidades e desejos. São coisas diferentes. As necessidades devem ter a prioridade e os desejos são secundários. Mas a recomendação de controlar os desejos coloca um limite claro: não se apropriar do que não lhe pertence.

O povo fica com medo
Êxodo 20.18-21


5.23-32 Como seria bom se eles sempre… obedecessem. Moisés recorda os acontecimentos no Sinai, o medo do povo e a mediação dele entre Deus e o povo. O texto revela o desejo divino para que o povo pratique tudo o que foi ali ensinado e afirma que isso lhe será para o bem e que viveriam longos anos na Terra Prometida. Também revela que, ainda sem a presença do Espírito Santo nos corações, é o temor a Deus a motivação fundamental da Lei. Veja Êx 20.18-21, nota.

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